Grupo do MIT Media Lab coloca tecnologias em lugares inesperados

O monstro da foto abaixo, carinhosamente batizado de Cocuruto, foi criado pela minha filha Carol no mês passado durante um workshop no Media Lab (MIT).

Ela passou um fim de semana cercada de tecidos, feltros, agulhas, linhas condutoras, luzes, motores e sensores, aprendendo noções de programação – usando o ModKit – para construir uma criatura que respondesse aos comandos por ela imaginados. De acordo com o nível de pressão nas orelhas do Cocuruto, ele treme. 

Monstro criado e costurado durante workshop no Media Lab (MIT).

Organizado pela pesquisadora Leah Buechley e voltado aos estudantes do ensino fundamental e médio, o workshop “monstros interativos” faz parte de um estudo que tem como objetivo entender como novas ferramentas que mesclam tecnologia e artesanato podem impactar a aprendizagem e engajamento de alunos em trabalhos manuais, arte, ciência, tecnologia e engenharia, segundo consentimento que assinei autorizando a participação da Carol.

Leah, líder do grupo High-Low Tech (aqui), vem trabalhando com a ideia de que há diferentes maneiras de ajudar variados grupos de pessoas a se apaixonar por tecnologia, por criar e construir, ao invés de consumir. Ela é graduada em física e fez seu mestrado e doutorado em ciências da computação.

Colocando tecnologias em lugares inesperados e em novos contextos como papeis, tecidos, cerâmica, roupas etc, Leah tem acompanhado o uso criativo, em diversos locais do mundo, dos kits criados em seu laboratório.

Os exemplos são vastos (aqui) e vão desde vestido bordado com detectores que acendem de acordo com o nível de monóxido de carbono no ambiente (e fashion ainda!), passando por escultura de cerâmica pintada com tintas condutoras que acendem seguindo o padrão determinado pelo artesão e esculturas de papel com módulos eletrônicos que brilham.

Com as ferramentas corretas, novos grupos de pessoas podem participar de atividades onde a tecnologia está envolvida, disse Leah no vídeo abaixo.


Onde achar o material necessário para a costura tecnológica:

http://www.sparkfun.com/commerce/categories.php?c=135

http://www.aniomagic.com

http://www.sparkfun.com/

Tutoriais online:

Emily’s E-Sewing guide: http://web.media.mit.edu/~emme/guide.pdf

High-Low Tech tutorials: http://hlt.media.mit.edu

Other great tutorials: http://www.instructables.com/

Hannah’s How To Get What You Want site: http://www.kobakant.at/DIY/

Onde compartilhar projetos online:

LilyPond: http://lilypond.media.mit.edu/

Flickr group: http://www.flickr.com/groups/lilypad_arduino/

Artigo científico nasce de desafio lançado pelo Departamento de Defesa norte-americano

Pesquisadores do Media Lab, no MIT, estão em busca de estratégias para mobilização social em massa. Qual é a melhor maneira de envolver milhões de pessoas em situações como respostas a desastres e estímulo a atividades físicas?

O grupo, liderado por Alex “Sandy” Pentland, acaba de publicar um artigo na Science (infelizmente não é open access) sugerindo que o segredo é achar os incentivos corretos.

A pesquisa resultou de um desafio lançado em 2009 pelo Departamento de Defesa norte-americano.

Dez balões vermelhos foram suspensos em diferentes locais fixos nos Estados Unidos. O primeiro grupo que identificasse onde estavam os balões, usando redes sociais, ganharia 40 mil dólares.

Crédito imagem: DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency).

Em pouco menos de nove horas, um time do MIT – competindo com outros 100 -, desvendou as coordenadas dos balões, usando a estratégia de espalhar a informação e ao mesmo tempo incentivar os indivíduos a participarem.

O incentivo veio em forma de dinheiro: 2 mil dólares para quem encontrasse um balão, mil dólares para a pessoa que tivesse convidado o ganhador, 500 para quem convidou o que convidou o ganhador, e assim por diante.

