O Rei da Amazônia: o Super Croc da selva

 

Figura acima: Fóssil do crânio do P. brasiliensis e a reconstrução computadorizada em escala. Direitos autorais: Tito Aureliano, 2009.

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Para inaugurar minhas postagens, preparei um breve resumo sobre o meu objeto de estudo atual. O Purussaurus brasiliensis, o caiman gigante da Amazônia.

O primeiro espécime de P. brasiliensis foi descoberto no interior da Amazônia do século XIX, na região onde hoje é a divisa entre os estados do Acre e Amazonas.

Seu descobridor, Barbosa-Rodrigues, descreveu e relacionou os restos do novo animal gigante ao gênero Caiman, devido a grandes semelhanças osteológicas. Porém, esta classificação viria a ser destituída frente a caracteres únicos apresentados pelo novo caimanidae.

Os fósseis encontrados por Barbosa foram levados, na época, ao Museu Botânico de Manaus, hoje inexistente. Frente ao fechamento desta instituição, os materiais originais (o holótipo – o primeiro do gênero e espécie) de P. Brasiliensis infelizmente desapareceram.

Alguns colegas paleontólogos acreditam que os fósseis podem ter ido para na Itália, na casa de algum parente do cientista do Museu…. A verdade é que niguém encontrou o material e estes deram-se como perdidos para comunidade científica. Isso acabou não sendo um grande problema, acredite sse quiser! Hoje temos materiais abundantes desse o Super Croc Amazônico depositados nas coleções do Museu Paleontológico da Universidade Federal do Acre (UFAC) e em instituições peruanas e bolivianas. Atualmente, o P. Brasiliensis é um dos Super Crocs melhor conhecido, se comparado com outros gigantes famosos, como o Deinosuchus  e o Sarcosuchus.

Os fósseis da maior espécie Purussaurus, a brasileira, estimada em 12,5 m, são provenientes dos depósitos do Mioceno Superior da Bacia do Acre, localizada no coração da Amazônia Ocidental. Uma intrépida localização que veio sendo explorada primeiramente por diversos paleontólogos como L. I. Price, Alceu Ranzy, Jean Bocquentin-Villanueva, Jonas Souza-filho, Ricardo Negri, Edson Guilherme e Andrea Maciente.

Figura acima: Mapa da localização do Sítio Paleontológico Niterói, no Acre. Amazônia Sul Ocidental. Direitos autorais: Tito Aureliano, 2009.

Eu tive o prazer de conhecer a equipe da UFAC para participar de uma das expedições no início da primevera de 2009, quando o nível do Rio Acre é baixo e é possível realizar escavações à beira do mesmo. Foi uma experiência excepcional, bem melhor do que esperava, levando em conta ter passar uma semana na mata tendo que conviver com pessoas desconhecidas.

 

Figura acima: Dr. Edson Guilherme, à direita, e eu escavando um par de mandíbulas de Purussaurus na expedição de 2009. Sítio Niterói, Acre. Direitos reservados.
 

Até o presente, três espécies de Purussaurus foram descritas: P. brasiliensis, do Mioceno Superior da Formação Solimões (Brasil, Peru e Bolívia),  P. Neivensis, do Mioceno Médio da Fm. La Venta (Colômbia), e P. mirandai, do Mioceno Superior da Fm. Urumaco (Venezuela).


Figura acima: Purussaurus neivensis. Crânio. Depositado na coleção da INGEOMINAS, Bogotá, Colômbia. Direitos autorais: Tito Aureliano, 2009.
 

No caso do P. Brasiliensis, nosso super-predador amazônico de 8 milhões de anos, o crânio possuía uma extensão de mais de 140 cm, maior que o de um Tyrannosaurus rex! Adaptações específicas como o achatamento do crânio, sua robustez e a expansão da fossa nasal, levaram os pesquisadores a supor que poderia suportar um estresse de choque e pressão absurdamente alto. Mas somente agora, estudos dedicados no assunto vem sendo realizados. Esse é o tema da pesquisa que estamos realizando no momento e andamos apresentando em alguns congressos.

Materiais antigos vêm sendo revisados e novos, descobertos.

O interessante é que esses monstros têm muito mais a nos ensinar através de sua robustez e força bruta. Os Purussaurus foram muito abundantes durante finais do Período Mioceno, mas a super-população subitamente extinguiu-se. Foi um evento ambiental? Paleoecológico? Os dois?

Por meio dos estudos mais detalhados do Super Croc poderemos em breve responder de forma mais acurada essas questões. Assim que obtivermos novos resultados, revelaremos ao leitor mais detalhes do andamento nossa pesquisa. Ajudar a revelar os segredos da Amazônia Miocênica é realmente um trabalho excitante  echeio de surpresas!

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