Divulgado como o livro que previu a pandemia da COVID-19, livro “Contágio: Infecções de origem animal e a evolução das pandemias”, escrito em 2012 David Quammen, chegou ao Brasil em setembro de 2020, pela editora Companhia das Letras. E sim, todo o hype em cima do livro é entendível.
Disclaimer: A editora Companhia das Letras me enviou uma cópia do livro para resenhar aqui no blog. Não é uma publicidade paga.
Para adquirir uma cópia, você pode utilizar o nosso link da Amazon, clicando na imagem do livro abaixo!
(Assim, você ajuda o blog e não gasta nada a mais por isso).
CONTÁGIO: infecções de origem animal e a evolução das pandemias
David Quammen – Companhia das Letras
544 páginas
Em 2020 um balde de água fria caiu sobre a gente nos jogando no meio de uma pandemia desenfreada. No Brasil, mais de 1 ano e meio depois, ainda continuamos enfrentando a pandemia de forma muito ruim: corrupção, desinformação, kits de medicamentos sem eficácia sendo distribuídos e receitados, estabilidade em um patamar elevado de casos e mortes. Os divulgadores de ciência acho que nunca trabalharam tanto e de forma tão unida em favor de uma única causa. Uma causa que provavelmente não poderíamos fugir. E que provavelmente enfrentaremos novamente, com uma nova carinha (talvez mais fofa, talvez bem mais feia).
E ainda pior, parece que essas novas doenças surgem do nada(!) para assolar a espécie humana. Coitados de nós, tão injustiçados nesse mundo tão grande então cheio de espécies diferentes. Mas é justamente mostrando que as coisas não acontecem bem assim (“do nada!”) que Quammen começa e termina seu livro.
Epidemias sempre assolaram nossa população…. mas não só a nossa!. Só que, pra gente, claro, as pandemias que nos afetam trazem em si um interesse muito maior, afinal, não é estranho que tenhamos uma vigilância e preocupação maior com doenças que nos afetam diretamente.
O título original de Contágio é “SPILLOVER”, termo em inglês utilizado “para denotar o momento em que um patógeno passa de uma espécie hospedeira para membros de outra espécie”. Em português o termo utilizado é “transbordamento zoonótico”. Convenhamos, um termo nada chamativo para um livro de jornalismo científico! Olhando no GoodReads, vi que geralmente o livro é traduzido com o título de “Zoonoses” ou “Contágio”, sendo este último o escolhido para a edição Brasileira. Apesar de não carregar em si o mesmo significado que Spillover, considero uma alternativa muito boa.
No livro, Quammen faz uma descrição profunda de diversas zoonoses – que são infecções que afetam tanto a espécie humana quanto outras espécies de animais. Mas, mais do que falar como se dá o processo de contaminação (contágio) pelo microrganismo, o jornalista investiga e descreve como se deu o processo de spillover/transbordamento zoonótico – ou seja: como e quando o microrganismo “saltou” de uma espécie animal para a espécie humana.
E faz isso de maneira fantástica! O autor narra seu percurso em busca de personagens que participaram de alguma forma dessas epidemias zoonóticas: cientistas, médicos, fazendeiros, veterinários, guias e moradores dos locais. E em meio a essa narrativa histórico-investigativa e científica, Quammen introduz conceitos que hoje estão ganhando espaço entre nós: reservatório, vetor, hospedeiro intermediário, R0, taxa de transmissão, supertransmissor, mutação, vírus de RNA e DNA. Em alguns momentos o texto é bem denso, mas em outros somos envolvidos como se estivéssemos lendo um livro de aventura e cheio de mistério… E, para isso, Quammen usa como pano de fundo algumas epidemias zoonóticas como: Hendra, Ebola, Malária, SARS, Febre Q, Psitacose, Influenza (gripe), Nipah e HIV/Aids.
O que aprendemos com isso? Que geralmente esses saltos de patógenos que passam a infectar humanos (os transbordamentos) ocorrem de maneira acidental e nós mesmos criamos as condições para que isso aconteça, afinal: “Invadimos florestas tropicais e outras paisagens selvagens, que abrigam tantas espécies de animais e plantas — e dentro dessas criaturas, tantos vírus desconhecidos. Cortamos as árvores; matamos os animais ou os engaiolamos e os enviamos aos mercados. Destruímos os ecossistemas e liberamos os vírus de seus hospedeiros naturais. Quando isso acontece, eles precisam de um novo hospedeiro. Muitas vezes, somos nós.”
Quammen é autor de 15 livros (alguns lançados no Brasil também pela Cia. das Letras, como: “O canto do dodô”, “Monstro de Deus”, “As dúvidas do sr. Darwin”) e já escreveu para grandes publicações estadunidenses, como a National Geographic. Ele conseguiu, com um livro publicado inicialmente em 2012 – ou seja, que possui informações de quase 10 anos atrás –, manter-se bem atual. A importância desse livro é inegável.
Recomendo demais o livro Contágio, destrancando os capítulos 4- Jantar na fazenda de ratos (onde o autor traça as origens da epidemia de SARS em 2003, e conseguimos ver muitas semelhanças e diferenças com a pandemia atual da Covid-19, afinal ambas são causadas por coronavírus) e o 8- O chimpanzé e o rio (sobre a origem e a disseminação mundial do vírus do HIV/Aids)
Finalizo com a citação de um trechinho do epílogo* do livro, “se você acha que financiar a preparação para uma pandemia é caro, espere até ver o custo final do nCoV-2019”.
*O epílogo é um artigo publicado em 28/07/2020, no New York Times. A denominação nCoV-2019 para o coronavírus causador da Covid-19 justifica-se pois o artigo é anterior à atual denominação como SARS-CoV-2.
Aproveite e nos siga em nossas redes sociais: Twitter, Instagram e Facebook!
Ah! E se for fazer comprinhas na Amazon, use nosso link!
Este texto foi escrito originalmente para o blog Meio de Cultura
0 comentário