Analisando as estratégias adotadas por outros times, os pesquisadores do MIT relataram no artigo da Science que o altruísmo não foi o incentivo ideal neste caso. O time que ficou em segundo lugar conseguiu um número limitado de tweets prometendo que o dinheiro seria doado para a Cruz Vermelha (ou será que o problema foi o destino da doação?).

Começar com uma grande comunidade de seguidores no Twitter também não foi o determinante do sucesso. Dois times que contavam com um grande número de seguidores já estabelecido causaram uma primeira explosão de tweets, mas não conseguiram sustentar sua presença na rede social.

Sem generalizações, é claro. Certamente os incentivos mudam de acordo com a causa. 

Agora o Departamento de Defesa norte-americano lançou um novo desafio: reconstruir documentos rasgados (aqui). Será que vai render artigo científico?

O poder das redes: “como beneficiar 100 milhões de pessoas”

Reid Hoffman abandonou a carreira acadêmica com o objetivo de “criar novos sistemas para causar impacto positivo, ‘escalável’ e massivo na vida das pessoas”. Ao invés de escrever livros, artigos e ensaios “para serem lidos por 50 pessoas”, ele queria causar mudanças na casa dos milhões.

Quando terminou o seu mestrado em filosofia pela Universidade de Oxford, em 1993, Hoffman voltou para o Vale do Silício e entrou no mercado de trabalho com uma lista de habilidades que gostaria de aprender para virar um empreendedor.

Ele queria estruturar algo online para que as pessoas se encontrassem, comunicassem e colaborassem umas com as outras. Tudo isso partiu de seu interesse em “ecossistemas humanos”. 

Resultado? Em 2002 ele fundou, na sala de estar da sua casa, o LinkedIn, atualmente a maior rede social de contatos profissionais. O site oficial foi lançado em maio de 2003. Hoje em dia, há mais de 100 milhões de pessoas cadastradas e duas milhões de empresas têm páginas no LinkedIn. Segundo dados da empresa, aproximadamente um milhão de novos usuários entram no LinkedIn semanalmente.

Reid Hoffman, co-fundador do LinkedIn, falou ontem no Media Lab, usando um dispositivo no pulso para monitorar o nível de estresse.

Hoffman falou ontem no Media Lab, MIT, para uma plateia que lotou o auditório no sexto andar do prédio novo. O título era chamativo: “Como beneficiar 100 milhões de pessoas”. Além de contar brevemente sua biografia, ele falou das oportunidades que o LinkedIn oferece como plataforma, rede e mercado. “Gerencie sua identidade profissional. Construa e se engaje com sua rede profissional. Acesse conhecimento, insights e oportunidades” é a descrição no site dos serviços oferecidos pela empresa.

Um produto lançado este ano, o LinkedIn skills, foi citado como exemplo de como os profissionais podem se beneficiar do ecossistema criado por ele. A ideia é que o LinkedIn skills ajude o usuário a identificar áreas de expertise relacionadas à sua área de atuação. Se você nunca usou, faça o teste digitando alguma de suas expertises (aqui) e veja, no canto esquerdo, outras habilidades relacionadas às suas. No canto direito, aparecem empresas que atuam na área. A busca traz também os grupos profissionais da área. 

Ele falou do poder das redes, sistemas de reputação, culturas de colaboração, citou o texto “The Responsibility of Intellectuals”, de Noam Chomsky, como marco em sua vida de “sempre falar a verdade”. Foram vários outros temas apresentados e discutidos. O vídeo da palestra está disponível aqui. Um bom resumo da discussão está no blog Maximizing Progress (aqui).

O LinkedIn vem se consolidando cada vez mais como ferramenta importante para trazer leitores para sites (aqui e aqui). Para os jornalistas, aí vai uma dica de podcast explicando como usar o LinkedIn para localizar fontes, compartilhar histórias, criar comunidades online e aumentar os clicks em sites de notícia (aqui).

Subjetividade do paciente x subjetividade do médico

Enquanto escrevia a reportagem “Catarata Mapeada”, publicada ontem na Revista Pesquisa FAPESP, fiquei matutando sobre a fonte da subjetividade em testes diagnósticos. Logo pensei que isso viraria um post aqui para o Pó: subjetividade do médico versus subjetividade do paciente. Um post sem respostas, claro, apenas questionamentos.

