A crescente população de nosso planeta, que já passa de 7 bilhões de pessoas, necessita de alimentação. Se hoje, segundo estimativas da Food and Agriculture Organization (FAO) das Nações Unidas, há mais de 800 milhões de pessoas em situação de fome no mundo e um número muito maior de pessoas com carências nutricionais importantes, se desenha para o futuro global um panorama desafiador. Por um lado, boa parte das plantas comercialmente cultivadas como alimentos estão próximas de seus limites fisiológicos de produtividade; por outro a expansão de áreas agrícolas já alcança níveis problemáticos, além dos quais não se deve chegar a fim de se manter um mínimo de estabilidade ecológica global.
Apesar de manifestar-se de maneira ampla, é, no entanto, no que diz respeito às proteínas, especificamente, que a situação alimentar torna-se crítica. A proteína de melhor qualidade, advinda de [simple_tooltip content=’carnes, ovos, leite e derivados’]fontes animais[/simple_tooltip], é também a que causa o maior impacto ambiental para ser produzida (levando-se em conta a criação animal em si e a produção de insumos para sua alimentação), notadamente uso extensivo de terras, emissão de gases do efeito estufa, consumo de água, compactação do solo, desflorestamento e o comprometimento do bem-estar do próprio animal. Tendo o consumo de proteínas de origem animal aumentado largamente nas últimas décadas, é necessário saber como nos comportaremos ao nos depararmos com a necessidade de conter a produção de carnes, ovos e leite. Mais importante, como assegurar a segurança alimentar das populações que, já nos dias atuais, não têm acesso a alimentos na quantidade e qualidade adequadas?
A resposta para estas questões certamente passa pelos, aqui chamados, Alimentos do Futuro. Objetivamente, Alimentos do Futuro podem ser considerados aqueles que, de alguma forma, deverão estar mais presentes em nossas mesas no futuro do que estão hoje, se quisermos enfrentar os problemas relacionados ao acesso a alimentos sem extinguir os ecossistemas de nosso planeta. O fato de não estarem ainda extensamente disseminados em nossa dieta atual, decorre de diferentes fatores, como culturais, de acesso, de produção e, mesmo, por ainda não estarem disponíveis para comercialização e consumo.
O Alimento do Futuro deve se encaixar em alguns dentre os seguintes critérios: produção que demanda pouco espaço, recursos e mão-de-obra; ser rico em proteínas e nutrientes essenciais; ter grande rendimento na produção; ser um produto agrícola totalmente ambientado às condições edafo-climáticas de cada região; advir de partes de alimentos hoje descartadas, mas que possuem alto potencial nutricional. Por fim, um critério deve ser comum a todos: alimentos cuja produção não contribua para a exaustão dos recursos naturais ou perda da biodiversidade.
Nas próximas postagens da série, passaremos a abordar quais alimentos podem ser bastante promissores na missão de promover nossa futura segurança alimentar.
Agradecimento: esse post foi conjuntamente escrito com Tatiana Catelli, Cecília Mendes e Tatiane Tobias, do Labjor/Unicamp.
Parabéns pelo Artigo.