O Blogs de Ciência da Unicamp está em parceria com o Consulado Geral da França em São Paulo, a Unesco Brasil e o Nexo Jornal. 

Desde meados de fevereiro deste ano, temos pensado em ações de divulgação científica juntos. O marco do início desta parceria é o ciclo de palestras COVID-19 na mira de pesquisadores brasileiros e franceses. Dessa forma, neste ciclo, pesquisadores de diversas áreas de conhecimento vão apresentar dados e debates fundamentais para pensarmos a pandemia da COVID-19 em muitos aspectos nos dois países que sediam as instâncias desta parceria. 

Dia 08 de abril aconteceu a terceira palestra. Maurílio Bonora Junior, nosso blogueiro na área de imunologia e vacinas, era a grande figura da tarde.

Durante o dia anterior, 7 de abril, e a manhã do dia 8, tivemos acesso às notícias (como fazemos habitualmente para nos manter a par dos acontecimentos diários sobre a pandemia). Assim, neste momento de leitura, eu achei que era preciso trazer alguns apontamentos importantes na abertura da palestra, relacionadas ao tema. Daquela apresentação, percebi que também saíram elementos deste desabafo-diário-dados que eu trago aqui, com as devidas atualizações de datas e dados.

Quem eu sou?

Hoje eu resolvi me apresentar e falar um pouco dos bastidores desta ação como um diário em que eu anoto o que vou observando, enquanto trabalho, pesquiso e vivencio estes tempos e quarentena na divulgação científica. Eu sou Ana Arnt. Sou bióloga, professora e pesquisadora da Unicamp na área de Educação em Ciências e Divulgação Científica. Atualmente coordeno o projeto Blogs de Ciência da Unicamp e o Especial Covid-19 deste veículo de divulgação.

O Especial Covid-19

Toda a equipe técnica, científica e administrativa da coordenação do Blogs de Ciência da Unicamp têm trabalhado nos últimos 390 dias intensivamente com conteúdos sobre a COVID-19 em todas as áreas de conhecimento.

Somos mais de 90 autores publicando sobre o tema, com suporte e revisão de conteúdos, pensando, lendo, estudando e produzindo conhecimento para um público externo à academia.

Nosso intuito é democratizar o conhecimento acadêmico, técnico e científico produzido no Brasil e no mundo. Ao escrevermos textos de divulgação científica, temos outras etapas de nossa rotina que incluem idealizarmos estes textos escritos em estruturas como cards, memes, desenhos, vídeos, que irão se multiplicar em nossas redes sociais. Além disso, vocês também podem ver alguns de nossos trabalhos em lives, entrevistas e eventos sobre o tema.

Neste último ano, reforçamos uma de nossas premissas mais fortes e que temos buscado trabalhar desde o início do projeto: a produção coletiva de conteúdo. Nossos esforços, como equipe administrativa, é trabalhar a partir de expertises de cada indivíduo do grupo, mas de maneira articulada e com respaldo coletivo. A COVID-19 acentuou isto ainda mais.

Transformamos o que era idealização, em prática cotidiana.

Além disso, esta premissa de que o trabalho coletivo vale a pena nos trouxe novas perspectivas. Inicialmente, a visão de que não estamos competindo por espaço, frente ao trabalho de outros colegas deste campo de atuação. Dessa forma, observávamos outros grupos e percebíamos que existem possibilidades de crescermos juntos – dentro de um espaço democrático de decisões e que se constróem respeitando os modos de ação de colegas. Assim, nesta direção, aprofundamos laços com outros grupos de Divulgação Científica, que também pensam a partir da importância de colaborações e ações conjuntas, parcerias, para todos enfrentarmos juntos as problemáticas atuais. Isto é, compreendemos que o acesso ao conhecimento científico é um direito humano e parte dos deveres da ciência e dos cientistas.

As vacinas e a divulgação científica

Nos últimos meses, como não poderia deixar de ser, nossos esforços voltaram-se para divulgar sobre as vacinas, as novidades, o sistema imune, as relações de produção, estratégias de vacinação, fundamentos de saúde pública, história, combate à desinformação, etc. 

Nos juntamos em Janeiro de 2021 ao movimento Todos Pelas Vacinas, que têm produzido campanhas e organizado conteúdos para divulgar mais e mais informações seguras e científicas sobre as vacinas, além de juntarmos esforços para que a vacina chegue a todos – como é tradição brasileira.

As vacinas no Brasil e na França

Na França, a notícia que nos chegou foi de ações de lockdown por 3 semanas (a partir do dia 3 de abril) para frear o avanço da doença. Até o dia 07 de Abril, o país vacinou 10 milhões de pessoas, o que significa 14% de sua população.

Enquanto que no Brasil, há um ano nós esperamos ações que nos possibilitem frear o que já vem sendo diariamente avassalador para todos e todas nós. Esperamos também ações no que sempre fomos referência: fazer a vacina chegar a todos os cidadãos brasileiros. Todavia, tínhamos, até o dia 07 de abril, 2,5% de nossa população com as 2 doses de vacinas, o que representa menos de 6 milhões de brasileiros.

No dia 07 de abril, recebemos a notícia de que interromperíamos a produção de vacinas com extrema preocupação, pois já estamos fazendo esta ação de modo extremamente lento. Às notícias somam-se a falta de adesão à segunda dose da vacina, o que agrava ainda mais a situação. Simultaneamente a isso, a falta de incentivo para lockdown, o que inclui a condição financeira para as pessoas permanecerem em suas casas.

No dia seguinte, 8 de abril, foi reforçada a notícia de que apesar da suspensão da produção, haveria entrega das IFAs que manteriam a quantidade de vacinas produzidas e entregues, conforme acordado entre Instituto Butantan e o Ministério da Saúde. Todavia, também foi noticiada a possibilidade de compra de vacinas pelo setor empresarial brasileiro, com anuência do Governo Federal.

[pausa para notícias de duas cidades]

A cidade Araraquara apresentou dados efetivos com seu lockdown, sendo a única cidade brasileira sem óbitos por covid-19 por dias consecutivos, no pior cenário brasileiro desde o início da pandemia. Além disso, ⅓ das internações hospitalares são de cidades vizinhas, que possuem estrutura hospitalar e não têm feito lockdown. Isto é, Araraquara não apenas não têm apresentado mortes, como têm abarcado a necessidade de internação de cidades próximas.

Além desta notícia, nós também temos as informações sobre a cidade de Serrana, em São Paulo, município escolhido para mostrar que a vacinação é a nossa ferramenta mais efetiva contra o coronavírus. Serrana, com 90% da população adulta vacinada, zerou casos de intubação com a vacinação.

[fim da pausa das notícias de duas cidades]

E agora?

Estas duas cidades nos apresentam caminhos importantes para a contenção da doença, parte do que temos batalhado para informar e produzir de conteúdos que gerassem ações efetivas de políticas públicas. Ações estas que salvam vidas, que se baseiam em dados técnicos e geram resultados positivos.

Ao contrário disto, temos acompanhado pesarosos, “retornos” a fases em que a maior circulação é permitida – sem indícios científicos de que temos controlado a doença. As UTIs seguem lotadas e há filas de espera. A vacinação segue a passos lentos, sem que prioridades sejam estabelecidas a partir de critérios científicos rigorosos. Por fim, há falta de normatizações que nos possibilitem agir com maior precisão.

Seguimos não defendendo a abertura de escolas neste momento. Também seguimos não defendendo a abertura de bares e comércio não essencial. Seguimos, ainda, defendendo a vacinação em massa, prioritária, de grupos que estão em risco – especialmente, após o grupo de idosos, os trabalhadores de serviços essenciais que estão em contato direto com o público, como transporte e alimentação (supermercados e lojas de conveniência), por exemplo.

Em suma, não estamos em um cenário de “queda de óbitos”, se estamos falando em um cenário de mais de 3 mil brasileiros, todos os dias. São 3 mil pessoas, cidadãos, amores de alguém, com nome, sobrenome, laços afetivos: vidas. Não existe sacrifício de vida que justifique a defesa da economia, que não existe sem vidas humanas.

Por fim

É com este panorama, em 390 dias de trabalho desde o lançamento do Especial Covid-19, que o primeiro texto vinculado às palestras COVID-19 na mira de pesquisadores brasileiros e franceses se produz. Com preocupação, mas ainda aqui, presente. Ao lado daqueles que seguem percebendo que o acesso à informação científica é fundamental a uma sociedade democrática e saudável.

Para aprofundar estas questões que descrevi a vocês hoje aponto os links relacionados às ações desta parceria com o Consulado Geral da França de São Paulo, com a Unesco Brasil e o Nexo Jornal.

A palestra do dia 08 de Abril, As Vacinas Contra a Covid-19. A palestra foi proferida por Maurílio Bonora Junior. Ele é nosso principal pesquisador e divulgador científico no campo da imunologia e vacinas. As publicações são para o Especial Covid-19 do Blogs de Ciência da Unicamp e, que também Todos Pelas Vacinas. Além disso, convidamos como mediadora desta fala a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, doutora em neurociências pela UFRGS, divulgadora científica na Rede Análise COVID-19, equipe Halo da ONU, Grupo InfoVid, Todos Pelas Vacinas e União Pró-Vacina, e nossa parceira, colega e amiga, no Blogs de Ciência da Unicamp.

Além disso, Maurílio foi entrevistado pelo Nexo Jornal, ‘No ritmo atual, vacinaremos o último brasileiro em 2024’

Próximas etapas

Há dois textos atrasados, neste diário, fruto desta parceria. Quem não está atrasado nas escritas, atualmente, está vivendo errado – eu digo constantemente a quem me pede desculpas pelos atrasos… Vou me permitir usar esta fala para mim, desta vez.

A próxima palestra do ciclo será em francês, La rhétorique de la Grande Guerre dans la crise française du Covid-19, com a pesquisadora Stéphane Audoin-Rouzeau (EHESS), dia 27 de Abril, às 14:30.

A programação completa vocês podem encontrar aqui.

Para Saber Mais

Alegretti, Laís (2021) Araraquara X Bauru: dois retratos do Brasil com e sem lockdown contra a covid-19

EPTV (2021) Araraquara faz testagem de Covid por amostragem em funcionários de vários setores econômicos

Estadão Saúde (2021) Serrana está há 13 dias sem intubar; vacinação em massa contra o coronavírus termina hoje

G1 (2021) Araraquara tem terceiro dia sem mortes por Covid-19 nesta semana

G1 (2021) França entra em 3° lockdown nacional para frear alta de casos de Covid

Jornal Zero Hora (2021) Para ministro da Saúde, compra de vacinas por empresas pode “beneficiar mais brasileiros”

Revista Veja (2021) Butantan suspende envase da vacina CoronaVac após atraso de insumos

Valor Econômico (2021) Fiocruz e Butantan prometem IFA nacional este ano, mas especialistas falam em 2022

Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Assim, os autores produzem os textos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional. Além disso, os textos são revisados por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Dessa forma, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


editorial


Ana Arnt

Bióloga, Mestre e Doutora em Educação. Professora do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia, do Instituto de Biologia (DGEMI/IB) da UNICAMP e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM). Pesquisa e da aula sobre História, Filosofia e Educação em Ciências, e é uma voraz interessada em cultura, poesia, fotografia, música, ficção científica e... ciência! ;-)

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