Autoria científica e ética
Segundo um Comitê de Ética na Publicação ligado à PLoS, um quinto das disputas que chegam àquela instância de julgamento dizem respeito à autoria científica. Não muito tempo atrás, este era um problema raro, já que os artigos eram assinados por um ou dois pesquisadores, mas à medida que a era das parcerias avança, estudos aparecem com centenas e até milhares de autores. Hoje, conhecer diretrizes para definir e ordenar os autores de um paper é fundamental para a boa conduta (e a paz de espírito) na academia.
A ética e o ensino de valores
Recentemente vem sendo discutido entre os educadores um projeto a lei (PL 1411/2015) que propõe a proibição do que foi descrito como uma doutrinação dos estudantes por parte dos professores, em especial no que diz respeito a posturas políticas. O projeto “escola sem partido” ou a “lei da mordaça”, dependendo do lado que você assuma no debate, discute a comunicação de valores entre o professor e seus alunos. O assunto é controverso, mas suscita uma discussão válida sobre a ética do professor que cabe ao Cientista S/A. Qual deve ser o papel do professor na transmissão de valores? Continue lendo…
A era das parcerias
A edição mais recente da Nature trouxe um encarte analisando o poder das parcerias na construção de pesquisas científicas de qualidade. Sua rede de relacionamentos será uma grande aliada nas suas conquistas. Adam e Loach (2015) apontam num comentário desse encarte que pesquisas que ultrapassam instituições e fronteiras são mais impactantes, mais citadas e mais aceitas em periódicos de alto nível. O Brasil já aparece nesse panorama com diversas parcerias internacionais, liderando junto com o México e o Chile as colaborações dentro da América Latina. Parcerias internacionais são vitais para a construção de pesquisas significativas no Brasil. Mas como entrar nessa onda? Continue lendo…
Síndrome do impostor
Você concorda com as afirmações abaixo?
- Os outros me acham mais competente do que eu realmente sou.
- Só alcancei meu status atual porque as circunstâncias colaboraram. Estava no lugar certo e na hora certa ou alguém me ajudou.
- Temo que as pessoas que eu considero importantes descubram minhas verdadeiras falhas.
- Quando comparo meu desempenho aos dos outros, e faço sempre isso, percebo como todos são mais competentes do que eu.
- Receber elogios para mim é um fardo porque tenho medo de não atender às expectativas de quem me elogiou.
Esse questionário foi elaborado a partir das pesquisas da psicóloga Pauline Clance sobre a Síndrome do Impostor. Se você respondeu afirmativamente a muitas delas talvez valha a pena responder o questionário completo (que você encontra aqui) e ter consciência de quão suscetível você está a essa síndrome.
A síndrome do impostor é a sensação forte e constante de que você não merece o status que alcançou durante sua carreira, de que cometeu alguma coisa errada e está prestes a ser desmascarado e perder o reconhecimento que tinha. Uma das melhores descrições dessa síndrome foi dada pelo escritor Neil Gaiman num famoso discurso de paraninfo para alunos de artes. Ele confessa que sonhava que alguém batia à sua porta para dizer-lhe que ele tinha sido descoberto e que tinha acabado para ele. Ele teria que parar de inventar histórias e escrevê-las e arranjar um emprego de verdade. Um que ele tivesse que acordar cedo e usar uma gravata. Até a estrela Emma Watson, a Hermione Granger de Harry Potter, confessou à revista Rookie se sentir uma impostora com relação a sua carreira.
Essa realidade não é diferente na academia. De fato, muitos casos de síndrome do impostor começam na universidade ou na pós-graduação, quando os níveis de exigência mudam drasticamente de patamar. Se mesmo sob maior pressão a pessoa se sai bem, e se existem ingredientes de depressão e baixa autoestima nela, a manifestação mais comum é a síndrome do impostor. Essa síndrome se manifesta mais frequentemente em mulheres do que em homens.
Cientistas frequentemente têm a sensação de que não mereciam um artigo naquela revista consagrada. Que seus co-autores se dedicaram mais do que eles próprios. Que não têm competência para dar a palestra para a qual foram convidados num congresso e subir no palco só exporá quão despreparados são. Sentem que não merecem o título, a vaga de emprego ou o aceite do artigo. Mesmo que exista um histórico de realizações, quem é acometido por essa síndrome credita cada sucesso à sorte, a alguma ajuda externa ou às circunstâncias. Essas pessoas tendem a justificar seus sucessos. Por outro lado, quem sofre de síndrome do impostor irá reconhecer como merecidos seus fracassos: um artigo rejeitado de forma grosseira, uma avaliação ruim numa disciplina. Falhar é parte do processo de aprendizado e é uma ótima oportunidade para aprender em vez de remoer o erro e sofrer com isso.
