Timenesia, amnésia do tempo

Você sabe contar a história do bairro onde você mora? Você é consciente dos problemas que sua comunidade enfrenta? Já pensou e propôs soluções para líderes do governo? Não, não e não devem ser as respostas mais frequentes. Já os jovens que participam do projeto My Dot Tour, liderado por pesquisadores do Center for Civic Media (MIT), têm muitas histórias para contar sobre Dorchester, um bairro ao sul de Boston.

Os jovens pesquisam sobre o bairro e apresentam seus achados para a comunidade trabalhando como guias turísticos, como mostra o vídeo abaixo.

Nesse processo, desenvolvem habilidades de liderança e a capacidade de falar em público, em uma experiência multimídia e interativa. Usando o sistema de comunicação Voip Drupal que integra telefone, mensagem de texto e várias ferramentas na própria página do projeto, todos os membros da comunidade são convidados a participar enviando depoimentos sobre os oito pontos turísticos da região escolhidos para esta etapa do trabalho. Pode ser uma mensagem de voz gravada ao ligar para o número 617-300-0368 ou uma mensagem de texto via celular. O depoimento pode também ser enviado acessando o site do projeto. O morador escolhe um local (escolhi Fields Corner Park, aqui), um tempo (presente, passado ou futuro) e opta por submeter o seu depoimento gravando uma mensagem de voz, enviando uma mensagem de texto ou uma foto. Com isso, a comunidade ganha um espaço compartilhado para diálogo, ganha voz.

Leo Burd, pesquisador brasileiro do Center for Civic Media, foi quem desenvolveu o Voip Drupal. Ele vem trabalhando há anos com o uso de tecnologias para empoderamento social de comunidades locais (já escrevi sobre o seu trabalho aqui). 

Burd conta que essa ideia de se organizar tours com jovens e de se usar tecnologia para complementar a experiência da visita a um lugar histórico não é nada nova. Museus internacionais e certas cidades históricas, como Concord, aqui no estado de Massachusetts, usam tais ferramentas. “A diferença é a popularização da tecnologia através da nossa plataforma e o incentivo ao engajamento local de uma forma mais legal e inclusiva”, disse.

O projeto de jovens como guias turísticos é parte do Timenesia.org. Como bem descrito no site, muitas comunidades sofrem de Timenesia – amnésia do tempo – a falta de consciência e de interesse em seu próprio passado, presente e futuro. A meta do Timenesia é superar este problema, permitindo um maior engajamento, conscientização e entusiasmo de comunidades locais por meio de tours com moradores locais, usando vozes, fotos e textos sobre o passado, presente e futuro da região.

Media Lab em destaque na Folha de São Paulo

Desconsiderem a sombra da fotógrafa não-profissional e observem os nomes dos grupos de pesquisa do Media Lab, no MIT.

Quando se clica em cada uma das janelas dessa tela, aparece o líder do grupo e todos os envolvidos nos diversos projetos, assim como uma breve e interessante descrição da pesquisa. O display não é novo, mas só hoje – a caminho do almoço com Leo Burd – me dei conta do quanto ele é eficiente em divulgar o que acontece por lá.

Como disse Gilberto Dimenstein em matéria publicada no último domingo na Folha de São Paulo, “a arquitetura [do Media Lab] transmite a mensagem de que criatividade depende de uma combinação de caos, flexibilidade, diversidade e estímulo ao contato humano” (link para texto completo aqui, exclusivo para assinantes). E na mesma edição do jornal, Luciana Coelho escreveu sobre o trabalho desenvolvido pelo Leo Burd no Media Lab (aqui). Já falei aqui no blog sobre o trabalho do Leo (aqui) e sigo encantada com a ideia de tecnologias com foco em comunidades carentes.

Em tempo: o Pó ficou meio abandonado ultimamente pois estive envolvida com a organização da Conferência Brasil-MIT (aqui e último parágrafo da matéria publicada no último sábado também na Folha aqui). Aos poucos coloco minha vida de volta ao eixo.

Criança e cidadania é o foco do trabalho de Leo Burd, brasileiro no MIT

Enquanto me preparava para entrevistar o Leo Burd, brasileiro que assumiu recentemente o cargo de pesquisador no Media Lab (MIT), me comovi ao imaginar o impacto de seu trabalho. Li vários links, posts em blogs, trechos de sua tese e a imagem que me veio foi a do Leo carregando uma bandeja abarrotada de diferentes tecnologias desenvolvidas para um público muito especial: as crianças.

                          

Leo Burd, pesquisador brasileiro no Media Lab (MIT). Arquivo pessoal

Tecnologias para estimular a garotada – como ele gosta de chamá-las – a participar efetivamente como cidadãs em suas comunidades, especialmente as carentes. 

“As crianças, hoje em dia, são muito oprimidas ou deixadas de lado, tanto em famílias de baixa quanto de alta renda. São marginalizadas de uma maneira não óbvia. A criança vai para escola de manhã, faz alguma atividade e depois volta para casa. O tipo de contato que ela tem com o mundo externo e com a sociedade de uma forma mais ampla é muito restrito. E o contato com os adultos tende a ser muito de cima para baixo, muito dirigido. A criança que sempre teve que obedecer ordens e ficar em ambientes condicionados, de repente completa 18 anos e é considerada cidadã do mundo. Que opinião essa pessoa vai ter se nunca teve oportunidade de testar suas próprias ideias no mundo? Colocamos muita expectativa em cima dos jovens, o futuro está em suas mãos, mas nunca ajudamos a prepará-los para que se tornem cidadãos do mundo moderno; é uma área muito deficiente”, disse Leo Burd durante a entrevista.

No recém-lançado Department of Play, do qual Burd é co-fundador, o grupo vem criando e implementando diferentes tecnologias, principalmente baseadas em mapas, internet e telefonia. As imagens de crianças usando balões para tirar fotos de seu bairro e, em seguida, montando um mapa, são lindas. 

Quer saber mais? Leia a entrevista publicada na revista Ciência & Cultura (texto e pdf).

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