Biotecnologia de Insetos

Insetos são únicos, no seguinte sentido: sua principal forma de comunicação se baseia em substâncias químicas. Tais compostos orgânicos são comumente denominados de semioquímicos, ou mediadores de comunicação química. Estes incluem:
a) feromônios – substâncias químicas de comunicação entre indivíduos de uma mesma espécie.
b) alomônios – substâncias químicas produzidas por indivíduos de uma espécie que estimula uma resposta comportamental em indivíduos de outra espécie.
c) kairomônios – substâncias químicas que favorecem indivíduos que as recebem e prejudicam os indivíduos que as emitem.
Além de substâncias atratoras e repelentes, também. Insetos são verdadeiras fábricas de substâncias químicas, mas várias espécies acumulam estas substâncias de suas presas (que podem ser plantas, fungos, bactérias e até outros insetos).

Sabendo que insetos são ricos em substâncias químicas e, consequentemente, também em enzimas que participam na biossíntese destas substâncias, pesquisadores da Justus-Leibig-University Giessen e da Fraunhofer-Gesellschaft (Alemanha) decidiram estabelecer um programa de “Biotecnologia de Insetos”, para o qual já conseguiram 4 milhões de Euros. Desta maneira, esperam descobrir e desenvolver novos medicamentos, novos métodos para o controle de pragas, enzimas para utilização industrial, dentre outras aplicações.

Por exemplo, ao longo da evolução várias espécies de insetos desenvolveram a capacidade de biossintetizar ou acumular substâncias para evitar infecções bacterianas. Desta maneira, estas substâncias podem servir de modelo para a descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos. Outras espécies de insetos desenvolveram substâncias que as tornam mais “competitivas” no seu ambiente, desfavorecendo outras espécies de insetos. Estas substâncias químicas podem ser utilizadas no controle de pragas, sem que afetem outras espécies, como abelhas, que são extremamente importantes para a polinização de flores e também para a produção de mel. Enzimas produzidas por insetos podem ser úteis para a degradação de lignina, o principal componente da casca de árvores (e extremamente útil para a indústria química). Enfim, a utilização e aplicações da química dos insetos pode ser extremamente abrangente.

Tive a oportunidade de realizar meu doutorado em um laboratório de química literalmente vizinho a um laboratório de entomologia. Os dois grupos estudavam ativamente a ecologia química de insetos como formigas, joaninhas, cupins, dentre outros. Meu orientador (Prof. Jean-Claude Braekman), juntamente com seu colega D. Daloze, publicaram dezenas de trabalhos sobre química de insetos com o prof. Jacques Pasteels (entomologista), todos da Université Libre de Bruxelles. É um dos inúmeros temas absolutamente fascinantes da química de produtos naturais.

Fonte da notícia: ScienceDaily. As fotos de J.C. Braekman (esquerda) e J. Pasteels (direita) foram obtidas na web. Infelizmente a foto de JCB não está muito boa. A de Pasteels o retrata em 1996.

Vitamina C e células tronco

Vitamina C. Quem nunca ouviu falar verdadeiras maravilhas sobre ela? Desde o tempo dos descobrimentos, em que o escorbuto se prevenia somente nos navios que transportavam frutas cítricas. Escorbuto é a doença que surge em decorrência da carência de vitamina C. Muito mais tarde, Linus Pauling lançou uma grande propaganda sobre a vitamina C, dizendo que deveria ser consumida em grandes quantidades. Embora Linus Pauling tenha sido desmentido por nutricionistas, que afirmam que o excesso de vitamina C é eliminado pela urina, e pode causar stress renal, as fotos do fim da vida de Pauling ao lado de sua esposa são impressionantes. Pauling faleceu aos 93, de câncer.

A vitamina C é um potente antioxidante e atua na reparação de tecidos danificados, eventualmente como agente anti-envelhecimento. Parece que tal atributo tem seus fundamentos. Artigo publicado no número de dezembro (2009) da revista Cell Stem Cell apresenta resultados de que vitamina C favorece a conversão de células adultas em células tronco.

Células adultas podem ser “reprogramadas” em células com características similares às das células tronco embrionárias, sendo então denominadas células tronco pluripotentes induzidas (iPSCs). Todavia, seu potencial terapêutico é limitado.

Pesquisas realizadas pelo grupo coordenado pelo Dr. Duanqing Pei, do South China Institute for Stem Cell Biology and Regenerative Medicine do Guangzhou Institutes of Biomedicine and Health, da Academia Chinesa de Ciências, objetivaram medir a produção de radicais livres de oxigênio durante a reprogramação de células adultas em células tronco. Assim, testaram antioxidantes para que estes pudessem, de alguma maneira, controlar a produção de radicais livres durante este processo. Os pesquisadores verificaram que vitamina C aumentou a geração de iPSCs. Na presença de vitamina C, as células adultas tiveram sua mudança de expressão genética acelerada, bem como sua “reprogramação” para células tronco. Surpreendentemente, os pesquisadores não observaram os mesmos efeitos com outros antioxidantes. Somente a vitamina C apresentou retardamento do processo de envelhecimento celular.

Caraca! Linus Pauling iria certamente gostar desta história. Gostaria de saber a opinião da profa. Mayana Zatz sobre este trabalho. De qualquer maneira, sou fã de limonada.

