Um pólo de Contato Improvisação em Campinas – ano 2012 – n.2

A extensão universitária como casa

A parceria com o Espaço Cultural Casa do Lago/PREAC/UNICAMP estava firmada e iniciamos o primeiro semestre com uma oficina de Improvisação de Dança, compartilhada com muita autonomia e colaboração, entre mim e Raquel Minako.

Raquel queria se tornar uma professora de Contato Improvisação. Cursava pedagogia na Faculdade de Educação e acabara de chegar de um período de viagem pela Europa, frequentando festivais de CI, um tipo de espaço que por muito tempo foi o principal meio de acesso à prática do CI, a oportunidade de encontro com outras pessoas que dançam esta dança.

Como parte de minha formação, frequentei também os festivais. O primeiro foi o que aconteceu em 2005 em Brasília, o primeiro festival internacional de Contato Improvisação do Brasil. Três anos mais tarde, em 2008, fiz parte da equipe que produziu a primeira edição do Contact in Rio, que é um marco do acontecimento da produção de festivais no país. Mas isto é uma outra história.

Print da postagem de divulgação.

Raquel e eu compartilhamos 4 meses de oficina, a partir do que ela tinha de anotações das aulas de CI que frequentou e eu mais especificamente a partir do método DanceAbility, com o qual estava trabalhando há 1 ano.

Junto da oficina começou também o projeto de Jams sessions mensais. Jam session é uma sessão coletiva de Improvisação de Dança que comporta CI (no nosso caso). Foram 4 jams, com focos diferentes. Em uma delas recebemos um convidado para focalizar, Henrique Iwao, que é de Belo Horizonte e fazia seu mestrado na Música, na UNICAMP.

Print de postagem em 30/3/12.
Cartaz de divulgação.

Realizei também uma mostra de filmes históricos e artístico de Contato Improvisação, no cinema da Casa do Lago. A mostra de filmes no cinema também passou a integrar as oficinas semestrais que seguiram até 2017, assim como o projeto das Jams.

Print da postagem de divulgação em 27/6/12.

Ambas as atividades migraram para os novos espaços de ensino aprendizagem e pesquisa que a plataforma Mucíná – Aquela que Dança passou a ocupar depois do período na Unicamp.

Em 2012 o Contato Improvisação completou 40 anos de existência e Campinas participou pela primeira vez formalmente do evento Global UnderScore (Carneiro, 2018), tendo a mim como satélite.

Em Julho 2012 a oficina terminou com uma Jam de despedida. Raquel estava de mudança para Finlândia, para estudar Educação Somática. Eu embarcaria para Montreal, no Canadá, para um estágio de pesquisa no exterior com bolsa da Fapesp, mas só no final de Agosto.

Em julho sustentei um espaço semanal de prática do Contato Improvisação, momento em que o nome CONTATO IMPROVISAÇÃO passou a orientar as minhas aulas definitivamente, lançando-me em um longo itinerário de pesquisa autodidata sobre o Contato Improvisação como prática de Educação” (Carneiro, 2021).


Solo de dança Muv tantan

 

 

Literalmente na véspera de embarcar para Montreal, onde vivi por quase 1 ano, apresentei o Solo de Dança Muv tantan na abertura do “Desguste”, evento realizado pela Cia Tugudum. Muv tantan abriu a roda de improvisação de dança focalizada por Valéria Franco, nome incontornável quando se pensa a Improvisação de Dança em Campinas, e pelo músico Stênio Mendes.

O solo é um experimento cênico ciclado, conceito que venho desenvolvendo em meu trabalho como criadora de obras desde 2008. O final do solo instaurava o espaço cênico e convidada o público a descer das cadeiras e entrar para a roda, improvisando. Mais de 50 pessoas entraram e algumas delas se tornaram minhas alunas e alunos na continuidade das oficinas na Unicamp quando voltei ao Brasil.  

 


Em Campinas, o movimento entrou em pausa. Em 2012 ainda não havia uma comunidade de prática reunida para manter os encontros e as práticas enquanto eu estava fora. Mais tarde isto se transformou, mas, como se diz, é um trabalho de formiguinha.

Montreal, parque de diversões para dançarinas profissionais

Em Montreal encontrei políticas de subvenção governamental ao treinamento regular de dançarinas e dançarinos profissionais. Encontrei também Studios e Centros Coreográficos, no plural, oferecendo diariamente aulas com artistas da dança, de toda parte do mundo. Fiz muitas aulas, com muita gente competente.

 

Estas aulas faziam parte dos meus preparatórios (oito para nada) (Carneiro, 2016), um componente metodológico que explicitei nas análises que apresento na minha tese de doutorado. Além delas eu tive um plano de estudos e cursei disciplinas sob a supervisão e em diálogo com minha professora, Sylvie Fortin.

Departamento de Dança UQAM, Montreal, 2012. Acervo pessoal.