Simulando como indivíduos com catarata enxergam. Fonte: Camera Culture, MIT Media Lab. 

O que disparou minha reflexão foi uma declaração do médico Rubens Belfort, um dos entrevistados para a reportagem. Ao opinar sobre a aplicação clínica da tecnologia interativa que detecta catarata usando celular, o oftalmologista da Unifesp fez várias ponderações e se mostrou preocupado com o fato do teste ser baseado no que o paciente está enxergando e não em uma avaliação objetiva do olho, por um profissional de saúde, em busca das manchas brancas da catarata. 

Detalhes sobre a tecnologia estão na reportagem (aqui). Em resumo, o usuário olha para a tela do celular por meio do dispositivo, como se estivesse manipulando um caleidoscópio, e responde a diferentes comandos apertando as teclas do próprio aparelho. Se, por exemplo, um ponto verde aceso na tela some, pisca ou fica embaçado é sinal de que a luz que sai da tela do celular foi desviada por uma possível mancha branca da catarata. Mapas de localização e gravidade da catarata são gerados de acordo com as respostas dos pacientes.

Fiquei pensando: será que os testes realizados em consultórios médicos atualmente para detecção da catarata são livres de subjetividade? Não sei. O indiano Shrikant Bharadwaj, que trabalha em um dos centros da OMS para prevenção da cegueira, me disse que os testes atuais por vezes falham na detecção precoce ou deixam de diagnosticar certos tipos da doença. Nem sempre dizer se o paciente tem ou não catarata é preto no branco.

“Subjetividade”, gentilmente cedida por Beatriz Chaim (http://www.flickr.com/people/berilis/)

Será que não vale mesmo a pena levar em conta o que o paciente está enxergando, ao menos como uma triagem inicial da presença de catarata? Me parece que não valorizar a capacidade do paciente em fazer seu próprio diagnóstico vai contra a tendência (ops, não sei se é tendência) em colocar o paciente cada vez mais como responsável por sua própria saúde. Veja o que o pessoal do CollaboRhythm, projeto do grupo New Media Medicine (MIT Media Lab) está fazendo (aqui). 

Com a disseminação de tecnologias portáteis, baratas e de fácil acesso para monitoramento da nossa saúde, acredito que a relação médico/paciente passará por uma importante reavaliação. “Pacientes” serão cada vez mais ativos e engajados nas decisões terapêuticas por conta do fácil acesso aos dados de prontuários médicos e por poderem realizar testes clínicos antes restritos a consultórios médicos e/ou a profissionais de saúde. 

Claro que o caminho ainda é longo e a estrutura é pesada demais para ser mudada com rapidez. Claro também que tais tecnologias têm suas desvantagens…

PS: Dos sete autores do trabalho realizado no MIT, que será apresentado em agosto no SIGGRAPH, a maior conferência de computação gráfica do mundo, quatro são brasileiros: Manuel Oliveira e Vitor Pamplona da UFRGS e Esteban Clua e Erick Passos da UFF.

MIT Mood Meter: medindo o humor da comunidade MIT

Imagine poder monitorar o humor de uma comunidade. Pessoas que frequentam universidades, os atendentes e clientes do Detran de São Paulo, os moradores da região de Boston no inverno e na primavera/verão, e por aí vai…

Não faltam locais interessantes para fazer uma pesquisa de campo usando o MIT Mood Meter, câmeras instaladas em quatro pontos distintos do MIT e que medem em tempo real o humor dos que por lá passam.

Caminhando ontem pelo “corredor infinito” do MIT, esbarrei por um desses.

A câmara capta a imagem dos transeuntes e um programa que reconhece informação afetiva facial (ou seja, um sorriso), adiciona uma “carinha” aos rostos de cada pessoa. A “carinha” muda de acordo com a intensidade dos sorrisos. Veja foto abaixo.

A menina no canto inferior direito é a minha eufórica filha Carol.

O legal foi ver as pessoas parando e sorrindo para ver a mudança nos padrões na tela. 

