Razões para manter a esperança sobre o clima neste Natal

Imagem criada com IA

As festas de fim de ano se aproximam e a retrospectiva de 2023 deve registrar o ano mais quente na história, com o possível recorde de temperatura 1,4 °C acima dos níveis pré-industriais, segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO). Foram tantos alertas sobre as altas temperaturas durante todo o ano, e em todos os cantos do planeta, que a iminência de um apocalipse global se tornou crível. Cientistas da OMM já adiantam que 2024 pode ser pior, já que os impactos do El Ninõ serão intensificados até abril.

Mas em meio às notícias sobre inundações, furacões, aumento do nível do mar e queimadas, há algumas razões para ter esperança nesta temporada de festas pós COP28. Afinal, a Cúpula do Clima chegou ao fim com o comprometimento de quase 200 países para uma transição energética que deve deixar a era dos combustíveis fósseis para trás. Esta é primeira vez em quase 30 anos que o texto oficial cita diretamente os principais causadores da emergência climática. Um fato histórico acordado em pleno Emirados Árabes, um dos principais produtores de petróleo do mundo, em que até o presidente da COP28, Sultan al-Jaber, é ele mesmo o chefe de uma importante empresa de petróleo, a Abu Dhabi National Oil Company.

Chefes de Estado posam para uma foto durante a COP28, em Dubai. Foto: Conselho da União Europeia

Para além das ambiguidades desta edição do evento, outros acordos relevantes foram concretizados nas duas semanas de Conferência das Partes, em Dubai, encerrada em 12 de dezembro, e podemos celebrar estas conquistas:

  • O Brasil anunciou um programa de US$ 120 bilhões em 10 anos para recuperar pastagens degradadas para implementar pecuária e agricultura em 40 milhões de hectares, incluindo sistemas agroflorestais e ILPF, com financiamento do Banco do Brasil e BNDES, tecnologias da Embrapa, e coordenação do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
  • O Fundo de Perdas e Danos ajudará a compensar os países mais vulneráveis ​​que lutam para lidar com perdas e danos causados ​​pelas alterações climáticas. O fundo é uma exigência de longa data das nações em desenvolvimento.
  • O governo brasileiro apresentou o Plano de Transformação Ecológica lançado em abril de 2023 pelo Ministério da Fazenda, e cria linhas de crédito, novas regulações e estímulo a investimentos socioambientais.
  • A Meta Global de Adaptação, que inclui objetivos para que as nações se preparem para lidar com os efeitos já sentidos do aquecimento global, como ondas de calor e enchentes devastadoras.
  • A COP30 no Brasil foi confirmada e será na cidade de Belém, Pará; uma ótima oportunidade para o país mostrar avanços socioambientais consistentes. Além disso, o novo balanço (global stocktake) guiará a próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), cujas estratégias serão apresentadas até o início de 2025, ano da COP30. Uma das novas diretrizes é que todos os setores da economia e todos os gases causadores do efeito estufa sejam incluídos.
Porto de Belém, cidade que sediará a COP30. Foto: Gustavo Frazão/Shutterstock

Até a COP30, precisamos agir com mais rapidez, sair da retórica para a ação nos compromissos firmados e unir forças com a comunidade internacional para tentarmos mudar a rota dos eventos atuais para um futuro mais justo e sustentável, movido a energia limpa.

Referência:

WMO. World Meteorological Organization. Provisional State of the Global Climate 2023. Disponível em: https://wmo.int/sites/default/files/2023-11/WMO%20Provisional%20State%20of%20the%20Global%20Climate%202023.pdf. Acesso em 30 de novembro de 2023.

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Jaqueline Nichi é jornalista e cientista social. É doutora em Ambiente e Sociedade pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP) e mestre em Sustentabilidade pela EACH-USP. Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas, adaptação e planejamento urbano e governança multinível e multiatores.

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