Bactérias foram destaque da cerimônia de premiação do Ig Nobel

Participei ontem da 20a cerimônia de premiação do Ig Nobel. Satirizando o aclamado Prêmio Nobel, a equipe do Annals of Improbable Research (AIR) homenageia, todos os anos, pesquisas que fazem rir, e, em seguida, pensar. Os dez vencedores de 2010 (veja lista abaixo) foram anunciados durante a cerimônia no teatro Sanders (lindo!), que fica no campus da Universidade de Harvard. A intenção de tal premiação é celebrar o inusitado e estimular o interesse do público por ciência, medicina e tecnologia.

Este ano o tema foi “bactérias”. Marc Abrahams, editor do AIR, me disse que eles procuram escolher temas cujos nomes as pessoas reconheçam, mas que nunca param para pensar sobre o assunto. “Você, por exemplo, está coberta de bactérias”, disse.

Antes da cerimônia oficial começar, tais microrganismos foram homenageados com um concerto de piano “bactérias patogênicas”, acompanhado por um “coro bacteriano”. Conforme a pianista tocava, crescia a lista de bactérias listadas na tela, presentes na boca, pele, intestinos delgado e grosso de humanos.

Palco lotado, bagunça organizada. Os vencedores entraram no palco segurando uma corda, como as crianças que saem a passeio com a escola. Mais um tributo às bactérias: as gêmeas Evelyn Evelyn cantaram uma música composta exclusivamente para o evento, descrevendo vários nomes científicos de bactérias.

Richard Losick, professor da Universidade de Harvard, proferiu um curtíssimo discurso que, a meu ver, deveria ter sido o tom das homenagens às bactérias. Losick ressaltou que vivemos em perfeita harmonia com zilhões de bactérias espalhadas pelo nosso corpo, descreveu a importância delas para o desenvolvimento do nosso sistema imune e suas influências em nossas emoções. “Somos mais bactérias que humanos? Foi você quem decidiu vir aqui hoje à noite ou foram suas bactérias?” Risadas por todo lado!

Richard Losick, professor da Universidade de Harvard

Até ópera bacteriana teve, descrevendo a saga de uma bactéria que vive no dente de uma mulher. Além de contar sobre a convivência com vizinhos, e da invenção de um telescópio por galileococos – possibilitando que as bactérias vissem que os humanos são cobertos por bactérias -, houve até uma explicação sobre a formação de biofilmes (stand on the shoulders of giant piles of bacteria).

Os ganhadores do IgNobel receberam o prêmio das mãos de cientistas laureados com o verdadeiro Prêmio Nobel: Sheldon Glashow (Física, 1979), Roy Glauber (Física, 2005), Frank Wilczek (Física, 2004), James Muller (Paz, 1985) e William Lipscomb (Química, 1976), que este ano completará 91 anos de idade.

Impressionou vê-los no palco, totalmente entregues às brincadeiras e participando de tudo: varrendo os aviões de papel do chão, vestindo sutiã e carregando bactérias gigantes de pelúcia. Hilário.

Uma forma de divulgação científica repleta de risos!

Frank Wilczek, James Muller e Sheldon Glashow segurando bactérias de pelúcia 

Roy Glauber varrendo os aviões de papel, tradição do Ig Nobel.

Aí vai a lista dos ganhadores do Ig Nobel 2010:

Obs: o interessante é comparar a descrição do prêmio com o título do trabalho original

Engenharia

– “Pelo aperfeiçoamento de um método de limpar secreção nasal de baleias usando um helicóptero guiado por controle remoto”

– Karina Acevedo-Whitehouse, Agnes Rocha-Gosselin e Diane Gendron, cientistas do Reino Unido e do México

– Trabalho publicado no periódico científico Animal Conservation (resumo aqui). O título do trabalho fala sobre uma ferramenta não-invasiva para monitoramento de doenças em baleias e sua importância para programas de conservação.

Medicina

– “Pela descoberta de que os sintomas da asma podem ser tratados com uma volta numa montanha-russa”

– Simon Rietveld; Ilja van Beest, cientistas holandeses

– Trabalho publicado na Behaviour Research and Therapy (resumo aqui). O título original afirma que estresse emocional positivo interfere com a percepção da dispnéia.

Planejamento de transporte

– “Pelo uso de micetozoários (microrganismos que parecem “lodo”) para determinar rotas ideais de malhas ferroviárias”

– Grupo de cientistas japoneses e Dan Bebber e Mark Fricker (Reino Unido)

– Trabalho publicado na Science (resumo aqui). 

Física

– “Pela demonstração de que em calçadas com camadas de gelo, durante o inverno, as pessoas escorregam e caem muito menos se vestirem a meia do lado de fora de seus sapatos”

– Lianne Parkin, Sheila Williams e Patrícia Priest, cientistas da Nova Zelândia

– Trabalho publicado na New Zeland Medical Journal (resumo aqui). Título original vai na linha da prevenção de quedas de inverno: teste randomizado e controlado de uma nova intervenção.

Paz

– “Pela confirmação da crença de que falar palavrão alivia dores”.

– Richard Stephens, John Atkins e Andrew Kingston, cientistas do Reino Unido

– Trabalho publicado na Neuroreport (resumo aqui)

Saúde Pública

– “Pela determinação experimental de que micróbios ficam aderidos às barbas de cientistas”

– Manuel Barbeito, Charles Mathews e Larry Taylor, pesquisadores do Industrial Health and Safety Office, nos Estados Unidos

– Trabalho original publicado em 1967 na Applied Microbiology (resumo aqui).

Química

– “Pela contestação da velha crença de que óleo e água não se misturam”

– Eric Adams (MIT), Scott Socolofsky (TAMU, Texas) e Stephen Masutani (Hawai)

– Relatório (resumo aqui).

Gestão

– “Pela demonstração matemática de que organizações seriam mais eficientes se promovessem pessoas ao acaso”

– Alessandro Pluchino, Andrea Rapisarda, Cesare Garofalo, cientistas italianos

– Artigo publicado na Physica A (resumo aqui)

Biologia

“Pela documentação científica de felação em morcegos”

– Cientistas chineses e Gareth Jones da Universidade de Bristol (Reino Unido)

– Artigo publicado originalmente na PLoS One (artigo aqui)

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