Segundo informações do site da exposição, é possível dizer se as pessoas estão calmas, felizes, empolgadas e eufóricas, numa ordem crescente de felicidade. Embora o sorriso não seja o único sinal de bom humor, ele pode ser usado como um dos termômetros de felicidade, dizem os responsáveis pela exposição. 

Javier Hernandez e M. Ehsan Hoque, alunos de doutorado do Affective Computing Group (aqui), liderado pelo professor Rosalind W. Picard do MIT Media Lab, desenvolveram o medidor de humor. 

Mais informações aqui.

Nicholas Negroponte alfineta seus críticos

Desde que cheguei por aqui, estava de olho em oportunidades para assistir a uma palestra do Nicholas Negroponte. Além de ser bem conhecido como co-fundador da iniciativa de distribuir um laptop para cada criança (OLPC; one laptop per child), Negroponte é um dos pioneiros na interação humanos-computadores, ajudou a lançar a revista Wired (e outras dezenas de empresas) e é co-fundador do Media Lab (MIT).

Ontem deu certo, realizei meu “sonho”. Negroponte falou na segunda metade de uma aula da disciplina Media Ventures*, no Media Lab.

Nicholas Negroponte falou ontem no Media Lab (MIT).

Alfinetando seus críticos, o professor do MIT brincou que irá usar helicópteros para jogar tablets, como o iPad por exemplo, em comunidades carentes. Evocar a imagem de um helicóptero lançando os gadgets, sem sequer tocar na comunidade alvo, foi proposital: uma maneira de responder às inúmeras críticas que ele vem recebendo desde o lançamento do OLPC. Segundo ele, todas as críticas pela iniciativa que entregou até o momento laptops para 2.5 milhões de crianças de 31 países são variações da seguinte frase: “Negroponte acredita que pode dar um laptop para a criança, sair e tudo será resolvido”.

A missão da OLPC, uma organização sem fins lucrativos, é oferecer para cada criança um laptop resistente, de baixo custo e conectado à internet, como já foi e tem sido vastamente relatado na mídia. O pequeno computador branco e verde já virou, de certa forma, símbolo do uso de tecnologias para crianças com fins educacionais. Veja trecho que retirei do site:

To this end, we have designed hardware, content and software for collaborative, joyful, and self-empowered learning. With access to this type of tool, children are engaged in their own education, and learn, share, and create together. They become connected to each other, to the world and to a brighter future.

Em setembro do ano passado ele pensou em “seguir a sugestão” dos críticos. Decidiu dar início a um projeto de entregar tablets – o helicóptero era provocação – para crianças em seis vilas carentes, onde 50% das crianças não chegam a frequentar a primeira série, e voltar só depois de um ano para avaliar se as crianças aprenderam a ler. Simples assim, disse Negroponte. O tablet de plástico que está sendo desenvolvido pelo pessoal do OLPC é a nova geração de dispositivos que possivelmente irá substituir o laptop original.

A ideia desse novo projeto é que ao abrir o tablet, crianças nigerianas, paquistanesas, afegãs, entre outras, possam escutar histórias. O objetivo é que as crianças aprendam a ler ouvindo histórias. Segundo Negroponte, é assim que 20% das crianças se alfabetizam. Com isso, crianças seriam agentes de mudança em suas comunidades, podendo, por exemplo, ler para seus avós analfabetos.

Fazem parte do projeto Sugata Mitra (Hole-in-the-Wall) e Maryanne Wolf (professora da Tufts University, autora do livro Proust and the Squid: The story and science of the reading brain).

Além de contar sobre o novo projeto, Negroponte resgatou a história de como começou a trabalhar com o OLPC e mostrou inúmeras fotos de crianças de diversos lugares do mundo atentamente mexendo em seus computadores. Ele falou também sobre o lado empreendedor da iniciativa, tema de interesse para os alunos da disciplina, ressaltando que sempre procura fazer algo diferente do que “os movimentos esperados do mercado” fariam.

Leiam abaixo algumas das perguntas feitas pelos alunos:

Como a criança vai aprender a ler se não tem comida no prato? E o risco do pai vender o tablet?

Negroponte: Pergunta fundamental. Não devemos educar crianças famintas? Ninguém diria para segurar a educação enquanto não tivermos água limpa…. Claro que precisa andar junto! 

Mesmo nos lugares mais pobres, os pais querem que seus filhos sejam educados. Os laptops estão seguros nas favelas brasileiras pois os criminosos querem que seus filhos sejam educados. O laptop verde é conhecido como sendo usado para educação: ver um adulto carregando soa estranho. Virou um símbolo.

Qual é infraestrutura necessária?

Negroponte: Conexão à internet basta e custa em média 30 centavos de dólares/criança/mês. O custo do laptop é de um dólar/mês/criança. 

Como você negocia o conteúdo do laptop com o governo? Alguém pode dizer que os livros escolhidos são errados.

Negroponte: Deixamos o país escolher os livros que quer. Fazemos tudo possível para ser livre acesso, open source, open software.

Por que não um smartphone por criança?

Negroponte: Livro tem um tamanho adequado para a leitura; é tudo por conta do tamanho da tela (…).

Você embarcou em uma nobre missão, tipo Madre Teresa, e é criticado há anos. Como isso te afetou pessoalmente?

Negroponte: Cresci com um gene extra de segurança. Aos poucos fui criando uma pele de elefante: I don’t care. Claro que fico com raiva de vez em quando, mas ser mais velho ajuda.

* O objetivo da disciplina Media Ventures, oferecida por Sandy Pentland e Joost Bonsen, do Media Lab (MIT), é ajudar o aluno a compreender como mídias emergentes e inovações digitais se traduzem em realidade comercial e transformam a sociedade.

Media Lab em destaque na Folha de São Paulo

Desconsiderem a sombra da fotógrafa não-profissional e observem os nomes dos grupos de pesquisa do Media Lab, no MIT.

Quando se clica em cada uma das janelas dessa tela, aparece o líder do grupo e todos os envolvidos nos diversos projetos, assim como uma breve e interessante descrição da pesquisa. O display não é novo, mas só hoje – a caminho do almoço com Leo Burd – me dei conta do quanto ele é eficiente em divulgar o que acontece por lá.

Como disse Gilberto Dimenstein em matéria publicada no último domingo na Folha de São Paulo, “a arquitetura [do Media Lab] transmite a mensagem de que criatividade depende de uma combinação de caos, flexibilidade, diversidade e estímulo ao contato humano” (link para texto completo aqui, exclusivo para assinantes). E na mesma edição do jornal, Luciana Coelho escreveu sobre o trabalho desenvolvido pelo Leo Burd no Media Lab (aqui). Já falei aqui no blog sobre o trabalho do Leo (aqui) e sigo encantada com a ideia de tecnologias com foco em comunidades carentes.

Em tempo: o Pó ficou meio abandonado ultimamente pois estive envolvida com a organização da Conferência Brasil-MIT (aqui e último parágrafo da matéria publicada no último sábado também na Folha aqui). Aos poucos coloco minha vida de volta ao eixo.

Criança e cidadania é o foco do trabalho de Leo Burd, brasileiro no MIT

Enquanto me preparava para entrevistar o Leo Burd, brasileiro que assumiu recentemente o cargo de pesquisador no Media Lab (MIT), me comovi ao imaginar o impacto de seu trabalho. Li vários links, posts em blogs, trechos de sua tese e a imagem que me veio foi a do Leo carregando uma bandeja abarrotada de diferentes tecnologias desenvolvidas para um público muito especial: as crianças.

                          

Leo Burd, pesquisador brasileiro no Media Lab (MIT). Arquivo pessoal

Tecnologias para estimular a garotada – como ele gosta de chamá-las – a participar efetivamente como cidadãs em suas comunidades, especialmente as carentes. 