A referência completa do trabalho publicado é: M. A. Esteban, T. Wang, B. Qin, J. Yang, D. Qin, J. Cai, W. Li, Z. W., J. Chen, S. Ni, K. Chen, Y.n Li, X. Liu, J. Xu, S. Zhang, F. Li, W. He, K. Labuda, Y. Song, A. Peterbauer, S. Wolbank, H. Redl, M. Zhong, D. Cai, L. Zeng and D. Pei, Vitamin C Enhances the Generation of Mouse and Human Induced Pluripotent Stem Cells, Cell Stem Cell, 24 December 2009, doi:10.1016/j.stem.2009.12.001.

Enciclopédia Genômica das Bactérias e Archea

Dá para imaginar um grupo de organismos mais diversificado do que os insetos? São cerca de 800.000 espécies. E de plantas? Cerca de 350.000. E de microrganismos?

A estimativa é que existam 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 espécies de microrganismos. Se este número for verdadeiro, muito, mas muito menos de 1% são conhecidas e caracterizadas. E destas, uma pequena fração é de uma enorme importância histórica, econômica, social e científica. Histórica, sim, pois a descoberta da penicilina influenciou fortemente o desenrolar da II Guerra Mundial e o desenvolvimento dos antibióticos nos anos seguintes. Econômica, pois muitos produtos e processos são atualmente decorrentes da utilização de inúmeras linhagens microbianas: na produção de vitaminas, enzimas, aromas, antioxidantes, medicamentos, álcool combustível. Social, consequentemente. Científica, pois, desde que Antonie van Leeuwenhoek observou pela primeira vez estes seres microscópicos, estes nunca tiveram sua importância diminuída. Pelo contrário. Análises de DNA atuais só se tornaram possíveis com o advento da técnica de PCR, polymerase chain reaction, que possibilita a amplificação do DNA em quantidades apreciáveis para sua análise. A técnica de PCR só foi possível de ser utilizada graças ao isolamento da enzima que possibilita tais análises a partir da bactéria Thermus aquaticus.

Um projeto extremamente ambicioso pretende descrever as espécies de microrganismos do planeta Terra. Coordenado pelo Department of Energy Joint Genome Institute (DOE JGI), o projeto objetiva a elaboração da Enciclopédia Genômica das Bactérias e Archea [Genomic Encyclopedia of Bacteria and Archaea (GEBA)]. Os primeiro 56 genomas deste projeto foram publicados na revista Nature em seu número de 24 de dezembro. Um belo presente de natal para a ciência.

Segundo o diretor do DOE JGI, Eddy Rubin, “Os microrganismos participam em praticamente todos os processos biológicos do planeta. Sua descrição genômica revolucionou o conhecimento científico que hoje dispomos destes seres microscópicos. A informação obtida a partir do genoma destas 56 primeiras espécies analisadas forneceu uma enorme variedade de novas enzimas e rotas bioquímicas, que podem ser extremamente úteis para a humanidade, na produção de biocombustíveis, biorremediação e como o CO2 é ‘capturado’ da atmosfera, por exemplo.”

Até hoje, apenas as linhagens microbiológicas chamadas de “culturáveis” (por crescer em meios de cultura artificiais) puderam ser bem caracterizadas e exploradas. A intenção dos pesquisadores do DOE JGI é, literalmente, descrever a ‘matéria negra’ microbiológica do planeta Terra. Com isso, conhecer também como estes microrganismos interagem entre si e com outras espécies biológicas. Até hoje as descrições genômicas de microrganismos focalizaram o estudo de linhagens economicamente importantes. A intenção do projeto da GEBA é ampliar significativamente a “árvore filogenética” dos microrganismos, buscando aqueles pouco conhecidos e ainda totalmente desconhecidos. Como conseqüência, espera-se que o conhecimento adquirido como fruto deste projeto possa esclarecer a diversidade genética dos microrganismos, demonstrar como os microrganismos adquirem e/ou exercem novas funções no ambiente em que se encontram, entender como funcionam as comunidades microbiológicas e a sua complexidade. A obtenção de produtos microbianos na forma de sequências genéticas específicas, enzimas e metabólitos deve ser uma decorrência natural do desenvolvimento deste projeto.

Por exemplo, dois pesquisadores do DOE JGI, Natalia Ivanova e Athanasios Lykidis, descobriram novas celulases, enzimas que degradam celulose em seus componentes – diferentes tipos de açúcares – que podem ser utilizadas na produção de biocombustíveis.

O projeto GEBA está sendo desenvolvido conjuntamente por pesquisadores do DOE JGI e da DSMZ (Deutsche Sammlung von Mikroorganismen und Zellkulturen, ou Coleção de Microrganismos e de Culturas Celulares da Alemanha). As linhagens seqüenciadas estarão disponíveis para serem posteriormente utilizadas. As sequências genômicas já descritas no âmbito do projeto GEBA estão disponíveis na página da revista Journal Standards in Genomic Sciences (SIGS), que é de acesso aberto. A lista completa dos projetos piloto do GEBA pode ser encontrada na página http://www.jgi.doe.gov/sequencing/GEBAseqplans.html

Bactérias halofílicas de 30.000 anos

A sobrevivência de microrganismos em ambientes extremos constitui uma característica incomum de bactérias e de outros tipos de seres microscópicos, muitas vezes denominados de micróbios.

Abre parêntese: “micróbio” é uma designação bastante antiga, até mesmo “out-of-date”, de microrganismos como bactérias, fungos, cianobactérias, além de inúmeros outros organismos que só podem ser observados em microscópios. O termo micróbio deveria ser definitivamente abandonado, pois tem um significado muito geral, que não quer dizer nada. É muito melhor que se especifique a qual tipo de microrganismo se refere: se bactéria, fungo, ou outro qualquer. Fecha parêntese.

