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>"Sea Dragons"

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“Sea Dragons:
predators of the prehistoric oceans”
(Richard Ellis, 2003)


Meses atrás estava procurando literatura científica para enriquecer o conhecimento sobre os grandes grupos de répteis marinhos do Mesozóico – Ictiossauros, Plesiossauros e Mosassauros. Descobri o livro “Sea Dragons – predators of the ancient oceans”, de autoria de Richard Ellis: uma verdadeira bíblia para interessados no assunto, a qual recomendo para qualquer paleontólogo de vertebrados ou entusiasta na área.

O livro descreve detalhes sobre fauna Mesozóica dos três maiores grupos de répteis marinhos, incluindo peculiaridades sobre cada espécie encontrada e seus respectivos paleoambientes. Ele tem um panorâma mundial, não se limitando-se a regiões geográficas específicas como outros livros encontrados na literatura sobre o assunto.

Figura acima: Plesiossauro – elasmossaurídeo predador. Richard Ellis.

Ellis realizou suas próprias ilustrações em nanquim, tanto para os materiais fósseis apresentados, quanto para as reconstruções dos animais. Para quem aprecia Paleoarte, portanto, esse livro torna-se ainda mais interessante.

O mais fantástico é o fato de o autor ser um artista plástico e não um ‘cientista/paleontólogo’ propriamente dito. Apaixonado pelo tema, Ellis fez um ótimo trabalho, tendo recebido consultoria e auxílio de várias sumidades no assunto. O resultado final foi amplamente aprovado! Isso é prova de que não é necessário ser um ‘Doutor na área’ para produzir literatura científica de qualidade – basta o esforço, muita dedicação e profissionalismo.

O livro possui um rico levantamento de dados e bibliografia para quem deseja buscar informações mais aprofundadas e mantém uma linguagem, que apesar de técnica, é acessível para o público geral.

Observação: “Sea Dragons” foi escrito em 2003, portanto o leitor deve ter em mente que algumas poucas teorias citadas no livro já foram derrubadas. Alguns animais descritos mais recentemente também faltam nas listagens. Entretanto, o livro é um must com todo o conhecimento adquirido até a data que foi publicado.



Eu Aprovei!

Figura acima: Mosassauro. Richard Ellis.

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Confira no link abaixo:



>Uma introdução à respeito dos Monstros Marinhos do Cretáceo

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Durante a Era Mesozóica, os mares eram habitados por uma formidável diversidade de répteis marinhos. O enfoque desse texto introdutório é para os três grupos extintos mais conhecidos desses animais: os Ictiossauros, os Plesiossauros (Pliossauros inclusos) e os Mosassauros.

Figura 1: Cladogramas de répteis marinhos mesozóicos.
Fonte: SCIENCE. www.siencemag.org

Figura 2 Reconstrução de Ictiossauro caçando um amonite.

By Jorge Gonzales.

O primeiro grupo a ser apresentado, os Ictiossauros (figura 2), eram extremamente adaptados à vida marinha. Possuiam um corpo aquadinâmico, semelhante ao de um golfinho, com membros em formatos de pás, nadadeiras caudais verticais, como as de um tubarão, focinhos longos, e, em espécies mais derivadas, barbatanas dorsais (há restos de fósseis com registro de contorno de barbatanas dorsais para alguns gêneros, como observou McGowan à respeito dos melhores fósseis encontrados para esse grupo na região de Holzmaden, na Alemanha).

A locomoção dos Ictiossauros se dava por propulsão em alta velocidade dada por meio de sua poderosa cauda com o direcionamento da barbatana (para os indivíduos que tinham essas características já desenvolvidas) e nadadeiras. O seu hábito alimentar envolvia basicamente uma dieta de cefalópodes, ingeridos por meio de sucção (como algumas baleias modernas). Sua reprodução era ovovivípara, ou seja, os filhotes eram expelidos do corpo já formados: há amplo registro fóssil de fetos associados as mães que teriam morrido por complicações no parto — Para alguns pesquisadores, todavía, há também a teoria que os fetos poderiam ser expelidos do corpo das mães pós-morten, como McGowan propôs baseado em carcaças de baleias na Tasmania que liberaram os fetos depois de mortos.

Os Ictiossauros surgiram no início do Período Triássico e extiguiram-se no Neocretáceo, há cerca de 90 milhões de anos. Um dos gêneros encontrados na Colômbia, Platypterygius, foi um dos últimos antes que o grupo se extiguisse. O gênero Platypterygius encontrava-se também nos mares da América do Norte, Europa, Rússia, Índia e Austrália.

Figura 3: Reconstrução computadorizada de um Plesiossauro.

Figura 4: Reconstrução computadorizada de um Plesiossauro Elasmossauro. Fonte: Johnson Mortimer.


