Síndrome do impostor

 

Você concorda com as afirmações abaixo?

  • Os outros me acham mais competente do que eu realmente sou.
  • Só alcancei meu status atual porque as circunstâncias colaboraram. Estava no lugar certo e na hora certa ou alguém me ajudou.
  • Temo que as pessoas que eu considero importantes descubram minhas verdadeiras falhas.
  • Quando comparo meu desempenho aos dos outros, e faço sempre isso, percebo como todos são mais competentes do que eu.
  • Receber elogios para mim é um fardo porque tenho medo de não atender às expectativas de quem me elogiou.

Você é o que aparenta ser? (Imagem: Mykl/Wikicommons)

Esse questionário foi elaborado a partir das pesquisas da psicóloga Pauline Clance sobre a Síndrome do Impostor. Se você respondeu afirmativamente a muitas delas talvez valha a pena responder o questionário completo (que você encontra aqui) e ter consciência de quão suscetível você está a essa síndrome.

A síndrome do impostor é a sensação forte e constante de que você não merece o status que alcançou durante sua carreira, de que cometeu alguma coisa errada e está prestes a ser desmascarado e perder o reconhecimento que tinha. Uma das melhores descrições dessa síndrome foi dada pelo escritor Neil Gaiman num famoso discurso de paraninfo para alunos de artes. Ele confessa que sonhava que alguém batia à sua porta para dizer-lhe que ele tinha sido descoberto e que tinha acabado para ele. Ele teria que parar de inventar histórias e escrevê-las e arranjar um emprego de verdade. Um que ele tivesse que acordar cedo e usar uma gravata. Até a estrela Emma Watson, a Hermione Granger de Harry Potter, confessou à revista Rookie se sentir uma impostora com relação a sua carreira.

Essa realidade não é diferente na academia. De fato, muitos casos de síndrome do impostor começam na universidade ou na pós-graduação, quando os níveis de exigência mudam drasticamente de patamar. Se mesmo sob maior pressão a pessoa se sai bem, e se existem ingredientes de depressão e baixa autoestima nela, a manifestação mais comum é a síndrome do impostor. Essa síndrome se manifesta mais frequentemente em mulheres do que em homens.

Cientistas frequentemente têm a sensação de que não mereciam um artigo naquela revista consagrada. Que seus co-autores se dedicaram mais do que eles próprios. Que não têm competência para dar a palestra para a qual foram convidados num congresso e subir no palco só exporá quão despreparados são. Sentem que não merecem o título, a vaga de emprego ou o aceite do artigo. Mesmo que exista um histórico de realizações, quem é acometido por essa síndrome credita cada sucesso à sorte, a alguma ajuda externa ou às circunstâncias. Essas pessoas tendem a justificar seus sucessos. Por outro lado, quem sofre de síndrome do impostor irá reconhecer como merecidos seus fracassos: um artigo rejeitado de forma grosseira, uma avaliação ruim numa disciplina. Falhar é parte do processo de aprendizado e é uma ótima oportunidade para aprender em vez de remoer o erro e sofrer com isso.

A síndrome do impostor irá acometer 70% das pessoas pelo menos uma vez na carreira, segundo Pauline Clance. O problema fica mais grave quando a pessoa não consegue sair da síndrome nunca. Ter consciência de suas qualidades e limitações é um primeiro passo importante para superar o problema, mas uma ajuda psicológica pode ser necessária. É preciso ter consciência da síndrome e saber reconhecer quando ela está se manifestando. Hugh Kearns, psicólogo da Think Well consultoria acadêmica, conta que a pessoa em síndrome do impostor pensa “Será que ninguém percebe que eu não sou tudo isso?”; enquanto deveriam estar pensando que, como aquelas pessoas são inteligentes e críticas, não se deixariam enganar facilmente por um impostor.

Será sempre possível atribuir seus êxitos a fatores externos: ter conhecido o colaborador ideal para escrever aquele projeto, ter dado a sorte do noticiário colocar em destaque sua linha de pesquisa bem na época que seu artigo chegou na mão dos revisores, casualmente ter caído na prova de conhecimentos o tema que você mais estava preparado para escrever. No entanto, é importante reconhecer que mesmo nesses casos sua competência (de manter uma rede de relacionamentos eficiente, de concentrar-se numa área de estudos interessante ao grande público ou de saber prever o que estudar) foi posta à prova e teve êxito. Parabéns pelo seu sucesso. Acredite, você o merece. Se consegue perceber falhas em si mesmo, ótimo, trabalhe essas falhas, mas não se deixe convencer que suas falhas são a parte mais importante de você.

 

A arte de saber cair

A arte não está em jamais cair, mas em saber se levantar e continuar. (Foto: culturamix.com)

O primeiro dia letivo de 2015 começou com um e-mail nada animador para mim (Eduardo Bessa). Recebi o parecer do editor-chefe de uma revista para a qual havia submetido um artigo e não havia nada de bom naquela mensagem. O editor de área que recebeu meu manuscrito afirmou que o trabalho não tinha o interesse amplo o suficiente, o estudo parecia preliminar e que o texto seria recusado sem nem passar pelos revisores para poupar meu tempo e o deles. Ainda sinto um gosto ruim na boca pensando no que ele disse. Continue lendo…

Revisão por pares e projetos de pesquisa

Mesmo projetos considerados aprovados podem ficar de fora devido a limitações orçamentárias (Imagem: grcorporate.com.br)

Enquanto na revisão de artigos você ajuda a decidir se um artigo será ou não publicado, a revisão de um projeto vem primeiro. Ela decidirá se um projeto de pesquisa será ou não financiado e se um aluno merece ou não uma bolsa. O papel do revisor talvez seja até mais dramático nesse ponto do que no peer-review de manuscritos.

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O que abordar numa revisão por pares?

O que o editor gostaria de saber sobre o artigo que você revisou? (Imagem: grcorporate.com.br)

Os periódicos costumam ter um formulário próprio para a avaliação de seus artigos. Em todo caso apresentamos abaixo uma lista de perguntas que podem ser abordadas na sua revisão caso você seja um iniciante ou se estiver perdido no formulário proposto pela revista.

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Por que recusar uma revisão por pares

Às vezes somos obrigados a recusar prestar esse serviço à ciência e temos que rejeitar um pedido de revisão de um editor. Bons referees são raros e um dos principais fatores complicadores para corpos editoriais de periódicos, portanto, seja generoso. Em todo caso, o que justificaria uma recusa de revisão?

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Anonimato do revisor e revisão às cegas

O padrão atual das revistas é ter revisores anônimos. Esse modelo é interessante na medida que permite expor suas críticas sem medo de represálias. No entanto o modelo permite ao revisor a chamada “síndrome dos pequenos poderes”, já que a decisão sobre o sucesso ou fracasso de uma pesquisa passa a depender, em certa medida, dele. Vale a pena lembrar-se que os papéis de revisor e autor são dois que se alternam rapidamente em nossa persona acadêmica. Gosto especialmente do site da Editorial Manager que mostra na mesma tela os trabalhos onde você aguarda o parecer de um revisor anônimo e os trabalhos de pessoas que aguardam o seu parecer. É um bom lembrete da transitoriedade desses papéis.

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A revisão por pares ideal

O ingrediente principal de uma revisão eficiente é a atitude, que deve ser crítica e objetiva. Faça força para se livrar de preconceitos tanto regionais, de gênero etc., quanto preconceitos teóricos. Um pesquisador cuja carreira tem focado em duvidar do valor da reintrodução de fauna pode revisar um artigo advogando em favor disso, seu ponto de vista cético seria inclusive valioso, desde que ele se ativesse a avaliar as evidências e interpretações apresentadas ali sem tratar como dogma que a reintrodução causa mais prejuízos que benefícios.

 

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Nova série sobre revisão por pares

Poucas coisas em ciência são mais frustrantes do que investir meses de trabalho de um aluno brilhante num projeto no qual você acredita, passar dias polindo o texto da melhor maneira possível, quem sabe até gastar recursos próprios na tradução ou edição do texto do artigo para, após submetido o manuscrito, receber uma revisão de baixa qualidade. O primeiro revisor tem uma opinião claramente enviesada baseada em uma interpretação discordante de evidências pretéritas, mas que nada têm a ver com o que seus dados mostram. O segundo revisor considera os dados desinteressantes e sem valor para aquele periódico. O terceiro tem expectativas irreais sobre os resultados que ele gostaria que você apresentasse. Não apenas você está desapontado, mas seu aluno, que precisa atender a prazos e expectativas alheias a você, está ameaçado. Continue lendo…