Sobre Twitter, Facebook e acesso aberto de publicações científicas

A revista científica Angewandte Chemie International Edition é uma das mais conceituadas, senão a mais importante, da área de química. Com um fator de impacto de 10,879, publica artigos científicos relacionados a todas as áreas de química. É o periódico de química por excelência, ao lado do Journal of the American Chemical Society (JACS).

O editorial da última edição da Angew. Chem. Int. Ed. traduz, de certa forma, a angústia científica contemporânea, e se refere à rapidez na publicação e disseminação da informação, além de ressaltar a importância na geração de conteúdo de qualidade. No editorial, Volker Gerhardt, um dos mais importantes filósofos alemães da atualidade, assinala a importância do acesso aberto (open access) para a publicação de trabalhos científicos, sem que se confunda a utilização desta com a promoção da ciência, qualidade com quantidade, e que não se perca o rumo para se avaliar, de maneira racional, o que realmente constitui boa ciência.

Peter Gölitz, que assina o editorial, indica o perigo que constitui a utilização do acesso aberto, uma vez que este é pago pelos autores. Sendo desta forma, as revistas científicas muito em breve perderão assinaturas institucionais e dependerão quase exclusivamente dos autores para sobreviver. Consequentemente, o risco de que muitas revistas passem a aceitar a “menor unidade publicável” (ou seja, artigos de qualidade marginal) não deve ser negligenciado, pois dependerão destes para continuar a existir. Ainda, levanta questões interessantes, sobre quantas publicações se espera do desenvolvimento de um determinado projeto e se um projeto deve gerar publicações científicas à exaustão.

Levando-se em conta a necessidade de sobrevivência das revistas científicas, atualmente os editores encontram-se sob pressão para conseguir artigos de qualidade e publicá-los o mais rapidamente possível. Desta forma, fica até mesmo difícil controlar o processo de avaliação por pares, uma vez que avaliações por demais criteriosas podem atrasar a publicação de artigos. Além do mais, Gölitz assinala que as revistas tenderão a se adaptar mais aos autores do que aos leitores, pois dependerão mais dos primeiros. Porém, tal argumentação é questionável, pois os autores lêem as próprias revistas em que publicam, e esperam que sejam citados por seus trabalhos publicados. Considerando-se que estes devem se apresentar segundo as boas normas de editoração, espera-se que se construa um equilíbrio de necessidades e expectativas entre autores, editores e leitores das revistas científicas com acesso aberto.

Angewandte Chemie International Edition já adotou o acesso aberto – é um dos poucos periódicos científicos de excelência que o fez , ao lado da PLOS One (uma lista completa de periódicos de acesso aberto pode ser encontrada no Directory of Open Access Journals). A American Chemical Society (ACS), editora de muitas revistas de alto conceito, reluta em adotar o acesso aberto. Embora já tenha adotado a publicação eletrônica como seu principal meio de disseminação (a partir de 2010 a ACS não mais publicará revistas na sua forma impressa). Neste sentido, o Journal of the Brazilian Chemical Society é um periódico científico de vanguarda: adotou o acesso aberto há vários anos – gratuitamente. Mais recentemente a revista Química Nova (que aceita artigos em português, inglês e espanhol) também se tornou completamente on-line, de acesso aberto gratuito. Ambos JBCS e Química Nova são publicações da Sociedade Brasileira de Química.

Um dos elementos de diferenciação da Angewandte Chemie International Edition é o grau de exigência para aceitação de artigos a serem publicados. A atual taxa de rejeição é de 78% de todos os artigos submetidos para publicação no Angewandte Chemie. Considerando-se o custo da avaliação dos manuscritos submetidos, boa parte do valor pago pelos autores que publicam na Angew. Chem Int. Ed. de acesso aberto se refere ao processo de avaliação por pares. Principalmente porque os trabalhos rejeitados custam mais caro para serem analisados do que os trabalhos aceitos. Não somente em termos de custos financeiros, mas principalmente de tempo (que reflete no financeiro). Além disso, os revisores da revista passam a ter um papel crucial na qualidade da revista. Segundo Gölitz, até outubro/2009 foram submetidos 6500 artigos à Angew. Chem. Int. Ed., que necessitaram de 18000 avaliações por pares. Destas, 12000 foram realizadas. No caso de revisores que avaliam dois ou mais artigos por mês, a revista passará a fornecer um certificado especial, atestando o valor do trabalho realizado por estes assessores. O corpo editorial acredita que desta maneira estará valorizando o trabalho de seus revisores e colaborando para seu reconhecimento em suas instituições de origem. Que assim seja.

Gölitz termina por justificar, em seu longo editorial, a necessidade do pagamento de diversos outros custos a partir do momento em que a revista adotou o acesso aberto.

