2,4 mil cidades brasileiras enfrentam risco de desastres e não sabem como agir diante de uma crise ambiental como a do Rio Grande do Sul.
Eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos não são uma novidade e deixam evidente a urgência de medidas eficazes para mitigar seus impactos. No entanto, um recente levantamento realizado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revela que a maioria das administrações municipais brasileiras ainda está despreparada para lidar com tais desastres.
O estudo, intitulado “Emergência Climática”, contou com a participação de 3.590 prefeituras entre os 5.570 municípios do país. Os resultados são alarmantes: 68% das prefeituras admitiram não estar preparadas para enfrentar o aumento de eventos climáticos extremos. Apenas 22,6% afirmaram possuir medidas de preparo, enquanto 6% desconhecem as previsões climáticas e 3,4% não responderam.
O despreparo dos municípios se reflete em diversas lacunas identificadas pelo estudo. Por exemplo, 43,7% das prefeituras não possuem setores ou profissionais responsáveis por monitorar diariamente e em tempo real áreas sob risco de desastres. Em relação aos sistemas de alerta, 57% das prefeituras indicaram não possuir nenhum, evidenciando uma grave deficiência na capacidade de prevenção e resposta a emergências climáticas.
Diante desse cenário preocupante, a CNM destaca a necessidade de apoio por parte da União e dos estados, especialmente para os municípios de pequeno e médio porte, que enfrentam dificuldades financeiras para arcar com os custos de gestão de riscos e prevenção de desastres.
Essa falta de preparo e apoio se torna ainda mais preocupante diante do aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos no Brasil. Dados do Ministério do Desenvolvimento Regional revelam que o país registrou 4.728 mortes causadas por desastres naturais nas últimas três décadas, com um aumento significativo nos últimos anos. O Rio Grande do Sul, atualmente enfrentando uma das maiores tragédias climáticas de sua história, é um exemplo dessa realidade, com números impressionantes até o momento: 2 milhões de pessoas afetadas e o saldo de 147 mortos, 127 desaparecidos e quase 80 mil desabrigados.
Negacionismo climático
A classe política brasileira continua demonstrando um preocupante negacionismo climático, ignorando alertas e evidências científicas. A falta de ação e investimento adequado na prevenção e mitigação dos impactos das mudanças climáticas coloca em risco não apenas o meio ambiente, mas também a economia do país.
Diante desse quadro preocupante, é urgente que os governantes assumam sua responsabilidade e adotem medidas efetivas para enfrentar a emergência climática. O momento de agir é agora, antes que mais vidas sejam perdidas e mais comunidades sejam devastadas por eventos climáticos extremos. O futuro do país e das atuais e futuras gerações depende das escolhas que fazemos hoje.
______________________________________________________________________________________________________________
Jaqueline Nichi é jornalista e cientista social. É doutora em Ambiente e Sociedade pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP) e mestre em Sustentabilidade (EACH-USP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas, adaptação e planejamento urbano e governança multinível e multiatores.
Faça um comentário