Estamos há um tempo sem conversar por aqui. Ao longo destes últimos dois anos de pandemia, nossa frequência de textos foi muito grande e precisávamos reorganizar o trabalho. Especialmente agora, já que estamos com intensas atividades presenciais. Dessa maneira, a equipe do Especial COVID-19 precisou se afastar um tempo, uma vez que nossa atenção voltou-se para outras áreas que ficaram descobertas durante este tempo todo.Aliás, é relevante falar que já tem algum tempo que todos nós estamos com um comportamento que beira a tão desejada normalidade, não é mesmo? Voltamos às salas de aula, aos bares e restaurantes, aos espaços públicos – com espetáculos e reencontros. Ufa! Realmente estamos em um momento mais tranquilo.
Isso foi por muito tempo nossa mirada diária, e estamos felizes de não ser tão urgente tudo o que precisamos fazer e falar sobre COVID-19 atualmente. Mas (sim, há um mas), a pandemia não acabou. E ainda precisamos de atenção e cuidado, informações que nos indiquem o que é ou não seguro.
O que nos diz a OMS?
A Organização Mundial da Saúde segue fazendo relatórios semanais sobre a situação da COVID-19, incluindo a decisão de manter o status de pandemia à doença. Isto quer dizer que ainda vivemos uma emergência sanitária global – embora exista diferenças entre regiões dentro dos países e entre os países do mundo. Assim, os relatórios da OMS falam da doença em diferentes continentes e países, sendo um boletim geral de como a COVID-19 está neste momento (vocês podem conferir o último relatório aqui, que está em inglês).
E a vacinação em nosso país?
Se pensarmos o cenário de 2021 em que não sabíamos se haveria vacina para todos nós, atualmente nossa situação é realmente tranquila. A vacina chegou a muitos brasileiros sim. Dessa maneira, salvou vidas e diminuiu (muito) mortes e agravamento de doenças.
Nós temos, neste momento, uma cobertura vacinal extremamente desigual em nosso país. Muito embora a vacinação tenha chegado, não tivemos uma campanha e distribuição centralizada, que garantisse igualdade de acesso em todo o território nacional
Se formos levar em consideração a terceira dose (ou dose adicional), vemos que a situação é mais séria ainda. Nenhum estado brasileiro – nem São Paulo que é o estado mais vacinado do país – está acima de 50% de 3ª dose aplicada!
Já falamos inúmeras vezes aqui no Especial COVID-19 e em grupos parceiros, como o Todos Pelas Vacinas: vacinação é um pacto coletivo. É um projeto de política pública para proteção e cuidado da saúde de todos. É fundamental compreendermos a necessidade de seguirmos comunicando a importância da vacinação em todas as faixas etárias em que as vacinas já estão disponíveis em nosso país!
A biomédica e divulgadora científica Mellanie Fontes-Dutra, da Rede Análise, além de nossa colega e parceira, segue a pleno vapor falando sobre vacinas, variantes e COVID-19 e já falou sobre a importância da vacinação contra a variante Ômicron. Aliás, esta variante é a responsável por este último pico de casos confirmados para a doença que aparece nos gráficos que mostraremos a seguir.
Talvez fique mais fácil entender o papel da vacinação, como um dos fatores fundamentais de controle da doença, nestes próximos gráficos, também da Rede Análise, elaborados por Isaac Schrartzhaupt e Marcelo Bragatte.
Se a pandemia não acabou, por que não temos mais óbitos?
Uma das maiores tristezas destes dois anos de pandemia foi perceber que nos acostumamos a ver óbitos em diferentes espaços sociais. Chegou a morrer mais de 4 mil brasileiros por dia em 2021- isso sem contar a subnotificação por falta de testes no país. Sendo assim, o cenário agora parece realmente tranquilo. Afinal, morrem apenas 100 pessoas por dia (aproximadamente).
Primeiramente, 100 pessoas por dia por uma doença é muita gente. Ainda são perdas inestimáveis para familiares, amigos e trabalhadores. Isto de modo algum é negar que o cenário é melhor do que o que já vivemos – mas está longe de ser o cenário ideal. E isto não pode ser deixado de lado.
Vamos olhar alguns dados?
Estes dois gráficos nos ajudam a perceber um pouco sobre o cenário da COVID-19 em dois momentos específicos. Com a seta em amarelo, estávamos com uma quantidade de vacinados baixíssima. Recém o Brasil estava recebendo vacinas e distribuindo em território nacional. Confirmávamos cerca de 100 mil casos por dia e cerca de 3 mil óbitos. Vivíamos o colapso do sistema de saúde em vários locais do país. Em Fevereiro deste ano (seta vermelha), vemos o número de casos confirmados aumentando muitíssimo – chegando a mais de 200 mil casos diários, a maior quantidade de casos confirmados de Covid-19. O número de óbitos aumenta, mas não acompanha a proporção vista no cenário anterior.
Em um cenário de flexibilização das normas sanitárias crescente (que favorece a transmissão), tivemos o fator vacina como ponto fundamental em 2022.
A vacinação foi e segue sendo uma ferramenta fundamental para o combate da pandemia de Covid-19
Sim! Estamos em um cenário de razoável tranquilidade, mas precisa-se manter os olhos abertos. Mais do que isto: olhos abertos e máscara no rosto.
– Ah, mas ninguém mais usa, em todos os lugares a obrigatoriedade da máscara caiu!
Exatamente, sua obrigatoriedade caiu, mas não sua recomendação. Por um lado, em espaços abertos e não aglomerados já podemos ficar com relativa tranquilidade. Por outro lado, há pontos importantes a serem pensados. Inicialmente, a transmissão de COVID-19 não acabou. A máscara, aliada às 3 doses de vacinação, é uma das maiores barreiras que podemos ter.