Existe um porém na utilização do acesso aberto. Os custos de publicação por acesso aberto são altos. Variam de centenas a milhares de dólares por artigo científico. Quem pode pagar tais valores? Pesquisadores de países desenvolvidos. Pesquisadores de países em desenvolvimento terão cada vez mais dificuldade em arcar com tais despesas. Sendo assim, será oficializada a divisão da ciência em artigos publicados em revistas de acesso aberto de alto custo e aqueles publicados em revistas de acesso aberto (ou apenas impressas?) marginais. Tal divisão não é boa, e conduzirá a sérias distorções no extremamente lucrativo mercado das publicações científicas, que aos poucos leva à mercantilização da ciência como nunca se viu antes. É lamentável que, além da classificação dogmática da ciência por fatores de impacto, índice-h e número de citações, a ciência caminhe para ser um objeto de extremo luxo.

Caminho sem volta? Ou momento para reflexão?

O editorial de Peter Gölitz, “Twitter, Facebbok, and Open Access … encontra-se no prelo na revista Angew. Chem. Int. Ed., mas pode ser visualizado aqui, infelizmente só por aqueles que dispõem de acesso institucional (ou pessoal) ao periódico.

Peter Gölitz (2009). Twitter, Facebook, and Open Access … Angewandte Chemie International Edition DOI: 10.1002/anie.200906501

Quando a informação incomoda (ou Quando a verdade dói, parte II)

Segundo notícia publicada no jornal Estado de São Paulo on-line, nesta última quarta feira dia 9/12/09 Joseph Ratzinger, o papa Bento 16 criticou nesta quarta-feira, 9/12/2009, a forma como a imprensa retrata e amplifica os males que atingem as cidades, fazendo as pessoas se “acostumarem com as coisas mais horríveis” e “se tornarem mais insensíveis”, e “intoxicando” a todos, uma vez que o que é “negativo nunca se elimina”. O papa acrescentou que os meios de comunicação tendem a fazer “o cidadão se sentir sempre como um espectador, como se o mal só dissesse respeito aos demais e certas coisas jamais pudessem acontecer” com ele. O pontífice, de 82 anos, fez estas declarações diante do monumento à Imaculada Conceição, cujo dia é celebrado nesta quarta-feira.

Ao depositar um cesto de rosas flores diante da estátua coroada pela imagem de Nossa Senhora, Bento XVI disse que Maria ainda repete aos homens de nosso tempo: “Não tenham medo, já que Jesus venceu o mal”. “O quanto precisamos desta bela notícia! A cada dia, nos jornais, na televisão e no rádio, o mal é contado, repetido e amplificado, fazendo as pessoas se acostumarem com as coisas mais horríveis, nos tornando mais insensíveis e de, alguma maneira, nos intoxicando”, acrescentou. O papa também afirmou que “o negativo nunca é totalmente eliminado, e dia a dia vai se acumulando”. “O coração endurece e os pensamentos ficam obscuros”, destacou.

As declarações de Ratzinger fazem lembrar fatos ocorridos recentemente. O presidente socialista da Bolívia, Evo Morales, criticou na terça-feira dia 8/12/2009 a “liberdade de expressão exagerada” que, segundo ele, impera em seu país, e lamentou a falta de apoio da imprensa durante sua campanha eleitoral. “Eu sou uma vítima permanente da imprensa. Existe uma liberdade de expressão exagerada” na Bolívia, afirmou o dirigente a uma jornalista em Cochabamba.

Durante a campanha eleitoral, a maioria dos meios de comunicação, controlada por empresários de direita, se posicionou contra Morales, que no entanto conseguiu se reeleger para um segundo mandato de cinco anos. Para Morales, uma grande parte da imprensa de Cochabamba é influenciada por uma jornalista de direita, deputada e ligada ao ex-presidente conservador Jorge Quiroga, além de desafeta do dirigente socialista; mas preferiu não citar nomes. Evo Morales mantém desde 2006 uma relação complicada com a imprensa em seu país.

Em setembro, o grupo Clarín, maior holding de mídia da Argentina, foi alvo de uma operação da Associação Federal de Ingressos Públicos (AFIP, equivalente a Receita Federal) do governo de Cristina Kirchner. Entre 180 a 200 fiscais do órgão tiveram acesso ao edifício onde funcionam as redações dos jornais Clarín, Olé e La Razón. Foi uma “operação de intimidação”, após denúncia publicada na edição do que dava conta que, por decisão da ONNCA (Oficina Nacional de Controle de Comércio Agropecuário), foram pagos mais 10 milhões de pesos em subsídios a uma empresa que estava em condição irregular, sem licença para funcionar. De acordo com a reportagem, o próprio órgão concedeu a empresa uma “matrícula provisória” após os subsídios. Associações de jornalistas denunciaram ao longo dos últimos anos intensas pressões do governo argentino aos profissionais da mídia, grampos telefônicos e ameaças diversas. Os escritórios do jornal Clarín foram atacados com pichações de militantes governistas. Enquanto foi presidente, Néstor Kirchner nunca deu uma entrevista coletiva. Sua mulher, Cristina, só aceitou entrevistas exclusivas com meios de comunicação aliados do governo.

