Feliz dia do Biólogo (atrasado)
Tudo bem, eu sei, estou dois dias atrasado. Mas tenho uma boa desculpa, estava exercendo o direito da profissão, afinal biólogo que é biólogo passa o dia “biologando”. Passei os últimos três dias em campo, mais precismante na pequena cidade de Quissamã percorrendo 40 quilômetros do trecho de litoral mais selvagem do estado do Rio de Janeiro, em busca de aves, baleias, golfinhos e tartarugas marinhas
Sempre que tento explicar o meu trabalho para alguém que não é colega de profissão, quase sempre a pessoa me interrompe antes que eu acabe de falar e comenta algo do tipo “essa sua vida é muito boa, sempre viajando conhecendo lugares e pessoas novas”. A foto abaixo, tirada no dia do biólogo, reflete um pouco do “jeito biólogo de ser”. Não, não estou chamando os biólogos de sujismundos, embora conheça um que é capaz de passar até cinco dias no campo sem jogar uma gota de água na cabeça. Segundo ele, é preciso ter consciência sobre o problema da falta de água no planeta… mas, o ponto aqui não é esse.
Lá estava um bando de gaivotas-de-capuz-cinza (Chroicocephalus cirrocephalus) há uns 200 metros de distância, pousada na margem de uma lagoa quase seca. A região norte do estado do Rio de Janeiro é um dos poucos lugares do sudeste do país onde essa espécie ocorre, e essa era uma boa chance de tirar uma foto do bicho. Fiz alguns clicks ainda de longe para garantir o registro (foto abaixo), mas era preciso me aproximar mais para conseguir uma foto melhor. Se as aves não vêm ao ornitólogo, o ornitólogo vai até as aves! Só havia um problema, a lagoa, que no final da estação seca havia se convertido em um mar de lama.
Pés descalços e lá vou eu atolado até o joelho de pouquinho em pouquinho me aproximando. Já estava a uma distância razoável quando resolvi erguer a máquina para fazer algumas fotos, antes que eu apertasse o disparador, as gaivotas resolveram alçar vôo e lá se foi minha foto com elas. Já havia perdido as esperanças e retomado a minha peregrinação pela lama, foi então que uma delas deu meia volta e veio voando na minha direção como se quisesse examinar o que aquele ser humano estava fazendo chafurdando na lama, aí foi só alegria.
Moral da história? Concordo plenamente, ser biólogo é a melhor coisa do mundo, mas é preciso mergulhar de cabeça na profissão, ou melhor, atolar o pé na lama.