Pesquisadores brasileiros no MIT desenvolvem nova tecnologia digital para prescrição de óculos que poderá revolucionar a oftalmologia

O procedimento é simples e rápido: acople uma estrutura de plástico à tela de um celular, aproxime-a do olho, use as setas do teclado para sobrepor linhas vermelhas e verdes e, em menos de cinco minutos, uma prévia do grau de seus óculos estará pronta. Tal dispositivo, desenvolvido por pesquisadores brasileiros no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, promete revolucionar a detecção de problemas refrativos (grau de óculos) por seu baixo custo e mobilidade, permitindo o uso em campanhas de saúde ocular em regiões onde pessoas não têm acesso a oftalmologistas.

Manuel Menezes de Oliveira Neto e Vitor Pamplona 

Hoje em dia, os testes na maioria dos consultórios para detecção de erros de refração – miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia – ocorrem em duas etapas. Na primeira, um equipamento chamado auto-refrator fornece uma estimativa do grau do paciente. Em seguida, o grau é subjetivamente conferido e ajustado avaliando qual conjunto de lentes permite que o paciente enxergue nitidamente, sem borrões, um painel (tabela de Snellen) com letras (optótipos) (melhor assim ou assim?). “O dispositivo que desenvolvemos combina, em uma única etapa, avaliações objetivas e subjetivas”, disse Manuel Menezes de Oliveira Neto, professor de Ciência da Computação no Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisador visitante do Media Lab (MIT) e um dos responsáveis pelo projeto.

Ao acender e apagar pontos específicos da tela LCD do celular, a tecnologia, denominada pelos pesquisadores de NETRA (Near-Eye Tool for Refractive Assessment), cria um objeto virtual que varia em profundidade. A luz emitida pela tela do celular atravessa pequenos furos de uma máscara acoplada ao celular. Ao variar a posição dos pontos (pixels) iluminados, simula-se os efeitos de convergir e divergir os raios de luz que passam pelas lentes de óculos (veja vídeo). “O usuário tenta sobrepor linhas exibidas na tela do celular. Caso ele tenha um sistem visual perfeito, nenhum alinhamento é necessário”, explica Vitor Pamplona, estudante de doutoramento da UFRGS, atualmente trabalhando no Media Lab, responsável pelo desenvolvimento do software que converte as informações dos alinhamentos em graus para prescrição de óculos. O conjunto de alinhamentos, atribuídos pelo próprio paciente, reflete seus erros de refração. Basicamente o software detecta o quanto as imagens se movem na tela do celular. “Substituímos as lentes por uma máscara e objetos que se movem virtualmente”, completa Oliveira.

Segundo Pamplona, a base teórica do NETRA é a mesma de outras tecnologias: projeção de imagens na retina e leitura destas imagens. “A grande diferença no nosso caso é que o próprio usuário faz a leitura das imagens, ao contrário do auto-refrator, por exemplo, que lê automaticamente as imagens por meio de câmeras”, disse.

A leveza e relativa simplicidade do dispositivo desenvolvido no Media Lab, sob a coordenação do professor Ramesh Raskar com a participação também do pós-doc Ankit Mohan, contrasta com seus possíveis amplos impactos e alcances. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, dois bilhões de pessoas sofrem com problemas de visão devido a erros de refração e necessitam de óculos ou lentes de contato. Quando não corrigidos com uma simples prescrição de óculos, os erros de refração representam a segunda maior causa de cegueira no mundo.

“A portabilidade parece ser o maior apelo desse novo dispositivo, que pode se tornar muito útil nas cada vez mais frequentes campanhas de saúde ocular no Brasil, especialmente em populações carentes com difícil acesso ao oftalmologista”, destaca Francisco Max Damico, oftalmologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. No entanto, Damico alerta que ele nunca deverá ser usado para a prescrição de óculos, como algumas ópticas no Brasil fazem usando os auto-refratores. “O dispositivo nunca deverá substituir um exame oftalmológico completo, que poderá detectar alterações assintomáticas e precoces de doenças graves como glaucoma e degeneração macular, que podem cegar se não forem tratadas precocemente, e que não têm nada a ver com os óculos”.

Ramesh Raskar, pesquisador que vem desenvolvendo tecnologias baseadas em câmeras fotográficas, acredita que o dispositivo terá em breve para a oftalmologia o mesmo valor que o termômetro tem na medicina. O próprio paciente pode detectar alguma alteração em sua acuidade visual, mas o médico continuará com a tarefa de prescrever a lente correta.

Blue Zones: locais onde as pessoas vivem muito, e com qualidade

Ontem o lindo final de tarde convidava para um happy hour à beira do rio ou do mar. Mas a curiosidade em saber mais sobre as Blue Zones – locais no mundo onde as pessoas vivem muito e com qualidade – venceu, e fui assistir a uma palestra proferida por Dan Buettner no Museum of Science, como parte da série “celebridades da ciência”.

Explorador da revista National Geographic, Buettner viajou mundo afora em busca de histórias de vida, padrões de comportamento e hábitos alimentares de idosos e centenários que vivem em hotspots de longevidade: Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Icária (Grécia), Nicoya (Costa Rica) e Loma Linda (Califórnia, EUA). Com a ajuda de uma equipe de cientistas, Buettner identificou o que os velhinhos, vivendo em regiões tão distintas e distantes do planeta, têm em comum. Veja se há algo parecido com o seu estilo de vida:

– Eles não se exercitam “formalmente”, e sim se movimentam naturalmente. Por exemplo, as casas em que vivem os okinawas são estruturadas de forma a estimular que se levantem e abaixem aproximadamente 40 vezes por dia.

– Todos têm um propósito de vida. Achei especialmente interessante a valorização do idosos observada em todas as Blue Zones. “Quanto mais velho, mais celebrado”.

– Todos se alimentam com sabedoria: vinho ou saquê ao final do dia, dieta baseada em plantas (muito feijão, lentilhas, grãos, verdes, nozes, castanhas) e moderada (param de comer quando se sentem 80% satisfeitos).

– Todos fazem parte de redes sociais, seja com amigos e/ou família.

– Todos têm alguma crença religiosa ou espiritual.

Confesso que torci um pouco o nariz, tanto na palestra quanto no livro, quando o tom de autoajuda predominava. Por outro lado, é interessante observar se (e o quanto) nos distanciamos dos hábitos dos moradores das Blue Zones e o que podemos fazer para viver mais e com qualidade.

Sobre viver com qualidade, um dado que me chocou: os moradores destas Blue Zones, além de viveram cerca dez anos a mais do que a média mundial, morrem de maneira natural e menos traumática. Os chamados “anos de morbidade” são reduzidos, em média, para menos de um ano. Segundo Buettner, os norte-americanos têm uma expectativa de vida de 78 anos e três anos de morbidade (mobilidade prejudicada, afetados por doenças, requerem cuidados médicos diários). No caso dos okinawas, por exemplo, muitos aproveitam a vida plenamente até os últimos momentos e vários morrem dormindo.

A pesquisa do explorador, capa da National Geographic em 2005, foi uma das três edições mais vendidas na história da revista. Durante a palestra, Buettner mostrou um vídeo de um senhor de 80 anos andando de bicicleta, em alta velocidade, para ir visitar a mãe de 104 anos. A plateia adorou! 

Dan Buettner em palestra ontem no Museum of Science.

Por falar em plateia, as perguntas foram afiadíssimas. Várias perguntas começavam assim: “acredito que você esteja familiarizado com a pesquisa de X, Y, Z”. Literatura sobre envelhecimento na ponta da língua…

Ao final, claro, fui pedir um autógrafo. Veja o que ele escreveu:

Categorias

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM