8 meses de pandemia. Mais de 58 milhões de casos mundo a fora, e próximo de 1,4 milhão de mortes. A maior crise sanitária do século1. Ultrapassando o HIV na década de 80, a SARS em 2003, a H1N1 em 2009 e o Ebola entre 2013-2016.
Tempos sombrios, sem dúvida. Mas também tempos de esperança.
Por um lado temos um vírus facilmente transmissível e que já atingiu todo o globo. Por outro lado, temos todo o aparato científico e tecnológico que desenvolvemos nas últimas décadas para combatê-lo.
Nossa principal arma?
As vacinas!
Vacina é um termo cunhado em 1798 por Edward Jenner, pai da imunologia. As vacinas são uma medida fácil, rápida e com poucos riscos para a saúde. Além disso, elas são capazes de proteger a população contra patógenos e limitar sua transmissão.
Entretanto, (sempre há um entretanto) seu único problema: um desenvolvimento que leva em média 10 anos.
A vacina mais rápida a ser desenvolvida até então demorou 4 anos. Ela foi feita por Maurice Hilleman, durante a década de 60, no combate à caxumba2.
– Ok, Maurílio, já entendi! Vacinas são ótimas! Mas tudo o que tem sido publicado parece confuso né?
– Calma lá! No post de hoje vamos falar um pouco sobre as fases de teste e eficácia!
Entretanto, o tempo urge!
A segunda onda chegou. A cada dia mais pessoas contaminadas e mais vidas são perdidas para o SARS-CoV-2. Os hospitais se enchem de pacientes com casos severos e graves novamente. Cidades e países entram em novos lockdowns.
Mas a ciência não parou também.
Centenas de cientistas em universidades e empresas procuram entender melhor como esse vírus funciona. Bem como, que medicamentos usar para combatê-lo após a pessoa se infectar e, principalmente, desenvolver uma vacina para ele. O esforço que tem sido feito para esse último grande! E é tão grande que o recorde de 4 anos para uma vacina ser desenvolvida está próximo de ser quebrado. Assim, após oito meses, 3 candidatas a vacinas já liberaram resultados preliminares da terceira fase de teste para a mídia. Lembrando que a fase três é a final e com maior número de pessoas. As vacinas são da Pfizer/Biontech, Moderna e AstraZeneca/Oxford – 3,4,5. Apesar da comunidade científica e os órgãos regulamentadores ainda precisarem avaliar e aprovar tais resultados para o uso ser liberado à população.
O que é essa eficácia das vacinas que tanto falam?
Uma coisa que tem se falado muito nas notícias sobre esses resultados é a eficácia de X% e número de eventos. Mas será que todos sabem o que é isso?. Para entender melhor, vamos precisar relembrar brevemente para que servem as 3 fases de testes de uma vacina. Queres saber mais sobre o assunto? Então dá uma olhada na seleção de textos sobre vacinas já publicados no blog.
Fase 1
Os testes realizam-se em algumas poucas dezenas de pessoas para se verificar principalmente a dosagem. Isto é, a quantidade aplicada e quantas aplicações são necessárias. Além disso, a segurança da vacina também é testada. Isto é, sua toxicidade.
Fase 2
Na Fase 2, o teste acontece em algumas centenas de pessoas. Dessa forma, neste caso, um grupo um pouco mais diverso do que na fase anterior e com algumas características (como idade e sexo) do grupo de risco. Além disso, nesta fase também se analisa a imunogenicidade da vacina, junto com os efeitos colaterais. Imunogenicidade é uma palavra difícil né? Mas em termos mais simples, quer dizer que verificam a capacidade dela gerar uma resposta imune no organismo. Ou seja, número de células, quantidade de anticorpos, perfil de linfócitos, entre outras características.
A fase 2 também é quando aplicamos a candidata à vacina propriamente dita em um grupo e o placebo (água com sais minerais) em um outro. Este grupo placebo funciona como controle para a pesquisa. Isto é, um comparativo para se ter certeza que a aplicação da vacina está realmente criando uma resposta imune maior do que o normal.
Fase 3
Por fim, há a Fase 3 – a maior e mais demorada. Milhares de pessoas passam pela pesquisa e são testadas nesta fase. A seleção destas pessoas é feita a partir da diversidade, pois é necessário diferentes características em dois grupos. Novamente, um grupo vai receber a candidata a vacina, enquanto o outro recebe um placebo. As características analisadas, nestes grupos, são por exemplo, etnias, idade, sexo, com doenças cronicas, etc.
Além disso, as pesquisas verificam novamente a segurança e possíveis efeitos colaterais. Desta vez, levando em conta as muitas condições já comentadas. Assim, o principal intuito dessa fase é avaliar a efetividade da resposta imune criada pela vacina, respondendo perguntas como “Qual a eficácia da vacina? Qual a duração da imunidade gerada? A vacina é capaz de parar a transmissão do patógeno?”.
Pausa para ver o material que a gente preparou prá mandar nos grupos do whats da família 😉
Mas, a eficácia?
No caso da eficácia, as pesquisas analisam quantas pessoas que receberam a vacina ficaram doentes e quantas pessoas que receberam o placebo ficaram doentes. Isto após a aplicação e durante o período de acompanhamento. Confuso? Nada melhor do que um exemplo para entender:
“Suponha que 50.000 pessoas serão testadas, 25.000 com a vacina e 25.000 com o placebo. Desses 50.000, 100 se contaminaram com o patógeno em um período de 3 anos. Analisando essas 100 pessoas que se infectaram, descobriu-se que 97 delas estava no grupo que recebeu o placebo e somente 3 no grupo vacinado. Fazendo uma divisão simples, descobre-se então que a vacina tem uma eficácia de 97%.”
Esse assunto é muito amplo e por causa disso vamos dividir esse texto em duas partes. Fica ligado que nos próximos dias já vai sair a parte 2 desta postagem! Vamos explicar o que são os “eventos” que tem saído nas notícias da mídia. Além disso, a relação entre células de memória e a proteção gerada por elas e os resultados preliminares liberados pelas empresas.
Para saber mais
- WHO Director-General’s opening remarks at the media briefing on COVID-19 – 16 March 2020, Acessado em: 24/11/2020.
- Maurice Hilleman, o médico que criou a vacina mais rápida da história por causa da filha de 5 anos. Acessado em: 24/11/2020.
- PFIZER AND BIONTECH CONCLUDE PHASE 3 STUDY OF COVID-19 VACCINE CANDIDATE, MEETING ALL PRIMARY EFFICACY ENDPOINTS, Acessado em: 18/11/2020.
- Early Data Show Moderna’s Coronavirus Vaccine Is 94.5% Effective, Acessado em: 19/11/2020.
- AZD1222 vaccine met primary efficacy endpoint in preventing COVID-19, Acessado em: 23/11/2020.
- Vaccines and immunization: What is vaccination? Acessado em: 24/11/2020
Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19
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