A observação de aves é uma atividade que cresce cada vez mais no país. No mês de maio deste ano, aconteceu a 14ª edição do Avistar Brasil, o maior evento de birdwatch da América Latina. Realizado na capital paulista, no campus da Universidade de São Paulo (USP), a feira ofereceu aos milhares de participantes palestras, oficinas, exposições e passarinhadas, sempre relacionadas à prática de “passarinhar” ou a áreas afins, como a pesquisa científica e a conservação ambiental.
Mais do que apenas uma opção de lazer, a observação de aves possibilita que leigos gerem dados científicos e contribuam com a conservação da biodiversidade. Entretanto, como qualquer ação humana, pode gerar alguns impactos.
Ciência Cidadã
As aves são importantes indicadoras de qualidade ambiental, detectando alterações nos ecossistemas, o que mostra a importância de estudá-las.
Com o grande volume de observadores de aves, a quantidade de dados obtidos pelos praticantes da atividade podem ser utilizadas para responder a questões científicas, como distribuição de espécies dentro de um território amplo (como no caso do Brasil), rotas migratórias, etc. Isto é possível porque se tem pessoas de diferentes estados registrando aves em diferentes períodos do ano.
E as novas tecnologias contribuem para esta prática que chamamos de Ciência Cidadã. Plataformas como o Wikiaves e o e-Bird possibilitam o compartilhamento de informações como fotos e gravações. E os ornitólogos (cientistas especializados em aves), que também frequentam estes sites, fazem o controle de qualidade.
A observação de aves aumenta o número de pessoas fazendo coleta de dados de presenças de espécies em campo. Se estes dados fossem coletados apenas por pesquisadores científicos, seriam mais limitados.
Benefícios e impactos na conservação da natureza
Toda ação humana causa impactos. Mas a observação de aves proporciona mais benefícios ou danos à natureza?
Um dos locais preferidos para a prática sãos as Unidades de Conservação (UCs) da Natureza, áreas legalmente protegidas. Há uma série de benefícios ecológicos associados ao uso humano dessas áreas. Uma delas é o estímulo à economia local, gerando receita tanto para os moradores do entorno quanto para a administração pública. O crescimento da observação de aves no Brasil gerou ainda um mercado, em que várias propriedades privadas que têm remanescentes de vegetação nativa ou que estão próximas áreas naturais estão explorando a atividade. Também tem a Ciência Cidadã, já mencionada. Outro fator positivo é a construção, dentro da sociedade, de uma rede de apoio às UCs. Neste caso, quando uma área protegida está sob ameaça, os observadores de aves usuários daquela unidade se mobilizam.
Os impactos potenciais, no caso das Unidades de Conservação, estão relacionados às técnicas pra atrair as aves com o objetivo de facilitar a observação e a obtenção de fotos ou de áudio. O playback é uma técnica bastante utilizada, onde as espécies são atraídas por uma gravação de sua vocalização. As aves interpretam aquele som como o de um invasor. Então ela procura atacar para retirá-lo de seu território. Quando se tem um grupo grande e com o objetivo de que todos vejam determinada ave, o guia fica repetindo o chamado até todos a vejam. É um fator de estrese e que a expõe à predação. A ave pode também abandonar seu ninho. Se há uma espécie rara, certamente será a que todos desejarão ver e registrar. E é justamente esta que pode sofrer um impacto populacional relevante.
Um instrumento para minimizar estes impactos é o zoneamento das UCs, que determina em quais áreas é permitida a atividade e quais outras, por sua maior fragilidade, a prática não é autorizada. Há um regramento em relação à obtenção de imagens nas Unidades de Conservação com grau de proteção mais restritivo, o que resulta em reclamações por parte de alguns observadores de aves. Outra forma de reduzir os potenciais danos é o monitoramento das áreas naturais pelo poder público e pela sociedade civil. Quanto mais são visitadas, menores os riscos de impactos como caça e extração ilegal.
Dica de filme
O filme “O Grande Ano”, uma comédia de 2011, aborda o universo do birdwatching. Com Jack Black, Owen Wilson e Steve Martin no elenco, a ficção foi aprovada pelos ornitólogos com quem já conservei. E eu também gostei.
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