Perspectivas Astronômicas para 2009
O ano de 2009 será um grande ano para a Astronomia.
Primeiramente por ser o Ano Internacional da Astronomia, no qual se comemoram os 400 anos em que Galileu Galilei apontou um telescópio para o céu, o que permitiu a humanidade iniciar descobertas sobre o Universo.
Aqui no Brasil, será um ano de grande trabalho de divulgação sobre esta admirável ciência, cuja meta é de se mostrar o céu ao longo do ano para 1 milhão de pessoas. Para isso, haverá eventos de observações noturnas e diurnas, palestras, aulas, sessões de planetário, entre outros mais.
Eu, que resido na cidade de São Paulo, estarei coordenando cursos gratuitos de astronomia pelo CASP – Clube de Astronomia de São Paulo, além de participar de eventos de observações diurnas e noturnas durante o ano todo que divulgarei neste blog na hora oportuna.
Mais especificamente sobre a noite de hoje, a astronomia começa 2009 marcada por uma passagem importante para astronômos amadores e profissionais.
Por volta da meia-noite de hoje – início do ano de 2009 – no horário de Brasília, a estrela mais brilhante do céu noturno, Sirius da constelação do Cão Maior chegará a sua altitude máxima no céu, o que tecnicamente é chamado de culminação ao se cruzar o meridiano local.
Meridiano, em astronomia, é a linha imaginária que liga o pólo norte ao pólo sul, dividindo o céu em duas metades e permite a melhor observação astronômica do objeto celeste em estudo.
Para localizar Sirius esta noite é muito fácil:
Por volta da meia-noite, olhe exatamente acima de sua cabeça (cerca de 90 graus) e procure pelo Cinturão de Orion (as populares 3 Marias).
Seguindo a direção do alinhamento destas três estrelas (cujos verdadeiros nomes são Mintaka, Alnilam e Alnitak) em direção ao Sul, a estrela mais brilhante nas proximidades será Sirius.
Feliz 2009 e bons céus!
Solstício de Verão
Quando vejo a palavra solstício e sua definição: “momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador“, penso que não é a toa que o público em geral aprecia a astronomia de modo superficial e se satisfaz com isso.
A palavra assusta e a definição confunde quem não possui conhecimento específico. Inclusive, a astronomia de posição (astrometria) é uma das especializações menos populares entre os interessados amadores, assim como entre cientistas.
Apesar desta aridez, sempre percebi o solstício como a data entre a mudança das estações. Particularmente, como amadora, sempre me encantei com a idéia de que nas linhas dos trópicos de Câncer e Capricórnio, os soltícios de verão de cada hemisfério coincidem exatamente com o único dia do ano em que os raios solares incidem verticalmente. Ou como diz a expressão popular: o sol a pino.
É divertido pensar que para quem está nas linhas dos círculos polares Ártico e Antártico, os soltícios marcam o único dia do ano em que o dia ou a noite duram 24 horas ininterruptas considerando a estação do ano. Dia para o verão e noite para o inverno.
Mas, o que mais admiro é o encantamento dos povos antigos pelo solstício e as enormes construções derivadas desta celebração e que marcam, até hoje, estes movimentos astronômicos como é o caso de Stonehenge e Macchu Picchu.
Este ano, em particular, o solstício de verão no hemisfério sul (no norte, acontecerá o de inverno) acontece hoje, dia 21 de dezembro, às 12h04min no horário universal ou seja às 10h04min no horário de Brasília.
Excelente dia para se usar um gnômon ou construir um relógio solar.
Anãs Marrons são estrelas de Deutério
Li hoje uma noticia que em parte me deixou feliz, mas ao mesmo tempo, triste.
Feliz por ver que o progresso em pesquisas para com anãs marrons traz sempre novidades ao público em geral, embora não haja instrumento barato o bastante para astrônomos amadores contribuirem (ainda).
Triste por ver o post de um físico que eu conheço e por quem tenho a mais alta conta: Igor Zolnerkevic do Universo Físico.
De fato, este foi exatamente o tema de meu seminário apresentado no curso de Evolução Estelar que fiz no semestre passado pelo CASP, que pode ser conferido aqui ou logo abaixo.
Eu só gostaria de ressaltar que anãs marrons não são estrelas que falharam (aliás, odeio este termo), já que há queima de deutério em seu núcleo e, portanto, IMHO, anãs marrons são híbridos entre estrelas de baixa massa e planetas gigantes gasosos.
Quem quiser continuar a discussão, fique a vontade.
Agenda do IAG
Este final de semana realizei um pequeno desejo de astronomia: comprei uma agenda para 2009 elaborada pelo IAG (USP).
Para mim, trata-se de uma aquisição muito especial. Primeiramente por ter astronomia entre as páginas diárias. Segundo, por custar somente 12 reais. Por fim, mas não menos importante, por ser a agenda do Ano Internacional de Astronomia, o que já faz uma grande fonte de recordação.
De fato, o IAG lança uma agenda todos os anos, mas eu só consegui adquirir desta vez com a ajuda de um amigo. Infelizmente ela só é vendida em dias da semana e no horário do expediente normal.
O que realmente apreciei foram os gráficos de nascer e pôr dos principais planetas do Sistema Solar, além de suas magnitudes ao longo do próximo ano, o que ajuda muito em planejamentos offline de observações já que nem sempre se tem um computador a mão.
Mais detalhes aqui.
Excelente presente de final de ano para fãs de astronomia.
Dia do Astrônomo
Eu gostaria de, em comemoração ao dia de hoje, Dia do Astrônomo, usar de certa licença poética para tentar descrever um pouco o conceito que eu tenho pela ciência e pela profissão.
Acredito, por testemunho, que a Astronomia é uma ciência que agrada ao público em geral, independente da idade, escolaridade, nacionalidade… e, normalmente, é a primeira ciência pela qual as pessoas se apaixonam.
Muitos têm o sonho de seguir com a profissão, poucos conseguem. Embora a astronomia permita que qualquer um, como astrônomo amador, possa contribuir tanto quanto um profissional formado, sem distinção. O Universo é vasto demais par lidar com essas pequenices e há espaço para descobertas e pesquisas para todos.
O melhor de tudo na astronomia é poder dividir a paixão, expandir horizontes e conhecimentos, atiçar a curiosidade de todos e descobrir este mesmo sentimento nas mais distintas pessoas.
Por tudo isso, por todas as palavras e sensações maravilhosas que a astronomia me proporciona hoje e sempre, eu gostaria de parabenizar todos os astrônomos, todos os fãs de astronomia e, principalmente, todos os amigos que fiz por causa desta minha grande paixão.
Sem vocês, eu não teria pesquisado o que já pesquisei, contribuído para a ciência, ajudado o CASP (tarefa mais que trabalhosa) e outras tantas coisas.
Parabéns e Muito Obrigada!
Planejamento é tudo
Seja para contemplar, seja para observar cientificamente o céu, é preciso planejamento.
Não há sensação pior do ter um céu limpo e sem Lua, todos os equipamentos (olhos, binóculos, laser verde, telescópio etc) e não se saber o que há de interessante para mostrar.
Para quem não tem a ajuda de um bom conhecedor de céu, ou para quem está começando na área, vale a pena saber o que há em cada noite.
Imagine você prometer para a família, a namorada, os amigos de mostrar Júpiter numa época em que o planeta só está visível durante o dia (e a luz do Sol, evidentemente, não permite)? Ou não saber o que se está observando para responder a eventuais dúvidas de pessoas em volta?
Nestas horas (e para todas elas), pode-se usar alguns softwares e sites.
Um dos softwares mais acessíveis a novos observadores é o Stellarium. Simples de manuseio, bons gráficos, roda em vários sistemas operacionais e, o melhor de tudo, é gratuito. Basta ajustar o local e a data e você logo saberá do que se trata o ponto mais brilhante que você está vendo.
Outro modo de saber o que pode ser visto e o que pode acontecer ao longo da noite, é por meio do site Calsky. Usado por iniciantes e astronômos amadores reconhecidos, permite verificar os acontecimentos celestes, além de astronáuticos.
Com o tempo e o conhecimento acumulado, o Stellarium servirá para apresentações e palestras, mas o CalSky será um companheiro útil sempre.
Por isso, quando as nuvens abrem espaço, aproveite e bons céus.
ISS faz aniversário
Esta semana a ISS, sigla em inglês para estação espacial internacional, completou 10 anos.
De fato, eu recebi essa notícia com surpresa, pois eu, fã da NASA e de astronáutica antes mesmo de minha paixão por astronomia em si, fiquei com a sensação de que a ISS estava em uso há bem mais tempo.
Neste último ano, em especial, o meu gosto pela ISS variou bastante.
Comecei como partidária da ciência em gravidade zero, até me mostrarem como eu estava errada. Não há gravidade zero na ISS, somente microgravidade e isso faz uma grande diferença em pesquisas científicas.
Atualmente, não vejo motivos para comemorar tão pouco tempo de existência, já que presenciamos muitos outros projetos bem mais eficazes como os dois rovers em Marte , os Telescópios Hubble e Spitzer, sem falar na contribuição do WMAP.
Afinal de contas, o projeto de se ter uma estação espacial – especialmente após o desinteresse pela Lua no final da Guerra Fria – mostrou a dependência de fundos governamentais para continuação e para com a NASA além de inúmeros cortes de orçamento.
Não obstante, a ISS ultrapassou e muito seu budget, como é de praxe em projetos de exploração espacial (tripulados ou não).
Neste meio tempo, eu me pergunto: O que a ISS contribuiu efetivamente para o avanço da ciência?
Supernovas e History Channel
Na noite passada, consegui assistir a um dos episódios da série Universo no History Channel. Chamou-me atenção por ser um dos meus temas favoritos em astrofísica e evolução estelar: Supernovas.
Apesar de conter partes em que a narrativa passa para um clima dramático, ao comparar o trabalho forênsico da polícia diante de um crime envolvendo morte e o trabalho de astrofísicos ao pesquisar sobre a morte de uma estrela de alta massa – Supernova.
De fato, o episódio explica bem (para iniciantes) do que se tratam estas “explosivas” estrelas, embora os efeitos especiais me remeteram à memória de filmes de ficção científica como Guerra e Jornada nas Estrelas.
Deixou a desejar o breve relato sobre Eta Carinae, a estrela prestes a se tornar supernova mais famosa no Hemisfério Sul. Por ver visível somente desta parte do planeta e que fará com que não tenhamos noite por 2 semanas. Além disso, a estrela foi amplamente pesquisada por um de nossos astrônomos da USP, o professor Augusto Daminelli.
Uma surpresa agradável foi saber mais sobre as alterações de Betelgeuse (da constelação de Orion – aquela que tem as Três Marias), outra candidata a explodir em breve – breve, em termos astronômicos corresponde a um intervalo entre o próximo segundo e um milhão de anos.
Especialmente depois da divulgação de uma onda de choque, observada pelo satélite japonês Akari (ESA), publicada na data de ontem.
Por fim, o seriado contribui para a divulgação da astronomia ao grande público e isso merece aplausos, mas, em minha opinião e experiência, é sempre bom ter acesso a astrônomos empenhados em fazer pesquisa com supernovas.
Como é o caso do BRASS, equipe brasileira que já descobriu 14 supernovas (até a presente data).
Enquanto chove lá fora…
Em sua maioria, observações astronômicas dependem de condições climáticas, embora exista astronomia resistente às interpéries, como a radioastronomia.
Isso se deve primeiramente ao fato que a astronomia começou somente a explorar o que nossos olhos podem ver – tecnicamente chamado de espectro visível. De fato o espectro eletromagnético é composto por muito mais.
Então, se você prefere a astronomia no visível, como eu, e nas horas em que a meteorologia não colabora, há inúmeras possibilidades de se aumentar conhecimento de astronomia, como as minhas preferidas:
1. Explorar softwares tipo planetário (como colecionadora deste tipo de software, vou falar de cada um no futuro);
2. Planejamento de observações futuras (permite otimizar o que ver durante uma noite com tempo bom por meio dos softwares e aprender mais sobre orientação e reconhecimento de céu);
3. Navegação em sites sobre astronomia (a internet permite acesso a muito mais informações sobre astronomia que a escola ou biblioteca mais próxima, além da interação por meio de recursos multimídia);
4. Interação com outros astronômos, profissionais ou amadores (auxiliado pela World Wide Web, pode-se ter contato com especialistas – eu já tive a experiência de falar com o especialista de anãs marrons nos Estados Unidos – e, principalmente com outros clubes de astronomia);
5. E ontem, no meu caso, preencher a proposta do CNPq para execução de eventos durante o Ano Internacional da Astronomia.
Entre outros.
Por isso, eu sempre digo, tempo ruim nunca é desculpa e, se faltar luz, você pode usar uma lanterna e ler um bom livro.
A noite de ontem
A noite de ontem proporcionou diversas boas surpresas.
Primeiramente um céu limpo na Paulicéia Desvairada. Depois de semanas de tempo ruim, nublado, chuvas ao final do dia, o SEEING se tornou razoável e permitiu observação a olho nu de dois planetas (Vênus e Júpiter) na direção Oeste por volta das 20h. Também foi possível distinguir algumas estrelas a olho nu e várias com uso de binóculos 10×50.
Vênus, visivelmente mais brilhante por estar mais próximo da Terra do que Júpiter, chamou mais atenção que o maior planeta do sistema solar.
Enquanto isso, ao contatar o correspondente do Big Bang Blog na cobertura do ENAST neste final de semana, fui informada que o tempo bom em Maceió também permitiu que ambos os planetas mostrassem suas posições para a região nordeste do Brasil.
A segunda boa surpresa aconteceu por volta das 23h (horário brasileiro de verão). Devidamente divulgado ao vivo pela NASA TV, o ônibus espacial Endeavour decolou do Cabo Kennedy (antigo Cabo Canaveral).
Pena que ainda não foi para consertar o HST (sigla em inglês para Telescópio Espacial Hubble).
Vale mencionar que se o tempo permanecer sem nuvens nesta noite, pode-se observar os dois planetas novamente. Lembre-se que uma boa observação dos dois planetas e das estrelas será significativamente prejudicada pela Lua Cheia.
UPDATE:
O dia de ontem vai ficar para a história da astronomia!
A sonda Chandrayaan-1, que tinha objetivo tirar fotos tridimensionais da Lua o fez na data de ontem. É uma marca ao esforço do Programa Espacial Indiano, apesar de ter se danificado totalmente no pouso.