Hipótese gamma: 09.08.2016-Seleção

           


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Hipótese gamma – Criação de Constanza Paz Espinoza Varas

 

  Contactimpro & Improvisation and Performance, grupo criado e dirigido por Marília Carneiro, tem a ideia,

como o próprio nome diz, performances em Contato Improvisação (CI). Há, também, um

objetivo mais profundo que é construir um grupo consistente de exploração e pesquisa de

movimentos em CI. Inscrevi-me como improvisadora e como investigadora na produção de

texto (além destas, há a possibilidade de participar como investigadora na produção de

imagens e de desenho). Este texto, então, faz parte desta investigação e tem o intuito de

produzir um diário de pesquisa dos encontros que teremos semanalmente. Irei contar a minha

experiência com reflexões e questionamentos que surgem na prática e performance de CI. O

registro parte do meu ponto de vista, de forma que mesmo fazendo parte de um grupo, o texto

pode não corresponder com as experiências de outros integrantes. Tentarei apresentar em

meus textos um olhar analítico-descritivo do movimento tanto da minha dança quanto as

observadas de outros improvisadores, assim, buscarei passar minhas impressões, percepções

e observações dos movimentos, das danças e de participação do grupo. Ressalto que é uma

tentativa já que minha posição como improvisadora, como produtora de texto e analítica de

movimento está em processo de formação. Esse texto, assim como, as danças que travo no

tatame, tem caráter experimental, de forma que não há um padrão a ser seguido e cada texto

pode ter um formato diferente.

          Após a inscrição respondendo um questionário em que pensei muito ao responder cada

pergunta, no dia 9 de agosto, ocorreu uma seleção na Casa do Lago, espaço onde realizamos

os ensaios. Apareceram dezessete pessoas, algumas conhecidas de aulas de CI em

semestres passados. Primeiro, cada um falou sobre si e suas expectativas ao participar do

grupo. Uma das coisas que me fascina no CI é esta abertura na prática em que se reúnem

diferentes subjetividades com diferentes experiências de movimentos. Como se em cada

processo individual encontrasse no CI uma possibilidade de ter dança em sua vida e como ele

se encaixa no processo de cada um. Os presentes na seleção, a maioria não tinha formação

em dança. Diferentes experiências reunidas por uma mesma prática, o CI.

          Depois desta apresentação, iniciamos a prática em que Marília ao tocar o sino, nós tínhamos

que parar o que estivéssemos fazendo e começar outra dança. Chamo o entre-tocar do sino de

momentos. Primeiro momento é uma preparação, concentração, centralização e abertura, faço

isso me alongando, respirando e sentindo o meu corpo. A pergunta que late é “o que vai

surgir?”. Toca o sino. Segundo momento, surge o movimento. Movimento que vem de mim até

encontrar outro corpo e chegar a um momento em que o meu movimento surge a partir do

movimento do outro, e o movimento do outro a partir do meu movimento. Isso seria o fluxo?

Toca o sino. Terceiro momento, surge um outro, um outro corpo, um outro sujeito. Toca o sino.

Quarto momento, surge outras formas, experimentações. A pergunta que pulsa é “o que cada

subjetividade traz para o espaço?”. Aparece outra “quando uma dança se inicia?” e outra

“quando ela bate o sino?”. Nisso, eu me perco nos momentos.

          Depois desses momentos entre-tocar do sino, começa outra proposta em que uma pessoa vai

para o meio do tatame e escolhe mais três para dançar com ela durante alguns minutos. As

observações que fiz enquanto improvisadora performática foi sobre a relação com o público, os

outros participantes que assistiam. Este elemento de performance é novo, pois em práticas

anteriores, apesar de sabermos que existia gente olhando, este outro que via não fazia parte

das nossas intencionalidades no momento da dança. Agora, a dança que vamos costurar é

orientada por este olhar do outro que nos assiste e nos observa. Assim, há o elemento do

apresentar-se. “O que queremos apresentar?”, “como minha dança pode ser interessante para

o outro?”, “como a dança entre eu e a pessoa que dança pode ser uma dança para ele que

assiste?”, “ como sustentar o olhar do público?”, “ como chamo atenção do público?”, “quais

são as diferentes formas de estabelecer uma relação?”, “como/ quando se inicia uma dança?”.

Como público, observo na dança do outro as perguntas que me fiz. “o que chama atenção na

dança deles?”. A presença, isto é, níveis de concentração da improvisadora, o quanto ela esta

imersa no que faz. Proposta claras, fáceis de comunicar com o outro-público, o que difere de

dançar o que vir na cabeça. Exemplo, o improvisador que chama três para dançar, fica com os

pés fixos no chão, outros três dançam em volta até que o desestabilizam. Encaixe, quando

improvisadores se movimentam, encaixam e fazem figuras com os corpos. Figurino, cores

diferentes de camiseta. Exemplo, uma improvisadora de camiseta branca com um jeito de

movimento e outros três de camiseta escura com outros jeitos de movimento. Outra pergunta,

“como surge a proposta? Como se propõe?”, pois estas propostas não são combinadas

previamente a dança, ela é construída durante a dança. Um inicio para as investigações

dessas respostas seriam as repetições de movimento, copiar o movimento do outro e jogos são

formas de estabelecer/mostrar a proposta aos outros improvisadores.

          Por fim, a seleção termina com o compartilhamento de anotações e desenhos que Marília pediu

para fazer durante a prática. Gosto de ver as anotações dos outros, como dão forma escrita e

imagética para esta experiência corporal. Sendo assim, a pergunta que finalizo este texto está

em relação com a sensação do primeiro momento: “o que vai surgir?”

 


Encontre os capítulos anteriores que compõe esta novela em https://www.blogs.unicamp.br/mucina/category/series/hipoteses-para-o-leitor-uma-novela-performatica-gestual. Para receber as notificações no seu email, cadastre-se no RECEBA A MUCíNá na barra lateral. Ou siga pela página no Facebook. E não se esqueça de deixar o seu comentário abaixo!;)

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Nascida em São Paulo, em uma família tradicional japonesa, que me incentivava quando criança às artes orientais, odori e karaokê. Depois de uma caminhada que tomou trajetos inesperados, me formei em Ciências Sociais, Bacharelado em Antropologia, pela Unicamp, em 2015. Nesse período, encontrei o meu corpo em uma aula de Contato Improvisação oferecida por Marília Carneiro, na Casa do Lago, em 2014. Corpo desperto, ele se tornou o seu próprio caminho. Em busca de novas aventuras, encontrei a Cia. do Circo, onde meu corpo foi transformado em um campo com potência e pode experimentar diferentes relações com o peso, espaço e limites no tecido, trapézio e contorção desde novembro de 2014. Em 2015, comecei a me apresentar com a Cia. do Circo em eventos. O meu corpo também está sendo transformado com as técnicas de Klauss Vianna apreendidas nas aulas de Jussara Miller há um ano. Incorporei-me no projeto dirigido por Marília Carneiro, o Ciper- ContactImprovisation&Performance, grupo de pesquisa em performance de Contato Improvisação, em que participei como improvisadora e escritora.

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