Cuidado com os animais

Foto: Paulo A. Muzio

Semana passada, estava eu passando pela área de visitação pública do Parque Estadual Alberto Löfgren, na zona norte de Sampa. Popularmente conhecido como Horto Florestal, o local é uma Unidade de Conservação que fica no limite entre a mancha urbana da capital paulista e a Mata Atlântica da Serra da Cantareira. Somente no ano passado o Parque recebeu 1,2 milhão de visitantes. Mas este conflito entre a cidade e a natureza, e que coloca em cheque as concepções dominantes de desenvolvimento, pode ser observado também nas pequenas atitudes…

Perto do lago, avistei um visitante do tipo família. Cidadão de bem. Com esposa e filho. O pai ensinava a criança a alimentar os bichos. Dava aos gansos bolachas de chocolate recheadas. Daquelas tão sebentas que o cacau passou longe.

Chamei a atenção do grupo, orientando que não era permitido alimentar os animais. O homem prontamente se mostrou ofendido e alertou para que eu ficasse na minha. Me apresentei como funcionário e tentei mostrar a placa que indicava a proibição. O distinto pai de família ficou mais nervoso ainda e mandou eu cair fora dali. Avisei que iria alertar a vigilância do Parque e ele disse que me pegaria lá fora. Me afastando, mencionei que ali no parque havia ao menos três bases de polícia. Ele desdenhou. Todo errado, o cara estava doido pra me bater. Mas quando voltei com o reforço o pitbull virou um cavalheiro, desistiu de me agredir e reclamou que fui mal educado com ele.

Este episódio me remeteu a um outro acontecido de anos atrás que relatei na crônica que segue:

Cuidado com os animais

Era um belo dia ensolarado no meio da semana. No início da tarde, um casal passeava no parque com sua filha. A menina não devia ter mais que três anos de idade.

É muito importante que os pais proporcionem o contato das crianças com a natureza logo cedo, ainda mais quando se tem uma Unidade de Conservação ao lado de casa. E como educação vem de casa, dizem, nada como aproveitar a oportunidade para ensinar algo novo aos pequenos.

Com muito pouco é possível dar uma aula de educação ambiental à beira do lago. Salgadinho, doces ou mesmo um pedaço de pão. Com as sobras do convescote, já se tem todo o material necessário para mostrar aos filhos como é divertido alimentar os animais. As crianças adoram. Os bichos mais ainda. Tanto é que um monte de aves começou a cercar a família feliz. Em um segundo, os três se viram estrelando a sequência de um dos mais pavorosos filmes de Alfred Hitchcock. A coisa piorou ainda mais quando a comida que os visitantes trouxeram acabou. Foi aí que o espírito selvagem falou alto e aqueles dóceis patinhos se transformaram em predadores vorazes em busca de carne humana.

O ataque estava formado. Era pato pra um lado, ganso pro outro… aquele marrento com crista devia ser o Neymar. E tal qual o jogador, foi brutalmente parado com um chute do pai. Com seu porte de zagueiro de várzea, o homem teria se dado bem na época do Desafio ao Galo. A menina chorava por ter levado umas mordidas, ainda que aves não tenham dentes. O pai, ainda tomando o partido da criança, xingou: – Pato bobo.

Assisti a cena atônito. Não interferi naquele momento porque fiquei com medo de também ser atacado pela fera. Refleti bastante e, no dia seguinte, elaborei uma mensagem que poderia ser escrita nas placas do parque:

“Cuidado com os animais. Eles não sabem que é proibido alimentar os patos”

A crônica foi originalmente publicada em 2012 no informativo IF Notícias nº 12. De la pra cá, os jogadores Paulo Henrique Ganso e Alexandre Pato se perderam no limbo das eternas promessas do futebol. Conquistaram pelo menos a prata (não confundir com pata) olímpica ainda naquele ano. Neymar ganhou a medalha de ouro quatro anos depois, mas nada de Copa até o momento. Hoje mesmo  seleção brasileira de futebol acaba de conquistar a Copa América sem ele. Já o Desafio ao Galo, torneio de futebol de várzea extinto em 1996, voltou a ser realizado em abril deste ano.

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