“As crianças, hoje em dia, são muito oprimidas ou deixadas de lado, tanto em famílias de baixa quanto de alta renda. São marginalizadas de uma maneira não óbvia. A criança vai para escola de manhã, faz alguma atividade e depois volta para casa. O tipo de contato que ela tem com o mundo externo e com a sociedade de uma forma mais ampla é muito restrito. E o contato com os adultos tende a ser muito de cima para baixo, muito dirigido. A criança que sempre teve que obedecer ordens e ficar em ambientes condicionados, de repente completa 18 anos e é considerada cidadã do mundo. Que opinião essa pessoa vai ter se nunca teve oportunidade de testar suas próprias ideias no mundo? Colocamos muita expectativa em cima dos jovens, o futuro está em suas mãos, mas nunca ajudamos a prepará-los para que se tornem cidadãos do mundo moderno; é uma área muito deficiente”, disse Leo Burd durante a entrevista.

No recém-lançado Department of Play, do qual Burd é co-fundador, o grupo vem criando e implementando diferentes tecnologias, principalmente baseadas em mapas, internet e telefonia. As imagens de crianças usando balões para tirar fotos de seu bairro e, em seguida, montando um mapa, são lindas. 

Quer saber mais? Leia a entrevista publicada na revista Ciência & Cultura (texto e pdf).

Pesquisadores brasileiros no MIT desenvolvem nova tecnologia digital para prescrição de óculos que poderá revolucionar a oftalmologia

O procedimento é simples e rápido: acople uma estrutura de plástico à tela de um celular, aproxime-a do olho, use as setas do teclado para sobrepor linhas vermelhas e verdes e, em menos de cinco minutos, uma prévia do grau de seus óculos estará pronta. Tal dispositivo, desenvolvido por pesquisadores brasileiros no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, promete revolucionar a detecção de problemas refrativos (grau de óculos) por seu baixo custo e mobilidade, permitindo o uso em campanhas de saúde ocular em regiões onde pessoas não têm acesso a oftalmologistas.

Manuel Menezes de Oliveira Neto e Vitor Pamplona 

Hoje em dia, os testes na maioria dos consultórios para detecção de erros de refração – miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia – ocorrem em duas etapas. Na primeira, um equipamento chamado auto-refrator fornece uma estimativa do grau do paciente. Em seguida, o grau é subjetivamente conferido e ajustado avaliando qual conjunto de lentes permite que o paciente enxergue nitidamente, sem borrões, um painel (tabela de Snellen) com letras (optótipos) (melhor assim ou assim?). “O dispositivo que desenvolvemos combina, em uma única etapa, avaliações objetivas e subjetivas”, disse Manuel Menezes de Oliveira Neto, professor de Ciência da Computação no Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisador visitante do Media Lab (MIT) e um dos responsáveis pelo projeto.

Ao acender e apagar pontos específicos da tela LCD do celular, a tecnologia, denominada pelos pesquisadores de NETRA (Near-Eye Tool for Refractive Assessment), cria um objeto virtual que varia em profundidade. A luz emitida pela tela do celular atravessa pequenos furos de uma máscara acoplada ao celular. Ao variar a posição dos pontos (pixels) iluminados, simula-se os efeitos de convergir e divergir os raios de luz que passam pelas lentes de óculos (veja vídeo). “O usuário tenta sobrepor linhas exibidas na tela do celular. Caso ele tenha um sistem visual perfeito, nenhum alinhamento é necessário”, explica Vitor Pamplona, estudante de doutoramento da UFRGS, atualmente trabalhando no Media Lab, responsável pelo desenvolvimento do software que converte as informações dos alinhamentos em graus para prescrição de óculos. O conjunto de alinhamentos, atribuídos pelo próprio paciente, reflete seus erros de refração. Basicamente o software detecta o quanto as imagens se movem na tela do celular. “Substituímos as lentes por uma máscara e objetos que se movem virtualmente”, completa Oliveira.

Segundo Pamplona, a base teórica do NETRA é a mesma de outras tecnologias: projeção de imagens na retina e leitura destas imagens. “A grande diferença no nosso caso é que o próprio usuário faz a leitura das imagens, ao contrário do auto-refrator, por exemplo, que lê automaticamente as imagens por meio de câmeras”, disse.

