Hipótese gamma: Diversão ou morte!


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Hipótese gamma – Criação de Constanza Paz Espinoza Varas

Diversão ou morte!

Performance 04/11 – contexto do Unidança

Escritos de direção, por Marília Carniero

 

Duração: 20 minutos performance + 40 minutos Jam

 

Ficha técnica

John Herbie Gilles & Mike.

Steve vinte minutos com eles…

 

Lema: DIVERSÃO ou MORTE!

 

Esta performance será realizada no contexto do Unidança, o encontro do curso de graduação em Dança da Unicamp.

 

Terá duração de 20 minutos, seguida por uma jam session de CI, coordenada por nós, de 40 minutos.

 

A ideia é que a performance vai conter em si mesma a jam session. Para coordenar o acontecimento “jam session de CI” tal qual o praticamos, utilizaremos a estrutura da Round Robin, porque não é à toa que ela é um clássico. Como a chance de tornar-se complexo é grande, devido ao contexto, utilizaremos um clássico. Não haverá erro.

 

Sobre John Herbie Gilles & Mike.

Steve vinte minutos com eles…

 

John é John Cage

Herbie é Herbie Hancock

Gilles é Gilles Apap

Mike é Mike Vargas

Steve é Steve Paxton

 

Vamos colocar o CI (Steve) por vinte minutos em contato com os músicos. Não quaisquer músicos, veja bem.

 

Eu, MC, trabalharei literalmente como DJ (Katz, 1997). Vou improvisar desde aí.

 

A questão é como começar? Quero um começo que tenha ar de meio. Quero começar no grazing (Smith, 2008). No grazing já há diversão. O hieróglifo de grazing (Smith, 2008) é:

 

Busco um modo extracotidiano de estar livre para ser esquisito no corpo. Busco o esquisito e o divertido que há nisto. Abaixo a caretice!

 

Não quero que se perca a atenção do improvisador de contato improvisação, uma atenção que faz o corpo, por reflexo, sobreviver à queda. Quero que haja espaço para a exploração da expressividade de MFS (Paxton, 2008), ou seja, quero ver os materiais sendo úteis às danças.

 

Passar do nível alto ao baixo, trabalhar com desorientação, trabahar com esforço e com sutileza, rolar, subir pela superfície do corpo do outro, oferecer estrutura, acompanhar as quedas, aproveitar o momentum, “substituir ambição por curiosidade” (Smith, 2013 apud Carniero, 2013).

 

Quero a perspectiva de: “tudo faz o improvisador responder cinestesicamente”, como fizemos em uma grade de VP.

 

Quero evitar as pausas. Mas cada movimento responde a algo. Há espontaneidade na comunicação.

 

Falar, emitir sons, cantar: são movimentos como outros quaisquer. Mas não devem prevalecer em relação à comunicação não verbal. Não criar histórias narrativas. Tudo é movimento e pronto. Não capturar a alma dos outros com o olhar. Deixar as imagens entrarem nos olhos ao invés de olhar para elas. Assim também com as pessoas do público e os outros improvisadores. É apenas movimento, não é pessoal.

 

Quero que as improvisações não percam a base dos duetos de CI: exploração do espaço esférico em torno do centro de duas pessoas. Os improvisadores precisam buscar os duetos em contato, eles não acontecem naturalmente. Aqui os duetos não são o principal, mas o jogo do conjunto.

 

Acentuar o ponto de vista (VP de Anne Bogart) RELAÇÕES ESPACIAIS. Um conjunto que ocupa um espaço. Não deixar um se perder do conjunto.

 

Quero que os duetos se façam e se dissolvam sem mais poréns.

 

E a música: são músicas experimentais em sua maioria, de pessoas com larga experiência de improvisar com improvisadores de dança. Jogar com a música.

 

Não deixar a música ditar o acontecimento. A presença da música é forte e as minhas escolhas são no sentido de que elas aumentem mais e mais o liberdade dos improvisadores. Ter consciência de sua presença, de seu efeito, incorporar como um outro improvisador. A música será o jogo com a DJ, que estará improvisando desde aí, com todos ao mesmo tempo. Não é nada diferente do que temos feito há anos na Casa do Lago.

 

Será muito rápido, pois a performance dura 20 minutos. Enjoy!!!!!! Diversão ou morte!!!

 

Em changana, a conversa do improvisador com o seu público ao saltar para o centro da roda:

  • Hi mina lweyi! – Eu existo, eu estou aqui!
  • Tikombi! – Então mostra o que você sabe fazer!

 

 

Como termina?

Termina com Gilles Apap na música.

Flávia, que estará no nível alto, olhará para Marília e dirá:

  • Marília?
  • Fala, Flávia!
  • Você não vem dançar?
  • Eu só vou se o Rhys Dennis também dançar.

CORO: UOOOOLLLL!!!

 

 

Durante a round robin, seguimos com o trabalho de performance. Em que sentido? Há performatividade nas danças, pensando com Ana Alonso (2016).

 

Figurino: compor com as cores verde, roxo, amarelo, preto, vermelho, branco. Qualquer tipo de peça de roupa. Pode adereços. Pode sobrepor. Não pode estampa com escritos. Nada muito hippie. Não pode imagens de ganesha, por exemplo. Nem de Che Guevara. O conjunto tem que ficar divertido nas composições. Pode criar.

 

Referências

Bibliográficas

CARNIERO, MARÍLIA. Notas etnográficas do Open January Workshop 2013 com Nancy Stark Smith no Studio EarthDance, Northampton, EUA. Mimeo, 2013.

KATZ, HELENA. O coreógrafo como DJ. IN: PEREIRA, R. & SOTER, S. Lições de dança 1. Editora UniverCidade: Rio de Janeiro, 1997, pp. 11-24.

SMITH, NANCY STARK. The UnderScore. IN: KOTEEN, DAVID & SMITH, NANCY STARK. Caught falling: The confluence of Contact Improvisation, Nancy Stark Smith, and other moving ideas. Contact Editions: Northampton, EUA, 2008, pp. 90-99.

Outras

ALONSO, ANA. Entrevista concedida a Marília Carniero. IN: CARNEIRO, MARÍLIA. Conversas com dançarin@s experientes. Programa de rádio. Campinas, SP, 30jul2016, 60 minutos.

PAXTON, STEVE. Material for the spine. A mouvement study. DVD-ROOM. Contredanse: Paris, 2008.

 

 


Encontre os capítulos anteriores que compõe esta novela em https://www.blogs.unicamp.br/mucina/category/series/hipoteses-para-o-leitor-uma-novela-performatica-gestual/. Para receber as notificações no seu email, cadastre-se no RECEBA A MUCíNá na barra lateral. Ou siga pela página no Facebook. E não se esqueça de deixar o seu comentário abaixo!;)

Mucíná - Aquela que Dança | marilia.carneiro@alumni.usp.br | Website | + posts

Doutora na área de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte (Brasil/UNICAMP, Canadá/UQAM e Moçambique/UEM), dançarina e coreógrafa indisciplinar, bacharelou-se em Dança na Faculdade Angel Vianna (Rio de Janeiro) e bailarina criadora no Ateliê Coreográfico sob a direção de Regina Miranda (RJ/NYC). É especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, mestre em Ciências da Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e atuou por 10 anos nas políticas públicas de saúde, inclusive a implantação do programa integral de atenção à saúde dos povos indígenas aldeados no Parque do Xingu, pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. Na área da Dança trabalhou com muita gente competente no meio profissional internacional da dança contemporânea. É improvisadora mais do que tudo, bem que gosta de uma boa coreografia. Esteve em residência artística em Paris por 3 anos, com prêmio do Minc. Mulher de sorte, estudou de perto com Denise Namura & Michael Bugdahn, da Cie. À fleur de peau (Paris). Pela vida especializou-se no Contact Improvisation (Steve Paxton), onde conheceu as pessoas mais interessantes do mundo. Estudou pessoalmente com Nancy Stark Smith, Alito Alessi (DanceAbility), Daniel Lepkoff, Andrew Hardwood, Cristina Turdo e toda uma geração de colegas que começou ensinar Contact na mesma época que ela. Interessa-se por metodologia de pesquisa em arte, processos de criação de obras e ensino-aprendizagem e formação profissional em Improvisação de Dança. Estudou no Doctorat en études et pratiques des arts (Montreal, no Canadá) com o privilégio da supervisão de Sylvie Fortin. É formada no Método Reeducação do Movimento, de Ivaldo Bertazzo (BR). Seu vínculo com a Unicamp é de ex aluna da Faculdade de Ciências Médicas e da Faculdade de Educação. Suas pesquisas triangulam a dança contemporânea no Brasil, Canadá e Moçambique. Idealizou, fundou em 2016, e dirige a plataforma interdisciplinar de ensino e pesquisa em prática artística Mucíná - Aquela que Dança. E-mail: marilia.carneiro@alumni.usp.br

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