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Belas cenas

Vi essa propaganda no Cartas da Itália do Allan que também escreve no Faça sua Parte. E me lembrei de um post que eu falava de polinização e de como as abelhas e outros insetos são muito importantes para a nós.

Achei as cenas dessa propaganda belíssimas e só quem já morou na Europa sabe o quanto essa época do ano é complicada pra quem tem alergia, lá a gente sente e vê a polinização acontecendo.

Dispersando

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Confesso que nunca fui muito fã de podcasts, mas gravar um foi bem interessante. Eis que saiu a página oficial do Podcast do Science Blogs Brasil – Dispersando – e o segundo episódio que conta com a minha participação, além é claro dos queridos vizinhos de condomínio Igor S, Rafael, Fernanda, Carlos e Kentaro.

O tema desse podcast foi generalizações e eu critiquei as generalizações feitas por ai para os produtos verdes da moda. Vale a pena conferir!

Poder & Amor – Palestra

Recebi o livro Poder & Amor da Editora Senac para resenhar e essa semana terão 2 palestras do autor do livro : Adam Kahane. Ainda estou lendo o livro e irei na palestra de quinta, portanto esperem uma resenha aqui em breve.

Seguem os dados das palestras que acontecem essa semana em São Paulo.

 

Palestra Liderança e lançamento do livro Poder e Amor

Data: 11/5, terça-feira

Local:  Senac Consolação – Salão Nobre – R Dr Vila Nova, 228

Horário: 19h30

Gratuito

Inscrições: eventosgd2@sp.senac.br ou 0800 883 2000

Informações: www.sp.senac.br

 

Palestra sobre o livro Poder & Amor

Data: 13/5, quinta-feira

Horário: das 18h30 às 20h

Local: Hotel Transamérica – Av. das Nações Unidas, 18.591 – São Paulo, SP

 

Quem é Adam Kahane…

 

O canadense Adam Kahane, especialista em resoluções de conflitos empresarias e sociais, vem ao Brasil entre 11 e 13 de maio para lançar o livro Poder & Amor – teoria e prática de mudanças sociais (Editora Senac São Paulo). Kahane foi facilitador de importantes conflitos como o Cenário Mont Fleur, na África do Sul, que tinha o objetivo de ajudar no processo de democratização pós-Apartheid, e o genocídio na Guatemala. Ao longo de vinte anos já trabalhou na resolução de problemas complexos em diversos países, entre eles Israel e Índia, ajudando a solucionar o conflito com a Palestina e resolver a questão da desnutrição infantil. No Brasil, Adam realiza trabalha sustentáveis em parceria com o Instituto Ethos em projetos para empresas como Grupo André Maggi, Samarco, Alcoa, Fiat, Natura, Itaú, Basf e Santander.  Kahane faz duas palestras em São Paulo, dia 11 no Senac  Consolação e dia 13 no Instituto Ethos. Nas apresentações, o especialista debate sobre como equilibrar as forças do poder e do amor na resolução dos desafios do mundo contemporâneo, nas empresas, no governo e na sociedade.

“Em meu trabalho diário e nesse livro eu tento ajudar cada vez mais pessoas que lidam por um mundo melhor. Procuro inspirar os agentes de mudanças – seja nas empresas, no governo ou na sociedade civil – a serem mais efetivos em suas ações. Por isso, divido minha experiência e tudo o que aprendi lidando com processos e cenários complexos”.

Esqueça os banhos curtos

O único pecado do texto abaixo são os exemplos americanos, que muitas vezes não se encaixam na nossa realidade brasileira, mas de resto não tem como não concordar com que ele fala. Pode parecer radical demais em alguns pontos, até mesmo pessimista, mas é a mais pura verdade, acreditar que só fazer a nossa parte é o suficiente para revolucionar o mundo é muito pouco.

Aqui no blog cito muito exemplos de empresas porque acho que são elas que tem que mudar independentemente da decisão de compra do consumidor, afinal, antes de mais nada antes de ser consumidor qualquer pessoa é um cidadão que quer ver as coisas certas sendo feitas no mundo em que vive. Claro que o governo pode e deve ajudar, mas como parece que eles não se preocupam muito com esse assunto (vide COP-15) a pressão tem que acontecer dos cidadão também.

