Como sabemos, a microfluídica estuda o comportamento de líquidos e gases dentro de dispositivos com dimensões micrométricas. Se traduzíssemos isso para termos mais simples seria estudo do escoamento de líquidos ou gases por “canos” com o mesmo diâmetro de um fio de cabelo (60 a 120 micrômetros).
Por isso, usa-se a denominação de microdispositivos. Os microdispositivos podem ser reatores, trocadores de calor, válvulas, entre vários outros equipamentos da indústria repensados para a escala micro.
Uma das principais barreiras enfrentadas na microfluídica é a fabricação dos dispositivos com essas dimensões.
Uma das técnicas mais utilizadas é a litografia macia (ou soft lithography). A litografia macia é uma técnica de fabricação que utiliza a fotogravação dos microcanais em um polímero fotossensível, um substrato sólido (que pode ser o PDMS), a replicação e selagem do microdispositivo.
Para saber mais detalhes sobre o processo de litografia macia acesse o artigo publicado em nosso blog: Fabricação de reatores de microcanais por litografia macia
Apesar de ser uma técnica amplamente utilizada para construção de microdispositivos, a litografia macia demanda equipamentos específicos e de alto custo, pessoal especializado, sala limpa, etc. Isso, muitas vezes, inviabiliza a pesquisa em lugares que não possuem tais recursos.
Tendo isso em mente os pesquisadores da Universidade de Bristol no Reino Unido, propuseram uma forma de fabricar microdispositivos em PDMS de baixo custo utilizando moldes feitos em impressora 3D.
Impressão 3D e Microfluídica
O processo ocorre conforme podemos observar na imagem. Primeiramente o design do canal desejado é obtido em um programa CAD, muito utilizado para desenhar peças industriais.
“O Autodesk Inventor é o programa que utilizamos no nosso laboratório para a elaboração dos microdispositivos das nossas pesquisas. O programa possui a vantagem de ser user-friendly e gratuito para estudantes.”
Depois de realizado o desenho (ponto 1), o mesmo é colocado no programa Cura que é um programa fatiador (slicer) que gera o código (G.code) que será lido pela impressora 3D.
Para saber mais sobre o programa Cura e como obtê-lo acesse o nosso tutorial “Instalação do Cura Slice”, disponível aqui.
Os autores afirmaram que foram necessárias algumas mudanças para obter a qualidade de impressão desejada dos dispositivos moldes (ponto 2). Dentre essas mudanças está as configurações do programa Cura, como velocidade de impressão, velocidade de deslocamento, altura da camada de impressão. Também foram necessários ajustes na impressora 3D utilizada que teve seu bico de 0,4 mm trocado por um de 0,1 mm, o que permitiu reduzir a largura dos canais de 350 µm para 100 µm. Todas as impressões foram realizadas utilizando o polímero PLA.
O design escolhido pelos autores para a construção dos moldes foi muito interessante. Eles fizeram os moldes como chave e fechadura, permitindo que vários trechos pudessem ser conectados formando microdispositivos específicos, como observamos nos pontos 3 e 4.
Assim, o molde do dispositivo é montado em vidro com o substrato e posteriormente aquecido para aderi-lo a uma lâmina pesada de vidro (ponto 5). A temperatura e o tempo de exposição foram fatores importantes no processo conforme reportado pelos autores. Depois, o “sanduíche” de vidro e molde é levado para uma base fria e separado (ponto 6). A forma do canal fica gravado na parte do vidro com o substrato e depois é utilizado para processo de fabricação com PDMS.
Dessa forma os pesquisadores conseguiram obter dispositivos microfluídicos de alta qualidade e de baixo custo. Pois, uma impressora 3D pode produzir em torno de 10 moldes em menos de 30 minutos, o que não seria possível se fosse utilizado o processo tradicional de litografia macia (por meio de máscaras).
Isso representa um passo importante para o barateamentode dispositivos como lab-on-chip e point-of-care. Esses dispositivos estão relacionados principalmente ao diagnóstico rápido de doenças ou testes com o desenvolvimento de órgãos em chip, fazendo com que seu acesso seja universal. O fácil acesso também está relacionado com a utilização de programas gratuitos e user-friendly, além de equipamentos, como a impressora 3D, que são baratos e de fácil manuseio, não necessitando de pessoal especializado para sua operação.
Robet Hughes, um dos autores do estudo, em uma entrevista ao site Physicsworld afirmou que espera que sua pesquisa possa contribuir para democratizar a microfluídica, principalmente no avanço do desenvolvimento de dispositivos de diagnóstico rápido, e que também possa inspirar a próxima geração de pesquisadores. (A matéria completa você pode conferir aqui)
É isso que nós esperamos também, que a microfluídica seja difundida e se torne mais acessíveis para todos aqueles que desejam contribuir com avanços na área.
Texto escrito por Mariana G. M. Lopes, @marigmlopes
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