Os Plesiossauros compunham o grupo de predadores marinhos mais bem-sucedidos e melhor distribuídos durante todo o Mesozóico. Tinham formas e tamanhos variados, que incluíam animais de pescoço longo com cabeça pequena ou de pescoço curtos com cabeça enorme, mas geralmente possuíam a cauda muito curta e as nadadeiras bem desenvolvidas.

O grupo surgiu no meio do Período Triássico e seguiu até o Maastrichiano (final do Período Cretáceo), onde enfrentou sua ext
inção, sem deixar descendentes de alguma forma. Há alguns que acreditam na existência de Plesiossauros vivendo isolados no Lago escocês Loch Ness. Até hoje, porém, não houve evidências concretas e toda aquela história não passa, na verdade, de mito.

Os Plesiossauros (Diapsida: Sauropterygia: Plesiosauria) eram compostos por dois grandes grupos: os Elasmossauros (com cabeças incrivelmente pequena e um pescoço muito longo. Figuras 3 e 4); e os Pliossauros (com pescoço curto e cabeças enormes).

Não há registro de fetos fósseis para o grupo, logo não é sabido se esses animais davam à luz aos seus filotes na agua, ou se desovavam na praia. A constituição robusta caixa toráxica foi justificada por alguns cientistas para defender a teoría de os Elasmossauros pudessem ir à praia, em terra firme. Entretanto, as nadadeiras compridas e os pescoços muito longos os tornariam muito desajeitados fora da água e eles se tornariam presas fáceis para dinosauros carnívoros ou crocodilianos. Atualmente, a grande maioria dos paleontólogos acreditam ser quase impossível que esses animais saíssem da água.


Figura 5: Reconstrução computadorizada de um Kronosaurus.

Figura 6 (autoria desconhecida): Reconstrução computadorizada de um Kronosaurus.


“O Liopleurodon ergue sua cabeça robusta vagarosamente e movimenta suas nadadeiras. À medida que ele avança, amonites agitam-se na agua e os peixes escondem-se nos corais em seu temor. Sua boca abre e atinge gravemente a porção do meio de um Ophthalmosaurus. A força de seu ataque carrega ambos sua cabeça e sua presa para fora da agua, onde, por um breve instante ele pausa antes de trazer ambos abaixo com uma força explosiva. Há sangue por todos os lados. Sua vítima more instantaneamente, seu corpo perfurado pelos longos dentes e suas costas quebradas. O Pliossauro ajeita sua presa na boca, mordendo e sacudindo-a repetidamente (…) Ele volta à superficie erguendo a garganta rosada e engolindo.”
(Haines)

Liopleurodon tratava-se de um Pliossauro. Colossais predadores, entre os maiores répteis carnívoros que já viveram.

As primeiras formas intermediárias entre os plesiossauros e os pliossauros surgiram no início do Jurássico, como os Macroplata longirostris, M. tenuiceps e possivelmente Eurycleidus arcuatus. Eram plessiossauros de pescoço mais curto e crânio ligeiramente mais robusto.

O gênero Pliosaurus é conhecido para o Jurássico Médio, e foi um dos primeiros do grupo a ter as características que os definem.

Ao Final do Jurássico e Cretáceo, diversas formas floresceram, incluso os colossais predadores Liopleurodon, Kronosaurus, Mareasaurus, Brachauchenius, Megalneusaurus e Peloneustes. Sua distribuição era ampla, incluindo as Américas, a Europa, a Ásia e a Oceania.

Em 1992, o Paleontólogo alemão Oliver Hampe descreveu um enorme Pliossauro proveniente da região de Boyacá, ao norte da Colômbia. Ele foi nomeado Kronosaurus boyacencis, embora suas costelas, demasiado robustas (diferente do encontrado em outros do grupo), pudessem ser peculiares o suficiente para que se levantasse a hipótese de um novo gênero para a América do Sul. Os Kronosaurus (figuras 5 e 6) estavam distribuídos desde a Austrália até a Colômbia.

Ao final do Cretáceo foram extintos, assim como tantas outras espécies marinhas.


Figura 7: Reconstrução computadorizada de Mosassauros.
Fonte: Johnson Mortimer.

 Figura 8: Reconstrução de Mosassauro.
Fonte: Walter Colvin.

Os Mosassauros (Figuras 7 e 8) foram criaturas aparentadas aos lagartos varanídeos atuais. Eram extremamente bem adaptados à vida marinha: enormes predadores de corpo alongado, esguio, dentes triangulares afiados e uma comprida cauda que lhes dava propulsão para perseguir suas presas.

Esse grupo evoluiu rapidamente (em termos de escala geológica) durante meados do Período Cretáceo. Há 90 milhões de anos atrás, Mosassauros já habitavam diversas regiões do globo e estavam entre os animais marinhos mais bem-sucedidos daquele momento. Alguns pesquisadores sugeriram que os Mosassauros teriam gradualmente substituído o nicho ecológico dos Ictiossauros, que se extinguiram no início daquele Período. Entretanto, parece haver uma incompatibilidade em relação aos hábitos alimentares dos dois grupos para que sustentasse essa idéia.

