Carregando...
Comunicação para Divulgadores Científicos

Então… O que é engajamento para você?

Como avaliar o sucesso de um canal de divulgação científica? 
É justo determinar este sucesso a partir da quantidade de seguidores que possui?
O que é Engajamento quando falamos de Divulgação Científica?

Em todas as palestras e cursos que nossa equipe do Blogs de Ciência da Unicamp se propõe a fazer, perguntas sobre como aumentar a visualização das postagens nas redes sociais, comparações a canais enormes e demonstração de frustrações por não conseguirem atingir milhões de seguidores aparecem. 

Em geral procuramos mostrar que esses canais referências na divulgação científica não chegaram a esses resultados num passe de mágica e essas medidas de sucesso baseadas apenas em números de seguidores e likes não contemplam uma série de conquistas do trabalho de divulgação científica.

Além disso, poucos divulgadores científicos podem se dedicar exclusivamente a atividade, o mais comum é que esse cientista se divida entre seus compromissos da vida acadêmica, pessoal e profissional com a de divulgador científico, portanto é entendível que seu tempo para estudar, planejar e desenvolver a comunicação do seu projeto fique reduzida. 

Neste texto proponho fazermos o exercício de olhar os resultados dos nosso canais de divulgação científica, a partir de outro enfoque. Defendo que resumir o sucesso dos canais de divulgação científica a quantidade de likes e seguidores nas redes sociais, além de frustrante é injusto! 

Obviamente entendemos que em um mundo virtual ter milhões de seguidores garante (principalmente aos olhos dos desavisados) a sensação de êxito, mas para quem vive o dia a dia da profissão, fazer divulgação científica de forma eficiente é muito mais complexo e trabalhoso.

E defender e valorizar a divulgação científica como TRABALHO é urgente e necessário. 
Compartilhado de @linski101 – http://www.lindavanbruggen.nl/

Engajamento segundo…

De acordo com o Facebook engajamento é: “O número total de ações que as pessoas executam envolvendo seus anúncios. O engajamento com a publicação indica que seus anúncios são relevantes para o público-alvo, o que ajuda no desempenho de seus anúncios. Quando as pessoas veem anúncios que são relevantes para elas, é mais provável que elas interajam com eles. Essa métrica permite mensurar as interações e compará-las ao engajamento com outros anúncios ou campanhas.” 

Já segundo o Twitter engajamento é: “número total de vezes que um usuário interagiu com um Tweet. Cliques em qualquer lugar do Tweet, incluindo Retweets, respostas, seguidores, favoritos, links, cartões, hashtags, mídia incorporada, nome de usuário, foto de perfil ou expansões do Tweet”

Observe que o engajamento nessas redes sociais são mensuradas a partir do número de ações que determinados perfis de público executam em suas postagens. Dessa forma a plataforma determina a relevância deste conteúdo para um determinado público alvo e, por consequência, diminui a relevância desta mesma postagem para outros públicos.

Considerando os preceitos da divulgação científica, conforme: Bueno (1984); Mora (2003); Dias et al. (2013); Caldas e Zanvettor (2014); Camargo (2015); Bessa (2015); Silva (2019) e Muzio (2019) – O que é Divulgação Científica? – Série: Minha dissertação em DC

A divulgação científica se trata do ato de tornar o conhecimento científico de domínio público, por meio de ações e tarefas que informem e compartilhem o conhecimento científico. Essa informação deve ser passada de forma descomplicada, clara e que desperte o interesse do público, mas sem perder a ética e o embasamento científico. A divulgação científica deve ser realizada a partir de um planejamento que contemple ambientes acessíveis à sociedade e que possibilite o exercício do diálogo, servindo, assim, como um instrumento de formação de cultura científica, de autonomia e que instrumentaliza o cidadão nas suas tomadas de decisão. É fundamental que a divulgação científica saia de seu ambiente científico e acadêmico e chegue à sociedade. 

O divulgador científico tem como função preocupar-se com a visibilidade de sua postagem, sendo assim, é possível que considere utilizar de recursos para aumentar o alcance original da sua publicação.

