Microfluídica & Chanel: a revolução na indústria de cosméticos

 

Gesto hidratante Hydra Beauty Micro Crème da Chanel. [Imagem: Andrea Tran, @umbrellatran]

A Chanel anunciou recentemente uma nova linha de cosméticos baseados em tecnologia microfluídica. Os produtos anunciados pela empresa Francesa são o Hydra Beauty Micro Crème  e o Hydra Beauty Micro Sérum e podem ser uma revolução na indústria de cosméticos. No desenvolvimento desses produtos a Chanel trabalhou com a Capsum. A Capsum é uma startup especializada em encapsulamento de ativos e na criação de materiais inovadores para cosméticos. Esse é um belo exemplo não só da aplicação da Microfluídica na Indústria Química e farmacêutica, mas também como a tecnologia de startups podem ajudar grandes empresas.

A descrição dos produtos no site da empresa (Link aqui) explica melhor essa união com a Microfluídica. “Com HYDRA BEAUTY Micro Sérum, CHANEL reinventa a hidratação. Primeiro soro formulado com microgotículas de camélia, nascido de uma tecnologia exclusiva e patenteada, resultante da microfluídica. Esta tecnologia revolucionária permite criar, no coração da fórmula, gotículas do ativo cuja pureza é mantida até sua aplicação. Em perfeita afinidade com a pele, as microgotículas se fundem com a pele e liberam seu precioso extrato para uma hidratação permanente e um efeito preenchedor intenso. A textura inédita de HYDRA BEAUTY Micro Sérum oferece uma experiência sensorial totalmente nova.”

Utilizando tecnologia microfluídica o time de desenvolvimento puderam criar gotículas que não explodem quando são retiradas do frasco, ou seja, elas permanecem intactas. As gotículas só se rompem quando o produto é espalhado sobre a pele, proporcionando sensação de frescor e melhor hidratação. Essas gotículas de gel são evanescentes (i.e., efêmeras) e de alta resistência, e também visíveis a olho nu em um creme. A empresas Francesa conta que máquinas e linhas de produção foram projetadas para fabricar os cosméticos. “Este é um exemplo de codesenvolvimento bem sucedido entre a Chanel e uma startup ” … “Esta plataforma de inovação microfluídica é capaz de ampliar o alcance das possibilidades (novas tecnologias, novos visuais, novas texturas …) para desenvolver cosméticos do futuro”,  afirma Christian Mahé, gerente geral da Chanel Research Beauty and Innovation.

Fontes:  Premium Beauty NewsBrazil Beauty News.


E a tecnologia Microfluídica? Droplets, querido leitor.

O sistema microfluídico desenvolvido para produzir os cosméticos não foi detalhado pela empresa (se todo mundo tivesse acesso ao microdispositivo ou ao processo, a Chanel não poderia vender os produtos por mais de 500 reais, kkkk). O que foi divulgado é que graças a um sistema onde o fluxo é controlado, é possível moldar droplets ou gotículas uma por uma e controlar o tamanho delas.

Assim, por mais que nós não tenhamos informações detalhadas do processo, podemos entender das declarações da empresa que foi utilizado a técnica de microfluídica de gotas.

Microfluídica de gotas

Explicar todo o conceito de microfluídica de gotas irá demandar um longo texto e por isso vou explicar de forma bem resumida do que essa área da Microfluídica trata. Eu vou deixar algumas referências bibliográficas ao fim do texto para você leitor ter uma visão melhor desse conceito. Segundo Basova e Foret (2015)[1] a microfluídica de gotas é uma subcategoria da microfluídica, onde as gotas servem como vasos de transporte e reação. O princípio da formação de gotículas baseia-se no uso de dois líquidos imiscíveis onde a fase dispersa (formação de gotículas) é injetada na corrente de uma fase contínua, envolvendo as gotículas. Os tempos de reação rápidos em compartimentos tão pequenos são induzidos pela alta razão área de superfície/volume, eficiente transferência de massa e calor e curtas distâncias de difusão.

