Ciência, Tecnologia e Sociedade

Duas notícias publicadas hoje no jornal Folha de São Paulo on-line me chamaram a atenção. A primeira:

Projetos brasileiros de captura de CO2 não saem dos laboratórios – reportagem de Breno Costa, da Agência Folha, em Belo Horizonte
Visto como um dos principais meios de contenção do aquecimento global, projetos de sequestro de CO2 ganham corpo nos laboratórios de universidades brasileiras, mas ainda enfrentam ausência de “feedback” do poder público e de investimentos privados. A Folha localizou com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) ao menos 39 projetos de pesquisa em andamento em 18 instituições brasileiras, com desenvolvimento de novos mecanismos para o sequestro de carbono. Ainda não há, porém, aplicação em larga escala de tecnologia criada nessas universidades. Os mecanismos são testados, com sucesso, nos laboratórios. Mas, para escalas maiores, é preciso muito mais dinheiro.

A segunda:

Apesar dos iPods, sequenciamento genético, internet e Twitter, cerca de 30% dos norte-americanos dizem pensar que até 2010 já deveríamos estar mais avançados tecnologicamente. Nem todos esperavam viver como Jetsons, personagens da série de desenho animado futurista dos anos de 1960, mas uma pesquisa da Zogby International com mais de 3.000 adultos nos Estados Unidos mostra que muitos estão pouco animados sobre o quão longe chegamos ao fim de uma nova década.
“A faixa etária mais propensa a estar decepcionada com o atual patamar de avanço tecnológico é entre 35 e 54 anos (36%)”, informa a Zogby em comunicado sobre a pesquisa. Cerca de 21% das pessoas acreditam que estamos tecnologicamente mais avançados do que pensavam que estaríamos até 2010, enquanto 37% acreditam que estamos no caminho para cumprir com as expectativas. Cerca de um terço das pessoas de 70 anos ou mais disseram pensar que o atual nível tecnológico é mais avançado do que pensavam que seria. “Aqueles entre 18 e 30 anos são muito menos propensos do que as gerações anteriores a afirmar que os avanços tecnológicos até o momento excederam suas expectativas”, disse a Zogby. Os homens são mais propensos que as mulheres a dizer que esperavam avanços maiores até 2010 a respeito de um estilo de vida tecnológico parecido com os Jetsons, com carros voadores e empregados robôs.

Por vezes pode ser difícil perceber avanços tecnológicos quando não se conhece a ciência que os fundamenta. Porém, algumas mudanças são mais do que importantes, por mais difícil que seja percebê-las, uma vez que já estão entranhadas na sociedade. Lembro-me quando entrei em contato com email, pela primeira vez há 15 anos. E com a internet há 14 anos. 14 anos! Somente 14 anos. O mundo sofreu uma verdadeira revolução depois da implantação da www (world wide web). Ou será que alguém tem alguma dúvida sobre isso?

Outra descoberta que revolucionou completamente a história de planeta: a descoberta da reação de polimerização em cadeia (PCR, polymerase chain reaction), que permite amplificar fragmentos de DNA em quantidades muito maiores para que possam ser seqüenciados. Tal descoberta permitiu não somente estudar a biologia molecular dos seres vivos com muito mais segurança, mas também a descoberta de genes que controlam doenças, testes de paternidade definitivos (muitos homens não devem ter gostado da descoberta da PCR…), processos evolucionários. E a descoberta da PCR foi feita no início dos anos 90, mais ou menos na mesma época em que a internet começou a se expandir.

Questão combustíveis: bom, é bem sabido que o carro movido a gás hidrogênio, absolutamente não poluente, existe há vários anos. Porque não é lançado no mercado? Interesses econômicos, muito fortes. Mas esta tecnologia está pronta para ser implementada.

Projetos tecnológicos são muito importantes e interessantes. Mas só são possíveis graças à ciência, que dá fundamentação à tecnologia. A inovação tecnológica só funciona bem com uma parceria efetiva com o setor industrial, com um sistema de proteção da propriedade intelectual (patentes) extremamente eficaz, e com um mercado potencial ávido por novidades.

Carros que voam? Empregados robôs? Seria bom que as pessoas procurassem entender os princípios científicos que fundamentariam tais objetos de luxo. Totalmente dispensáveis (pelo menos para uso individual).

Esta postagem pode ser muito mais aprofundada. É bem possível que outras, relacionadas a esta, apareçam aqui ao longo de 2010.

Discussão - 4 comentários

  1. Rafael disse:

    "(muitos homens não devem ter gostado da descoberta da PCR...)"
    Mulheres também, não se esqueça... xD
    Sinceramente, não sei se os avanços tecnológicos excederam ou não as expectativas. Ainda mais quando considero um avanço heterogêneo na tecnologia em diferentes áreas da ciência e a dificuldade de implementá-las - como mencionado no texto, seja por pressões econômicas, políticas ou sociais.
    Espero mais sobre o assunto! Obrigado pelo ótimo post. ^^

  2. Roberto disse:

    Oi Rafael,
    Valeu pelo comentário.
    É, realmente deve haver mulheres que também não apreciaram a descoberta do PCR... 🙂
    Quanto aos avanços tecnológicos: acredito na máxima "a oportunidade faz o ladrão", ou seja, se ainda não desenvolvemos naves espaciais para viajar para Marte em pouco tempo, é porque a história ainda não chegou neste momento. Mas também acredito que deva existir, cada vez mais, um senso de responsabilidade sobre as necessidades prementes de desenvolvimento tecnológico, e não apenas objetivando o consumo e a satisfação imediatos. Talvez seja um sonho meu.
    Embora eu também ache que seja bastante questionável que pressões econômicas, políticas e sociais estabeleçam quais deveriam ser as prioridades na pesquisa e no desenvolvimento tecnológico, por outro lado é meio inevitável que isso aconteça. Afinal, boa parte da pesquisa científica e tecnológica é financiada com dinheiro público.
    saudações,
    Roberto

  3. Roberto disse:

    Uau! Eu realmente desconhecia estes detalhes. Excelente referência. Ainda mais para um professor de química, como eu. Muito bom. Usarei suas informações nas minhas aulas.
    Valeu mesmo!
    abraço,
    Roberto

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