Jogar toda a responsabilidade de salvar o mundo no colo das pessoas é muito fácil, mas a pergunta que não quer calar é: quem realmente quer mudar?

Segue o texto com tradução livre minha.

Esqueça os banhos curtos
Por que mudanças pessoais não são iguais a mudanças políticas.

 

banho

 

Por Derrick Jensen
Alguém em sã consciência acharia que um catador de lixo pararia Hitler, ou que compostagem acabaria com a escravidão ou traria a jornada de 8 horas de trabalho, ou que cortar lenha ou carregar água tiraria as pessoas das prisões czaristas, ou que dançando nuas em torno de um fogo teria ajudado a pôr em prática o Ato de Direito ao Voto de 1957 ou o Ato de Direitos Civis de 1964? Então, por que agora, com todo o mundo em jogo, achamos que podemos salvar o mundo com soluções pessoais?

Parte do problema é que temos sido vítimas de uma campanha sistemática de desorientação. A cultura do consumo e da mentalidade capitalista que nos ensinou a substituir os atos de consumo pessoal por resistência à política organizada. O filme "Uma Verdade Inconveniente" ajudou a criar uma consciência sobre o aquecimento global. Mas você notou que todas as soluções apresentadas são relacionadas com consumo pessoal – trocando lâmpadas, calibrando pneus, dirigindo menos – e não tinha nada a ver com diminuir o poder das empresas, ou interromper o crescimento da economia que está destruindo o planeta? Mesmo que cada pessoa nos Estados Unidos fizesse tudo que o filme sugere, as emissões de carbono nos EUA teriam uma redução de apenas 22%. O consenso científico é que as emissões devem ser reduzidas, em todo o mundo, pelo menos em 75%.

Ou vamos falar da água. Nós ouvimos tantas vezes que o mundo está ficando sem água. Pessoas estão morrendo de falta de água. Os rios estão acabando por falta de água. Devido a isso, precisamos tomar banhos mais curtos. Vê a desconexão? Por tomar banho sou responsável por secar aquíferos? Bem, na verdade não. Mais de 90% da água usada pelos seres humanos é utilizada pela agricultura e indústria. Os restantes 10% são divididos entre os municípios e a vida dos seres humanos individuais. Coletivamente, os campos de golfe usam tanta água quanto os municípios. Pessoas (tanto as pessoas humanas e os peixes) não estão morrendo porque o mundo está ficando sem água. Eles estão morrendo porque a água é que está sendo roubada.

Ou vamos falar de energia. Kirkpatrick Sale resumiu bem: "Nos últimos 15 anos a história foi a mesma a cada ano: o consumo individual residencial, carro particular, e assim por diante, nada mais é do que cerca de um quarto de todo o consumo, a grande maioria é comercial, industrial, empresarial, agronegócio e governo [ele esqueceu militares]. Por isso, mesmo se todos nós andássemos de bicicleta e tivéssemos fogões à lenha o impacto seria pouco significativo sobre o consumo de energia, aquecimento global e poluição atmosférica."

Ou vamos falar de resíduos. Em 2005, a produção de resíduos per capita municipal (basicamente tudo o que é posto para fora na calçada), nos EUA, foi de cerca de 753 kg. Vamos dizer que você é um ativista radical de vida simples e reduz seu resíduo a zero. Recicla tudo. Você usa sacolas de pano. Você conserta a torradeira. Seus dedos saem pra fora do seu tênis velho. Isso não é o suficiente, apesar de tudo. Uma vez que os resíduos urbanos não incluem apenas os resíduos residenciais, mas também resíduos de escritórios do governo e das empresas. Aí você marcha para os escritórios, panfleta redução de resíduos e convencê-os a reduzir seus resíduos o suficiente para eliminar a sua parte dela. Então, eu tenho uma má notícia. Os resíduos municipais são apenas 3% da produção total de resíduos nos Estados Unidos.

Eu quero ser claro. Não estou dizendo que não devemos viver de uma maneira mais simples. Eu vivo razoavelmente simples, mas eu não finjo que não comprar muito (ou não dirigir muito, ou não ter filhos) é um ato político poderoso, ou que é profundamente revolucionário. Não é. Mudança pessoal não é igual a uma mudança social.