Fato é que um tipo particular de bactérias é o das halófilas, ou halofílicas, bactérias que se desenvolvem em ambientes com alta concentração de sais, particularmente cloreto de sódio (NaCl). Vem daí o seu nome, uma vez que cloro é um halogênio (halo: de halogênio; filo: afinidade). A presença de bactérias halófilas já foi detectada em sedimentos ricos em sais, datados de mais de 250 milhões de anos. Porém, a viabilidade celular de tais bactérias tem sido continuamente criticada (ou seja, se estas bactérias ainda permaneceram vivas depois de todo este tempo), levantando-se a hipótese de que uma manipulação menos cuidadosa teria levado à contaminação destas amostras com bactérias “atuais” e vivas.

Em estudo publicado neste ano na revista Geology, pesquisadores da State University of New York conseguiram isolar e cultivar bactérias que estavam até então “dormentes”, na forma de esporos, de minerais ricos em sais datados de entre 22.000 a 34.000 anos. Junto com tais bactérias os pesquisadores encontraram fragmentos de algas do gênero Dunaliella. O tamanho das células das bactérias encontradas, muito menor do que o tamanho “normal” das células de bactérias comuns, indica que as bactérias que permaneceram todo este tempo em contato com altas concentrações de sais entraram em estado de desnutrição extrema (starvation), podendo manter-se unicamente por se aproveitar da matéria orgânica fornecida pelas algas com as quais permaneceram em contato. As bactérias isoladas mostraram ser do grupo das Archea, um dos grupos mais primitivos de microrganismos, e foram classificadas como pertencentes aos gêneros Halorubrum, Natronomonas e Haloterrigena. Em seu trabalho os autores tomaram cuidados extremos para evitar qualquer tipo de contaminação com bactérias atuais, e comprometer suas análises.

Microfotografias em branco e preto, e em cores, de células de Dunaliella em fissuras com fluidos em cristais salinos. A: células de Dunaliella (flechas brancas) e células de procariontes (flechas pretas) obtidas em sedimentos de 17,8 metros da superfície (e com cerca de 34.000 anos); B: carotenos cristalinos incrustantes e saindo de células de Dunaliella (14,5 me da superfície, antigas de 26.000 anos), F.I.: limite da inclusão fluídica produzida por Dunaliella; C: células de Dunaliella de 17,8 metros de profundidade (34.000 anos), algumas com carotenos incrustados.

O estudo começou com a coleta de amostras de sedimentos de 90 m de profundidade, na região do Vale da Morte na Califórnia (EUA), contendo altas concentrações de sais. Foram obtidos cristais com orifícios muito pequenos, alguns com menos de 1 micrometro de abertura. Fluidos coletados destes orifícios apresentaram células de vários procariontes (microrganismos desprovidos de membranas dentro de suas células, ou seja, membranas que delimitam o núcleo celular, por exemplo, como é o caso de bactérias). Além disso, os pesquisadores verificaram que tais microrganismos são abundantes nos fluidos de cristais de sais da região em que foram coletados.

Para se ter uma idéia da concentração da solução de sais utilizada pelos pesquisadores para o crescimento das bactérias isoladas, de até 4,3 moles de sal/litro, a concentração de NaCl em uma solução fisiológica (utilizada para colírios, nariz e tratamento de diarréia em crianças, p. ex.) é de 0,15 moles/litro. Não é qualquer tipo de bactéria que cresce em um meio de crescimento contendo uma concentração de sais tão alta. Somente bactérias muito bem adaptadas a um meio tão salino crescem nestas condições. Esta concentração de sais também evita a contaminação por bactérias “atuais”. Os autores processaram 881 cristais coletados em sedimentos do Vale da Morte, e conseguiram isolar bactérias a partir de 5 destas amostras. As bactérias isoladas demoraram 3 meses para “aparecer” nas placas de Petri (onde as bactérias são isoladas em laboratório). Uma vez que conseguiram isolar as bactérias, os pesquisadores analisaram uma parte do seu RNA ribossômico, chamada de 16S. Esta região do RNA ribossômico é muito utilizada para a classificação de bactérias. Estas análises forneceram informações sobre a classificação das bactérias isoladas, como partencentes ao grupo das Archea halofílicas.

Os autores também encontraram nos mesmos cristais salinos fragmentos de algas do gênero Dunaliella, que são conhecidas por produzir glicerol para manter o equilíbrio osmótico destas algas no ambiente salino em que se encontram. Este mesmo glicerol pode servir de fonte de carbono a organismos procariontes que vivem associados a estas algas. De fato, os pesquisadores observaram que as bactérias halofílicas isoladas dos cristais coletados são capazes de crescer em placas contendo unicamente glicerol como nutriente. Além disso, também verificaram que as algas Dunaliella presentes nos cristais secretam material intracelular para o interior das fissuras dos cristais quando se encontram na presença das bactérias. O fluido secretado pelas algas pôde ser visualizado sob condições naturais, pois contém carotenos, que são substâncias coloridas, visíveis até mesmo a olho nú, que cristalizam quando em contato com os cristais salinos. Segundo os autores, a quantidade de glicerol liberada no fluido de uma única célula de Dunaliella é capaz de ser utilizada por uma única célula de procarionte para manter seu DNA em boas condições durante 12 milhões de anos.

Os autores concluiram seu trabalho afirmando que fissuras em cristais salinos contendo fluidos com material orgânico constituem microambientes ideais para a longa sobrevivência de microrganismos halofílicos. Isso porque a constituição salina destes cristais diminui a probabilidade de ocorrência de danos no DNA dos microrganismos ali presentes. Também verificaram que tais microrganismos não entram em “estado de dormência”, mas sim em miniaturização, de maneira a diminuir ao máximo suas necessidades metabólicas, para o qual somente glicerol produzido por algas basta para a sua sobrevivência por longos períodos de tempo.

