Texto escrito por Ana Arnt e Maurílio Bonora Junior
A vacina CoronaVac foi aprovada pela Anvisa, para crianças entre 3 e 5 anos, finalmente! As próximas etapas são de compra e distribuição de vacinas em quantidade suficiente para todo o território nacional.
Há algumas regiões que possuem estoque desta vacina e já estão liberadas para iniciar a vacinação desta faixa etária. É o caso de Fortaleza (CE), São Luís (MA), Belém (PA), Boa Vista (RR), Manaus (AM), Salvador (BA) e o Distrito Federal.
Mas, essa vacina é segura mesmo?
Junto com a notícia sobre a vacinação infantil, vemos crescer, novamente, discursos antivacina e novos receios surgindo sobre a segurança da vacina para as crianças. Nós entendemos, claro, o quanto estas idas e vindas de informações podem gerar confusão e medo nas pessoas que são responsáveis pelas crianças. Assim, antes de seguir o texto, já adiantamos que SIM, a vacina é segura para crianças de 3 a 5 anos!
Mas é preciso mais do que segurança para uma vacina ser boa, não é mesmo? Assim, achamos importante retomar estudos que falem sobre como é fundamental que este público seja protegido o mais rápido possível, para seguirmos no combate à Covid-19!
E a resposta imune?
O mesmo estudo chinês que fala sobre segurança da vacina nesta faixa etária, também apontou estímulo do sistema imune para a defesa contra o SARS-CoV-2. Todavia, há estudos mais recentes, como o chileno, que foi publicado este ano, sobre a vacina CoronaVac, para crianças de 3 a 5 anos, em relação à variante Omicron.
O estudo foi feito com um pouco mais do que 490 mil crianças, sendo que cerca de 189 mil não se vacinaram durante a pesquisa e 194 mil se vacinaram com 2 doses de CoronaVac, com um intervalo de 28 dias entre primeira e segunda doses.
Os resultados encontrados foram de 38,2% de proteção contra COVID-19 sintomática, 64,6% de proteção contra hospitalização e 69% de proteção contra internação na UTI.
O que isto quer dizer?
Estes números às vezes nos deixam confusos, né? O que estas porcentagens querem dizer?
Já falamos disso em um texto antigo nosso, mas retomaremos o exemplo aqui
Agora, utilizando desses conhecimentos, podemos entender um pouco melhor os resultados do artigo chileno. Quando vimos que a CoronaVac, em crianças, gera uma proteção de 38,2% contra a forma sintomática da COVID-19, o que isso quer realmente dizer é que as crianças têm uma PROBABILIDADE de (quase) 40% de não ter sintomas da Covid-19, caso se contamine com o SARS-CoV-2.
Pode parecer pouco, mas nesse momento o mais importante é impedir que essas crianças desenvolvam a forma mais séria da doença, que tem causado muitas mortes dentro desse grupo.
E aí que os outros resultados se tornam tão importantes. Dizer que a CoronaVac gera 64,6% de proteção contra hospitalização e 69% de proteção contra internação na UTI, novamente, não quer dizer que de 100 crianças, exatamente 64 não serão hospitalizadas enquanto 36 com certeza precisarão de um hospital. Na verdade, esses valores nos dizem que, na média, a criança vacinada tem 64,6% a mais de probabilidade de não ser internada e, principalmente, 69% de chance de não precisar de uma UTI (que são os casos mais graves).
Óbvio que pode acontecer pequenos desvios dentro desses valores, por exemplo, podemos ficar sabendo de muitos casos, dentro do nosso círculo de conhecidos, de crianças que mesmo vacinadas tiveram sintomas de Covid-19 e precisam ir ao hospital. Mas é aí que precisamos lembrar que quando falamos de vacinação, não estamos olhando somente para as poucas dúzias de pessoas que conhecemos ou ouvimos falar, e sim de milhões de crianças, jovens, adultos e idosos. Assim, quando olhamos para o conjunto como um todo, podemos ver o poder das vacinas e a real proteção que elas geram em nós.
Considerações importantes sobre o estudo chileno
Este estudo se realizou na população, e isto quer dizer que não houve “placebo”. O que isto quer dizer? O conjunto de pessoas que toma placebo na fase experimental é exatamente aquele que chamamos de “grupo controle”. Isto é, o grupo que vai “tomar” algo (pode ser até mesmo água), para que consigamos comparar com o grupo que tomou a vacina.
Assim, neste caso, o grupo controle foi o “não vacinado”. E isso pode acontecer, mesmo sem passar de novo pelas fases 1 e 2 de pesquisa? Sim! Quando a vacina já está sendo aplicada na população – após todas as fases experimentais – que são as fases 1, 2 e 3 – nós seguimos analisando os dados da vacina na população.
Isto acontece, especialmente em casos como do SARS-CoV-2, que é um vírus que está com alta transmissão na população, com novas variantes circulando. Assim, também vamos comparando as nossas análises iniciais – das pesquisas realizadas nas fases 1, 2 e 3 – com as respostas posteriores. Esta continuidade de coleta de dados, em termos populacionais, chama-se de farmacovigilância.
Praticamente todos os medicamentos e vacinas utilizados no mundo possuem pesquisas de farmacovigilância por anos – até décadas – sendo realizadas.
Portanto, nada disso torna a vacina “experimental”. Ou seja, pesquisas de longa duração são fundamentais para compreendermos como as populações estão de saúde e como as interações com medicamentos e vacinas funcionam em um prazo longo (de décadas, no caso).
Finalizando
Apenas para lembrar o que sempre falamos sobre vacinas desde o início de nosso trabalho no Especial Covid-19: vacinas são um pacto coletivo. Dessa forma, essas vacinas são seguras e fundamentais para diminuirmos a infecção em crianças e controlarmos a transmissão do vírus na população!
Em suma, a pandemia não só não acabou, como segue com alta transmissão e um grande número de casos e óbitos em nosso país. É fundamental que consigamos proteger ainda mais as crianças e tornar nosso cotidiano mais saudável e seguro!
Para Saber Mais
BRASIL, Anvisa, Farmacovigilância.
G1 (2022) 6 capitais e o DF começam a vacinar crianças a partir de 3 anos contra a Covid nesta segunda, G1, 18/07/2022
Jara, A, Undurraga, EA, Zubizarreta, JR et al (2022) Effectiveness of CoronaVac in children 3–5 years of age during the SARS-CoV-2 Omicron outbreak in Chile Nat Med.
Han, B, Song, Y, Li, C, Yang, W, Ma, Q, Jiang, Z, … & Gao, Q (2021) Safety, tolerability, and immunogenicity of an inactivated SARS-CoV-2 vaccine (CoronaVac) in healthy children and adolescents: a double-blind, randomised, controlled, phase 1/2 clinical trial The Lancet Infectious Diseases, 21(12), 1645-1653.
Fernandes, EG, López-Lopes, GIS, Silva, VO, Yamashiro, R, Madureira, KCR, Gallo, JF, … & Brigido, LFM (2021) Safety and immunogenicity of an inactivated SARS-CoV-2 vaccine (CoronaVac) in inadvertently vaccinated healthy children, Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 63.
OPAS (2005) A importância da Farmacovigilância
Outros materiais
Cobertura Vacinal, retomadas, indivíduos e população
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Vacina de Pólio e a segurança dos protocolos de vacinações atuais
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E aqueles resultados das vacinas?
Parcerias:
Mellanie Fontes-Dutra: A vacina CoronaVac está APROVADA, COVID-19 E CRIANÇAS, Dados do Chile da CoronaVac em crianças de 3-5 anos,
Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19
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