Há muito a dizer neste dia. Toneladas de histórias e teorias que nos narram, estudam, definem, indicam quem somos. E isso em função de genes, cariótipos, construções sociais, hormônios, vontades de ser cis, trans, avessos dos avessos dos avessos. Muito se diz, pouco se deixa dizer.
Ao final da postagens há referências: acadêmicas, poéticas e ficcionais (Vocês sabiam que a ficção científica foi inventada por uma garota de 16 anos? Um dos melhores livros da história contemporânea? Frankenstein, de Mary Shelley, narrava as condições de vida permeando ciência em um mundo de possibilidades, não há como não amar…).
Neste dia de hoje, ao invés de definir “a mulher” dentro dos apertados parâmetros científicos, defino a voz por vir. A minha – que lutei tanto para me deixar sair – e a de todas que aceitarem este convite. Convido a todos os garotos e homens, também, a (hoje e sempre) escutarem.
Hoje, o desejo de ciência vem em um poeminha.
Um Dia Internacional da Mulher fantástico para todos vocês.
[E agora, uma poesia]
Enquanto dormia via seu corpo livre para tomar a forma do desejo. Desejo de ser, só, sua – toda sua – independente de roupas e morais, independente de ditos e desditos, independente de adequações impostas por todos. Deleite de ser, só: mulher.
Desejo de ser sua, nua, crua, pele e recheio, prazer e deleite, gorduras, odores, pelos, vontade.
Desejo de viver e gozar quando quer, desejo de andar por onde quiser, desejo de sorrir até chorar, desejo de amar.
Desejo, também, de ver seu corpo fonte de silêncio nas ruas, aquele silêncio de quem habita o mundo e tem direito de por ele circular, aproveitando o sol, a chuva, o vento.
Desejo de não desconfiar de gentilezas, pelo simples fato de elas sempre terem intenções. Intenções essas, inclusive, cercadas de avisos e cuidados para não serem aceitas – quando a vontade era consumir todas as intenções sabendo que isso não determina o valor de seu corpo (e as vezes, desejo de só consumir as intenções e não aceitar as gentilezas…).
Enquanto dormia, seu corpo era seu, seus sonhos vagavam num mundo com suavidade. Um mundo prático e simples, em que a cor do cabelo, seu cumprimento, o tamanho de sua saia e de seu decote, a cor de seus lábios, o tamanho de seus pelos não fossem fonte de julgamentos constantes, sobre os cuidados de si (ou sua falta).
Enquanto dormia, o corpo da menina sabia não ter dono.
Mas também sabia não ter voz.
Até que um dia acordou.
[feliz – feliz? – dia internacional da mulher]
(hai-kai de Alice Ruiz, do livro Desorientais)
Recomendações:
Santos, L.H.S., Ribeiro, P.R.C. 2011. Corpo, gênero e sexualidade : instâncias e práticas de produção nas políticas da própria vida. Disponível em: http://www.sexualidadeescola.furg.br/index.php/biblioteca/livros?download=228:5-seminario.
Shelley, Mary. Frankeinstein. Disponível em: http://lelivros.love/book/frankestein-mary-shelley/.
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