A era das parcerias

Networking: o lado profissional do “fazer um social” (Imagem: Ghozt Tramp/ Flickr)

A edição mais recente da Nature trouxe um encarte analisando o poder das parcerias na construção de pesquisas científicas de qualidade. Sua rede de relacionamentos será uma grande aliada nas suas conquistas. Adam e Loach (2015) apontam num comentário desse encarte que pesquisas que ultrapassam instituições e fronteiras são mais impactantes, mais citadas e mais aceitas em periódicos de alto nível. O Brasil já aparece nesse panorama com diversas parcerias internacionais, liderando junto com o México e o Chile as colaborações dentro da América Latina. Parcerias internacionais são vitais para a construção de pesquisas significativas no Brasil. Mas como entrar nessa onda? Continue lendo…

Síndrome do impostor

 

Você concorda com as afirmações abaixo?

  • Os outros me acham mais competente do que eu realmente sou.
  • Só alcancei meu status atual porque as circunstâncias colaboraram. Estava no lugar certo e na hora certa ou alguém me ajudou.
  • Temo que as pessoas que eu considero importantes descubram minhas verdadeiras falhas.
  • Quando comparo meu desempenho aos dos outros, e faço sempre isso, percebo como todos são mais competentes do que eu.
  • Receber elogios para mim é um fardo porque tenho medo de não atender às expectativas de quem me elogiou.

Você é o que aparenta ser? (Imagem: Mykl/Wikicommons)

Esse questionário foi elaborado a partir das pesquisas da psicóloga Pauline Clance sobre a Síndrome do Impostor. Se você respondeu afirmativamente a muitas delas talvez valha a pena responder o questionário completo (que você encontra aqui) e ter consciência de quão suscetível você está a essa síndrome.

A síndrome do impostor é a sensação forte e constante de que você não merece o status que alcançou durante sua carreira, de que cometeu alguma coisa errada e está prestes a ser desmascarado e perder o reconhecimento que tinha. Uma das melhores descrições dessa síndrome foi dada pelo escritor Neil Gaiman num famoso discurso de paraninfo para alunos de artes. Ele confessa que sonhava que alguém batia à sua porta para dizer-lhe que ele tinha sido descoberto e que tinha acabado para ele. Ele teria que parar de inventar histórias e escrevê-las e arranjar um emprego de verdade. Um que ele tivesse que acordar cedo e usar uma gravata. Até a estrela Emma Watson, a Hermione Granger de Harry Potter, confessou à revista Rookie se sentir uma impostora com relação a sua carreira.

Essa realidade não é diferente na academia. De fato, muitos casos de síndrome do impostor começam na universidade ou na pós-graduação, quando os níveis de exigência mudam drasticamente de patamar. Se mesmo sob maior pressão a pessoa se sai bem, e se existem ingredientes de depressão e baixa autoestima nela, a manifestação mais comum é a síndrome do impostor. Essa síndrome se manifesta mais frequentemente em mulheres do que em homens.

Cientistas frequentemente têm a sensação de que não mereciam um artigo naquela revista consagrada. Que seus co-autores se dedicaram mais do que eles próprios. Que não têm competência para dar a palestra para a qual foram convidados num congresso e subir no palco só exporá quão despreparados são. Sentem que não merecem o título, a vaga de emprego ou o aceite do artigo. Mesmo que exista um histórico de realizações, quem é acometido por essa síndrome credita cada sucesso à sorte, a alguma ajuda externa ou às circunstâncias. Essas pessoas tendem a justificar seus sucessos. Por outro lado, quem sofre de síndrome do impostor irá reconhecer como merecidos seus fracassos: um artigo rejeitado de forma grosseira, uma avaliação ruim numa disciplina. Falhar é parte do processo de aprendizado e é uma ótima oportunidade para aprender em vez de remoer o erro e sofrer com isso.

A síndrome do impostor irá acometer 70% das pessoas pelo menos uma vez na carreira, segundo Pauline Clance. O problema fica mais grave quando a pessoa não consegue sair da síndrome nunca. Ter consciência de suas qualidades e limitações é um primeiro passo importante para superar o problema, mas uma ajuda psicológica pode ser necessária. É preciso ter consciência da síndrome e saber reconhecer quando ela está se manifestando. Hugh Kearns, psicólogo da Think Well consultoria acadêmica, conta que a pessoa em síndrome do impostor pensa “Será que ninguém percebe que eu não sou tudo isso?”; enquanto deveriam estar pensando que, como aquelas pessoas são inteligentes e críticas, não se deixariam enganar facilmente por um impostor.

Será sempre possível atribuir seus êxitos a fatores externos: ter conhecido o colaborador ideal para escrever aquele projeto, ter dado a sorte do noticiário colocar em destaque sua linha de pesquisa bem na época que seu artigo chegou na mão dos revisores, casualmente ter caído na prova de conhecimentos o tema que você mais estava preparado para escrever. No entanto, é importante reconhecer que mesmo nesses casos sua competência (de manter uma rede de relacionamentos eficiente, de concentrar-se numa área de estudos interessante ao grande público ou de saber prever o que estudar) foi posta à prova e teve êxito. Parabéns pelo seu sucesso. Acredite, você o merece. Se consegue perceber falhas em si mesmo, ótimo, trabalhe essas falhas, mas não se deixe convencer que suas falhas são a parte mais importante de você.