Então como, com o mundo em jogo, viemos a aceitar estas respostas absolutamente insuficientes? Acho que parte disso é que estamos em uma encruzilhada. Uma encruzilhada é o lugar onde você tem várias opções, mas não importa qual opção você escolha, você perde e bater em retirada não é uma opção. Neste ponto deve ser muito fácil reconhecer que cada ação que envolve a economia industrial é destrutiva (e não devemos fingir que a energia solar fotovoltaica, por exemplo, nos isenta disso: eles ainda necessitam de mineração e infra-estruturas de transporte em todos os pontos e processos de produção, o mesmo se pode dizer de todas as outras chamadas tecnologias verdes). Então, se nós escolhermos a opção um -  participar avidamente da economia industrial – acho que poderemos, no curto prazo, ganhar, porque podemos acumular riqueza, o marco de "sucesso" nesta cultura. Mas perderemos, porque ao fazê-lo desistimos de nossa empatia, nossa humanidade. E nós realmente perderemos, porque a civilização industrial está matando o planeta, o que significa que todos perdem. Se nós escolhermos a opção "alternativa de vida mais simples", causando menos danos, mas ainda não evitando a economia industrial de matar o planeta, podemos, a curto prazo ganharmos, porque nós começamos a nos sentir puros, e não teremos que desistir de toda a nossa empatia (apenas o suficiente para justificar não interromper os horrores), mas mais uma vez nós realmente perderemos, porque a civilização industrial ainda está matando o planeta, o que significa que todos perdem. A terceira opção, atuando de forma decisiva para impedir a economia industrial, é muito assustadora por uma série de razões, incluindo, mas não se restringindo ao fato de que perderíamos alguns luxos (como a eletricidade), ao qual estamos acostumados, e o fato de que quem está no poder pode tentar nos matar se impedirmos seriamente a sua capacidade de explorar o mundo – nenhuma das razões altera o fato de que essa opção é melhor do que um planeta morto. Qualquer opção é uma opção melhor do que um planeta morto.

Além de ser ineficaz para causar os tipos de mudanças necessárias para pôr fim a esta cultura de morte no planeta, há pelo menos quatro outros problemas com a percepção de &quot
;viver simplesmente"* como um ato político (ao contrário de vida mais simples, porque isso é o que você quer fazer). O primeiro é baseado na noção errônea de que os seres humanos inevitavelmente prejudicam seu ambiente. Vida mais simples como um ato político consiste unicamente na redução de danos, ignorando o fato de que os humanos podem ajudar a Terra, bem como prejudicá-la. Podemos recuperar córregos, podemos nos livrar de invasores nocivos, podemos remover as barragens, interromper um sistema político inclinado na direção dos ricos, assim como o sistema econômico, podemos destruir a economia industrial que está destruindo o mundo real, físico.

O segundo problema – e esse é um bem grande – é que ele incorretamente atribui a culpa ao indivíduo (e mais especialmente para o indivíduo, que são particularmente impotentes) em vez de culpar realmente aqueles que detêm o poder neste sistema. Kirkpatrick Sale mais uma vez diz: "Todo sentimento de culpa individualista o-que-posso-fazer-para-salvar-a-terra é um mito. Nós, como indivíduos, não estamos criando a crise e não podemos resolvê-la. "
O terceiro problema é que ele aceita a redefinição do capitalismo de cidadãos para consumidores. Ao aceitar essa redefinição, reduzimos nossas formas potenciais de resistência a consumir e não consumir. Os cidadãos têm uma gama muito maior de táticas de resistência disponíveis, incluindo o voto ou não votar, correndo para o escritório, panfletando, boicote, organização de lobby, protestando e quando um governo se torna destrutivo a vida, a liberdade e a busca da felicidade, têm o direito de alterá-lo ou aboli-lo.

O quarto problema é que o desfecho da lógica por trás de uma vida simples como um ato político é o suicídio. Se cada ato dentro da economia industrial é destrutivo, se quisermos parar com esta destruição e se estamos relutantes (ou incapazes) de questionar (muito menos destruir) as infra-estruturas intelectuais, morais, econômicas e físicas que fazem com que todo ato na economia industrial seja destrutivo, então podemos facilmente passar a acreditar que vamos causar o mínimo possível de destruição se morrermos.

A boa notícia é que existem outras opções. Podemos seguir os exemplos de militantes corajosos que viveram os tempos difíceis que eu mencionei, Alemanha Nazi, a Rússia czarista, que fizeram muito mais do que manifestar uma forma de pureza moral, que se opuseram ativamente contra as injustiças que os cercavam. Podemos seguir o exemplo daqueles que lembraram que o papel de um ativista não é continuar no sistema de poder opressor mantendo a integridade tanto quanto possível, mas sim confrontar e derrubar esses sistemas.

*viver simplesmente refere-se ao movimento Simple Living que é um estilo de vida caracterizado por consumir apenas o suficiente para se manter vivo.

Texto original em inglês: http://www.orionmagazine.org/index.php/articles/article/4801/

Imagem: http://www.flickr.com/photos/demenciano/280171857/

Quer um exemplo?

Ano passado eu dei uma sugestão de briefing de como poderia ou deveria ser uma campanha de sustentabilidade. Eis que encontrei uma que fala de sustentabilidade sem nem falar essa palavra, que não subestima a inteligência do consumidor e não pede pra ele comprar mais e mais. Espero que tenha mais exemplos como esses por ai, tentei encontrar mas não achei exatamente como eu gostaria. Provavelmente esses exemplos tenham um apelo a mais pra mim pois eu conheci essas pessoas e os lugares mostrados.

 

 

 

Quanto vale um animal selvagem?

jararaca

 

Os pais do meu namorado encontraram uma cobra no sítio. Colocaram-na numa garrafa PET e não sabiam o que fazer com o animal. Ligaram no bombeiro e eles disseram que não recolhem esse tipo de animal e na maioria das vezes as pessoas matam. Ai eles passaram o telefone de uma pessoa que geralmente recolhe cobras, só que essa pessoa estava em outra cidade, mais ou menos uns 60km de distância.

Pois bem, ligamos para a pessoa e ele rodou os 60km para ver a cobra, nós rodamos mais uns 15km do sítio até o centro da cidade para levá-la. Descobrimos que se tratava de uma jararaca  (Bothrops jararaca) e por ser bastante venenosa não era recomendado solta-lá novamente no sítio por causa dos outros animais (cachorros, vacas, galinhas, cavalos). O estudioso de cobras a levou embora dizendo que a entregaria num laboratório de uma Universidade da cidade que ele residia.

Só essa brincadeira de levar e trazer cobra foram rodados 150km, emitidos alguns quilos de gás carbono no ar e outros poluentes que qualquer carro emite… E ai? Uma cobra vale tudo isso? Matar teria sido a melhor solução? (Confesso que essa foi a minha primeira ideia). Ou será que soltá-la novamente na natureza e correr de perder outros animais seria o mais correto? Uma cobra vale mais que uma vaca? Não sei… Qual a melhor conduta numa situação como essa? Existe um o certo a fazer? Se alguém tiver a resposta, por favor me fale para que possamos agir corretamente numa outra ocasião.

 

P.S.: Eu sei que hoje é o dia Mundial da Água como já disse aqui, não me sinto na obrigação de escrever nada nessas datas comemorativas, já escrevo o ano todo sobre isso.

 

Foto: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/jararaca.jpg

Eu não entendo de moda

Eu sei que de moda não entendo nada mesmo, mas de sustentabilidade, meio ambiente eu tenho o mínimo de noção e quando o pessoal resolve misturar as duas coisas sinceramente só vejo coisa equivocada, ou melhor, coisas que estão além da minha compreensão.

Aqui no blog já falei de uma certa propaganda da Diesel, de um desfile que usou paineis solares como decoração e agora o digníssimo Karl Lagerfeld resolve falar de Global Cooling (Resfriamento Global, numa tradução literal) no desfile da Channel.

O famoso estilista para justificar o tema do seu desfile fala: “Have you felt any warming this winter?” (Você sentiu algum aquecimento nesse inverno?), mas espertamente termina afirmando “In any case, nature has its surprises” (De qualquer forma, a natureza tem suas surpresas). É, ele tem suas dúvidas sobre o aquecimento global e por isso mandou “construir” um iceberg no meio da passarela do seu desfile. Veja a foto.

02_chanel_jp090310Foram contratados 35 escultores de gelo para criar o cenário, ao longo de 6 dias eles esculpiram em  240 toneladas de neve e o ponto mais alto do iceberg tinha 8,5 metros. Dá pra ter noção da brincadeira? Tudo isso pra mostrar a coleção Outono/Inverno 2010.

É, se em Paris eles fazem isso, usar placas solares como parte do cenário aqui no Brasil deve ser sustentável mesmo… Talvez pra moda sustentabilidade seja outra coisa que eu ainda não descobri direito o que é, tem estilista que duvida do aquecimento global…

09_chanel_jp090310 Ah! Já ia me esquecendo, as peles usadas no desfile são falsas! Isso eu consigo concordar que é sustentável.

 

Notícia lida via @dias_silvia

Transparência

A Apple admitiu que usou mão-de-obra infantil (aqui notícia original em inglês). No twitter o Instituto Ethos  pergunta a opinião das pessoas sobre o assunto. A resposta que eu dei foi “eu fico feliz de não ter nenhum produto da apple!”. Mas isso não quer dizer que os outros produtos eletrônicos que possuo não tenham passado por mãos infantis quando foi fabricado. Triste realidade.

É de admirar a transparência da Apple sobre o assunto, anunciou que isso foi realidade e hoje combate esse tipo de coisa, estou esperando outras empresas como a HP, a Sony, a Motorola ou a LG também se manifestarem a respeito.

Existe um documentário chamado Uma empresa decente que mostra uma empresa que fornece produtos para a Nokia na China passando por uma “auditoria ética”, é possível ver as condições de trabalho, os alojamentos, os refeitórios e perceber como as coisas funcionam na China. Ser correto não é nada fácil num mundo globalizado, principalmente num país como a China onde o crescimento tem que acontecer a qualquer custo.

Eu costumo dizer que a era do custo baixo acabou. Se você quer ter um mínimo de decência na hora de pagar um serviço ou comprar um produto ele não vai custar barato. Pagar um salário decente para funcionários, causar o menor impacto ambiental possível ou pagar por serviços ecológicos, tudo isso custa dinheiro e não sai de graça, alguém sempre vai pagar essa conta em algum momento, seja o empresário, seja o trabalhador da empresa, seja o consumidor, seja a sociedade. Até bem pouco tempo atrás essas variáveis nunca sequer eram mencionadas na hora do cálculo de preço de qualquer coisa. Ser sustentável custa, não adianta se iludir que é barato, fácil e/ou rápido. Você só tem que decidir se quer fazer as coisas certas do jeito certo ou assumir riscos de ser pego utilizando mão de obra escrava ou infantil, poluindo, acabando com comunidades locais, destruindo ecossistemas, etc.

Sustentabilidade é decoração, novo conceito (eu acho).

placasolar

Pois bem, chegou um e-mail na minha caixa postal com o título Moda e Sustentabilidade. E veio junto essa foto ai de cima. Como meu último post perguntava o que era sustentabilidade pra você eu fiquei na dúvida sobre o que é sustentabilidade para quem escreveu o e-mail. Até respondi o mail perguntando isso. Mas na realidade a pergunta que eu gostaria de ter feito é: o que tem de sustentável usar placas solares como objeto de decoração? Hein, hein, hein? Ainda bem que não fui só eu que não entendi.

O que é sustentabilidade pra você?

Já tem um tempo eu mandei um mail para várias pessoas perguntando o que era sustentabilidade pra elas, pouquíssimas pessoas responderam, a ideia era juntar tudo isso num post e ver o que as pessoas pensam sobre sustentabilidade.

Como outro dia me perguntaram nos comentários o que era sustentabilidade pra mim resolvi retomar a ideia desse post e publicá-lo. As duas primeiras declarações eu peguei em alguma publicação que não me lembro agora qual era, as outras consegui por e-mail ou então com a ajuda do Hugo que também num passado distante perguntou isso para a lista de e-mail dele. Segue as opiniões…

 

“Sustentabilidade é um caminho sem volta. Com o tempo, a situação voltará à sua normalidade e quando a poeira baixar, quem tiver feito a lição de casa, certamente estará melhor posicionado no mercado e com diferencial competitivo em relação à concorrência” Maria Luiza Pinto, Diretora Executiva de Desenvolvimento Sustentável do Grupo Santander

“Sustentabilidade não é algo a mais, mas uma maneira diferente de fazer negócios. É um alvo móvel, que você nunca acerta, vai apenas se aproximando dele, tentando prever seus próximos movimentos. Em termos de cadeia, sustentabilidade não é apenas fazer alguma coisa boa, ou respeitar a lei. Significa conhecer e tornar transparente a relação com os fornecedores, por entender que os insumos são parte integrante de seu produto ou serviço. O aspecto mais crítico é que os impactos indiretos de uma atividade, via de regra, são muito mais sérios e importantes que os diretos. Em vez de esconder ou externalizar os passivos, o empreendedor preocupado com sustentabilidade os assume e transforma as iniciativas para superá-los em vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes.” Roberto Smeraldi, Diretor da Ong Amigos da Terra Amazônia Brasileira.