Cristina também não veicula publicidade oficial nos jornais críticos. Mas, os empresários amigos do governo conseguem farta publicidade do governo. Esse é o caso de Rudy Ulloa, magnata da mídia no sul do país que lançou a revista Atitude, que na capa ostenta controvertido slogan: “Uma revista que não é independente.”

Também neste ano, na Venezuela o presidente Hugo Chávez não renovou a concessão do canal de TV oposicionista RCTV. Houveram manifestos das duas partes da população, aqueles que apóiam a decisão do presidente, e daqueles que são contra, que acusam o líder venezuelano de atentar contra a liberdade de expressão. A emissora privada de TV Rádio Caracas Televisión (RCTV) era o canal mais antigo do país e saiu do ar após 53 anos de exibição no canal 2. Segundo o presidente Hugo Chávez, a emissora não teve seu contrato renovado por prejudicar o socialismo do século XXI. Ao mesmo tempo em que diretores e funcionários se despediam da sua audiência com o slogan “Um amigo é para sempre”, confrontos de manifestantes com a polícia eram registrados na capital.

Mas o que Ratzinger, Morales, Cristina Kirchner e Chávez têm em comum? Porque a imprensa e os meios de comunicação os incomodam tanto?

Por um lado, o direito de contestar. Por outro lado, uma imprensa que não esteja vinculada ao sistema de poder. Segundo Noam Chomsky, professor de lingüística do Massachussets Institute of Technology (MIT) em Boston, e um dos principais críticos do modelo de sociedade norte-americana, “existe todo tipo de dispositivo de filtração para desfazer-se de gente que pensa de forma independente e possa criar problemas“. Chomsky se refere, explicitamente, aos meios de comunicação que não se alinham com os órgãos de poder em seus respectivos países.

Libertas quae sera tamen.

Polêmica Fúngica

Grupo de pesquisas da Holanda publicou recentemente artigo na revista The Lancet Infectious Diseases, questionando veementemente o uso de fungicidas agrícolas, uma vez que obtiveram fortes evidências que o uso destes promove resistência no fungo Aspergillus fumigatus, altamente patogênico para humanos. Os pesquisadores argumentam que tais fatos teriam conseqüências mundiais, segundo Paul Verweij, coordenador do estudo.

Porém, foram questionados por Herbert Hof, diretor do Instituto de Microbiologia Médica da Universidade de Heidelberg (Alemanha), que diz que os autores buscam ganhar espaço na mídia. Por outro lado, os resultados obtidos pelos holandeses foram apoiados por David Denning, professor da Universidade de Manchester e diretor do Centro Nacional de Aspergilose do Reino Unido.

Infecção pelo fungo A. fumigatus pode até mesmo levar à morte pacientes imunodeprimidos. Como o próprio nome do fungo atesta, o gênero Aspergillus apresenta uma grande disseminação pelo ar, o que torna fácil a inalação de seus esporos. Várias linhagens de Aspergillus são resistentes a alguns dos mais potentes antifúngicos conhecidos, como os “azóis”, uma classe de antifúngicos utilizado em agricultura. Os pesquisadores holandeses detectaram mutações genéticas em A. fumigatus isolado de ambientes hospitalares, o que pode indicar que pacientes destes hospitais podem estar infectados com A. fumigatus resistentes aos azóis. Tais antifúngicos são utilizados principalmente na Europa (muito menos nos EUA).

O risco do uso dos azóis têm sido debatido há vários anos. Em 2002, uma comissão da Comunidade Européia minimizou o fato. Esta notícia (desta postagem) foi publicada na revista Science, que diz ter recebido uma mensagem por email de Herbert Hof, afirmando que o surgimento de resistência em fungos é balela, pois estes não apresentam ativação de genes de resistência. Por fim, as companhias produtoras de antifúngicos dizem que não existe ligação entre o uso de azóis na agricultura e a infecção de pessoas por A. fumigatus resistente aos antibióticos.

E aí? Quem está com a razão?
Veja o artigo de Martin Enserink, “Farm Fungicides Linked to Resistance in a Human Pathogen”, Science, 2009, volume 326, p. 1173.

Blogs, microblogs, ensino e aprendizado

“Nossos estudantes mudaram radicalmente. Os estudantes de hoje não são mais as pessoas para as quais nosso sistema educacioal foi criado.”