Em transportes coletivos e unidades de saúde, a obrigatoriedade permanece em grande parte das cidades. Nas salas de aula, a obrigatoriedade caiu para todas as faixas etárias… Este é um dos ambientes que consideramos mais importantes de serem analisados.
E as salas de aula?
A sala de aula, sem ventilação adequada (o que é a verdadeira realidade de grande parte das escolas públicas e privadas do país), é um espaço privilegiado para a circulação do vírus. Sendo a máscara uma barreira eficiente, por que não manter a máscara como obrigatória, tornando o espaço escolar mais seguro em termos de saúde pública?
A insistência neste ponto, embora pareça ser “requentar debates”, é também sobre populações específicas que ainda não estão vacinadas e estão em um local de grande circulação de pessoas. Sim! Há populações dentro das escolas que não foram vacinadas ainda! Crianças abaixo de 4 anos aguardam seu grande momento chegar também.
Enquanto isto não acontece, esta população é vulnerável a contrair a doença, seguir o ciclo de transmissão e, também, adoecerem de COVID-19. Como está o cenário escolar em meio à pandemia de COVID-19?
Aumento de casos
Temos acompanhado as notícias sobre o aumento de casos entre jovens e crianças em fase escolar. Em algumas unidades escolares em São Paulo, por exemplo, já se fala em voltar à obrigatoriedade do uso de máscaras.
Nossa posição, aqui no Blogs Unicamp, sempre foi ponderar sobre a suposta urgência de se retirar a obrigatoriedade do uso das máscaras, que é uma das principais formas de impedir a transmissão em espaços fechados.
Além disso – reiterando o que já disse antes – na escola há pessoas que ainda não se vacinaram, em função da idade. Ou tomaram apenas duas doses (tendo em vista que não temos três doses para estas faixas etárias ainda).
Qual a pressa em retirar o uso de máscaras, sendo que elas protegem estas pessoas que estão vulneráveis em relação ao vírus SARS-CoV-2?
Em estudo recente, realizado aqui no Brasil, foi apontado que a presença de funcionários e docentes com máscara já reduz muito a transmissão em ambientes escolares. Além disso, a condução das aulas na modalidade integral (dois turnos) e o uso apenas de máscaras de menor qualidade (não filtrantes, por exemplo) levou a um aumento de 559% nas infecções.
Esses dados nos mostram a grande importância que as máscaras ainda possuem no nosso cotidiano, principalmente nesses ambientes fechados e com grande circulação de pessoas, como as escolas. Retirar a obrigatoriedade das máscaras nesses lugares seria, no mínimo, ir contra tudo o que estamos fazendo desde o início das vacinações para conter a pandemia.
Além de proteger diretamente quem está no ambiente escolar de se infectar com o SARS-CoV-2 e desenvolver alguma forma da COVID-19, o uso contínuo das máscaras ajuda a reduzir a cadeia de transmissão do vírus, impedindo que as crianças, professores e funcionários – mesmo que não tenham sintomas – transmitam o vírus para os pais, filhos, cônjuges ou outros familiares. Lembramos que, apesar da infecção de COVID-19 causada pela variante Ômicron ser mais leve comparada a outras variantes, essa é uma doença que ainda mata, inclusive vacinados com a terceira dose (lembrando também do fato que muitas crianças pequenas não foram vacinadas ainda).
As hospitalizações não acabaram…
Não adianta querermos que a pandemia acabe por nosso cansaço. A permanência do vírus na população e a gravidade disso é que torna a Covid-19 uma emergência sanitária ou não.
Em Campinas, por exemplo, 29% das UTIs infantis estão ocupadas por crianças com suspeita de Covid. CRIANÇAS! Desde quando começamos a compreender sua não relevância para voltarmos a uma normalidade, com esta população vulnerável?
O aumento de casos recente fragiliza ainda mais esta população que não tem previsão de terceira dose, com novas variantes e subvariantes aterrizando em solo nacional.
Tanto quanto para todas as pessoas que estão sem acesso à segunda e terceira dose da vacina – seja por falta de acesso à informação, seja pela falsa sensação de segurança. Precisamos seguir vacinando, a terceira dose é fundamental para nos proteger com segurança!
Finalizando
Por tudo isso exposto acima, seguimos firmes na defesa do uso das máscaras para todos, principalmente para e por nossas crianças.
Use máscaras, se proteja, proteja quem está próximo, especialmente em espaços públicos fechados e mal ventilados.
Referências
GENARI, Juliano; GOEDERT, Guilherme T; LIRA, Sergio, HA; et al (2022) Quantifying protocols for safe school activities. arXiv:2204.07148 [physics.soc-ph].
FAVERO, Paulo (2022). Alta de casos de Covid faz escolas de SP suspenderem aulas e exigirem máscaras. CNN.
JULIÃO, André (2022). Estudo brasileiro reforça a importância de manter máscaras nas escolas. Galileu.
G1, Jornal Nacional (2022) Testes positivos de Covid mais do que dobram em um mês, alertam farmácias.
LEITE, Gabriela (2022). Covid: O que significa o leve aumento de casos no Brasil. Outra saúde.
G1 Campinas (2022). Campinas chega à maior fila por enfermaria pediátrica, e 29% das UTIs infantis para SRAG são de casos suspeitos da Covid-19.
Este texto foi escrito originalmente para o Especial COVID-19.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, produziu-se textos produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, a revisão por pares aconteceu por pesquisadores da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.
2 comentários
Lara · 26/06/2022 às 16:19
Parabéns pelo importante texto de conscientização!
Alonso · 26/06/2022 às 16:20
Parabéns pelo artigo!