De forma bem resumida: “Sustentabilidade pra mim é construir sem destruir” 🙂 Edney Souza, Diretor de Operações da Pólvora Comunicações

 
“Integrar-se à natureza e protegê-la para que continue nos proporcionando a possibilidade de existir por muitos e muitos anos.” Gustavo Pimentel, economista, especialista em eco-finanças.


“Sustentabilidade é uma palavra que está super na moda, mas acredito que poucas pessoas param pra pensar o que um estilo de vida verdadeiramente sustentável exigiria de cada um de nós, se isso é possível, ou mesmo se é isso que realmente queremos. Pra falar a verdade, me pergunto se sustentabilidade não seria uma utopia. O homem primitivo já causava impactos sobre o meio ambiente ao seu redor (por exemplo, várias espécies animais desapareceram da América antes mesmo da colonização pelos europeus, em função da caça predatória dos povos que aqui já habitavam) quando as populações humanas ainda eram pequenas. Minha visão de sustentabilidade é um bocado negativa, eu sei.

O fato é que não acredito em sustentabilidade nos moldes de hoje: produtos “verdes” que parecem que tiram toda a culpa de consumir, como se esses produtos tivessem impacto zero sobre o meio ambiente. Fico feliz que os movimentos por estilos de vida mais simples e menos materiais estejam crescendo mundo afora. Afinal, luxo hoje não é só possuir bens, mas ter tempo, saúde, amigos…” Nathália Allenspach, bióloga, Recicle Blog.

Pra mim, sustentabilidade não é um tema novo, e sim um tema esquecido, que as pessoas estão relembrando agora. Deveria ter sido assim desde o começo da era industrial. Fabio Yabu, escritor e desenhista, Mude o Mundo.

Sustentabilidade é viver nos limites do possível. É escolher entre uma de duas restrições: taxa de renovação dos serviços e funções ecossistêmicos e taxa de assimilação e dejetos.

Porque um dos dois?  Porque se um permitir expansão de 2,5% e o outro, de 1,8%, prevalecerá a segunda restrição: o crescimento não pode ser superior a 1,8%. Herman Daly explica bem isso. Clóvis Cavalcanti, economista.

É um pensamento, uma ideia, um projeto, um estilo de vida para pessoas e empresas, que envolve melhorias na sociedade, no meio ambiente e mudanças no modo de pensar a economia. Paula Signorini, bióloga, Rastro de Carbono.

 

Sustentabilidade é uma atitude que utilize de alguma forma os recursos naturais, gere riquezas e que não o esgote em longo prazo, pensando em esgotar não somente em acabar mas em termos qualitativos também. Luiz Bento, ecólogo, Discutindo Ecologia.

 

Sustentabilidade significa reconhecer que somos a parte menos importante e mais vulnerável de um sistema vivo no qual todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. As principais razões de haver a vida na Terra, inclusive a humana, não deriva da iniciativa nem do poder humano, portanto, esse entendimento deve levar a total revogação da nossa atitude em relação aos seres vivos e aos ecossistemas, na qual os tratamos como se fossem infindáveis, inalteráveis e permanentes. O pensamento humano respaldado pela pseudo-ciência economia trabalha a idéia de modo perpétuo ao adotar leis da física de dois séculos atrás, relacionadas com a mecânica ou com a locomoção. Por essa razão, o conflito entre o sistema econômico-humano e o planeta só tende a aumentar e não diminuir enquanto idéias estapafúrdias, como crescimento econômico gerador de bem estar social, não forem removidas da sabedoria universal. 