Com esta frase, de autoria de Mark Prensky, os autores do artigo “Can Weblogs and Microblogs Change Traditional Scientific Writing?”, Martin Ebner e Hermann Maurer, iniciam a apresentação de um estudo extremamente interessante, realizado com alunos da Graz University of Technology da Austria.

Ao levantar questões como:
O surgimento da web 2.0 e do e-Learning 2.0, houve uma mudança radical de comportamento?
Os estudantes que estão ingressando nas universidades não são mais comparáveis aos de alguns anos atrás?
Como as novas tecnologias de ensino on-line são aceitas pelas pessoas que ingressam nas universidades?
Será que estas pessoas apenas consomem conhecimento ou também contribuem com seu trabalho e idéias?
Estas pessoas sabem como criar e manter um blog e outras ferramentas similares?
Qual o real benefício que estas pessoas podem obter de trabalhar com estas ferramentas?
O quanto os professores impedem estas pessoas de aprender, não oferecendo novas maneiras de aprender e de realizar trabalho em comunidade?
Se as pessoas estão se tornando cada vez mais “móveis”, porque elas não podem aprender de maneira “móvel”?
Seria este o desafio do futuro?
Por que não podemos adaptar comunicação informal, distribuição e estruturas de consumo em processos de aprendizado?
Pois, parece bastante óbvio que atualmente as crianças, estudanetes e professores estão praticando um tipo diferente de aprendizado e de ensino.

Os autores do trabalho consideraram seriamente a possibilidade de desenvolver novas abordagens de ensino, integrando blogs e microblogs (tipo Twitter) aos processos de criação, reflexão e discussão de conteúdo didático. Desta forma, em outubro de 2006 a Graz University of Technology criou uma blogosfera para todos os membros da universidade. Cada membro desta comunidade podia, então, criar seu próprio blog e escrever, colaborar na elaboração e repartir o conteúdo criado em seu blog. Os autores do trabalho utilizaram uma disciplina, “Aspectos Sociais da Tecnologia da Informação”, para aplicar sua idéia e verificar como os estudantes aceitariam estas atividades.

A disiplina em questão é ministrada anualmente a 200 alunos, sendo obrigatória para estudantes de informática, de maneira a estimular uma visão crítica nos alunos de como a informática influencia a sociedade humana na atualidade. Durante esta disciplina os estudantes assistem a 17 apresentações de profissionais da área, sobre temas como “Interação Computacional Humana”, “eSaúde”, “Blogs como mundos virtuais”, e também sobre o uso de informática em engenharia civil. Os estudantes devem:
a) realizar uma reflexão sobre as apresentações que viram, e formar sua própria opinião.
b) discutir sobre as apresentações assistidas.
c) observar critérios de qualidade nas discussões sobre as apresentações, levando-se em conta critérios, métodos e abordagens científicas.

Para o desenvolvimento das atividades pelos alunos, foram criados 4 grupos:
a) o “escritor científico”, alunos que deveriam escrever pequenos ensaios sobre tópicos de sua escolha, com data para entrega;
b) o “revisor científico”, alunos que recebiam os textos escritos pelo grupo anterior e deveriam revisá-los. Cada estudante deste grupo teve que revisar pelo menos 4 textos. Cada texto teve pelo menos 2 revisões;
c) os “bloggers”, que cuidaram de postar os textos criados pelo grupo a);
d) os “microbloggers”, que tinham que postar pelo menos 2 comentários por semana sobre os textos postados pelo grupo dos “bloggers”.

Como pode ser percebido pela figura a seguir, formou-se uma verdadeira “rede” entre os grupos participantes, que discutiram ativamente a elaboração, a revisão e o conteúdo dos textos postados.

Os autores do artigo dizem que, trabalhando desta maneira os estudantes tiveram que desenvolver a atividade com um bom nível de organização. Este fator foi muito positivo, tendo em vista que, pelo método tradicional (aplicado até então), os estudantes preparavam seus textos com uma antecedência mínima à data de entrega para o professor, sem tempo para discutir seus trabalhos. Trabalhando com os blogs e microblogs, todos os participantes geraram documentos ao longo de todo o semestre, os quais foram amplamente discutidos pela comunidade dos participantes. Foram agregados aos textos eletrônicos dos blogs elementos como vídeos e figuras, normalmente não utilizados quando os textos eram elaborados na sua maneira tradicional.

No fim do curso, os avaliadores na disciplina distribuiram um questionário para ser preenchido/respondido pelos alunos. 149 dos 185 matriculados (81%) responderam ao questionário. Dentre os que responderam, 129 não conheciam microblogs, 17 já tinham ouvido falar de microblogs, 2 já tinham utilizado microblogs pelo menos 1 vez e 2 utilizavam microblogs.

