Gingko biloba: remédio?

Ginkgo biloba é uma planta considerada um fóssil vivo, pois pertence à família das Ginkgoaceae, das quais já foram encontrados espécimens petrificados os quais, se presume, estavam vivos há 300 milhões de anos. Estas plantas se tornaram praticamente extintas durante o Período Terciário (cerca de 60 milhões de anos atrás), restando dois de 19 gêneros com quase 60 espécies.

Esta planta é amplamente utilizada na medicina oriental (Japão e China), onde foi e é empregada para o tratamento de tosse, asma bronquial e até bebedeira pesada. Fitofármacos (medicamentos que têm extratos vegetais por base) à base de G. biloba são dos mais utilizados no mundo, inclusive no Brasil, para o tratamento de insuficiência do fluxo sanguíneo, insuficiência cerebral, depressão, vertigens e tonturas, dores de cabeça, déficit intelectual. Porém, testes clínicos realizados com G. biloba, apesar de serem numerosos, são controversos. Ensaios realizados com idosos com sintomas da doença de Alzheimer não apresentaram resultados evidentes. O chá de G. biloba também é bastante utilizado, apesar de conter concentrações de ácidos ginkgólicos 80 vezes maiores do que as recomendadas. E muito provavelmente também contém a gingkotoxina.

A gingkotoxina é formada na planta através de uma via bioquímica muito parecida com aquela que leva à formação da piridoxina, também conhecida por vitamina B6. Sendo assim, quando consumida em excesso, a gingkotoxina atua como um competidor da vitamina B6, uma vitamina essencial para o metabolismo dos aminoácidos. Indivíduos com carência de vitamina B6 apresentam dermatite (inflamação da pele), anemia, gengivite, feridas na boca e na língua, náusea e nervosismo.

No Japão, as sementes de G. biloba são consumidas como alimento, mas podem causar intoxicação com sintomas característicos. Tais intoxicações já foram registradas 70 vezes, das quais 27% levaram à morte. Foram particularmente freqüentes durante a 2ª Guerra Mundial, quando houve escassez de alimentos no Japão. Pacientes que ingeriram sementes de G. biloba apresentaram quadro convulsivo, com vômitos e falta de consciência. Outras plantas que também contém gingkotoxina, como espécies do gênero Albizzia, são responsáveis por inúmeros casos de intoxicação de gado na África.

Devido à sua similaridade com a vitamina B6, esta última é utilizada como antídoto em casos de intoxicação por gingkotoxina, que está presente não somente nas sementes, mas também nas folhas de G. biloba, muito utilizadas em fitoterapia. Além disso, vários medicamentos contém quantidades de gingkotoxina entre 11,4 e 58,5 mg, sendo que a quantidade máxima reocomendada para ingestão diária é de entre 0,09 e 11,9 mg. A ingestão continuada de medicamentos contendo gingkotoxina pode levar ao surgimento de quadros clínicos convulsivos de natureza epiléptica. A presença de gingkotoxina em fitomedicamentos e medicamentos comprovadamente atua em detrimento da saúde dos pacientes.

Desta forma, órgãos reguladores de saúde na Europa recentemente estabeleceram restrições na utilização, bem como obrigatoriedade de advertência na bula e na embalagem, de medicamentos à base de G. biloba. No Brasil e no mundo o consumo de fitomedicamentos contendo G. biloba é extremamente elevado. Talvez por desconhecimento dos potenciais danos à saúde que eventualmente o consumo desta planta pode causar.

Referências
L. C. Baratto, J. C. Rodighero e C. A. de Moraes Santos: “Ginkgo biloba: o chá das folhas é seguro?”. (revista Ciência Hoje)
Entrevista com Luís Carlos Marques, especialista em Fitoterapia, mestre em Botânica e doutor em Ciências. Professor do Departamento de Farmácia e Farmacologia da Universidade Estadual de Maringá.

ResearchBlogging.orgLeistner, E., & Drewke, C. (2010). Gingko biloba and Ginkgotoxin, Journal of Natural Products, 73 (1), 86-92 DOI: 10.1021/np9005019

Discussão - 8 comentários

  1. rafael disse:

    ei cara, conserta essa aqui: "Porém, testes clínicos realizados com G. biloba, apesarem de serem numerosos, são controversos."

  2. Igor Santos disse:

    Como dois compostos parecidos podem ser antídotos um do outro?

  3. Roberto disse:

    Oi Rafael,
    Oooopppsss. Isso é que dá escrever cansado. Me desculpe a demora em corrigir. "Apesarem" é terrível.
    Brigado!
    Roberto

  4. Roberto disse:

    Oi Igor,
    No artigo citado abaixo, os autores afirmam que a vitamina B6 é antídoto da gingkotoxina. Mas não o contrário. Ficou confuso no texto? Espero que não.
    Roberto

  5. Sibele disse:

    Mas só temos que lhe agradecer por, mesmo cansado, ter disposição para postar-nos um texto tão esclarecedor como esse, Roberto! Obrigada!

  6. Roberto disse:

    Oi Sibele,
    De nada. O cansaço é vencido pelo prazer.
    Obrigado.
    Roberto

  7. maria beatriz disse:

    Não entendi por que este componente da gingko biloba é neutralizante da vitamina B6. Cloridato de piridoxina como a gingko biloba sao indicadas no tratamento de disturbios vestibulares , exemplo; labirintite.
    Porém se tudo e tão complicado para que simplificar,bia bia beatriz

  8. Cid aimbiré disse:

    Acho que o termo melhor para a questão ginkgotoxina/vitamina B6 é competição. Entrando a ginkgotoxina no lugar da Vit B6, não ocorre a formação de GABA.

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