A leveza e relativa simplicidade do dispositivo desenvolvido no Media Lab, sob a coordenação do professor Ramesh Raskar com a participação também do pós-doc Ankit Mohan, contrasta com seus possíveis amplos impactos e alcances. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, dois bilhões de pessoas sofrem com problemas de visão devido a erros de refração e necessitam de óculos ou lentes de contato. Quando não corrigidos com uma simples prescrição de óculos, os erros de refração representam a segunda maior causa de cegueira no mundo.

“A portabilidade parece ser o maior apelo desse novo dispositivo, que pode se tornar muito útil nas cada vez mais frequentes campanhas de saúde ocular no Brasil, especialmente em populações carentes com difícil acesso ao oftalmologista”, destaca Francisco Max Damico, oftalmologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. No entanto, Damico alerta que ele nunca deverá ser usado para a prescrição de óculos, como algumas ópticas no Brasil fazem usando os auto-refratores. “O dispositivo nunca deverá substituir um exame oftalmológico completo, que poderá detectar alterações assintomáticas e precoces de doenças graves como glaucoma e degeneração macular, que podem cegar se não forem tratadas precocemente, e que não têm nada a ver com os óculos”.

Ramesh Raskar, pesquisador que vem desenvolvendo tecnologias baseadas em câmeras fotográficas, acredita que o dispositivo terá em breve para a oftalmologia o mesmo valor que o termômetro tem na medicina. O próprio paciente pode detectar alguma alteração em sua acuidade visual, mas o médico continuará com a tarefa de prescrever a lente correta.

Detecção precoce de câncer tem limite*

Prometi que não publicaria a mesma informação aqui e no blog da SBI, mas, neste caso, não resisti. 

“Quanto mais cedo o câncer for detectado, maiores serão as chances de cura”. Não há nada de novo nesta afirmação, certo? Mas para garantir tal detecção precoce, você estaria disposto(a) a implantar em seu corpo um sensor que libera um sinal (câncer!) lido por um equipamento do tamanho de um celular que você mesmo carrega? Fico imaginando a seguinte cena: a pessoa acorda, liga o aparelho e pergunta: “será que é hoje o dia em que serei diagnosticado(a) com câncer?”

Sensores in vivo para detecção de câncer. Fonte: Koch Institute/MIT

Escutei sobre tais sensores in vivo na última sexta-feira (30/abril), como parte de uma das atividades do evento BetterWorld, organizado pelo Fórum de empreendedorismo do MIT. Urvashi Upadhyay, médica e pesquisadora do Koch Institute (MIT), explicou que os sensores utilizam sistemas micro-eletromecânicos que detectam, por exemplo, uma alteração de pH. Combinados a nanopartículas que permitem visualizar alterações moleculares e celulares, os sensores podem ser utilizados não só para detecção precoce mas também para liberação de drogas no local e no momento apropriados. 

Não há dúvidas de que a tecnologia é de fronteira e pretende tratar eficientemente a doença mais temida da humanidade. Robert Urban, diretor executivo do Koch Institute, falou sobre a estratégia que os engenheiros e cientistas do instituto estão adotando. “O câncer é uma doença tão complexa que optamos não por buscar a cura, e sim por usar tecnologias para melhorar o tratamento”, disse.

Mas será que é saudável carregar tais sensores? Eles devem ser adotados por todos ou apenas por grupos de risco? Será que eles nos fariam doentes? Há algum paralelo entre os sensores e os testes genéticos? O que você faria com a informação de que está escrito no seu DNA que você tem 30% de chance de desenvolver um câncer aos 58 anos? E onde entram os RNAs, que podem regular tudo isso?

Enfim, este post deveria ter seguido o modelo do Perguntas de Biruta, de André Báfica.

E, para terminar, mais uma pergunta: será que Ray Kurzweil está certo? Segundo o futurista, sofremos tantas doenças pois o nosso DNA está desatualizado. Está na hora de reprogramar o nosso código genético com implantes de microchips para acompanhar a contento o desenvolvimento tecnológico?

Adoro a liberdade que o blog permite. Mais perguntas do que respostas.

*Publicado originalmente no SBlogI.

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