Dentre os que responderam, 79% disseram ter lido os textos produzidos pelos “escritores científicos” e 49% disseram ter lido os textos produzidos pelos “bloggers”.

A terceira pergunta apresentada pelos avaliadores da disciplina foi “O que você pensa da utilização de microblogs na educação universitária?”. Algumas respostasm foram:
– É útil para anúncios – datas de apresentações e compartilhamento de informações.
– Bom para troca de informações – melhora o desempenho daqueles que divulgam notícias.
– Microblogs podem ser utilizados para discutir vários assuntos.
– Microblogs ajudam a compartilhar links e idéias.
– São úteis para indicar uma postagem de um blog em particular.

Desta maneira, os autores do artigo dizem que a atividade resultou nas seguintes constatações:
a) um aumento no poder reflexivo dos estudantes, principalmente por terem desenvolvido a atividade de revisão, que levou muitos a apresentarem suas opiniões.
b) o grupo dos bloggers escreveram muito mais textos de caráter pessoal.
c) Os alunos se sentiram muito mais motivados para comentar os textos criados pelos “escritores científicos”, por ser muito mais fácil, rápido, e de maneira mais curta (menos prolixa). Alguns comentários muito curtos adicionaram muito pouco valor à discussão. Mas as discussões mais elaboradas promoveram um aumento no aprendizado dos alunos.
d) a qualidade dos textos melhorou, não somente pelo fato de plágios poderem ser detectados imediatamente, mas também porque os textos criados foram revistos e comentados.

Os autores do artigo conlcuíram que a utilização de blogs e microblogs pode melhorar aulas trazendo recursos da internet para a classe, para que sejam discutidos. Todavia, as novas tecnologias não podem substituir a produção de textos. Mas o compartilhamento de idéias funciona de maneira muito mais efetiva. Porém, a troca de opiniões deve ser feita de maneira segura e controlada, o que foi realizado pelos “microbloggers” utilizando as postagens dos “bloggers”. Um dos pontos mais positivos da abordagem utilizada foi que os estudantes escreveram sobre um mesmo tópico durante longos períodos (ao longo do semestre). Em geral, os “bloggers” discutiram muito mais suas postagens do que os “escritores científicos” discutiram seus textos. Ou seja, blogs e microblogs constituem boas ferramentas para promover a reflexão de estudantes durante períodos mais longos, através da exploração e discussão dos tópicos abordados.

Sinceramente, achei este artigo muito interessante. A referência completa é: Martin Ebner e Hermann Maurer, “Can Weblogs and Microblogs Change Traditional Scientific Writing?”, Future Int
ernet
2009, 1, pp. 47-58; doi:10.3390/fi1010047. O artigo pode ser baixado livremente aqui, pois a revista é de acesso livre.

Chimica di Stradivari

Antonio Stradivari é conhecido como um dos mais renomados luthiers, particularmente por ter feito aqueles que são considerados os melhores violinos de todos os tempos. Estes instrumentos foram feitos entre 1665 e 1737 em Cremona, na Itália. Seu trabalho é considerado como sendo do apogeu da tradição Cremonesa na confecção de violinos. Stradivari era particularmente cuidadoso no acabamento de seus instrumentos, que chamou a atenção não somente de músicos e historiadores, mas também de químicos.
Trabalho publicado na revista Angewandte Chemie International Edition por grupo de pesquisadores franceses coordenados por Jean-Philipe Echard, do Laboratoire de recherche et de restauration, Musée de La Musique, na Cité de La Musique, foi a fundo na análise dos componentes do acabamento de 5 instrumentos feitos por Stradivari: quatro violinos e uma viola d’amore. Os instrumentos analisados são: um modelo comprido, sem nome, datado de aproximadamente 1692; um modelo Davidoff, de 1708; um modelo Provigny, de 1716; um modelo Sarasate, de 1724; e uma “viola d’amore” da época de 1720.