O conflito é muito simples, pois a economia possui três características que a definem:

1) linear (extrai, produz, consome, descarta num ciclo exagerado de extenso desperdício e ineficiência  e o mito do jogar fora ou deixar os países mais avançados exportar sujeira, produção suja e viver de exportação de bens e recursos às custas de ecossistemas ainda existentes no mundo em desenvolvimento, tudo isso a custo zero),

2) infinita (produz crescimento exponencial contínuo de coisas, alimentos, pessoas, etc.) e

3) degenerativa (introduz materiais degenerativos nos ecossistemas como transgênicos, queima de combustíveis fósseis, compostos químicos, metais pesados, etc.). 

A natureza e o planeta, sistema maior do qual a economia e nossa sociedade é um subsistema dependente , é justamente o oposto:

1) circular (reaproveita tudo  com um ciclo fechado  em si mesmo e uma solução é a economia reaproveitar tudo ao máximo  e parar de fazer de conta que é um sistema aberto),

2) finita (a finitude territorialmente é óbvia demais embora a infantilidade dos economistas tente negar que sobre um território finito não há problema alguma acumular um estoque crescente de carros, casas, coisas,  poluição de todos os tipos, cacarecos e pessoas nem buscar uma demanda infinita por energia, quando já desperdiçamos mais da metade da energia disponível para nosso consumo desnecessário) e

3) regenerativa (a água é um bom exemplo, porque não só poluímos a água, como usamos além da sua capacidade de reposição e vários países estão caminhando para esgotamento de estoques hídricos simplesmente porque extraem mais do que os
aquíferos recebem e bons exemplos dessa atrocidade são os Estados Unidos e a China, mas Brasil vai pelo mesmo caminho ao destruir o Cerrado e a Amazônia).

O chocante de toda essa discussão tardia sobre sustentabilidade é que até agora seus principais mentores não atacaram a ciência econômica cujos modelos mirabolantes não há uma só variável  representativa da contribuição inigualável e irreproduzível dos recursos naturais e seus serviços ecológicos.  Enfim, não há uma só variável sequer para água, sem a qual não teríamos nada  e os economistas assumem total neutralidade, reversibilidade e previsibilidade dos processos econômicos em relação ao planeta e sua natureza. Com isso teimosamente acreditam que a economia pode ser maior que o planeta, embora seja uma impossibilidade física e ecológica. Essa inversão de eixos propiciada por esse conhecimento falso dos economistas precisa ser  feita urgentemente, porque até agora toda discussão sobre sustentabilidade tem sido ingênua, marginal, inútil e não deteve um segundo sequer o caminho suicida pelo qual segue nossa espécie animal e toda a vida desse planeta.

Sem um modelo social, político, histórico, cultural que concilie localmente nossas vidas com o planeta, com a natureza e com os demais seres vivos, revogando o desperdício, a ausência de noção dos limites da Terra não só não iremos atingir a sustentabilidade tão almejada como iremos desaparecer de um planeta ainda banhado em sol entregue apenas à vida bacteriana.

(Créditos à Nicholas Georgescu-Roegen e a Stephen Jay Gould em grande parte dessa definição) Hugo Penteado, economista, autor do livro Ecoeconomia Uma nova abordagem, Nosso Futuro Comum.

 

E pra mim? O que é sustentabilidade? Pra mim acho que as palavras que mais combinam com sustentabilidade é equilíbrio e parcimônia e a grande dificuldade de ser sustentável é que o ser humano ainda não aprendeu a ter nem ser nenhuma das duas coisas o tempo todo. E digo isso em qualquer área da vida, seja nos relacionamentos, nos negócios, no modo como consumir, trabalhar, encarar as coisas, viver. A humanidade ainda é muito ansiosa, desesperada, gananciosa, a sustentabilidade tem outro ritmo que tem tudo a ver com o ritmo da natureza e como a existência do ser humano ainda é muito breve pra história do Planeta ele ainda não aprendeu a lidar com isso. Só resta saber quanto tempo ele vai demorar pra entender isso e se vai dar tempo de recuperar o que já foi perdido. E sim, esse papo de sustentabilidade pra mim é utópico vamos ficar eternamente tentando ser sustentáveis, pois é assim que a natureza é, ela não é parada, ela vive buscando o equilíbrio o tempo todo, sempre vai aparecer alguma coisa ou alguém pra desestabilizar as coisas e vamos continuar na luta pra manter um equilíbrio dinâmico.

 

Ainda em tempo, usem os comentários pra dizer o que é sustentabilidade pra você!