O maior mistério, e o post mais inútil, de 2013

Quem é macaco velho já sabe que o que vem fácil vai fácil. E com informação é a mesma coisa.

A gente vive num mundo onde ninguém paga nada para ter informação. Mas como pode ser isso se um bom escritor/jornalista/roteirista é caro? Porque a informação de graça que temos quase sempre é ruim. Muito ruim.

Nessa fome que os sites têm por cliques, que é o que paga as contas pela publicidade, eles fazem alguns absurdos.

Quer um exemplo simples?

O maior mistério de 2013…

We have absolutely no clue what built this crazy-complex structureSabe o que é isso? Não? Nem eu. Nem NINGUÉM!

Em março de 2013 saiu num post no site io9 uma notícia (copiado do post original da WIRED) a imagem de uma estrutura encontrada na amazônia que ninguém fazia ideia do que era. Bonitinha, estranha e realmente ninguém sabe o que é. Ok, isso é uma notícia ou pelo menos uma informação interessante e instigante. Passa.

Agora em dezembro aparece um UPDATE dessa notícia com o título “Cientistas estão prestes a desvendar o maior mistério de 2013”, e lá estava a foto da coisinha estranha. Cliquei. [Mas você não precisa clicar, viu. Só ponho o link aqui por princípio, mas leia o resto antes]

…e o post mais inútil do ano

É um post citando um twit de um grupo de cientistas dizendo que encontraram 11 dessas estruturas e que estão prestes a resolver esse mistério. E é isso. Mais nada.

Não, io9, isso NÃO é uma notícia. Não me interessa saber que alguém está quase desvendando um mistério, principalmente quando essa pessoa só disse que está perto de conseguir. Nem pra mandar um email pra esse pessoal? Esperar uma resposta minimamente informativa? Aliás, nem pra me dizer quem é esse cara, se é um cientista mesmo ou só um charlatão.

Mas pra quê apurar, né? O negócio é ter o máximo de cliques pelo mínimo esforço.

A revista WIRED é que fez direito: mandou uma repórter para a amazônia e está lá para dar em primeira mão os resultados.

 

Eu fiquei na dúvida se eu esperava esse resultado sair antes de publicar isto aqui. Mas sabe como é, se eu resolver tudo em um post, perco a chance de fisgar o seu click em mais um texto. Então FIQUE LIGADO NOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS!  😉

PÁRA, PÁRA, PÁRA! Depois dos comerciais eu mostro

Jornalistas de ciência são caros. Quem vai pagar?

Hunter S Thompson by nevarraven
Hunter S Thompson
by nevarraven

O jornalismo está em crise. E uma crise feia.

Se você é um cidadão, mesmo que não-jornalista, você TEM QUE LER esse artigo chamado O que podemos fazer para salvar o jornalismo, que dá uma boa ideia de toda a situação. Ele até sugere meios de resolver isso tudo. Muito bom esse artigo. LEIA! 

O problema é sempre a grana. Agora, com a internet, a publicidade saiu dos jornais e revistas impressos mas não foi todo para as mídias digitais: de cada  4 dólares de publicidade que saem dos impressos, só 1 vai para a internet, ou seja, os blogueiros não ganham mais e os jornalistas da impressa ficam desempregados.

Bons jornalistas, experientes e especializados em política e economia, por exemplo, são importantes, claro. Nenhum estagiário pode fazer o papel de uma Mirian Leitão ou um William Waack. O problema é que eles são caros, e com razão.

Bom, se o jornalismo como um todo já está passando por maus bocados, imagina os pobres jornalistas de ciência, que sempre cobriram esse tema tão difícil, delicado e importante como política e economia, mas que é tratado como uma curiosidade supérflua nas redações do mundo todo. Contamos nos dedos os bons jornalistas de ciência brasileiros, e eu tenho a honra de  ter muitos deles como colegas aqui no ScienceBlogs Brasil. Foi o contato com esse pessoal que me mostrou a diferença de um jornalista generalista e um especializado, e a diferença é imensa, acredite.

Todo cidadão tem que estar esperto com esta questão do jornalismo porque ele é uma ferramenta indispensável para o nosso sistema democrático. A gente precisa de informação pertinente, imparcial, investigativa e de qualidade pra tocar o país.

E em ciência, viver de press release não dá!

 

Mal-humorados são mais inteligentes

al bundy.jpgO ícone do mal-humor Al Bundy dizendo “Arrumem um cérebro, iNdiotas”

Olha, não tô com saco pra escrever. Tudo dá errado, estou cercado de idiotas e o mundo é uma droga!

Escrevo para aliviar a tensão, e não para ensinar esta turba ignóbil que me lê.
Só informo que descobriram que o mau-humor deixa as pessoas mais inteligentes, melhorando a capacidade de julgar os outros (entre mais ou menos idiotas) , e também aumentando a memória, o que os tornaria mais prudentes (nunca confie nos idiotas).

Por outro lado, as florzinhas felizes seriam mais criativas. RÁ, que lindinhos (idiotas).