Os pesquisadores se utilizaram de técnicas analíticas extremamente sofisticadas para a análise do acabamento destes instrumentos, de maneira a minimizar a retirada de material (madeira e acabamento). A camada de verniz, por exemplo, foi analisada espacialmente por espectroscopia de radiação síncroton em um micro-infravermelho por transformadas de Fourier (SR-FTIR). A composição elementar de átomos inorgânicos do acabamento foi analisada por microscopia de varredura eletrônica catódica de emissão de campo com raios X de dispersão de energia (SEM-EDX). Tais técnicas não são destrutivas, ou seja, permitem a análise do acabamento sem que seja necessária a decomposição da amostra utilizada. Por fim, a mesma amostra foi analisada por cromatografia gasosa pirolítica acoplada à espectrometria de massas (PyGC-MS), de maneira a investigar a composição molecular específica de cada camada da amostra.
O verniz externo do modelo “Provigny” mostrou ser constituído de partículas vermelhas, contendo pigmentos do tipo antraquinonas. A comparação com vários padrões indicou maior similaridade com ácido carmínico, componente do carmim de cochonilhas, insetos do continente americano. As partículas do modelo “Provigny” também mostraram ser ricas em alumínio e oxigênio. Desta forma, os autores chegaram à conclusão que a camada de corante foi feita se depositando ácido carmínico em uma camada de óxido de alumínio hidratado, provavelmente AlK(SO4)2.12H2O. A fonte de carmim deve ter sido provavelmente a cochonilha Dactylopius coccus L., abundante à época na América Central (tais insetos vivem associados a cactos).

No caso do modelo Davidoff e da viola d’amore, estes instrumentos apresentaram uma camada de cor mais opaca. A camada de tinta apresentou alto teor de ferro e oxigênio, provavelmente na forma de hematita ( Fe2O3) e magnetita ( Fe3O4).
Tanto o modelo “Provigny” quanto a viola d’amore têm uma camada externa resinosa, a qual foi analisada por PyGC-MS. Os principais ácidos encontrados, ácido azelaico e subérico, confirmaram a natureza oleosa da resina, uma vez que estes ácidos resultam da oxidação de ácidos graxos insaturados. Os autores também identificaram diterpenos derivados da oxidação de compostos do tipo abietanos e pimaranos, considerados marcadores moleculares de resinas de árvores do gênero Pinaceae.
Os cinco instrumentos apresentaram uma estrutura de acabamento muito semelhante, apesar de terem sido confeccionados ao longo de três décadas. Stradivari aplicou primeiro um óleo secante para “selar” a madeira. Em seguida, aplicou uma camada de óleo resinoso com tinta. O modelo longo não apresentou qualquer pigmento. O modelo Sarasate mostrou ter sido tratado com o pigmento vermelho “vermillion”.

Os autores assinalam que Stradivari utilizou materiais disponíveis na sua época para o acabamento de seus instrumentos, e era um luthier extremamente cuidadoso, que dominava perfeitamente a arte da confecção de violinos.
O artigo de J.-P. Echard, L. Bertrand, A. von Bohlen, A.-S. Le Hô, C. Paris, L. Bellot-Gurlet, B. Soulier, A. Lattuati-Derieux, S. Thao, L. Robinet, B. Lavédrine, S. Vaiedelich, The Nature of the Extraordinary Finish of Stradivaris Instruments, está no prelo na revista Angew. Chem. Int. Ed. (DOI 10.1002/anie.200906553).

Síntese de RNA em água, sem polimerase

Quão longe estamos de compreender como surgiu a vida no planeta Terra? Fica difícil de imaginar, se levarmos em conta todos os esforços realizados ao longo dos últimos quase 60 anos, desde que Miller publicou o primeiro trabalho simulando reações da atmosfera terrestre primitiva antes do surgimento da vida. Desde então, o volume de pesquisas realizado neste ramo do conhecimento, chamado de “química pré-biótica” (química de antes da vida), só têm aumentado. Os trabalhos mais recentes apresentam resultados incríveis, e demonstram que talvez estejamos muito próximos de conseguir simular o surgimento de um “sistema vivo” em laboratório.

O grupo de pesquisas coordenado por Ernesto Di Mauro, da Universitá La Sapienza di Roma, publicou recentemente artigo na prestigiosa revista Journal of Biological Chemistry, que relata a síntese de longas cadeias de RNA (ácido ribonucléico) em água. Porque este trabalho é importante? Por vários motivos.
Em primeiro lugar, porque a reação química de “união” de monômeros do RNA, os assim chamados nucleotídeos (monofosfatos de citidina, guanosina, adenosina e uridina), é uma reação de condensação que tem a eliminação de uma molécula de água como produto secundário. Este é um fator complicador para que esta reação ocorra em meio aquoso, pois se produz água não deveria acontecer, uma vez que o ambiente já está cheio de água. Sendo assim, dentro das células esta reação requer o uso de enzimas, chamadas de RNA polimerases, que “ajudam” esta reação a acontecer.