A referência completa deste trabalho é Brian A. Schubert, Tim K. Lowenstein, Michael N. Timofeeff and Matthew A. Parker, How do prokaryotes survive in fluid inclusions in halite for 30 k.y.?, Geology, 2009, 37, 1059-1062. Veja aqui.

Agradeço ao Prof. Brian Schubert, quem gentilmente me enviou uma cópia de seu trabalho (I wish to thank prof. Brian Schubert who kindly sent me a pdf copy of his article). Este é um belo exemplo de processo adaptativo via seleção natural, ocorrido há milhares de anos, que favoreceu a “permanência” de apenas algumas espécies de bactérias em ambientes muito adversos.

O frágil bioma dos pampas brasileiros

Aparentemente muito interessante, deve valer a pena ler o artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal do PAMPA-Campus São Gabriel, intitulado “The Brazilian Pampa: A Fragile Biome”. A referência encontra-se indicada a seguir. Como o artigo foi publicado em revista “Open Access”, pode ser baixado diretamente aqui.

ResearchBlogging.org

Luiz Fernando W. Roesch, Frederico C.B. Vieira, Vilmar A. Pereira, Adriano Luis Schünemann, Italo F. Teixeira, Ana Julia T. Senna and Valdir Marcos Stefenon (2009). The Brazilian Pampa: A Fragile Biome Diversity, 1 (2), 182-198 : 10.3390/d1020182

Sobre Twitter, Facebook e acesso aberto de publicações científicas

A revista científica Angewandte Chemie International Edition é uma das mais conceituadas, senão a mais importante, da área de química. Com um fator de impacto de 10,879, publica artigos científicos relacionados a todas as áreas de química. É o periódico de química por excelência, ao lado do Journal of the American Chemical Society (JACS).

O editorial da última edição da Angew. Chem. Int. Ed. traduz, de certa forma, a angústia científica contemporânea, e se refere à rapidez na publicação e disseminação da informação, além de ressaltar a importância na geração de conteúdo de qualidade. No editorial, Volker Gerhardt, um dos mais importantes filósofos alemães da atualidade, assinala a importância do acesso aberto (open access) para a publicação de trabalhos científicos, sem que se confunda a utilização desta com a promoção da ciência, qualidade com quantidade, e que não se perca o rumo para se avaliar, de maneira racional, o que realmente constitui boa ciência.

Peter Gölitz, que assina o editorial, indica o perigo que constitui a utilização do acesso aberto, uma vez que este é pago pelos autores. Sendo desta forma, as revistas científicas muito em breve perderão assinaturas institucionais e dependerão quase exclusivamente dos autores para sobreviver. Consequentemente, o risco de que muitas revistas passem a aceitar a “menor unidade publicável” (ou seja, artigos de qualidade marginal) não deve ser negligenciado, pois dependerão destes para continuar a existir. Ainda, levanta questões interessantes, sobre quantas publicações se espera do desenvolvimento de um determinado projeto e se um projeto deve gerar publicações científicas à exaustão.

Levando-se em conta a necessidade de sobrevivência das revistas científicas, atualmente os editores encontram-se sob pressão para conseguir artigos de qualidade e publicá-los o mais rapidamente possível. Desta forma, fica até mesmo difícil controlar o processo de avaliação por pares, uma vez que avaliações por demais criteriosas podem atrasar a publicação de artigos. Além do mais, Gölitz assinala que as revistas tenderão a se adaptar mais aos autores do que aos leitores, pois dependerão mais dos primeiros. Porém, tal argumentação é questionável, pois os autores lêem as próprias revistas em que publicam, e esperam que sejam citados por seus trabalhos publicados. Considerando-se que estes devem se apresentar segundo as boas normas de editoração, espera-se que se construa um equilíbrio de necessidades e expectativas entre autores, editores e leitores das revistas científicas com acesso aberto.

Angewandte Chemie International Edition já adotou o acesso aberto – é um dos poucos periódicos científicos de excelência que o fez , ao lado da PLOS One (uma lista completa de periódicos de acesso aberto pode ser encontrada no Directory of Open Access Journals). A American Chemical Society (ACS), editora de muitas revistas de alto conceito, reluta em adotar o acesso aberto. Embora já tenha adotado a publicação eletrônica como seu principal meio de disseminação (a partir de 2010 a ACS não mais publicará revistas na sua forma impressa). Neste sentido, o Journal of the Brazilian Chemical Society é um periódico científico de vanguarda: adotou o acesso aberto há vários anos – gratuitamente. Mais recentemente a revista Química Nova (que aceita artigos em português, inglês e espanhol) também se tornou completamente on-line, de acesso aberto gratuito. Ambos JBCS e Química Nova são publicações da Sociedade Brasileira de Química.

