Ondulações de Steve Paxton
Por ele mesmo, trecho da narrativa em Material for the spine, a movement study (Paxton, 2008)
Tradução de Marília Carneiro (2014)
Ondulações da coluna colocam o foco nas extremidades da coluna, porque são elas que iniciam o movimento.
Quando o topo da cabeça está liderando, a onda da ondulação se move para baixo, encadeando as vértebras em sequência. A pélvis é revelada como o final do trem, o vagão (caboose, no original), a vértebra mais baixa da sequência. É verdade que o cóccix é mais baixo na coluna, mas ele se move com a pélvis, exceto por um pequeno movimento para frente que ele pode fazer independentemente da pélvis. Entretanto, na sequência da onda, ele acompanha o sacro.
Explorar as sensações ao redor dos discos intervertebrais, suas localizações e suas formas, mostra possibilidades de rotação e de movimento. É informação sensorial sobre a natureza e o tamanho da coluna. Há compressão de um lado da curva e alongamento do outro. O que estava comprimido se alonga. Nós vamos da forma de um “C” para a se um “S”e vice versa. Esta é a onda.
Sentir as mudanças da forma é sentir como o movimento é distribuído por toda a coluna.
Ondulações também revelam (fazem ver, mostram) outras partes do corpo que querem iniciar o movimento ou ajudar a cabeça a se mover. Os ombros, por exemplo.
A ondulação nos permite reparar nos hábitos da coluna, seu comprimento, e suas extremidades se revelam pelas sensações do movimento. Isto é um achado, porque liberar a coluna dos ombros e explorar a coluna torácica pelas conexões das costelas nos dá acesso a outras possibilidades no alto da coluna.
Prática de treinamento e pesquisa
Realizada no módulo IV da Formação Contato: prática dirigida de puzzles e ondulações + danças de Contact Improv.
DADO SOMÁTICO DA PESQUISA EM DANÇA (o que a prática faz ao corpo daquela que dança, minha própria anotação depois de 3 dias da prática)
- Fadiga muscular ao redor da coluna e nos músculos das costas – dor associada
- Sensação nítida do comprimento e tridimensionalidade da coluna no tórax
- Consciência de coordenações motoras finas para a mobilização do tronco integrado com as forças abdominais, das pernas e dos braços
- Consciência dos esforços musculares e regulações de tônus exigentes, necessários para a mobilização do corpo a partir daí
Uma citação:
“Os mais relevantes aspectos da pesquisa de Steve Paxton para este estudo [MFS]
são: a consciência em relação à coluna de forma tridimensional e a sua
relação espiral com o restante do corpo; a ampliação da mobilidade da coluna
e a articulação de todos os músculos (grandes e pequenos) envolvidos
nela; e, finalmente, fortalecer a coluna com base no estudo dos rolamentos
do Aikidô. Paxton ressalta em seu argumento sobre essas questões, que são
processos de aprendizagem e de incorporação de procedimentos que voltam
para a dança e não se separam dela”. (Marengo & Muniz, 2018: p.153)
REFERÊNCIAS – INDICAÇÕES
Bibliográfica
Marengo, M. & Muniz, Z. Um Olhar sobre Material for the Spine, de Steve Paxton, Rev. Bras. Estud. Presença, Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 151-166, jan./mar. 2018. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/presenca>
DVD ROOM
Paxton, S. Material for the spine. A movement study. Contredanse, Bruxellas, DVD-room interativo, 2008.
Prática
Carneiro, M. Estudo dirigido da obra Material for the spine, a movement study, de Steve Paxton. Formação Contato – jornada de treinamento e pesquisa em Contact Improvisation, Campinas, curso extensivo, módulo IV, abr. 2018.
CONTEXTO
*Esse post é um exercício de apresentar os estudos realizados no chão de dança (onde acontecem as práticas de dança) por meio da produção escrita.
Doutora na área de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte (Brasil/UNICAMP, Canadá/UQAM e Moçambique/UEM), dançarina e coreógrafa indisciplinar, bacharelou-se em Dança na Faculdade Angel Vianna (Rio de Janeiro) e bailarina criadora no Ateliê Coreográfico sob a direção de Regina Miranda (RJ/NYC). É especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, mestre em Ciências da Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e atuou por 10 anos nas políticas públicas de saúde, inclusive a implantação do programa integral de atenção à saúde dos povos indígenas aldeados no Parque do Xingu, pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. Na área da Dança trabalhou com muita gente competente no meio profissional internacional da dança contemporânea. É improvisadora mais do que tudo, bem que gosta de uma boa coreografia. Esteve em residência artística em Paris por 3 anos, com prêmio do Minc. Mulher de sorte, estudou de perto com Denise Namura & Michael Bugdahn, da Cie. À fleur de peau (Paris). Pela vida especializou-se no Contact Improvisation (Steve Paxton), onde conheceu as pessoas mais interessantes do mundo. Estudou pessoalmente com Nancy Stark Smith, Alito Alessi (DanceAbility), Daniel Lepkoff, Andrew Hardwood, Cristina Turdo e toda uma geração de colegas que começou ensinar Contact na mesma época que ela. Interessa-se por metodologia de pesquisa em arte, processos de criação de obras e ensino-aprendizagem e formação profissional em Improvisação de Dança. Estudou no Doctorat en études et pratiques des arts (Montreal, no Canadá) com o privilégio da supervisão de Sylvie Fortin. É formada no Método Reeducação do Movimento, de Ivaldo Bertazzo (BR). Seu vínculo com a Unicamp é de ex aluna da Faculdade de Ciências Médicas e da Faculdade de Educação. Suas pesquisas triangulam a dança contemporânea no Brasil, Canadá e Moçambique. Idealizou, fundou em 2016, e dirige a plataforma interdisciplinar de ensino e pesquisa em prática artística Mucíná - Aquela que Dança. E-mail: marilia.carneiro@alumni.usp.br