Há cerca de um mês, fui passar férias no Mato Grosso do Sul. Ao chegar na capital Campo Grande com o mochilão nas costas, decidi conhecer o Parque das Nações Indígenas (PNI).
O estado se dividiu do Mato Grosso ao final da década de 1970. O PNI foi criado em 1993, com a desapropriação de chácaras e terrenos às margens dos córregos Prosa e Reveilleau, e é contíguo ao Parque Estadual da Prosa (PEP). A área do PEP foi “criada primeiramente como Reserva Ecológica do Parque dos Poderes em 1981 e elevada à categoria de Parque Estadual do Prosa (PEP) por meio do Decreto Estadual nº 10.783/2002.” O primeiro é um parque urbano, o segundo, uma unidade de conservação de proteção integral. Certamente o PEP proporcionaria uma reflexão mais interessante sobre questões ambientais. Mas não consegui entrar no Parque por diversos fatores cruzados, como o horário avançado, a necessidade de agendamento e o mau tempo. Então vamos falar mais sobre o Parque das Nações Indígenas.
Ambos são geridos pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro).
Comunicação visual, educação ambiental e marketing do mal
Em geral, o visual do Parque das Nações Indígenas tem um efeito positivo. Não apenas pela beleza cênica, mas também pela boa sinalização.
Há muitas placas. Algumas com a função de orientar o trajeto do visitante pelo Parque. Outras identificando espécies de árvores. Me chamou a atenção uma que indica os locais em Campo Grande que são propícios a prática do birdwatching (observação de aves). E as araras dão um espetáculo, mesmo nas áreas urbanas. Graças às áreas verdes.
Também pode ser notada a diversidade de placas indicando o plantio de bosques de árvores nativas da região. Sempre em parceria com escolas ou com a comunidade. São ações importantes tanto pelo viés da educação ambiental quanto por aproximarem a população daquela área e possibilitar que o público se aproprie daquele espaço. E são ações que necessitam de continuidade, porque o setor privado já está bastante tentáculos presentes por ali, fazendo seu marketing. Inclusive uma operadora de planos de saúde que, em sua versão paulistana, “faliu” e deixou seus conveniados desatendidos em um passado recente.
O site do Parque poderia trazer mais informações. Os botões de fauna e meio ambiente não funcionam.
Algumas mazelas
Um gigantesco elefante branco chama a atenção de quem caminha pelo PNI. E não se trata de uma espécie exótica de fauna. Mas uma obra arquitetônica assinada por Ruy Ohtake. De longe, pensei que se tratasse de um ginásio esportivo. Ao me aproximar, pude ver que a bela estrutura estava cercado por tapumes e com sinais de abandono. Era famigerado Aquário do Pantanal, presente em boa parte da sinalização do Parque. O local foi “planejado para ter 24 tanques, somando um volume de água de aproximadamente 6,2 milhões de litros e 12.500 animais subdivididos em mais de 260 espécies”. A obra milionária foi iniciada em 2011 e deveria ter sido entregue em 2013.
Outra estrutura que chama atenção pela degradação é a Casa do Homem Pantaneiro. A obra foi iniciada em 2006 e entregue em 2013. Entretanto, o prédio destinado a abrigar um espaço de cultura nunca foi utilizado. O jornal Campo Grande News fez uma crítica em relação ao uso do espaço no Parque, entretanto coloca como solução a concessão à iniciativa privada. Em minhas andanças pelo Mato Grosso do Sul, notei o pouco que se tem de espaços públicos e gratuitos para a comunidade. Tanto Bonito quanto as regiões pantaneiras são modelos de turismo cujos agentes estão mais preocupados com a arrecadação do que com a conservação. Desta forma, além desses lugares serem inacessíveis para a população em geral, sua proteção fica por um fio por depender da entrada de capital.
E por falar em iniciativa privada, foi bem difícil encontrar um sanitário pelo Parque. Os que encontrei estavam trancados.
Até breve…
Da minha parte, faltou explorar alguns cantos. Tanto do Parque das Nações Indígenas, quanto de outros parques ou de Campo Grande. Ainda que passeios de férias sejam experiências superficiais e fugazes, acredito que um olhar atento sobre os ambientes pelos quais passamos pode suscitar reflexões críticas e pertinentes. Sempre sem perder a empatia por quem e pelo que cruzamos.
E se passar por Campo Grande, não deixe de visitar o Parque.
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