“Nossa pesquisa sugere que a tristeza melhora as estratégias para processar a informação em situações difíceis”, é o que diz Joseph Forgas, da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney.
 
Forgas ressaltou que as pessoas com um estado de ânimo mais decaído possuem maior capacidade de argumentar suas opiniões por escrito, pelo que concluiu que “não é bom estar sempre de bom humor”.

Ah e o que esse cara sabe? Primeiro que esta última frase eu não entendi: “pelo que concluiu que não é bom estar sempre de bom humor”. Acabou de falar que é bom pra tudo e conclui que não é bom? Má escrita essa frase hein.

Segundo que a notícia eu vi na Folha e na Veja, que compraram da EFE + Reuters, citando um programa de rádio da BBC, citando a revista Australasian Science que não é uma revista científica, como foi dito, mas sim uma revista SOBRE ciência, o que é bem diferente.

Ou seja, mais um telefone sem-fio jornalístico, o que me deixa muito fulo da vida. -Aliás, parabéns para os jornalistas neste seu dia. Fica aqui esta homenagem.

E para o azar das frutinhas felizes que se acham mais criativas que as pessoas que carregam suas nuvens negras sobre a cabeça, saibam que se os mau-humorados forem loucos eles também podem ser mais criativos:

Isto porque uma proteína ligada ao desenvolvimento do cérebro, quando tem uma alteração, aumenta o risco de esquizofrenia. Mas em algumas pessoas ela pode estar aumentando a criatividade! (veja aqui)

Prefiro ser um mal-humorado louco, então.

Jornal vs. Internet. Dicas evolutivas para o embate

homem das cavernas betocampos.jpgEsta semana o programa MTV Debate (segunda vez que ele aparece aqui no RNAm) discutiu o futuro incerto da mídia impressa, frente ao mundo digital da internet e seus gadgets, como e-books, i-phones etc. A pergunta era: o jornal e os livros de papel acabam ou não acabam?

E o engraçado foi perceber que a discussão das novas mídias se adequando aos novos tempos nos remete a natureza de nossa própria espécie e a leis que regem o mundo natural. Vamos tentar traçar este paralelo então.

Até agora fomos desenvolvendo de forma bem calma, e se pode pensar até em certa estabilidade. Foi assim no jornalismo desde a década de 20 até recentemente e foi assim por pelo menos 100 mil anos na nossa história como espécie de caçadores coletores nas savanas africanas.

O que mudou? Como reagir?

Tudo estava muito bom até que os tempos mudaram. No jornalismo surgiu a interatividade e a geração de conteúdo pelos não-profissionais do jornal. A interatividade por telefone depois pela internet, os blogs e o twitter. Já na nossa espécie tudo começou talvez pela agricultura, pecuária, formação de cidades e tudo que isto acarreta. Mudanças que nos deram um chute no traseiro e nos fazem andar cada vez mais rápido.

Como nos adaptar a isso? Como preparar os futuros jornalistas para um mundo em rápida mudança? Do mesmo jeito que os organismos têm que estar preparados para ambientes em constante mutação.

Escolha evolutiva jornalismo.jpg

Nos espelhando na evolução do mundo natural podemos achar a resposta. E a resposta é: não há como nos adaptar! Exatamente isto. É impossível nos adaptar a ambientes que mudam. Sempre nos adaptamos ao passado, seja o passado ontem ou milhões de anos atrás.
A sociedade, incluindo aqui o jornalismo, está adaptada ao passado. Sim, porque sofreu as pressões do passado. Suas características refletem o que lhes aconteceu e não ao que está para acontecer. Nossos professores nos ensinam o mundo deles, que já passou.

E dizer que qualquer organismo está adaptado ao seu ambiente é muito arriscado. Ele está sempre contando com a sorte de aproveitar suas adaptações ao passado e fazer que elas funcionem no presente.
E no futuro? Bom, sem bola de cristal fica difícil se adaptar a algo que não aconteceu ainda.

Dica da evolução para a melhor estratégia

Mas a observação do mundo natural pode sim nos dar uma dica preciosa que ajude a lidar com essa confusão do dia-a-dia. E a lição é esta: em momentos de mudanças drásticas, sempre os generalistas se dão melhor.

Organismos hiper-especializados são os primeiros a se extinguirem. Isto explica porque neste momento os jornalistas mais polivalentes estão se destacando. Foi-se o tempo que ter uma coluna semanal na Folha de S. Paulo sobre política externa francesa garantia seu futuro.

Os jornalistas agora têm que ser multi-plataforma, com disse na MTV o professor Cláudio Tognolli. Saber escrever artigos, notas, blogs, twitter, editar imagens e sons. Afinal nunca se sabe qual destas mídias prevalecerá. Claro que se algum entusiasta se hiper-especializar no Twitter, achando que este será o futuro do jornalismo, duas coisas podem acontecer com ele: acertar em cheio e ficar com os louros da vitória, ou aparecer algo melhor que o Twitter e ele ter que vender cachorro-quente na esquina.

Então façamos nossas apostas! E que vença o mais sortudo. Afinal quem apostaria que aqueles bichinhos peludos que andavam por entre os pés dos dinossauros um dia dominariam a Terra?!

Analisando a Polêmica “Palhaçada Científica” de Ruth


Day_At_The_Beach_by_pianosinthesky.jpg
Um pequeno tufão varreu a blogosfera científica nacional. Ele foi gerado pelo texto da jornalista Ruth de Aquino, diretora da revista Época. Neste texto, Aquino diz que “Ler sobre pesquisas científicas de universidades respeitadas é uma receita certa para dar risada”, e cita algumas pesquisas que, por exemplo, constatam que crianças canhotas vão pior na escola, corpos femininos sem rosto vistos por homens são processados por eles nas áreas destinadas a objetos. Enfim, a crítica dela é que as pesquisas “descobriram” o óbvio.

Vários colegas de divulgação científica reagiram (links abaixo). Como não tenho o que acrescentar ao que já foi dito, preferi analisar a discussão em si.

Que mecanismos os cientistas e divulgadores têm para reagir nestes casos de discordância com a mídia? Neste caso, comentários na própria página da matéria são permitidos. Tentei resumir e classificar como foram conduzidas as discussões.

O que foi comentado
Muitos comentários mostrando na maioria indignação; pedidos de retratação; explicação de conceitos tidos como errôneos na reportagem; comentários apelativos de cunho pessoal; algumas críticas estendidas a outras matérias da revista Época.

Casos interessantes: um comentário conclama blogueiros para uma ação conjunta para “puxar a ficha” da autora, analisar a relevância da revista e do jornalismo em geral; um senhor se diz cientista e mostra apoio a crítica da autora da pesquisa do “óbvio”; uma resposta em favor do texto veio de um socialista crente (adjetivos meio paradoxais, não?).

A falta de experiência em escrever sobre ciência para não-cientistas gerou problemas clássicos, como por exemplo, o leitor invalidar a pesquisa dos canhotos irem mal na escola simplesmente por conhecerem um canhoto inteligente. Fato que não invalidaria um estudo com um número grande de sujeitos e com análise estatística robusta.

Leitor vulnerável
Não é raro ver deslizes de jornalistas não especializados em ciência quando têm que escrever sobre este tema. Mas até que ponto uma informação errada ou opinião distorcida pode afetar o cidadão-leitor comum?

Os comentários de concordância se acumulam mais próximos da data de publicação, mostrando que o leitor não-cientista, que provavelmente lê de rotina a revista, está muito vulnerável aos erros cometidos por ela. Dois dias depois da publicação só há críticas nos comentários, gerados por pessoas que provavelmente não lêem a revista mas se interessaram pelo texto.

Silêncio que incomoda
Nenhuma resposta, retratação ou comentário foi feito pela própria repórter ou pela revista. Fato comum para quem costuma criticar artigos nessa mídia “pseudo-interativa” que são os sites de notícias. Isso mostra uma inserção apenas parcial do jornalismo na internet. Afinal, a interação entre autor e leitor é plenamente possível, mas esta possibilidade está sendo desperdiçada, possivelmente fazendo com que leitores se frustrem e, no caso dos cientistas, realmente ignorem este tipo de mídia.

Este silêncio é provavelmente o causador, ou um catalisador, do sentimento de descaso e impunidade sentido por muitos divulgadores de ciência, leitores e cientistas neste debate.

(Por isso, continue lendo seus blogs científicos de confiança.)

Crítica aos críticos de Ruth

Minha crítica aos críticos de Ruth é no tom da discussão, muitas vezes excessivamente exaltado e passional. Parece mostrar um pouco de ingenuidade pelo espanto com a situação da divulgação de ciência no Brasil, que é sabidamente muito problemática, e é com este tipo de acontecimento que um divulgador de ciencia mais vai se deparar. (veja aqui uma outra crítica.)

Não sei até que ponto o artigo de Ruth de Aquino, por ser uma opinião, deveria ser respeitado por isso. Mas ao lidar com ciência, opinar de forma temerária e ingênua como foi feito, ainda mais numa área em que o cidadão-leitor é tão vulnerável, foi irresponsável, sem dúvida.

Pergunta:
É papel das sociedades científicas, como a Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), opinar sobre ou até fiscalizar este tipo
de artigo?

P.S.:
Por falta de tempo não comentarei os artigos de blogs gerados pelo tema, mas citarei os mais relevantes. Sugiro fortemente a leitura:

“Mas isso eu já sabia!” – 100Nexos (Este é HiperRecomendado!!!)

Em prol dos cientístas, idiotas e dos “ridículos” – Ciência Brasil

Conselho de Darwin para Ruth – Ecce Medicus

É muito fácil ser um jornalista frívolo – Geófagos

Nunca é tarde para uma autocrítica – n-Dimensional

Candidato a santo– Boca do Inferno

Ciência e o óbvio – Rainha Vermelha

Ciência é besteira? – Discutindo Ecologia

Pesquisas científicas me fazem rir! – Rastro de Carbono

Cara Ruth de Aquino, – Brontossauros

Ruth de Aquino já é a segunda colocada em comentários na Revista Época – SemCiência

(copiei sua lista, 42. Me processe!)