O grupo de Di Mauro utilizou nucleotídeos de RNA ligeiramente diferentes daqueles utilizados nas células. Os das células apresentam seu grupo fosfato “livre”, ou seja, pronto para se unir a outra unidade de nucleotídeo. Os pesquisadores italianos utilizaram nucleotídeos nos quais o grupo fosfato está ligado internamente a dois grupos OH, e por isso se encontra ciclizado. Desta maneira, o monômero ciclizado apresenta uma “maior energia”, pois, quando reage o grupo fosfato “se abre”, e libera energia para o meio em que se encontra. A quantidade de energia liberada compensa o fato de a reação estar sendo realizada em água. Por isso, a reação ocorre. É uma idéia simples, e que foi utilizada de maneira muito inteligente pelos autores. Para que esta reação ocorra sem a necessidade de um catalisador (que acelera a reação diminuindo a energia livre de ativação; no caso a RNA polimerase), tal processo deve se basear em compostos que são intrinsecamente reativos, estáveis (que não se decomponham), de natureza química simples e que forneçam um produto similar àquele esperado (ou seja, polinucleotídeos).

Os autores inicialmente testaram a reação entre unidades de 2′-AMP (monofosfato de 2′-adenosina) ou entre unidades de 3′-AMP (mas não entre as duas), a temperaturas entre 40º e 90º C, durante 400 horas, sem sucesso. Todavia, quando utilizaram 3′,5′-cGMP (monofosfato de guanosina cíclico entre as posições 3′ e 5′), observaram o surgimento de cadeias com até 25 monômeros interligados. A reação foi realizada a 85º C, em uma concentração de 1 mM (0,001 moles/litro). Acima desta concentração a reação termina após a formação de uma cadeia com 8 unidades de nucleotídeos. Os autores observaram que o processo de formação da cadeia ocorre um duas etapas. Primeiro se formam pequenas cadeias, as quais depois passam a se unir, formando uma “população” de cadeias de diferentes tamanhos. A reação continuou durante 200 horas, quando os autores observaram cadeias com mais de 100 unidades de monômeros ligados entre si. Fato interessante, a reação entre unidades de 2′,3′-cAMP levou somente à formação de pequenas cadeias. Já a reação entre 3′,5′-cUMP e entre unidades de 3′,5′-cCMP forneceu apenas cadeias muito pequenas.

Como ocorre a reação? Bem, os autores propõem que esta ocorre através de um processo denominado “stacking”, durante o qual a ligação 3′,5′-fosfato de um nucleotídeo se abre e reage imediatamente com o oxigênio da posição 3′ de outro nucleotídeo. Assim, o grupo fosfato “pendurado” na posição 5′ vai reagindo seguidamente com o oxigênio da posição 3′ de outros nucleotídeos, e a cadeia de RNA vai aumentando de tamanho.

De maneira a estabilizar a cadeia, denominada de poli(G) (monofosfato de guanosina polimerizado), os autores adicionaram o polímero complementar, poli(C) (monofosfato de citidina polimerizado). Como se sabe, no interior das células, os nucleotídeos se estabilizam formando pares, através de ligações hidrogênio. A citidina forma par com guanosina, e a adenosina forma par com a timidina, no DNA. Desta maneira, duas cadeias se estabilizam e formam cadeias complementares, pareadas. Estas dão origem à chamada “dupla hélice” que constitui o DNA (ácido desoxirribonucléico). Ao adicionar poli(C) os autores promoveram a estabilização adicional da cadeia de poli(G) sintetizada.

Após a síntese, os pesquisadores investigaram o tempo de meia vida dos polímeros formados (o tempo de meia vida é o tempo necessário para que a quantidade dos polímeros formados diminua até a metade da quantidade formada inicialmente), e observaram que o tempo de meia vida dos polímeros formados a partir de 3′,5′-cGMP e de 3′,5′-cAMP são excepcionalmente longos. Ou seja, são polímeros estáveis, que duram muitas horas. E por isso podem, em princípio, exercer funções bioquímicas.

A grande questão é: bom, OK, os autores utilizaram monômeros do tipo 3′,5′-cXMP (onde X pode ser G, guanosina; A, adenosina; C, citosina; ou U, uridina) para realizar a reação de polimerização “espontânea” em água. Mas, será que estes monômeros podem ocorrer naturalmente com o grupo fosfato ciclizado? Sim. Trabalhos anteriores (citados no trabalho publicado) relataram a formação destes nucleotídeos, seja na presença de fosfato livre ou na presença de minerais de fosfato.

O interessante das reações realizadas é que estas não necessitam pré-ativação dos nucleotídeos, não necessitam de catalisador, e a polimerização ocorre em meio aquoso. A reação de polimerização ocorre através do processo de um processo denominado “stacking”, que é um tipo de “interação explosiva” entre os nucleotídeos, que resulta na rápida reação entre estes, formando a ligação éster de fosfato entre dois monômeros. O processo de “stacking” depende diretamente do pH do meio onde a reação ocorre, bem como da temperatura e do tamanho das moléculas que reagem. Em geral, reações através de “stacking” são favorecidas em baixas temperaturas, baixos pHs e moléculas longas.

