Economia e Ecologia – a necessidade de se resolver a equação

Os impactos ambientais das atividades humanas sempre existiram. Praticamente desde a consolidação da agricultura, o que levou a criação das primeiras sociedades sedentarizadas, o ser humano tem extraído recursos e devolvido rejeitos ao ambiente. Não que as sociedades nômades não exercessem seu impacto, mas, de acordo com a maior parte dos estudiosos do tema, apenas com o estabelecimento das populações humanas em local fixo isso atingiu escala considerável, se dando de maneira que o meio natural não tivesse tempo para se recompor das agressões (“necessárias” ou não) que sofria.

Com o advento da Primeira Revolução Industrial – e intensificada pelas seguintes – a questão tomou, entretanto, outra proporção. Consonante ao surgimento das sociedades industriais e, depois, da sociedade de mercado, os recursos ambientais passaram a ser vistos como tão somente isso: recursos.

Os modelos clássicos de economia consideram o ambiente pouco mais do que uma fonte de matéria-prima para a produção de bens. Os impactos decorrentes da super-exploração desses recursos, assim como os resíduos de toda a produção do sistema capitalista – lixo em grande quantidade, compostos químicos lançados em águas, solo e ar, etc – são apenas levados em conta se atrapalham o desenrolar das atividades produtivas de geração de mercadorias. Os problemas sócio-ambientais foram por muito tempo – e continuam sendo para muitos economistas – apenas externalidades.

Pôster ambientalista: “Isso não é uma externalidade. É hora de colocar de volta a natureza na economia”. Crédito: Kevin Dooley

Dado o atual estado ambiental a nível mundial: crítico e em processo de agravamento, na opinião de muitos cientistas, esse tipo de modelo econômico, baseado na ideia de crescimento infinito num planeta finito, vem se tornando mais inviável conforme se escasseiam, progressivamente, as fontes naturais de recursos. Obviamente, o contexto ecológico é apenas um na cadeia de problemas, uma vez que está totalmente ligado ao âmbito social.

Uma mudança na maneira como concebemos o ambiente urge, portanto.

Pensando a economia verde

Sobre o tema, a Unicamp sediou, no âmbito do Fórum Pensamento Estratégico – PENSES, o “Fórum Capitalismo e Meio Ambiente, Crescimento Zero e Desenvolvimento Sustentável”, que ocorreu no último dia 27 de março.

As mesas redondas, que reuniram importantes expoentes de nível nacional e internacional no tema da economia ambientalmente sustentável, versaram sobre qual é a verdadeira dimensão da crise ecológica a nível mundial e quais seriam as possíveis alternativas – e sua factibilidade- para conciliar-se acesso a níveis adequados de conforto material com distribuição de renda e preservação ambiental. A discussão desemboca na chamada Macroeconomia Ecológica; um novo modelo macroeconômico onde o meio ambiente seja, efetivamente, levado em consideração. O Prof. Peter Victor, referência e um dos precursores da ideia a nível global, participou do evento do Canadá, via internet.

Uma nova teoria macroeconômica dessa magnitude exigiria o emprego de indicadores de desenvolvimento mais abrangentes, suplantando o PIB (Produto Interno Bruto), para o qual apenas a geração de riqueza financeira é parâmetro avaliado. Um dos possíveis substitutos seria o chamado GPI (Genuine Progress Indicator, ou Indicador de Progresso Genuíno), criado na década de 80, que elenca os fatores sociais e ambientais como fundamentais na mensuração do progresso das nações. Dois pesquisadores brasileiros, Daniel Andrade e Júnior Garcia, do Grupo de Estudos em Macroeconomia Ecológica – GEMAECO, publicaram um trabalho onde se propuseram a calcular o GPI do Brasil de 1970 à 2010. O resumo do artigo pode ser acessado aqui.

Crescer ou não crescer? Eis a questão

Uma das teses debatidas no fórum foi a do chamado crescimento zero. Resumidamente, a ideia é a de que nos países onde a população já tem acesso garantido aos serviços essenciais -saúde, habitação, transporte, cultura, etc – e condições adequadas de conforto material, a economia não necessita de mais crescimento. Deste modo, tais países poderiam se empenhar a dedicar recursos no auxílio dos países que, por outro lado, não possuem serviços básicos e condições materiais garantidas, propiciando que se desenvolvam de uma maneira sustentável – social e ecologicamente. Não é preciso dizer que tal planejamento ainda está longe de ser efetivado, mas a macroeconomia ecológica poderia utilizá-lo como um norte.

A denominação “crescimento zero” atribuída a esta proposta – que já vem sendo discutida em diversos países – pode não ser a mais adequada para descrever o que realmente advoga, no entanto. Essa parece ser a opinião de um dos especialistas constantes do debate, o Prof. José Eli da Veiga, da USP, referência mundial no tema da economia sustentável. Segundo ele, deveríamos tratar de “variação zero no PIB” dos países desenvolvidos, porém não de uma ausência da atividade econômica e produção de bens – o que levaria ao decréscimo dos indicadores e não à estabilização.

O tamanho do problema

Num outro momento importante, o Prof. Luiz Marques, da Unicamp, apresentou muitos dos dados que compilou em seu livro Capitalismo e Colapso Ambiental (Ed. Unicamp, 2015) no intuito de traçar um panorama de qual seria a real situação ambiental que enfrentamos a nível mundial. Aquecimento global, poluição e perda de florestas e biodiversidade foram alguns dos mais sérios problemas levantados.

Do debate que se seguiu, duas questões, no entanto, parecem ter ficado sem resposta – não por falta de intenção, mas pela real complexidade que ensejam:

Quanto tempo temos para reverter o panorama de degradação ambiental e evitar um colapso?

Para a humanidade conseguir alcançar de fato o desenvolvimento sustentável – com equilíbrio do tripé econômico, ambiental e social – será necessário acabar com o capitalismo ou transformá-lo, adequando-o à uma nova realidade?

Fato é que uma mudança ampla de consciência a nível mundial se faz necessária no que diz respeito a rever os níveis de consumo e proteger o ambiente. O quanto isso é factível, é difícil precisar. A conclusão do evento parece ter sido, muito embora, que outro caminho talvez não haja.

Crédito da imagem de capa: Sheila

Sobre Gustavo 29 Artigos
Cientista de Alimentos e Mestre na mesma área. Especialista em Jornalismo Científico pelo LABJOR/UNICAMP, dedicando-se a atividades de divulgação científica.

1 Comentário

  1. Cada um de nós seja pessoa ou empresa pode fazer a sua parte. E a educação ambiental nas escolas precisa ser reforçada. Disciplinas de sustentabilidade e meio ambiente devem ser incluídas em todos os currículos das universidades. Assim aos poucos vamos mudando a atual e degradante situação do ecossistema.

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