Um dos elementos de diferenciação da Angewandte Chemie International Edition é o grau de exigência para aceitação de artigos a serem publicados. A atual taxa de rejeição é de 78% de todos os artigos submetidos para publicação no Angewandte Chemie. Considerando-se o custo da avaliação dos manuscritos submetidos, boa parte do valor pago pelos autores que publicam na Angew. Chem Int. Ed. de acesso aberto se refere ao processo de avaliação por pares. Principalmente porque os trabalhos rejeitados custam mais caro para serem analisados do que os trabalhos aceitos. Não somente em termos de custos financeiros, mas principalmente de tempo (que reflete no financeiro). Além disso, os revisores da revista passam a ter um papel crucial na qualidade da revista. Segundo Gölitz, até outubro/2009 foram submetidos 6500 artigos à Angew. Chem. Int. Ed., que necessitaram de 18000 avaliações por pares. Destas, 12000 foram realizadas. No caso de revisores que avaliam dois ou mais artigos por mês, a revista passará a fornecer um certificado especial, atestando o valor do trabalho realizado por estes assessores. O corpo editorial acredita que desta maneira estará valorizando o trabalho de seus revisores e colaborando para seu reconhecimento em suas instituições de origem. Que assim seja.

Gölitz termina por justificar, em seu longo editorial, a necessidade do pagamento de diversos outros custos a partir do momento em que a revista adotou o acesso aberto.

Existe um porém na utilização do acesso aberto. Os custos de publicação por acesso aberto são altos. Variam de centenas a milhares de dólares por artigo científico. Quem pode pagar tais valores? Pesquisadores de países desenvolvidos. Pesquisadores de países em desenvolvimento terão cada vez mais dificuldade em arcar com tais despesas. Sendo assim, será oficializada a divisão da ciência em artigos publicados em revistas de acesso aberto de alto custo e aqueles publicados em revistas de acesso aberto (ou apenas impressas?) marginais. Tal divisão não é boa, e conduzirá a sérias distorções no extremamente lucrativo mercado das publicações científicas, que aos poucos leva à mercantilização da ciência como nunca se viu antes. É lamentável que, além da classificação dogmática da ciência por fatores de impacto, índice-h e número de citações, a ciência caminhe para ser um objeto de extremo luxo.

Caminho sem volta? Ou momento para reflexão?

O editorial de Peter Gölitz, “Twitter, Facebbok, and Open Access … encontra-se no prelo na revista Angew. Chem. Int. Ed., mas pode ser visualizado aqui, infelizmente só por aqueles que dispõem de acesso institucional (ou pessoal) ao periódico.

Peter Gölitz (2009). Twitter, Facebook, and Open Access … Angewandte Chemie International Edition DOI: 10.1002/anie.200906501

Quando a informação incomoda (ou Quando a verdade dói, parte II)

Segundo notícia publicada no jornal Estado de São Paulo on-line, nesta última quarta feira dia 9/12/09 Joseph Ratzinger, o papa Bento 16 criticou nesta quarta-feira, 9/12/2009, a forma como a imprensa retrata e amplifica os males que atingem as cidades, fazendo as pessoas se “acostumarem com as coisas mais horríveis” e “se tornarem mais insensíveis”, e “intoxicando” a todos, uma vez que o que é “negativo nunca se elimina”. O papa acrescentou que os meios de comunicação tendem a fazer “o cidadão se sentir sempre como um espectador, como se o mal só dissesse respeito aos demais e certas coisas jamais pudessem acontecer” com ele. O pontífice, de 82 anos, fez estas declarações diante do monumento à Imaculada Conceição, cujo dia é celebrado nesta quarta-feira.

Ao depositar um cesto de rosas flores diante da estátua coroada pela imagem de Nossa Senhora, Bento XVI disse que Maria ainda repete aos homens de nosso tempo: “Não tenham medo, já que Jesus venceu o mal”. “O quanto precisamos desta bela notícia! A cada dia, nos jornais, na televisão e no rádio, o mal é contado, repetido e amplificado, fazendo as pessoas se acostumarem com as coisas mais horríveis, nos tornando mais insensíveis e de, alguma maneira, nos intoxicando”, acrescentou. O papa também afirmou que “o negativo nunca é totalmente eliminado, e dia a dia vai se acumulando”. “O coração endurece e os pensamentos ficam obscuros”, destacou.

As declarações de Ratzinger fazem lembrar fatos ocorridos recentemente. O presidente socialista da Bolívia, Evo Morales, criticou na terça-feira dia 8/12/2009 a “liberdade de expressão exagerada” que, segundo ele, impera em seu país, e lamentou a falta de apoio da imprensa durante sua campanha eleitoral. “Eu sou uma vítima permanente da imprensa. Existe uma liberdade de expressão exagerada” na Bolívia, afirmou o dirigente a uma jornalista em Cochabamba.

Durante a campanha eleitoral, a maioria dos meios de comunicação, controlada por empresários de direita, se posicionou contra Morales, que no entanto conseguiu se reeleger para um segundo mandato de cinco anos. Para Morales, uma grande parte da imprensa de Cochabamba é influenciada por uma jornalista de direita, deputada e ligada ao ex-presidente conservador Jorge Quiroga, além de desafeta do dirigente socialista; mas preferiu não citar nomes. Evo Morales mantém desde 2006 uma relação complicada com a imprensa em seu país.

Em setembro, o grupo Clarín, maior holding de mídia da Argentina, foi alvo de uma operação da Associação Federal de Ingressos Públicos (AFIP, equivalente a Receita Federal) do governo de Cristina Kirchner. Entre 180 a 200 fiscais do órgão tiveram acesso ao edifício onde funcionam as redações dos jornais Clarín, Olé e La Razón. Foi uma “operação de intimidação”, após denúncia publicada na edição do que dava conta que, por decisão da ONNCA (Oficina Nacional de Controle de Comércio Agropecuário), foram pagos mais 10 milhões de pesos em subsídios a uma empresa que estava em condição irregular, sem licença para funcionar. De acordo com a reportagem, o próprio órgão concedeu a empresa uma “matrícula provisória” após os subsídios. Associações de jornalistas denunciaram ao longo dos últimos anos intensas pressões do governo argentino aos profissionais da mídia, grampos telefônicos e ameaças diversas. Os escritórios do jornal Clarín foram atacados com pichações de militantes governistas. Enquanto foi presidente, Néstor Kirchner nunca deu uma entrevista coletiva. Sua mulher, Cristina, só aceitou entrevistas exclusivas com meios de comunicação aliados do governo.

Cristina também não veicula publicidade oficial nos jornais críticos. Mas, os empresários amigos do governo conseguem farta publicidade do governo. Esse é o caso de Rudy Ulloa, magnata da mídia no sul do país que lançou a revista Atitude, que na capa ostenta controvertido slogan: “Uma revista que não é independente.”

Também neste ano, na Venezuela o presidente Hugo Chávez não renovou a concessão do canal de TV oposicionista RCTV. Houveram manifestos das duas partes da população, aqueles que apóiam a decisão do presidente, e daqueles que são contra, que acusam o líder venezuelano de atentar contra a liberdade de expressão. A emissora privada de TV Rádio Caracas Televisión (RCTV) era o canal mais antigo do país e saiu do ar após 53 anos de exibição no canal 2. Segundo o presidente Hugo Chávez, a emissora não teve seu contrato renovado por prejudicar o socialismo do século XXI. Ao mesmo tempo em que diretores e funcionários se despediam da sua audiência com o slogan “Um amigo é para sempre”, confrontos de manifestantes com a polícia eram registrados na capital.

Mas o que Ratzinger, Morales, Cristina Kirchner e Chávez têm em comum? Porque a imprensa e os meios de comunicação os incomodam tanto?

Por um lado, o direito de contestar. Por outro lado, uma imprensa que não esteja vinculada ao sistema de poder. Segundo Noam Chomsky, professor de lingüística do Massachussets Institute of Technology (MIT) em Boston, e um dos principais críticos do modelo de sociedade norte-americana, “existe todo tipo de dispositivo de filtração para desfazer-se de gente que pensa de forma independente e possa criar problemas“. Chomsky se refere, explicitamente, aos meios de comunicação que não se alinham com os órgãos de poder em seus respectivos países.

Libertas quae sera tamen.

Polêmica Fúngica

Grupo de pesquisas da Holanda publicou recentemente artigo na revista The Lancet Infectious Diseases, questionando veementemente o uso de fungicidas agrícolas, uma vez que obtiveram fortes evidências que o uso destes promove resistência no fungo Aspergillus fumigatus, altamente patogênico para humanos. Os pesquisadores argumentam que tais fatos teriam conseqüências mundiais, segundo Paul Verweij, coordenador do estudo.

Porém, foram questionados por Herbert Hof, diretor do Instituto de Microbiologia Médica da Universidade de Heidelberg (Alemanha), que diz que os autores buscam ganhar espaço na mídia. Por outro lado, os resultados obtidos pelos holandeses foram apoiados por David Denning, professor da Universidade de Manchester e diretor do Centro Nacional de Aspergilose do Reino Unido.

Infecção pelo fungo A. fumigatus pode até mesmo levar à morte pacientes imunodeprimidos. Como o próprio nome do fungo atesta, o gênero Aspergillus apresenta uma grande disseminação pelo ar, o que torna fácil a inalação de seus esporos. Várias linhagens de Aspergillus são resistentes a alguns dos mais potentes antifúngicos conhecidos, como os “azóis”, uma classe de antifúngicos utilizado em agricultura. Os pesquisadores holandeses detectaram mutações genéticas em A. fumigatus isolado de ambientes hospitalares, o que pode indicar que pacientes destes hospitais podem estar infectados com A. fumigatus resistentes aos azóis. Tais antifúngicos são utilizados principalmente na Europa (muito menos nos EUA).

O risco do uso dos azóis têm sido debatido há vários anos. Em 2002, uma comissão da Comunidade Européia minimizou o fato. Esta notícia (desta postagem) foi publicada na revista Science, que diz ter recebido uma mensagem por email de Herbert Hof, afirmando que o surgimento de resistência em fungos é balela, pois estes não apresentam ativação de genes de resistência. Por fim, as companhias produtoras de antifúngicos dizem que não existe ligação entre o uso de azóis na agricultura e a infecção de pessoas por A. fumigatus resistente aos antibióticos.

E aí? Quem está com a razão?
Veja o artigo de Martin Enserink, “Farm Fungicides Linked to Resistance in a Human Pathogen”, Science, 2009, volume 326, p. 1173.

Blogs, microblogs, ensino e aprendizado

“Nossos estudantes mudaram radicalmente. Os estudantes de hoje não são mais as pessoas para as quais nosso sistema educacioal foi criado.”

Com esta frase, de autoria de Mark Prensky, os autores do artigo “Can Weblogs and Microblogs Change Traditional Scientific Writing?”, Martin Ebner e Hermann Maurer, iniciam a apresentação de um estudo extremamente interessante, realizado com alunos da Graz University of Technology da Austria.

Ao levantar questões como:
O surgimento da web 2.0 e do e-Learning 2.0, houve uma mudança radical de comportamento?
Os estudantes que estão ingressando nas universidades não são mais comparáveis aos de alguns anos atrás?
Como as novas tecnologias de ensino on-line são aceitas pelas pessoas que ingressam nas universidades?
Será que estas pessoas apenas consomem conhecimento ou também contribuem com seu trabalho e idéias?
Estas pessoas sabem como criar e manter um blog e outras ferramentas similares?
Qual o real benefício que estas pessoas podem obter de trabalhar com estas ferramentas?
O quanto os professores impedem estas pessoas de aprender, não oferecendo novas maneiras de aprender e de realizar trabalho em comunidade?
Se as pessoas estão se tornando cada vez mais “móveis”, porque elas não podem aprender de maneira “móvel”?
Seria este o desafio do futuro?
Por que não podemos adaptar comunicação informal, distribuição e estruturas de consumo em processos de aprendizado?
Pois, parece bastante óbvio que atualmente as crianças, estudanetes e professores estão praticando um tipo diferente de aprendizado e de ensino.

Os autores do trabalho consideraram seriamente a possibilidade de desenvolver novas abordagens de ensino, integrando blogs e microblogs (tipo Twitter) aos processos de criação, reflexão e discussão de conteúdo didático. Desta forma, em outubro de 2006 a Graz University of Technology criou uma blogosfera para todos os membros da universidade. Cada membro desta comunidade podia, então, criar seu próprio blog e escrever, colaborar na elaboração e repartir o conteúdo criado em seu blog. Os autores do trabalho utilizaram uma disciplina, “Aspectos Sociais da Tecnologia da Informação”, para aplicar sua idéia e verificar como os estudantes aceitariam estas atividades.

A disiplina em questão é ministrada anualmente a 200 alunos, sendo obrigatória para estudantes de informática, de maneira a estimular uma visão crítica nos alunos de como a informática influencia a sociedade humana na atualidade. Durante esta disciplina os estudantes assistem a 17 apresentações de profissionais da área, sobre temas como “Interação Computacional Humana”, “eSaúde”, “Blogs como mundos virtuais”, e também sobre o uso de informática em engenharia civil. Os estudantes devem:
a) realizar uma reflexão sobre as apresentações que viram, e formar sua própria opinião.
b) discutir sobre as apresentações assistidas.
c) observar critérios de qualidade nas discussões sobre as apresentações, levando-se em conta critérios, métodos e abordagens científicas.

Para o desenvolvimento das atividades pelos alunos, foram criados 4 grupos:
a) o “escritor científico”, alunos que deveriam escrever pequenos ensaios sobre tópicos de sua escolha, com data para entrega;
b) o “revisor científico”, alunos que recebiam os textos escritos pelo grupo anterior e deveriam revisá-los. Cada estudante deste grupo teve que revisar pelo menos 4 textos. Cada texto teve pelo menos 2 revisões;
c) os “bloggers”, que cuidaram de postar os textos criados pelo grupo a);
d) os “microbloggers”, que tinham que postar pelo menos 2 comentários por semana sobre os textos postados pelo grupo dos “bloggers”.

Como pode ser percebido pela figura a seguir, formou-se uma verdadeira “rede” entre os grupos participantes, que discutiram ativamente a elaboração, a revisão e o conteúdo dos textos postados.

Os autores do artigo dizem que, trabalhando desta maneira os estudantes tiveram que desenvolver a atividade com um bom nível de organização. Este fator foi muito positivo, tendo em vista que, pelo método tradicional (aplicado até então), os estudantes preparavam seus textos com uma antecedência mínima à data de entrega para o professor, sem tempo para discutir seus trabalhos. Trabalhando com os blogs e microblogs, todos os participantes geraram documentos ao longo de todo o semestre, os quais foram amplamente discutidos pela comunidade dos participantes. Foram agregados aos textos eletrônicos dos blogs elementos como vídeos e figuras, normalmente não utilizados quando os textos eram elaborados na sua maneira tradicional.

No fim do curso, os avaliadores na disciplina distribuiram um questionário para ser preenchido/respondido pelos alunos. 149 dos 185 matriculados (81%) responderam ao questionário. Dentre os que responderam, 129 não conheciam microblogs, 17 já tinham ouvido falar de microblogs, 2 já tinham utilizado microblogs pelo menos 1 vez e 2 utilizavam microblogs.

Dentre os que responderam, 79% disseram ter lido os textos produzidos pelos “escritores científicos” e 49% disseram ter lido os textos produzidos pelos “bloggers”.

A terceira pergunta apresentada pelos avaliadores da disciplina foi “O que você pensa da utilização de microblogs na educação universitária?”. Algumas respostasm foram:
– É útil para anúncios – datas de apresentações e compartilhamento de informações.
– Bom para troca de informações – melhora o desempenho daqueles que divulgam notícias.
– Microblogs podem ser utilizados para discutir vários assuntos.
– Microblogs ajudam a compartilhar links e idéias.
– São úteis para indicar uma postagem de um blog em particular.

Desta maneira, os autores do artigo dizem que a atividade resultou nas seguintes constatações:
a) um aumento no poder reflexivo dos estudantes, principalmente por terem desenvolvido a atividade de revisão, que levou muitos a apresentarem suas opiniões.
b) o grupo dos bloggers escreveram muito mais textos de caráter pessoal.
c) Os alunos se sentiram muito mais motivados para comentar os textos criados pelos “escritores científicos”, por ser muito mais fácil, rápido, e de maneira mais curta (menos prolixa). Alguns comentários muito curtos adicionaram muito pouco valor à discussão. Mas as discussões mais elaboradas promoveram um aumento no aprendizado dos alunos.
d) a qualidade dos textos melhorou, não somente pelo fato de plágios poderem ser detectados imediatamente, mas também porque os textos criados foram revistos e comentados.

Os autores do artigo conlcuíram que a utilização de blogs e microblogs pode melhorar aulas trazendo recursos da internet para a classe, para que sejam discutidos. Todavia, as novas tecnologias não podem substituir a produção de textos. Mas o compartilhamento de idéias funciona de maneira muito mais efetiva. Porém, a troca de opiniões deve ser feita de maneira segura e controlada, o que foi realizado pelos “microbloggers” utilizando as postagens dos “bloggers”. Um dos pontos mais positivos da abordagem utilizada foi que os estudantes escreveram sobre um mesmo tópico durante longos períodos (ao longo do semestre). Em geral, os “bloggers” discutiram muito mais suas postagens do que os “escritores científicos” discutiram seus textos. Ou seja, blogs e microblogs constituem boas ferramentas para promover a reflexão de estudantes durante períodos mais longos, através da exploração e discussão dos tópicos abordados.

Sinceramente, achei este artigo muito interessante. A referência completa é: Martin Ebner e Hermann Maurer, “Can Weblogs and Microblogs Change Traditional Scientific Writing?”, Future Int
ernet
2009, 1, pp. 47-58; doi:10.3390/fi1010047. O artigo pode ser baixado livremente aqui, pois a revista é de acesso livre.

Chimica di Stradivari

Antonio Stradivari é conhecido como um dos mais renomados luthiers, particularmente por ter feito aqueles que são considerados os melhores violinos de todos os tempos. Estes instrumentos foram feitos entre 1665 e 1737 em Cremona, na Itália. Seu trabalho é considerado como sendo do apogeu da tradição Cremonesa na confecção de violinos. Stradivari era particularmente cuidadoso no acabamento de seus instrumentos, que chamou a atenção não somente de músicos e historiadores, mas também de químicos.
Trabalho publicado na revista Angewandte Chemie International Edition por grupo de pesquisadores franceses coordenados por Jean-Philipe Echard, do Laboratoire de recherche et de restauration, Musée de La Musique, na Cité de La Musique, foi a fundo na análise dos componentes do acabamento de 5 instrumentos feitos por Stradivari: quatro violinos e uma viola d’amore. Os instrumentos analisados são: um modelo comprido, sem nome, datado de aproximadamente 1692; um modelo Davidoff, de 1708; um modelo Provigny, de 1716; um modelo Sarasate, de 1724; e uma “viola d’amore” da época de 1720.

Os pesquisadores se utilizaram de técnicas analíticas extremamente sofisticadas para a análise do acabamento destes instrumentos, de maneira a minimizar a retirada de material (madeira e acabamento). A camada de verniz, por exemplo, foi analisada espacialmente por espectroscopia de radiação síncroton em um micro-infravermelho por transformadas de Fourier (SR-FTIR). A composição elementar de átomos inorgânicos do acabamento foi analisada por microscopia de varredura eletrônica catódica de emissão de campo com raios X de dispersão de energia (SEM-EDX). Tais técnicas não são destrutivas, ou seja, permitem a análise do acabamento sem que seja necessária a decomposição da amostra utilizada. Por fim, a mesma amostra foi analisada por cromatografia gasosa pirolítica acoplada à espectrometria de massas (PyGC-MS), de maneira a investigar a composição molecular específica de cada camada da amostra.
O verniz externo do modelo “Provigny” mostrou ser constituído de partículas vermelhas, contendo pigmentos do tipo antraquinonas. A comparação com vários padrões indicou maior similaridade com ácido carmínico, componente do carmim de cochonilhas, insetos do continente americano. As partículas do modelo “Provigny” também mostraram ser ricas em alumínio e oxigênio. Desta forma, os autores chegaram à conclusão que a camada de corante foi feita se depositando ácido carmínico em uma camada de óxido de alumínio hidratado, provavelmente AlK(SO4)2.12H2O. A fonte de carmim deve ter sido provavelmente a cochonilha Dactylopius coccus L., abundante à época na América Central (tais insetos vivem associados a cactos).

No caso do modelo Davidoff e da viola d’amore, estes instrumentos apresentaram uma camada de cor mais opaca. A camada de tinta apresentou alto teor de ferro e oxigênio, provavelmente na forma de hematita ( Fe2O3) e magnetita ( Fe3O4).
Tanto o modelo “Provigny” quanto a viola d’amore têm uma camada externa resinosa, a qual foi analisada por PyGC-MS. Os principais ácidos encontrados, ácido azelaico e subérico, confirmaram a natureza oleosa da resina, uma vez que estes ácidos resultam da oxidação de ácidos graxos insaturados. Os autores também identificaram diterpenos derivados da oxidação de compostos do tipo abietanos e pimaranos, considerados marcadores moleculares de resinas de árvores do gênero Pinaceae.
Os cinco instrumentos apresentaram uma estrutura de acabamento muito semelhante, apesar de terem sido confeccionados ao longo de três décadas. Stradivari aplicou primeiro um óleo secante para “selar” a madeira. Em seguida, aplicou uma camada de óleo resinoso com tinta. O modelo longo não apresentou qualquer pigmento. O modelo Sarasate mostrou ter sido tratado com o pigmento vermelho “vermillion”.

Os autores assinalam que Stradivari utilizou materiais disponíveis na sua época para o acabamento de seus instrumentos, e era um luthier extremamente cuidadoso, que dominava perfeitamente a arte da confecção de violinos.
O artigo de J.-P. Echard, L. Bertrand, A. von Bohlen, A.-S. Le Hô, C. Paris, L. Bellot-Gurlet, B. Soulier, A. Lattuati-Derieux, S. Thao, L. Robinet, B. Lavédrine, S. Vaiedelich, The Nature of the Extraordinary Finish of Stradivaris Instruments, está no prelo na revista Angew. Chem. Int. Ed. (DOI 10.1002/anie.200906553).

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