Subjetividade do paciente x subjetividade do médico

Enquanto escrevia a reportagem “Catarata Mapeada”, publicada ontem na Revista Pesquisa FAPESP, fiquei matutando sobre a fonte da subjetividade em testes diagnósticos. Logo pensei que isso viraria um post aqui para o Pó: subjetividade do médico versus subjetividade do paciente. Um post sem respostas, claro, apenas questionamentos.

Simulando como indivíduos com catarata enxergam. Fonte: Camera Culture, MIT Media Lab. 

O que disparou minha reflexão foi uma declaração do médico Rubens Belfort, um dos entrevistados para a reportagem. Ao opinar sobre a aplicação clínica da tecnologia interativa que detecta catarata usando celular, o oftalmologista da Unifesp fez várias ponderações e se mostrou preocupado com o fato do teste ser baseado no que o paciente está enxergando e não em uma avaliação objetiva do olho, por um profissional de saúde, em busca das manchas brancas da catarata. 

Detalhes sobre a tecnologia estão na reportagem (aqui). Em resumo, o usuário olha para a tela do celular por meio do dispositivo, como se estivesse manipulando um caleidoscópio, e responde a diferentes comandos apertando as teclas do próprio aparelho. Se, por exemplo, um ponto verde aceso na tela some, pisca ou fica embaçado é sinal de que a luz que sai da tela do celular foi desviada por uma possível mancha branca da catarata. Mapas de localização e gravidade da catarata são gerados de acordo com as respostas dos pacientes.

Fiquei pensando: será que os testes realizados em consultórios médicos atualmente para detecção da catarata são livres de subjetividade? Não sei. O indiano Shrikant Bharadwaj, que trabalha em um dos centros da OMS para prevenção da cegueira, me disse que os testes atuais por vezes falham na detecção precoce ou deixam de diagnosticar certos tipos da doença. Nem sempre dizer se o paciente tem ou não catarata é preto no branco.

“Subjetividade”, gentilmente cedida por Beatriz Chaim (http://www.flickr.com/people/berilis/)

Será que não vale mesmo a pena levar em conta o que o paciente está enxergando, ao menos como uma triagem inicial da presença de catarata? Me parece que não valorizar a capacidade do paciente em fazer seu próprio diagnóstico vai contra a tendência (ops, não sei se é tendência) em colocar o paciente cada vez mais como responsável por sua própria saúde. Veja o que o pessoal do CollaboRhythm, projeto do grupo New Media Medicine (MIT Media Lab) está fazendo (aqui). 

Com a disseminação de tecnologias portáteis, baratas e de fácil acesso para monitoramento da nossa saúde, acredito que a relação médico/paciente passará por uma importante reavaliação. “Pacientes” serão cada vez mais ativos e engajados nas decisões terapêuticas por conta do fácil acesso aos dados de prontuários médicos e por poderem realizar testes clínicos antes restritos a consultórios médicos e/ou a profissionais de saúde. 

Claro que o caminho ainda é longo e a estrutura é pesada demais para ser mudada com rapidez. Claro também que tais tecnologias têm suas desvantagens…

PS: Dos sete autores do trabalho realizado no MIT, que será apresentado em agosto no SIGGRAPH, a maior conferência de computação gráfica do mundo, quatro são brasileiros: Manuel Oliveira e Vitor Pamplona da UFRGS e Esteban Clua e Erick Passos da UFF.

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