Meu estágio estava vinculado formalmente ao DEPA – Doutorado em Estudos e Práticas das Artes da UQAM (Universidade do Québec em Montreal) e meu projeto se chamava “Estudos de etnografia de práticas artísticas e o campo de debates sobre metodologia de pesquisa em artes” (Carneiro, 2012).

Os estudos de metodologia que fiz durante o doutorado dão contorno e orientam meu pensamento na elaboração de uma abordagem autoral da prática de pesquisa e pedagógica do Contact Improvisation. Todas as práticas de CI que realizei em Campinas durante esta década tratada na série Ci fora do eixo, são a parte empírica do processo orientado pelos estudos de metodologia.

Departamento de Dança UQAM, Montreal, 2012. Acervo pessoal.

Em Montreal, especificamente do mundo do Contact Improvisation, participei de workshops com Andrew Harwood, Benno Voorham e Daniel Lepkoff. Os três são nomes da primeira geração de bailarinos que estudou diretamente com Steve Paxton a partir de 1972. Lepkoff sendo parte da equipe da Contact Quarterly até os dias de hoje.

Participei também do Festival de Contact Improvisation de Montreal, onde conheci o movimento de CI no Canadá, as danças, as conversas, o jeito de ser comunidade.

O ano de 2012 terminou e eu embarquei de ônibus para os Estados Unidos. Fui até EarthDance, conhecido como a meca do Contato Improvisação. Fui participar, como parte dos meus estudos de etnografia das práticas artísticas, do January Workshop com Nancy Stark Smith, minha professora. Mas isto já é 2013. Este post encerra aqui.

Referência 

Carneiro, Marília (coreógrafa). Solo de dança contemporânea Muv tantan. Espaço Tugudum. Campinas, 17ago2012.

Carneiro, MCGC. Mucíná wa Maputz *aquela que dança em Maputz* – um estudo do método etnográfico na pesquisa em prática artística em dança contemporânea, em Maputo. Tese de doutorado. Faculdade de Educação/UNICAMP, 2016.

Carneiro, Marília. Contato Improvisação como prática de educação. Notas de pesquisa. 2021. Mimeo.


A próxima postagem traz o ano de 2013 – Nos Estados Unidos com Nancy Stark Smith, Casa do Lago e Moçambique. Veja a postagem n.3.

————– Projeto histórias e temporalidade do processo de consolidação de Campinas como um pólo de ensino e pesquisa em Contact Improvisation. Realização Mucíná – Aquela que Dança, produzido para o canal Cultura Abraça Campinas, com apoio de recursos da Secretaria Municipal de Cultura de Campinas ————— Inclui a série no blogs.unicamp.br/chao e o perfil na rede social instagram @ciforadoeixo

 

Mucíná - Aquela que Dança | marilia.carneiro@alumni.usp.br | Website | + posts

Doutora na área de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte (Brasil/UNICAMP, Canadá/UQAM e Moçambique/UEM), dançarina e coreógrafa indisciplinar, bacharelou-se em Dança na Faculdade Angel Vianna (Rio de Janeiro) e bailarina criadora no Ateliê Coreográfico sob a direção de Regina Miranda (RJ/NYC). É especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, mestre em Ciências da Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e atuou por 10 anos nas políticas públicas de saúde, inclusive a implantação do programa integral de atenção à saúde dos povos indígenas aldeados no Parque do Xingu, pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. Na área da Dança trabalhou com muita gente competente no meio profissional internacional da dança contemporânea. É improvisadora mais do que tudo, bem que gosta de uma boa coreografia. Esteve em residência artística em Paris por 3 anos, com prêmio do Minc. Mulher de sorte, estudou de perto com Denise Namura & Michael Bugdahn, da Cie. À fleur de peau (Paris). Pela vida especializou-se no Contact Improvisation (Steve Paxton), onde conheceu as pessoas mais interessantes do mundo. Estudou pessoalmente com Nancy Stark Smith, Alito Alessi (DanceAbility), Daniel Lepkoff, Andrew Hardwood, Cristina Turdo e toda uma geração de colegas que começou ensinar Contact na mesma época que ela. Interessa-se por metodologia de pesquisa em arte, processos de criação de obras e ensino-aprendizagem e formação profissional em Improvisação de Dança. Estudou no Doctorat en études et pratiques des arts (Montreal, no Canadá) com o privilégio da supervisão de Sylvie Fortin. É formada no Método Reeducação do Movimento, de Ivaldo Bertazzo (BR). Seu vínculo com a Unicamp é de ex aluna da Faculdade de Ciências Médicas e da Faculdade de Educação. Suas pesquisas triangulam a dança contemporânea no Brasil, Canadá e Moçambique. Idealizou, fundou em 2016, e dirige a plataforma interdisciplinar de ensino e pesquisa em prática artística Mucíná - Aquela que Dança. E-mail: marilia.carneiro@alumni.usp.br

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