A síndrome do impostor irá acometer 70% das pessoas pelo menos uma vez na carreira, segundo Pauline Clance. O problema fica mais grave quando a pessoa não consegue sair da síndrome nunca. Ter consciência de suas qualidades e limitações é um primeiro passo importante para superar o problema, mas uma ajuda psicológica pode ser necessária. É preciso ter consciência da síndrome e saber reconhecer quando ela está se manifestando. Hugh Kearns, psicólogo da Think Well consultoria acadêmica, conta que a pessoa em síndrome do impostor pensa “Será que ninguém percebe que eu não sou tudo isso?”; enquanto deveriam estar pensando que, como aquelas pessoas são inteligentes e críticas, não se deixariam enganar facilmente por um impostor.
Será sempre possível atribuir seus êxitos a fatores externos: ter conhecido o colaborador ideal para escrever aquele projeto, ter dado a sorte do noticiário colocar em destaque sua linha de pesquisa bem na época que seu artigo chegou na mão dos revisores, casualmente ter caído na prova de conhecimentos o tema que você mais estava preparado para escrever. No entanto, é importante reconhecer que mesmo nesses casos sua competência (de manter uma rede de relacionamentos eficiente, de concentrar-se numa área de estudos interessante ao grande público ou de saber prever o que estudar) foi posta à prova e teve êxito. Parabéns pelo seu sucesso. Acredite, você o merece. Se consegue perceber falhas em si mesmo, ótimo, trabalhe essas falhas, mas não se deixe convencer que suas falhas são a parte mais importante de você.
Professores financeiramente educados
Por esses dias ocorre no Brasil a Semana de Educação Financeira. Até o fim de semana acontecem em diversas cidades atividades voltadas à educação financeira (veja a agenda aqui), assunto tão importante para essa categoria que praticamente faz um voto de pobreza, o cientista. Se essa não é sua aspiração para a vida, não deixe de dar uma olhada no material que o Banco Central preparou sobre gestão financeira pessoal (nesse link). Aí é possível se inscrever num curso online sobre o tema. Se você já é um orientador, pode usar os vídeos produzidos pelo BACEN, também no link acima, para discutir o assunto com seus alunos. Outra opção são os games muito bem elaborados pela Comissão de Valores Mobiliários. Os games estão disponíveis para android através do Google Play (clique aqui). Divirtam-se, aprendam e, acima de tudo, cuidem dos bolsos.
A arte de saber cair
O primeiro dia letivo de 2015 começou com um e-mail nada animador para mim (Eduardo Bessa). Recebi o parecer do editor-chefe de uma revista para a qual havia submetido um artigo e não havia nada de bom naquela mensagem. O editor de área que recebeu meu manuscrito afirmou que o trabalho não tinha o interesse amplo o suficiente, o estudo parecia preliminar e que o texto seria recusado sem nem passar pelos revisores para poupar meu tempo e o deles. Ainda sinto um gosto ruim na boca pensando no que ele disse. Continue lendo…
Resoluções de ano novo
Faltam alguns dias para o ano novo, então resolvemos sugerir aqui uma ferramenta para ajudar a formular suas resoluções para 2015. O problema das resoluções de ano novo é que elas geralmente são esquecidas antes do carnaval e acabam nunca sendo cumpridas. Com esse modelo talvez seja mais fácil realizar o que precisamos melhorar.
De volta ao laboratório
Por diversos motivos, pessoas se afastam da ciência todos os anos. Uma crise familiar, a decisão de ter um filho, desejo de experimentar uma carreira diferente, entre diversos outros, são motivos convincentes para deixar a carreira acadêmica. Muitas dessas pessoas pensam em voltar algum tempo depois, mas realizar essa ideia é uma tarefa frequentemente intimidante. Voltar a um laboratório povoado por jovens quando já se passou dessa faixa etária pode te fazer sentir desconfortável, mas as barreiras são geralmente mais imaginárias que reais. Um pesquisador principal dificilmente se importará em ter um membro mais velho na equipe. Aliás, a diversidade de histórias de vida e experiências tem se mostrado uma poderosa ferramenta na constituição de laboratórios produtivos e originais. Aproveite os prós da sua condição de sênior: ter uma visão de mundo mais realista (e menos ansiosa) e ter experiências de vida mais diversas. Você será bem vindo de volta.