O trabalho desenvolvido pelo grupo de Di Mauro é mais um exemplo de que a formação de oligômeros (pequenos polímeros) e polímeros de nucleotídeos (unidades monoméricas que dão origem ao RNA ou ao DNA) é possível de ocorrer em condições muito simples. Tais condições refletem, de certa maneira, o ambiente terrestre primitivo, no qual os precursores do RNA e do DNA que conhecemos devem ter surgido. Como ilustrado em outro artigo, publicado no início deste ano na revista Science, tais protótipos de RNA são passíveis de sofrer seleção natural. Assim, os mais estáveis serão selecionados, e se perpetuarão através de processos de duplicação. Resta saber como estes polímeros se transformaram em moléculas transportadoras de informação. Mas isso é outra história.

O artigo completo de G. Constanzo, S. Pino, F. Ciciriello e E. Di Mauro, “Generation of Long RNA Chains in Water”, The Journal of Biological Chemistry, 2009, vol. 284, 33206-33216, pode ser baixado aqui, para aqueles que têm acesso à assinatura da revista.

Quando a verdade dói

Nada mais incômodo sabermos de algo que nos incomoda profundamente. Uma crítica bem feita, ainda que de maneira agressiva, mas que no fundo é verdade, dói. Tomarmos consciência de nossas limitações, sejam estas quais forem, costuma doer. Receber uma má notícia de um médico competente, dói muito. Muito mesmo. A verdade muitas vezes dói. Mas é uma dor que nos leva a crescer e amadurecer. Profissionalmente, ou em termos pessoais. Reconhecer a dor da verdade e aceitar os fatos constitui um dos processos mais importantes para nossa formação.

Porém, muitas vezes preferimos esconder, e fazer de conta que a verdade não está presente.

Fatos recentes ilustram como aceitar a verdade dos fatos pode ser difícil. O apagão do dia 11/11/2009 ilustra bem este caso. Logo após o evento, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, manifestou-se dizendo que a causa seriam raios perto da região de Itabera. Argumento confirmado pela ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Todavia, pouco tempo depois engenheiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) afirmaram que

“Embora houvesse uma tempestade na região próxima a Itabera, no sul de São Paulo, com atividade de descargas no horário do apagão, as descargas mais próximas do sistema elétrico estavam a cerca de 30 km da subestação de Itabera e a cerca de 10 km de uma das quatro linhas de Furnas de 750 kV e cerca de 2 km de uma das outra linhas de 600 kV, que saem de Itaipu em direção a São Paulo. Além disso, a baixa intensidade da descarga registrada [menor que 20 kA] não seria capaz de produzir um desligamento da linha, mesmo que incidisse diretamente sobre ela, como também confirma a Rede Brasileira de Detecção de Descargas, que estava no momento do apagão operando com ótimo desempenho. Em geral, apenas descargas com intensidade superiores a 100 kA, atingindo diretamente uma linha, podem causar um desligamento de linhas de transmissão operando com tensões tão elevadas como as linhas de Itaipu [duas de 600 kV e duas de 750 kV].”

As declarações do INPE causaram profundo desconforto no governo. No dia seguinte o ministro das Minas e Energia desqualificou as declarações do INPE que, no entanto, deu suporte às declarações do engenheiro apresentadas no Jornal Nacional. Afinal, quem falou a verdade? Embora as reais causas do apagão ainda não tenham sido estabelecidas, ficou evidente que o governo não gostou do ocorrido, e tentou minimizar o fato. Porém, o importante não é esconder o problema, e sim conhecê-lo. Como disse o técnico do INPE, se o sistema de distribuição de energia elétrica fosse suscetível a raios de tão pequena intensidade, sua fragilidade estaria atestada. No mesmo dia o presidente Lula declarou que seria necessário se investigar a real causa do problema. As declarações apressadas para justificar o injustificável apenas pioraram o quadro geral que se formou depois do blecaute. Melhor é esperar para se conhecer as reais causas do ocorrido, para que estas possam ser posteriormente evitadas.

Anterior ao blecaute brasileiro foram as declarações de David Nutt, professor do Imperial College London e [ex-]presidente do comitê assessor do governo britânico sobre abuso de drogas, que causaram polêmica: o consumo de álcool e tabaco seria pior para a saúde do que o consumo de maconha, LSD e ecstasy. Nutt foi recentemente demitido de suas funções, fato que gerou protestos veementes da comunidade científica inglesa, que considera o ato do governo como sendo de extrema arbitrariedade. O governo inglês questionou a capacidade científica e profissional de Nutt. Porém, o que Nutt ganhou apresentando os fatos sobre o uso de drogas? E o que será que o governo inglês perderia caso aceitasse os fatos apresentados por Nutt?

É, muitas vezes a verdade dói.

Categorias

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM