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Contactimpro & Improvisation and Performance, grupo criado e dirigido por Marília Carneiro, tem a ideia,
como o próprio nome diz, performances em Contato Improvisação (CI). Há, também, um
objetivo mais profundo que é construir um grupo consistente de exploração e pesquisa de
movimentos em CI. Inscrevi-me como improvisadora e como investigadora na produção de
texto (além destas, há a possibilidade de participar como investigadora na produção de
imagens e de desenho). Este texto, então, faz parte desta investigação e tem o intuito de
produzir um diário de pesquisa dos encontros que teremos semanalmente. Irei contar a minha
experiência com reflexões e questionamentos que surgem na prática e performance de CI. O
registro parte do meu ponto de vista, de forma que mesmo fazendo parte de um grupo, o texto
pode não corresponder com as experiências de outros integrantes. Tentarei apresentar em
meus textos um olhar analítico-descritivo do movimento tanto da minha dança quanto as
observadas de outros improvisadores, assim, buscarei passar minhas impressões, percepções
e observações dos movimentos, das danças e de participação do grupo. Ressalto que é uma
tentativa já que minha posição como improvisadora, como produtora de texto e analítica de
movimento está em processo de formação. Esse texto, assim como, as danças que travo no
tatame, tem caráter experimental, de forma que não há um padrão a ser seguido e cada texto
pode ter um formato diferente.
Após a inscrição respondendo um questionário em que pensei muito ao responder cada
pergunta, no dia 9 de agosto, ocorreu uma seleção na Casa do Lago, espaço onde realizamos
os ensaios. Apareceram dezessete pessoas, algumas conhecidas de aulas de CI em
semestres passados. Primeiro, cada um falou sobre si e suas expectativas ao participar do
grupo. Uma das coisas que me fascina no CI é esta abertura na prática em que se reúnem
diferentes subjetividades com diferentes experiências de movimentos. Como se em cada
processo individual encontrasse no CI uma possibilidade de ter dança em sua vida e como ele
se encaixa no processo de cada um. Os presentes na seleção, a maioria não tinha formação
em dança. Diferentes experiências reunidas por uma mesma prática, o CI.
Depois desta apresentação, iniciamos a prática em que Marília ao tocar o sino, nós tínhamos
que parar o que estivéssemos fazendo e começar outra dança. Chamo o entre-tocar do sino de
momentos. Primeiro momento é uma preparação, concentração, centralização e abertura, faço
isso me alongando, respirando e sentindo o meu corpo. A pergunta que late é “o que vai
surgir?”. Toca o sino. Segundo momento, surge o movimento. Movimento que vem de mim até
encontrar outro corpo e chegar a um momento em que o meu movimento surge a partir do
movimento do outro, e o movimento do outro a partir do meu movimento. Isso seria o fluxo?
Toca o sino. Terceiro momento, surge um outro, um outro corpo, um outro sujeito. Toca o sino.
Quarto momento, surge outras formas, experimentações. A pergunta que pulsa é “o que cada
subjetividade traz para o espaço?”. Aparece outra “quando uma dança se inicia?” e outra
“quando ela bate o sino?”. Nisso, eu me perco nos momentos.
Depois desses momentos entre-tocar do sino, começa outra proposta em que uma pessoa vai
para o meio do tatame e escolhe mais três para dançar com ela durante alguns minutos. As
observações que fiz enquanto improvisadora performática foi sobre a relação com o público, os
outros participantes que assistiam. Este elemento de performance é novo, pois em práticas
anteriores, apesar de sabermos que existia gente olhando, este outro que via não fazia parte
das nossas intencionalidades no momento da dança. Agora, a dança que vamos costurar é
orientada por este olhar do outro que nos assiste e nos observa. Assim, há o elemento do
apresentar-se. “O que queremos apresentar?”, “como minha dança pode ser interessante para
o outro?”, “como a dança entre eu e a pessoa que dança pode ser uma dança para ele que
assiste?”, “ como sustentar o olhar do público?”, “ como chamo atenção do público?”, “quais
são as diferentes formas de estabelecer uma relação?”, “como/ quando se inicia uma dança?”.
Como público, observo na dança do outro as perguntas que me fiz. “o que chama atenção na
dança deles?”. A presença, isto é, níveis de concentração da improvisadora, o quanto ela esta
imersa no que faz. Proposta claras, fáceis de comunicar com o outro-público, o que difere de
dançar o que vir na cabeça. Exemplo, o improvisador que chama três para dançar, fica com os
pés fixos no chão, outros três dançam em volta até que o desestabilizam. Encaixe, quando
improvisadores se movimentam, encaixam e fazem figuras com os corpos. Figurino, cores
diferentes de camiseta. Exemplo, uma improvisadora de camiseta branca com um jeito de
movimento e outros três de camiseta escura com outros jeitos de movimento. Outra pergunta,
“como surge a proposta? Como se propõe?”, pois estas propostas não são combinadas
previamente a dança, ela é construída durante a dança. Um inicio para as investigações
dessas respostas seriam as repetições de movimento, copiar o movimento do outro e jogos são
formas de estabelecer/mostrar a proposta aos outros improvisadores.
Por fim, a seleção termina com o compartilhamento de anotações e desenhos que Marília pediu
para fazer durante a prática. Gosto de ver as anotações dos outros, como dão forma escrita e
imagética para esta experiência corporal. Sendo assim, a pergunta que finalizo este texto está
em relação com a sensação do primeiro momento: “o que vai surgir?”
Encontre os capítulos anteriores que compõe esta novela em https://www.blogs.unicamp.br/mucina/category/series/hipoteses-para-o-leitor-uma-novela-performatica-gestual. Para receber as notificações no seu email, cadastre-se no RECEBA A MUCíNá na barra lateral. Ou siga pela página no Facebook. E não se esqueça de deixar o seu comentário abaixo!;)
Nascida em São Paulo, em uma família tradicional japonesa, que me incentivava quando criança às artes orientais, odori e karaokê. Depois de uma caminhada que tomou trajetos inesperados, me formei em Ciências Sociais, Bacharelado em Antropologia, pela Unicamp, em 2015. Nesse período, encontrei o meu corpo em uma aula de Contato Improvisação oferecida por Marília Carneiro, na Casa do Lago, em 2014. Corpo desperto, ele se tornou o seu próprio caminho. Em busca de novas aventuras, encontrei a Cia. do Circo, onde meu corpo foi transformado em um campo com potência e pode experimentar diferentes relações com o peso, espaço e limites no tecido, trapézio e contorção desde novembro de 2014. Em 2015, comecei a me apresentar com a Cia. do Circo em eventos. O meu corpo também está sendo transformado com as técnicas de Klauss Vianna apreendidas nas aulas de Jussara Miller há um ano. Incorporei-me no projeto dirigido por Marília Carneiro, o Ciper- ContactImprovisation&Performance, grupo de pesquisa em performance de Contato Improvisação, em que participei como improvisadora e escritora.