Democracia de gênero (III): reflexões conclusivas

Democracia de gênero (III): reflexões conclusivas

A atuação de homens e mulheres na política está guiada por diferentes éticas. As mulheres têm demonstrado, através de anos de lutas e movimentos, que as principais conquistas em relação aos seus direitos foram alcançadas na grande maioria por elas mesmas.

Por esse motivo, os “pactos entre mulheres” e os “pactos intergêneros” demandam acima de tudo solidariedade, que para Ana Maria Martinez de Escalera (2013) se manifesta através de experiências conjuntas, tanto de apoio como de resistência, evidenciando que há várias maneiras de exercitar relações entre corpos (criativas, afetivas, sexuais, de cooperação, de divisão de tarefas), ou seja, é possível outro tipo de convivência, mais humana e menos desigual.

A solidariedade entre mulheres ou entre homens e mulheres pode estender-se também, como uma experiência coletiva, um simplesmente “estarmos juntas/juntos”. A autora crê firmemente que “os coletivos de mulheres têm dado respostas simples a esta interrogação: estar juntas começa onde acaba o seguir suportando a dominação, aonde quer que esta se manifeste” (Escalera, 2013, s/p).

Os “pactos entre as mulheres” requerem uma centralidade ética e uma estética feminista como princípios.

Usar uma linguagem de respeito entre nós mesmas; não depreciar; considerar a estética de cada uma de nós como uma escolha de sujeitos livres, sem amarras nem tabus; não explorar pessoas – isso vale para as empresárias, empreendedoras, contratantes – não oprimir / não submeter as mulheres a nenhum tipo de violência nem humilhação. Respeitar as diferenças de classe, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, geração, enfim, evitar competições e disputas entre nós mesmas, pois estas acirram ainda mais a dominação masculina que se enriquece com as nossas desavenças.

Trabalhar por uma democracia de gênero exige passar do drama individual ao discurso público: “o pessoal é político”. Para poder construir um projeto democrático e plural, no qual a diferença sexual seja uma distinção pertinente dentro das relações sociais, necessitamos remontar a crise, recuperar a esperança e a credibilidade nas instituições; em outros termos, gerar um projeto que articule cidadania, autonomia e negociação.

Necessitamos de mais mulheres ocupando espaços de poder para que nossas reivindicações possam ser explicitadas, reconhecidas e contempladas no campo da política e para diminuir os índices de corrupção em nossa sociedade.  Carecemos de apoio a mulheres que se disponibilizam a assumir cargos políticos: dos partidos políticos, encaminhando-as para cursos de capacitação propiciando o seu empoderamento; dos coletivos feministas e grupos de mulheres, que possam confiar mais em mulheres, votar mais em mulheres e participar como sujeitos nos processos democráticos que uma gestão implica; dos familiares e amigos, que possam propiciar tranquilidade no cotidiano da gestão dessas mulheres, na medida em que assumem as tarefas domésticas, compartilhem a dimensão do cuidado e coloquem em prática a verdadeira divisão sexual do trabalho em relação a casa, aos filhos, aos idosos e enfermos.

Para tanto, convidamos os homens e as mulheres para unirem-se a nós, estabelecendo pactos inter e intragenéricos, visando uma sociedade mais justa, mais igualitária e com mais equidade de gênero na política.

KLEBA LISBOA, T.


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