Mas para que isso aconteça é preciso dispender de recursos financeiros para utilizar-se das ferramentas de promoção paga, o chamado alcance pago ou de recursos de tempo para pensar, criar e desenvolver novas estratégias de comunicação, o chamado alcance orgânico, (que o próprio Facebook admite que fez mudanças em seus algoritmos que provocaram a queda do alcance orgânico na plataforma).

Além disso, esses resultados podem ser conferidos 24 horas por dia e não somente pelo dono da conta, mas por qualquer um que visualize a postagem, provocando uma pressão por resultados, um olhar irreal do que de fato é engajar seu público alvo, além da competição desleal e a, consequente frustração do divulgador científico.

Essa definição de engajamento determinado pelas plataformas de redes sociais, o constante crescimento dessas plataformas e a pressão por resultados numéricos apresentados pelas métricas, também levantou questionamentos sobre privacidade, disseminação de desinformação, compra de seguidores, saúde mental, questões éticas e racismo dos algoritmos.

A ponto das próprias redes sociais implantarem recursos para desabilitar as curtidas das postagens.

Mais sobre isso:

Trabalho de formiguinha 

Apesar do Blogs de Ciência da Unicamp ter uma equipe de comunicação, essa nem sempre foi a nossa realidade, esse ano fazemos 6 anos de projeto e por muito tempo o projeto foi conduzido por 3 a 5 pessoas de forma voluntária. Por isso o trabalho de formiguinha e do alcance orgânico sempre foi nosso foco.

Como já dito em outros textos deste Blog existem boas estratégias de comunicação que eram usadas antes do advento da internet e das redes sociais e por aqui continuamos usando, claro que com as devidas atualizações. É interessante que o divulgador científico tenha um olhar atento não só para estratégias online, mas também para as offline e estratégias das mais diversas áreas da comunicação.

O nosso trabalho de formiguinha baseia-se em pensar, criar e implementar estratégias a partir da aproximação do público alvo pretendido, ou seja, focamos nossos esforços em conhecer o público no qual vamos trabalhar, sua linguagem, interesses, etc. Normalmente começamos o nosso planejamento respondendo as seguintes perguntas:

Quem é o público que se interessaria por este assunto? Onde, quando e como posso encontrá-lo? Como falar com este público? Qual o melhor veículo para chegar até ele?  

A partir dessas respostas procuramos nas áreas da comunicação estratégias que seja possível implementar de acordo com a nossa atual realidade de tempo, recursos e equipe. Muitas das estratégias usadas são emprestas do marketing, como: O marketing de influência (consiste em praticar ações focadas em indivíduos que exerçam influência ou liderança sobre potenciais clientes de uma marca), o marketing de conteúdo (consiste em criar conteúdos personalizados ao público alvo, baseando-se na formação de um público fidelizado com os conceitos, diretrizes e políticas da marca) ou da Comunicação Institucional.

Sobre isso:

Por fim, dedicamos um tempo para conhecer, estudar e testar os veículos de comunicação escolhidos e partir dessas 3 etapas readequar o nosso planejamento inicial.  

As indicações de links acima também falam sobre veículos de comunicação, contudo indico esse vídeo do RuPaul’s Drag Race - "Entenda o que é como funciona as redes sociais com o RuPaul's Drag Race - Season 13", não esqueça de ativar a legenda:

Sobre Métricas

Antes da era digital as estratégias de comunicação normalmente eram desenvolvidas através de propagandas em mídias de massa (televisão, jornais, rádio, etc), inserção em grandes produções (filmes, telenovelas, seriados), assessoria de imprensa, reportagens pagas, entrevistas, participações solidárias, etc. 

E é claro que não era possível acessar métricas destes veículos 24 horas por dia, uma vez que os relatórios de audiência dos veículos de comunicação dificilmente eram disponibilizados e quando eram não ficavam disponível sempre que queríamos, normalmente estes números não chegavam a tempo de qualquer reajuste no planejamento das estratégias de comunicação.

Sendo assim, era preciso que o profissional de comunicação mantivesse um contato frequente e próximo com o seu público, através de conversas formais e informais, pesquisas de opinião, aplicação de testes antes do lançamento das estratégias, etc… 

E apesar dessas estratégias ainda serem usuais é entendível que na realidade da divulgação científica brasileira, na era digital e, principalmente neste momento pandêmico, seja complicado dedicar-se a este tipo de estratégia, contudo restringir-se as facilidades das métricas nas redes sociais única e exclusivamente, pode não ser uma boa forma de avaliar o seu trabalho.

Compartilhado de https://giphy.com/a24

Engajamento segundo o Blogs de Ciência da Unicamp

Fazer divulgação científica não se trata apenas de dispor um conhecimento científico em qualquer mídia, seu objetivo principal está em “tornar o conhecimento científico de domínio público” e isso envolve planejamento, estudo, conhecimento do conteúdo a ser disposto, do público e do veículo a ser disponibilizado, mas não só isso, também é preciso que contemple ambientes acessíveis à sociedade e que possibilite o exercício do diálogo”

Engajamento para nós é: 

  • Ser abordado por pessoas que consomem o nosso conteúdo e nos contam como fizemos diferença no dia a dia delas;
  • Receber histórias de pessoas que conseguiram conversar sobre desinformação usando o material que disponibilizamos;
  • Ser convidado a falar em grupos que jamais achamos que íamos atingir;
  • Receber diversos interfones de senhores do prédio com dúvidas sobre vacinas e kits covid e depois saber que eles ficaram bem e seguiram as recomendações que passamos;
  • Ver aquele colega ou parente que dissemina fake news nas redes sociais participando de suas lives realmente interessado em entender os assuntos que abordamos;
  • Ver nossos amigos divulgadores científicos recebendo oportunidades em mídias jornalísticas, de bolsas de estudo e publicações em revistas, crescendo na carreira, devido ao trabalho de divulgação científica;
  • Conversar com pessoas que se interessavam por ciência mas não tiveram oportunidades de conversar sobre isso.
Engajamento na divulgação científica para nós é fazer com que o conhecimento científico "saia de seu ambiente científico e acadêmico e chegue à sociedade" e isso não se trata de números que as redes sociais apresentam como engajamento, isso se trata de pessoas.

Saiba Mais:

  • Dossiê nanoinfluenciadores – “O que são nanoinfluenciadores? O que fazem? Como vivem? O que comem?”
  • ANDREETTO DE MUZIO, Paulo. A importância da divulgação científica para a proteção das áreas naturais. [S. l.], 1 jul. 2019. Disponível em: https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/educacaoambiental/2019/07/01/a-importancia-da-divulgacao-cientifica-para-a-protecao-das-areas-naturais/. Acesso em: 13 jul. 2019.

    BESSA, Eduardo. O que é divulgação científica? In: ARNT, Ana de Medeiros; FRANÇA, Cecília; BESSA, Eduardo. Divulgação científica e redação para professores. [S. l.]: Tangará da Serra: Ideias, 2015.

    BUENO, W. da C. 1984. 365f. Jornalismo Científico no Brasil: os compromissos de uma prática dependente. Tese de Doutorado. ECA/USP, São Paulo, 1984.

    CALDAS, Graça; ZANVETTOR, Kátia. O estado da arte da pesquisa em divulgação científica no Brasil: apontamentos iniciais. Ação Midiática–Estudos em Comunicação, Sociedade e Cultura., v. 1, n. 7, 2014.

    CAMARGO, Vera Regina Toledo. Dialogando com a ciência: ações, atuações e perspectivas na divulgação científica e cultural. Comunicação & Sociedade, v. 37, n. 3, p. 43-71, 2015

    DIAS, Camila Delmondes et al. Divulgando a arqueologia: comunicando o conhecimento para a sociedade. Ciência e Cultura, v. 65, n. 2, p. 48-52, 2013.

    MORA, A. M. S. A divulgação da ciência como literatura. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.

    SILVA, Ricardo., GARCIA, André; AMARAL, Sérgio. Desenvolvimento de um modelo potencializador para a utilização de blogs como meio de educação não formal e divulgação científica. XIII Congresso Internacional de Tecnologia na Educação, São Paulo, 2015.

2 comentários
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *