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Comunicação para Divulgadores Científicos

O que fica de aprendizado com a estratégia de divulgação “Enquete Terra Plana”?

Com uma postagem naturalmente polêmica, falta de tempo, pouco planejamento e a comoção da comunidade da divulgação científica impactou  a forma de trabalho da divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp!

Um pouco de contexto

Julgo importante começar este relato deixando claro que esse caso aconteceu antes da pandemia, lá no início de 2019. Nessa época,  a realidade da comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp era muito diferente. 

Éramos em 6 voluntários divididos entre todos os afazeres do projeto e a divulgação nas redes sociais (praticamente feita por mim – com a gestão  de 6 plataformas, com postagem, moderação e métricas).

Claro que toda mudança sugerida era discutida com a equipe de administração geral, mas, muitíssimas vezes, lutamos contra o tempo e a discussão sobre as postagens não chegava à maturação necessária para o desenvolvimento de uma estratégia mas apropriada.

Também acho importante dizer neste relato o quanto esse caso me assombrou neste últimos 2 anos.

Cheguei até a escrever um artigo científico sobre o assunto e nunca submeti a análise de alguma revista. Espero sinceramente que com essa postagem eu possa abrir um espaço de diálogo e dar a oportunidade de reavaliar junto com vocês,  leitores do MindFlow, se este episódio foi de fato um “erro” (ou não). Também busco mostrar como essa experiência influenciou diretamente o trabalho atual da comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp.

Por @Sommacomunicacao

Em 2016

Diariamente, selecionávamos as postagens para as redes sociais oficiais do projeto de acordo com a ordem de data da publicação dos textos (decrescente). Fazíamos desta maneira para dar visibilidade a maior quantidade possível de assuntos dentro de todas as áreas da ciência que eram publicadas no portal. 

O procedimento base era: Selecionar a data, o texto da postagem, fazer a frase chamada, a estratégia de engajamento orgânico e moderar os comentários. (mais sobre isso)

Já em 2019

O Blogs de Ciência da Unicamp (com 04 anos de trabalho) estava ganhando visibilidade, mas ainda não havia alcançado grandes números nas métricas, até então esses números eram crescentes e constantes.

Portanto, um dos objetivos daquele ano de 2019 foi estudar novas estratégias de redes sociais, comunicação e marketing visando aumentar a  visibilidade do Blogs de Ciência da Unicamp.

A postagem do daquele dia

A escolha do dia 23 de janeiro de 2019 foi o texto do professor Jefferson de Lima Picanço do Blog Paleomundo intitulado  “Notícias de uma Terra plana (1)”

A postagem possuía um título chamativo e interessante e tinha tudo para alcançar nossos objetivos de visibilidade.

Contudo ao compartilhar o link nas redes sociais encontrei o primeiro problema:

Ao ser postada e compartilhada nas redes sociais, o texto automático do link dava a entender e parecia valorizar a ideia de que a teoria da Terra Plana era correta. Obviamente este não é o conteúdo do texto, portanto começamos a buscar outras formas de disposição nas redes sociais.

A escolhida na ocasião foi a enquete.

A escolha foi motivada pelo aproveitamento dos recursos em alta nas redes sociais que valorizassem o algoritmo de entrega –  um conjunto de regras e dados matemáticos responsáveis por fazerem as postagens se destacarem ou não.

Dessa forma, pensávamos que além de eliminar o problema do texto automático, conseguiríamos incluir o link da postagem sem informações com potencial de erro. Também acionamos o prof. Picanço e pedimos que nos ajudasse a responder possíveis comentários.

Print – Como a postagem seria impulsionada caso não houvesse mudança pela equipe de comunicação.

A enquete foi publicada às 10:33 horas na linha do tempo do Facebook, do Twitter e no Stories do Instagram (postagem que fica acessível ao público apenas por 24 horas). As imagens das postagens nas redes sociais (uma representação da terra redonda e outra em formato de pizza) foram acompanhadas das seguintes  perguntas: “você acha que a Terra é redonda ou plana?” (no Twitter), “A Terra é redonda ou plana?” (no Facebook e no Instagram), e do link da postagem do Picanço, que pensávamos poder  embasar o assunto. Caso houvesse comentários, estaríamos respondendo junto ao professor. 

Opto nesta postagem por não colocar as imagens das enquetes. Explicarei melhor sobre isso no item abaixo “Não havia uma política para o tratamento com haters”

Início da repercussão

Com apenas cinco horas de publicação das enquetes nas três redes sociais, a equipe do Blogs de Ciência da Unicamp já havia recebido MUITAS interações, positivas e negativas, algumas delas, inclusive, em contato privado com os integrantes do projeto. 

Os comentários discutiam o teor da postagem “Notícias de uma Terra plana (1)”, a forma como foi compartilhada nas redes sociais e as diretrizes e critérios estabelecidos pelo Blogs de Ciência da Unicamp em conduzir a divulgação científica de um assunto polêmico como esse. Além de uma enxurrada de haters(hater é um termo usado na internet para classificar pessoas que postam comentários de ódio ou crítica sem muito critério)

A partir dessa repercussão decidimos publicar uma segunda postagem:

“Confessamos que as respostas e os comentários que recebemos em nossa enquete espantou nossos colaboradores, deixando ainda mais evidente a urgência em tratar de assuntos que façam parte do cotidiano da sociedade. Mas, o que podemos aprender com essa experiência?

A enquete colocava a seguinte pergunta “A Terra é Redonda ou Plana?” (no Facebook e Instagram) e “Para você a Terra é redonda ou plana?” (no Twitter) acompanhada da série de textos produzidos pelo pesquisador Jefferson Picanço para o Blog Paleomundo que discute a origem desse questionamento e porque os argumentos da Ciência não as convencem. Muitos levaram a sério a enquete, outros a trataram como zoeira da equipe.

Há quem tenha também apontado que não devíamos trazer à tona esta questão, enquanto Blogs de Ciência da Unicamp, ou compreenderam que estávamos ironizando modos de pensar das pessoas. Achamos importante ressaltar que não é nossa intenção satirizar crenças – não faria sentido isso, dentro do âmbito da discussão.

O intuito de postagens como enquetes é conhecer melhor nosso público, interagir e conversar, estabelecer um diálogo e apresentar as postagens do portal e perceber como o conteúdo que temos produzido tem sido recebido. Entendemos que falar sobre ciência em veículos e formatos que chegue a sociedade seja a nossa função enquanto canal de divulgação científica.

A partir dos primeiros resultados desta experiência, nos propusemos a pensar que devemos (nos) questionar: a divulgação científica tem feito seu papel fundamental de informar? Nós alcançamos o público ao qual destinamos o nosso conteúdo? Para isso é fundamental para nós compreendermos nosso público e aprendermos com ele.

Bem como interagimos, dialogarmos e estabelecermos contato com todas as formas de pensamentos – dentro da linha do respeito, sempre.” 

Erro (ou Não)?

Em 24 horas, a postagem em forma de enquete teve os seguintes resultados, de acordo com as métricas das próprias redes sociais utilizadas: 

Facebook alcançou 21.239 pessoas, 2.778 reações, 188 compartilhamentos e 2.900 votos.

Twitter alcançou 3.317 pessoas, 426 votos (66% Redonda e 34% Plana), 19 comentários, 4 retweets. 

Instagram alcançou 937 pessoas, 46 reações e 2 comentários, 99 votos 

Diretamente na postagem do blog foram 3.762 visualizações e 32 comentários. 

É importante destacar que esses números representavam uma métrica enorme para a média das nossas redes sociais na época, mas com a visibilidade e o engajamento, outros problemas apareceram e nós não estávamos preparados para aquilo:

Por @steveharveytv

Não havia uma política para a moderação de comentários 

Nós tínhamos como diretriz no projeto a promoção do diálogo, responder a todos da melhor forma possível, sempre cordialmente, informando o máximo possível e indicando materiais de consulta.

Mas uma coisa é responder dezenas de comentários, outra coisa completamente diferente são milhares, o que chegamos após 72 horas ininterruptas de respostas da nossa equipe do projeto, do Prof. Picanço e mais uma dezena de amigos e outros pesquisadores que se propuseram a nos ajudar. 

Assim adotamos como prática os 03 modelos abaixo:

  • Para os comentários que abordavam o assunto defendendo ou negando seu ponto de vista mas de forma não agressiva, a equipe dos Blogs e o pesquisador Picanço discutiam o assunto, com embasamentos científicos;
  • Já para os que agiam de forma grosseira, xingamentos ou apenas comentavam “Terra Plana”, a equipe ocultava o comentário;
  • Para comentários que questionavam a escolha da estratégia de comunicação, a equipe usava a resposta padrão elaborada pela equipe, apresentada na citação acima.

Após exaustivas 72 horas optamos por fechar os comentários nas plataformas.

Não havia uma política para o tratamento com haters

E nessa avalanche de comentários (abertos e no privado aos integrantes da equipe do Blogs de Ciência da Unicamp) também respondemos diversos haters dando ainda mais conteúdo para distorcerem o que era dito por nós. 

Houve bate boca, desgaste emocional e muitas das pessoas que de fato queriam entender e discutir o conteúdo da postagem se perderam.

A escolha das imagens das enquetes (planeta e pizza) foi entendida por eles como afronta e não como extensão do que era dito na postagem, por muitos momentos às votações da enquete penderam para o lado terraplanista e isso foi fartamente divulgado como uma afirmação da Unicamp para o fato o que obviamente não é verdade! 

Após o fechamento dos comentários, deletamos as postagens nas redes sociais e mantivemos apenas o texto no Blog Paleomundo. Adotamos esta estratégia para evitar que o assunto continuasse repercutindo não só naquele momento, mas também em uma possível volta nas “lembranças” das redes sociais. 

Mesmo assim, após um ano, grupos terraplanistas republicaram prints de tela da enquete em grupos de discussão e redes sociais com a tentativa de retomar o discurso de apoio da Unicamp a causa deles. Também houve tentativas de contato com a nossa equipe, que à princípio respondemos, muito por não estar claro de quem ou de onde vinha o pedido de informação, mas logo em seguida ficou claro as motivações e cortamos contato.

A partir desta experiência com haters optamos pelo lema “não dar palco”, uma vez que, além do desgaste emocional que há individualmente e como equipe, também privilegiamos o discurso de ódio e a propagação de desinformação. 

Desde então, o projeto opta por excluir qualquer comentário que não tenha como intenção o diálogo ou que seja de cunho agressivo ou ofensivo. 

Mas para além disso, adotamos medidas no dia a dia do projeto, como:

  • Fazer recomendações constantes para que o público não visualize, curta e compartilhe (on e off line) conteúdo de desinformação;
  • Produzir, buscar e compartilhar de outros divulgadores científicos conteúdos de checagem de fatos;
  • Incluir em nossos grupos de estudos, palestras, lives, no nosso curso semestral e postagens a importância da responsabilidade social da informação. 

Para conhecer alguns textos sobre Responsabilidade Social da Informação: 

Não havia diretrizes claras para a comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp

Quero destacar aqui um dos mais tradicionais problemas da área de comunicação: a distância entre o que planejamos fazer e o que de fato conseguimos fazer.

A realidade do projeto no qual o primeiro Plano de Comunicação foi construído era muito diferente da realidade do projeto em 2019.

E apesar deste ter sido construído e discutido em 2016, até aquele momento não havia sido aplicado e em 2019 ainda não havia tido tempo, preocupação e recursos para que esse plano fosse devidamente revisto, rediscutido e readequado.

Reforço aqui que o ato de repensar, amadurecer e planejar a comunicação é fundamental para prever problemas, direcionar o projeto a suas metas e fazer com que sua equipe entenda e “fale a mesma língua”.

Sendo assim, a prática de comunicação no Blogs de Ciência da Unicamp precisou ser revista e mudou durante a pandemia. Agora temos uma equipe de comunicação grande e um novo plano de comunicação vem sendo construído, discutido e aplicado. Falo mais sobre isso aqui

Este foi, sem dúvida, o início para que a discussão sobre como fazer a divulgação da divulgação científica fizesse parte do projeto Blogs de Ciência da Unicamp.

Por Encare a verdade @primevideo

 

Depois de tudo 

A partir da ideia de usar essa experiência como forma de reflexão e discussão optamos por reunir materiais, prints e comentários enviados a nós para (quem sabe) responder a seguinte pergunta:

No fim essa experiência foi um Caso de sucesso ou fracasso?

Trarei a partir daqui alguns dos apontamentos que foram sinalizados em comentários nas enquetes e em conversas particulares com colegas divulgadores científicos, comunicadores, cientistas e participantes do Blogs de Ciência da Unicamp.  Excluirei as imagens e prints por motivos já comentados no item “Não havia uma política para o tratamento com haters” 

Faço por entender que seja vital para que você leitor tenha um melhor entendimento dos acontecimentos e preocupações da época e do teor das críticas e defesas enviadas a nós, foram a partir delas que conseguimos iniciar as discussões e diálogos que culminaram nas mudanças da comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp.

Contudo me reservo ao direito de não divulgar os nomes assim garanto a identidade de cada um que contribuiu.

Comentários enviados defendendo que se trata de um caso de fracasso:

Comentário 1:

“Quero tecer aqui minhas considerações (críticas) a este tipo de interação e também ao modo como foi realizado. Adianto que a minha conclusão é amplamente negativa quanto à validade.

1) A enquete pode dar a entender que se trata tão somente de uma questão de opinião; que o que vale é o voto popular para se decidir a respeito do formato do planeta. 2) Especialmente o formato adotado no Facebook, é de um lado, desinformativo: o gif para representar a Terra esférica não é do planeta Terra, e é confuso a respeito de sua rotação; e, de outro, potencialmente ofensivo à porção que acredita que a Terra seja plana (um formato de fatia de pizza, como muitos notaram).

3) A própria realização da enquete pode passar a ideia de que sejam duas opções aceitáveis, normalizando uma posição que é, factualmente, claramente errônea. 4) Repercussão negativa tanto entre os que não gostam de ciência como entre os que gostam.”

Comentário 2:

“De acordo com alguns apontamentos, as postagens atraíram a atenção de muitos militantes da Terra Plana que não estavam dispostos a discutir o assunto, apenas a reforçar sua visão de forma “pouco respeitosa e pouco proveitosa” e que infelizmente essa atitude também foi vista entre os comentaristas (fora da equipe de blogs) que defendem a visão atualmente aceita pela comunidade científica consensualmente e que esse tipo de interação já era prevista, uma vez que a postagem foi deixada de forma livre.”

Comentário 3:

“Muitos estudos apontam que interações incivilizadas distorcem a percepção das demais pessoas e mudam a consideração do conteúdo (e.g. Houston et al. 2011, Hwang et al. 2014) – ainda que o efeito deletério possa ser temporário (Heinbach et al. 2018), portanto, a mensagem pode não ter sido bem compreendida pelo público que acessou o conteúdo.

A postagem as postagens violam vários dos princípios estabelecidos nas pesquisas de divulgação de ciências na abordagem de temas polêmicos e no esclarecimento de concepções errôneas: repetição da mensagem que seria para ser refutada; a refutação ocorrendo bem depois da apresentação da mensagem a ser desmentida; elemento de deboche… (p.e. Lewandoswsky et al. 2012). O que potencializa o efeito backfire que acabou ocorrendo.”

Comentário 4:

“O comentário massivo de um certo número de militantes terraplanistas também pode passar a impressão errônea de que eles são uma parte significativa da população. Embora não haja estatísticas, as indicações são de que são um grupo relativamente restrito de pessoas, ainda que altamente coordenadas”.

Comentário 5:

“Ainda, em função da análise de público, proposta na segunda postagem e  útil para um eventual planejamento de abordagem, a estratégia não serve para levantar o perfil dos terraplanistas, uma vez que o tipo de argumentação usado – mesmo eliminando-se os de baixa qualidade – já é mapeado. Estes reproduzem os argumentos que circulam nos meios americanos, especialmente na forma de vídeos no Youtube e também em sites e grupos de discussão. Em segundo, que não é trivial fazer o levantamento demográfico dos comentaristas, uma vez que  seria preciso entrar na página de cada um. Em terceiro, que devemos considerar vários comentários afirmando que votaram na terra plana por zombaria ou deboche.”

Comentários enviados defendendo de que se trata de um caso de sucesso:

Comentário 1:

“No sentido do portal ter como dever colocar assuntos polêmicos e de pseudociência de forma a atrair o olhar do leitor. Não encaro o ocorrido como algo negativo, pelo contrário, estamos falando de um case de sucesso no que se refere ao interesse do público em ler conteúdos de ciência. Gerando discussão sem perder o foco na análise da situação, essa é a síntese do nosso trabalho, não se trata do “lacre pelo lacre”, cada postagem tem uma intenção real de verificar como o público-alvo reage, repercute e interage”.

Comentário 2:

“Mesmo que os formatos da Terra escolhidos para representarem a enquete possam ter contribuído para a possível má compreensão do público, uns entendendo como brincadeira por parte do blogs e outros se enraivecendo, apesar de ter atingido seu objetivo de atrair o público para o assunto. Achei que a enquete serviu a seu propósito de chamar a atenção… mas que algumas pessoas se ofenderam com o formato da plana no Facebook e é lá que está a horda de gente sem noção agressiva. Eu acho que não teríamos tido tanta agressividade, caso não tivesse colocado esse tipo de imagem na enquete”. 

Comentário 3:

“Insisto que a enquete não teria trazido à tona a discussão se fosse realizada de outra forma. É preciso que haja o timming da comunicação para as publicações de conteúdo científico, caso contrário  jamais vão atingir o público leigo, (…) se o portal tivesse postado uma enquete do tipo ‘Você considera relevante o debate sobre o formato da terra?’…quantos comentários você acha que teria?”. 

Comentário 4:

“E nós como blogueiros científicos temos que trazer os mecanismos de discussão à tona, para não ficarmos em discussões estéreis. A Unicamp como produtora de conhecimento tem os instrumentos para trazer esta discussão sobre ciência e pseudociência de uma forma contextualizada. Obrigado pela divulgação do Blog: é importante discutir com a Ciência é feita, seus empasses e desafios. No caso da TP, como iremos ver, é uma questão de como o discursos anticientífico se instala e procura desmistificar fatos bem estabelecidos na comunidade científica.”

Comentário 5:

“Mas eu achei bom, no fim das contas, vermos aquele resultado (da enquete). Porque tira a gente, divulgadores de ciência, dessa bolha de achar que terraplanista é uma coisa isolada e um problema pequeno”.

Comentário 6:

“No Ig (Storie do Instagram) eu levei na zoeira, mas de fato acho que essas questões precisam ser levantadas sim. Ninguém resolve um problema esquecendo dele.”

Passados 02 anos deste acontecimento e em meio a uma pandemia…

Motivada por um pequeno bate papo no grupo de WhatsApp da minha turma de Pós-Graduação lato sensu em Jornalismo Científico (Labjor) resolvi revisitar esse artigo, a princípio escrito para ser acadêmico e engavetado por dois anos, e trazer um olhar mais prático e intimista de como as coisas aconteceram e como isso nos influencia até hoje.

Ainda não cheguei a um veredito sobre a pergunta principal desta experiência, ou seja, se esta estratégia foi de fato um erro ou não, mas sei que muito do que somos hoje como equipe Blogs de Ciência da Unicamp se dá por termos passado por esta e outras experiências de comunicação.

Por https://giphy.com/

Trabalhamos com as seguintes diretrizes e ideais:

  • Não é possível fazer divulgação científica sem pensar no coletivo. Sem o suporte ininterrupto de trabalho (da equipe blogs e um montão de gente que nos apoiou e nos apoia), moderação de comentários, reflexão e disposição essa experiência poderia SIM ter causado sérios problemas ao projeto.
  • Não é possível fazer divulgação científica sem trazer à tona certos assuntos polêmicos, afinal ainda não descobrimos a fórmula perfeita sobre como divulgar ciência para a sociedade com a garantia de que a informação chegue corretamente e sem erros. Mas ignorar certos assuntos não o faz deixarem de ser um problema.
  • É fundamental entendermos que não é possível fazer divulgação científica sem pesquisa, estudo e entendimento de comunicação (aqui incluo todas as áreas da comunicação). A comunicação faz parte integrante do processo de se fazer divulgação científica, dedicar um tempo a entendê-la traz ganho de tempo e recursos.

E como diz o amigo Roberto Takata:

“Um trabalho para se começar a desenvolver e colocar os dois grupos: os novos divulgadores e os pesquisadores da DC – em contato para troca de experiências e informações. A roda não precisa ser reinventada e muitas horas de retrabalho podem ser poupadas com essa interação.” huffpostbrasil

  • Não é possível fazer divulgação científica sem entender que isso se trata de um trabalho e deve ser reconhecido como tal. #DCéMeuTrabalho

 

Bibliografia e referências que embasaram esse texto

ANDREETTO DE MUZIO , Paulo. A IMPORT NCIA DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA PARA A PROTEÇÃO DAS ÁREAS NATURAIS. [S. l.], 1 jul. 2019. Disponível em: https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/educacaoambiental/2019/07/01/a-importancia-da-divulgacao-cientifica-para-a-protecao-das-areas-naturais. Acesso em: 2 jul. 2019.

BARBERO, Jesús Martin. “Diversidade em convergência”, MATRIZes, 2, 2014, São Paulo- Brasil, p.15-33.

BORGES, Helena. Um terço dos brasileiros desconfia da ciência. O Globo, [S. l.], p. 1-1, 21 jun. 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/um-terco-dos-brasileiros-desconfia-da-ciencia-23754327. Acesso em: 28 jun. 2019.

CALVO HERNANDO, Manuel. Conceptos sobre difusión, divulgación, periodismo y comunicación. 2006. 3p. Disponível em: <http://www.manuelcalvohernando.es/articulo.php?id=8>. Acesso em: 11 jan. 2019.

CERQUEIRA, Nereide ; KANASHIRO, Marta. Divulgação e cultura científica. Labjor Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, 10 jul. 2008. Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section%20=8&edicao=37&id=436. Acesso em: 2 jul. 2019.

DESCHAMPS, Gabriel. QUANDO O TIRO SAI PELA CULATRA: O EFEITO BACKFIRE. [S. l.], 27 maio 2017. Disponível em: https://muralcientifico.com/2017/05/27/quando-o-tiro-sai-pela-culatra-o-efeito-backfire/. Acesso em: 2 jul. 2019.

ESCOBAR, Herton. DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: FAÇA AGORA OU CALE-SE PARA SEMPRE. Revista ComCiência, Campinas, v. 1, n. 197, p. 1-3, abr. 2018. Disponível em: <http://www.comciencia.br/divulgacao-cientifica-faca-agora-ou-cale-se-para-sempre/>. Acesso em: 14 jan. 2019.

Heinbach, D. et al. Sleeper effect from below: long-term effects of source credibility and user comments on the persuasiveness of news article. New Media & Society 20(12): 4765-86. https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1461444818784472

Houston, JB. et al. 2011. Influence of user comments on perceptions of media bias and third-person effect in online news. Electronic News 5(2): 79-92. https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1931243111407618
Hwang, H. et al. 2014. Seeing is believing: effects of uncivil online debate on political polarization and expectiations of deliberation. Journal of Broadcasting & Electronic Media 58(4): 621-33. https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/08838151.2014.966365

LA TORRE, Thiago; SCHMIDT, Matheus. Não fique a ver navios: A mentalidade de Marketing. Campinas-SP: [s. n.], 2018.

Lewandowsk, S. et al. 2012. Misinformation and its correction: continued influence and successful debiasing. Psychological Science in the Public Interest 13(3); 106-31. https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1529100612451018

MORA, A. M. S. A divulgação da ciência como literatura. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003

NOGUEIRA, Salvador. O obscurantismo do século 21. Super Interessante, [S. l.], p. 1-1, 3 jan. 2019. Disponível em: https://super.abril.com.br/opiniao/o-obscurantismo-do-seculo-21/. Acesso em: 28 jun. 2019.

SAGAN, C. O. Mundo Assombrado Pelos Demônios-A Ciência Vista Como Uma Vela No Escuro, vn 1. 1995.

3 comentários
  1. Camila Delmondes

    Pra mim esse é um dos maiores cases de sucesso que já vi na universidade. As reações contrárias, na verdade, apontam a necessidade de que a Academia conheça mais a fundo e utilize a seu favor técnicas de comunicação muito bem empregadas no mercado. Para isso a própria academia precisa quebrar alguns ovos, trabalhar algumas questões internamente, rever e realinhar fluxos e procedimentos internos de comunicação. O único erro de vocês, no meu entendimento, foi ter apagado os posts nas redes sociais. A universidade deve abordar com tranquilidade temas considerados não científicos, assumindo o controle da narrativa, e por que não?. O maior problema da comunidade científica tem sido, justamente, deixar de ocupar o seu lugar de fala. Veja aí a enxurrada de neopentecostais no meio político... em algum momento cientista entendeu que não devia fazer política e deixou caminho livre para que os negacionistas fizessem...Siga em frente. O trabalho de vocês é maravilhoso e necessário.

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