Mosassauros, assim como diversos outros grupos, foram totalmente extintos durante o final do Cretáceo.




Bibliografia:
. Ellis, Richard. Sea Dragons: predators of the prehistoric oceans. University Press of Kansas, 2003.
. Motani, Ryosuke. The Evolution of Marine Reptiles. Evo Edu Outreach (2009) 2:224–235. Acesso livre em Springerlink.com, 2009

>Monstros marinhos de sangue-quente

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Durante a Era Mesozóica os oceanos eram habitados por uma diversa fauna de répteis marinhos. Plesiossauros, Ictiossauros e Mosassauros compunham esse elenco de famosos monstros bizarros. Mas uma questão que sempre motivou discussões foi quanto o metabolismo desses animais: seriam eles endotérmicos, ou seja, capazes de regularem a temperatura corporal?

A Paleontologia alinhada à Geoquímica trouxeram uma resposta à essa questão. Pesquisadores franceses realizaram estudos recentes com isótopos de oxigênio (O-18/O-16) contidos em fósseis dos três mais famosos grupos de répteis marinhos mesozóicos: os Plesiossauros, os Ictiossauros e Mosassauros. Eles compararam a composição dos isótopos de oxigênio no fosfato dos dentes daqueles grupos com os de peixes que coabitaram os mesmos ambientes.

O valor de O-18 contido no fosfato de vertebrados indicam ambos: a temperatura corporal e a composição da água ingerida. No caso dos répteis estudados, a valor de O-18 reflete o sangue durante o processo de formação dos dentes. Assumindo que ambos os répteis e peixes estudados viveram sob as mesmas condições de massa de água, o O-18 indicaria a temperatura corporal deles. E assim foi feito, analisando amostras do mundo todo. Veja a tabela abaixo:



Abaixo estão as tabelas com os valores específicos para todo o material encontrado em uma mesma camada de sedimento. Os erros estão elevados pois tiveram de ser considerados os processos diagenéticos (de formação do fóssil), onde pode ter ocorrido uma variação da composição original dos matérias coletados.

           
Apesar de todas as variáveis existentes, é possível observar a partir dos gráficos acima, que mesmo com a variação da temperatura da água, os répteis marinhos estudados conseguiam manter relativamente sua temperatura corporal, com exceção dos Mosassauros, que permitiriam que sua temperatura diminuísse levemente a medida que a temperatura da água também diminuísse.

A endotermia não é característica de um grupo apenas. A endotermia total ou parcial surgiu ao longo do tempo em diferentes espécies de diferentes linhagens. É sabido que alguns tipos de tubarões e atuns possuem endotermia parcial, assim como também alguns insetos e até mesmo vegetais. Acredita-se que a origem da endotermia total tenha ocorrido somente no Permiano, com os Sinápsidos. 

No grupo dos Arcossauros, propuseram a endotermia para dinossauros e pterossauros. Já quanto aos crocodilianos, ainda é tópico de debate sobre se alguns de seus ancestrais  teriam desenvolvido tal capacidade, tendo em vista que o coração de seus representantes atuais possui quatro câmaras assim como o das aves e mamíferos.

A termorregulação pode ser um indicador para o sucesso evolutivo dos répteis marinhos gigantes, afinal, eles deveriam necessitar de uma enorme quantidade de energia para suas atividades predatórias. Essa peculiaridade fisiológica lhes teria dado maior flexibilidade comportamental.

À respeito dos grupos comentados

As três linhagens de répteis marinhos gigantes enfocadas no texto representam adaptações de diferentes grupos à vida marinha. Os Ictiossauros evoluíram a partir de répteis neodiápsidos basais. Tinham o formato de corpo parecido com o dos golfinhos atuais, sem pescoço, mas uma cauda parecida com a de um peixe. Já os Plesiossauros eram diápsidos derivados — Sauropterygia, o grupo irmão dos Lepidosauria (cobras e lagartos). Tinham fortes patas em forma de pás e um longo pescoço. Os Mosassauros eram varanóides anguimorfos altamente adaptados à vida marinha. Possuiam o corpo alongado, cauda larga e chata na vertical e patas em formas de pás. 

Tanto a morfologia dentária e o conteúdo estomacal desses três grupos de répteis marinhos indicam que eram predadores. Sua fisiologia indica que eram excelentes nadadores, resistentes a diferentes temperaturas, sobretudo os Mosassauros e Plesiossauros, que poderiam realizar longas jornadas em mar aberto.





Referências Bibliográficas:

. A. Bernard, C. Lecuyer, P. Vincent, R. Amiot, N. Bardet, E. Buffetaut, G. Cuny, F. Fourel, F. Martineau, J.-M. Mazin & A. Prieur, 2010. Regulation of Body Temperature by Some Mesozoic Marine Reptiles. Science, 328 (5984): 1379 DOI: 10.1126/science.1187443

. R. Montani, 2010. Warm-blooded Sea Dragons. Science, 328 (5984).