As tecnologias microfluídicas oferecem um meio eficaz de produzir gotículas e bolhas altamente uniformes, e também um mecanismo conveniente para manipular seu movimento[2]. A microfluídica de gotas tem sido empregada com sucesso na área farmacêutica e na biotecnológica[1,3,4].

¤¤¤¤

[1]  Basova, E. Y.; Foret, F. Droplet microfluidics in (bio)chemical analysis. Analyst, v. 140, p. 22–38, 2015. Link para o artigo.

[2] Christopher, G. F.;  Anna, S. L. Microfluidic methods for generating continuous droplet streams. Journal of Physics D: Applied Physics,  40.19, 2007. Link para o artigo.

[3] Wang, J.; Li, Y.; Wang, X.; Wang, J.; Tian, H.; Zhao, P.; Tian, Y.; Gu, Y.; Wang, L.; Wang, C. Droplet Microfluidics for the Production of Microparticles and Nanoparticles. Micromachines, 8, 22, 2017. Link para o artigo.

[4] Oliveira, A.F. ; Barreto, R. R. B. ; Bastos, RG ; De la Torre, L. G. Microfluídica de gotas para encapsulação de biocatalisadores para produção de lipase. In: XXI Congresso Brasileiro de Engenharia Química COBEQ 2016, 2016, Fortaleza. Anais do XXI Congresso Brasileiro de Engenharia Química – COBEQ 2016, 2016. Link para o artigo.

 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Sobre Harrson S. Santana

Doutor em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com enfoque em Microfluídica, Simulação Numérica e Biodiesel. É também especialista em Impressão 3D de microdispositivos. • Atuou como Prof. Dr. da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) na área da Termodinâmica Aplicada e Operações Unitárias`; Foi Professor colaborador da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na área de Microrreatores; Professor Visitante na Universidade de São Paulo (USP) e no Instituto ESSS. • Atuou como Pesquisador na UNICAMP nas áreas de Microfluídica, Manufatura Aditiva, Simulações Numéricas e Processos Químicos. • Ministrou Cursos e Workshops acerca de diversos temas, tais como Modelagem e Simulação de Dispositivos Microfluídicos e Impressão 3D de Dispositivos Microfluídicos, a convite de diversas instituições como Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal do Espírito Santo. Também foi palestrante convidado de diversas conferências nos temas de Biotecnologia, Energia, Microfluídica entre outros. • Foi editor dos livros "Process Analysis, Design, and Intensification in Microfluidics and Chemical Engineering" e "A Closer Look at Biodiesel Production". • Atualmente atua como editor convidado dos periódicos “JoVE Journal” e “Frontiers in Chemical Engineering”. • Participou até o momento de 18 projetos de pesquisa, como coordenador e integrante gerando como resultados 33 artigos científicos em importantes periódicos internacionais, 6 patentes depositadas e 7 programas de computador com registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). • É criador do blog Microfluídica & Engenharia Química, onde apresenta conteúdos dessas duas áreas e como elas influenciam a nossa sociedade. Seu interesse científico se concentra em fenômenos de transporte, engenharia das reações química, simulações numéricas de dispositivos microfluídicos aplicados em processos químicos, físicos e biológicos, impressoras 3D e bioimpressão, além de sistemas robóticos.

6 respostas para Microfluídica & Chanel: a revolução na indústria de cosméticos

  1. Pingback:Gotas para produzir biodiesel - Microfluídica & Engenharia Química

  2. Pingback:Gotas para produzir biodiesel - Microfluídica & Engenharia Química

  3. Pingback:O Laboratório do Futuro: Inteligência Artificial, Aprendizado de Máquinas e Microfluídica - Microfluídica & Engenharia Química

  4. Pingback:Microfluídica no ar - Microfluídica & Engenharia Química

  5. Pingback:Microdispositivos vestíveis ajudam atletas e melhoram a reabilitação física - Microfluídica & Engenharia Química

  6. Pingback:Planta nativa do Brasil é utilizada em derramamento de óleo e microfluídica - Microfluídica & Engenharia Química

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *