Morcego Chupacabra Peruano? Não, o vampiro gigante é nosso!
por Guilherme Garbino
Recentemente, espalhou-se pela internet a foto acima, um famigerado “morcego gigante” que teria sido encontrado no Peru. O interessante é que ao invés de ser confundido com o Batman, como seria de se esperar, a pobre criatura foi logo tida como um prova irrefutável que o chupacabra ainda está entre nós.
O fotógrafo, intencionalmente ou não, utilizou um truque óptico que já foi usado inclusive para propagar viralmente outro caso criptozoológico; o famoso solífugo (ou “sun-spider” do vernacular em inglês) gigante do Iraque (http://www.brownreclusespider.org/camel-spider/giant-camel-spider.htm). No caso do “morcego gigante”, o “truque”, de colocar o animal em primeiro plano com os soldados em segundo fica facilmente evidenciado ao olharmos o tamanho da “faquinha” fincada acima do arcabouço de bambu que suspende o animal.
Embora estejam entre os maiores morcegos do mundo, as espécies do gênero Pteropus (que em latim quer dizer “pés com asas”), e da qual faz parte o nosso “morcego gigante” não ultrapassam os 1,2 metros de envergadura de asa. Como não encontrei a fonte original da foto, imagino, a partir da distribuição geral dos Pteropus maiores (P. neohibernicus e P. vampyrus ou o Acerodon jubatus), que ela tenha sido tirada em algum lugar do sudeste Asiático ou no arquipélago Malaio, ou seja, muiiiito longe das selvas peruanas.
Esse caso criptozológico, me lembrou dos relatos sobre o suposto morcego vampiro gigante da América do Sul. Um mito moderno cujos fundamentos se estendem até a mitologia Maia, na forma do deus Camazotz, um monstro com cabeça de morcego associado à morte e a noite.
Todas as três espécies de morcegos hematófagos viventes ocorrem no Brasil e, dentre elas, a maior e mais comum, Desmodus rotundus, atinge uma envergadura de aproximadamente 20 centímetros. Os morcegos hematófagos fósseis, no entanto, evidenciam que algumas espécies poderiam ser até 25% maiores que o Desmodus rotundus. Não é a toa que esses morcegos hematófagos extintos receberam nomes muito criativos como Desmodus stockii (em homenagem ao autor de Drácula, Bram Stocker) e Desmodus draculae.
No Brasil, um crânio (subfóssil) de D. draculae foi encontrado em uma caverna do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR). O trabalho da profa. Eleonora Trajano e do Mario de Vivo de 1991 descreve esse registro e vai um pouco além ao suspeitar que a idade do subfóssil seja relativamente recente e que a espécie pode ainda estar presente na região! Acho improvável, no entanto, que uma espécie de morcego relativamente grande não tenha sido capturada em uma das regiões cársticas mais bem amostradas para morcegos do país.
Quando o assunto é tamanho, entre os morcegos brasileiros, a maior espécie de morcego, com aproximadamente 80 centímeros de envergadura, é Vampyrum spectrum que, apesar desse nome, não tem nada de vampiro. De fato, os gêneros Vampyriscus, Vampyrops (= Platyrrhinus), Vampyrodes e o simpático Vampyressa são todos frugívoros, enquanto que os gêneros verdadeiramente hematófagos (Desmodus, Diphylla e Diaemus) foram, pode ser dizer, injustiçados em seu batismo. Desmodus significa algo como “dentes amarrados juntos” e Diphylla quer dizer “duas folhas”. Apenas o último gênero a ser descrito, Diaemus tem a ver com o hábito que lhes dá fama: Diaemus vem do grego diaimos, que significa “manchado de sangue”.
No excelente artigo de G.G. Simpson (1984) (que escrevia bem sobre muitas coisas), o autor ataca a criptozoologia como ciência, argumentando que nós humanos somos os animais mais crédulos, ingênuos e enganosos que existem. Por isso (segundo ele) acreditamos também no criacionismo e em UFOs, além da criptozoologia. Finalizando com chave de ouro, o autor cita magistralmente o cristão Tertuliano para ilustrar a condição da mente humana: Credo quia impossibile (acredito porque é impossível).
Fontes de conhecimento:
Simpson, G. G. 1984. Mammals and Cryptozoology. Proceedings of the American Philosophical Society, 128(1): 1–19
Trajano, E. ; Vivo, M. 1991. Desmodus draculae Morgan, Linares & Ray, 1988, reported for southeastern Brazil, with paleoecological comments (Phyllostomidae, Desmodontinae). Mammalia, 55(3): 456-459.
sugerido sobre morcegos e criptozoologia:
Schutt,B. 2008. Dark Banquet: blood and the curious lives of blood-feeding creatures.Crown. 336p.
Discussão - 4 comentários
Excelente post! Muito bom saber das fontes das coisas duvidosamente impressionantes da internet.
[...] saber um pouco mais sobre esse morcego, fica a sugestão da leitora Risa Stoider para o ótimo blog Caapora. Lá é explicado que todas as 3 espécies de morcegos hematófagos vivem aqui no Brasil e a [...]
Eu gostaria muito de saber se esse morcego gigante supostamente encontrado no Peru é verdadeiro ou apenas uma farça!
lucas adriano e mentira os morcegos não são desse jeito eles que fizeram montagem e falaram que era um morcego Gigante o morcego teria algo semelhante com o menor e o gigante não tem nada de semelhante com o menor.