Vejam só o descompasso: o mesmo país que abriga as melhores universidades do mundo (notícia de hoje

Vejam só o descompasso: o mesmo país que abriga as melhores universidades do mundo (notícia de hoje na Folha e Estadão) tem um precário sistema educacional do aqui chamado K-12, da educação infantil ao ensino médio. Preocupados em melhorar o ensino de ciência, tecnologia, matemática e engenharia, conselheiros do Presidente Obama se reuniram há poucos dias para discutir os resultados de um relatório que será lançado em breve. 

Foi nessa reunião que Brian Greene, professor da Columbia University e co-fundador do World Science Festival, proferiu o discurso acima.

Greene deu exemplos de quão fantásticas tais áreas são e de como o ensino atual, focado em detalhes e não nas grandes ideias, “deixa a ciência sem vida”.

Contagiante. Queria que servisse para inspirar muita gente mundo afora.

Mergulhando com Sucuris | Diving with Anacondas from Daniel De Granville on Vimeo. O vídeo acima foi

Mergulhando com Sucuris | Diving with Anacondas from Daniel De Granville on Vimeo.

O vídeo acima foi feito pelo talentoso Daniel De Granville, fotógrafo de natureza (Photo in Natura) que está no momento explorando rios no Cerrado, nas bordas do Pantanal e na Amazônia em busca de belas imagens de sucuris, arraias de água doce e botos-cor-de-rosa. Isso tudo ao lado do suíço Franco Banfi e do tcheco Jiří Řezníček, renomados fotógrafos especializados em imagens subaquáticas. Leia mais sobre a expedição no blog da Photo in Natura.

Em minhas aventuras de infância pelo Cerrado, meu avô sempre dizia: “sucuri come bezerro inteiro, mas perigosas mesmo são as jararacas de cabeça chata”. Apesar do alerta do Vô Jorge de que as sucuris eram de certa forma inofensivas, no meu imaginário dominavam as assustadoras imagens de sucuris estrangulando gente e comendo bichos grandes.

Com tal pano de fundo, assim que assisti ao vídeo do mergulho com as sucuris, pensei nos riscos para os fotógrafos. Leia o que Daniel diz a respeito:

Não tem risco mergulhar com as gigantes sucuris? Já aconteceu algum acidente com vocês?

Até agora nunca presenciei nenhum momento de tensão relacionado a um possível ataque da sucuri. Só em uma ocasião, que o fotógrafo chegou com o flash muito perto dela, houve uma ameaça (não concretizada) de morder o acessório. Nós decidimos então que era hora de deixá-la em paz, pelo bem dela e nosso.

Mas ataque no sentido de tentar sufocar a pessoa, procedimento que é parte do hábito alimentar das sucuris, jamais. No meu entendimento, e pelas leituras que fiz, a sucuri é um animal de espreita, ou seja, fica escondida aguardando a presa passar para então atacá-la. Quando alguém a encontra e vai em sua direção, como é o caso com fotógrafos, o instinto é de fuga, já que o bicho é “pego de surpresa”. Vale ressaltar que esta aproximação, como você vê no vídeo, só é feita quando notamos que o indivíduo em questão não alimentou-se recentemente, já que nestas ocasiões a sucuri pode regurgitar o alimento em uma tentativa desesperada de fuga. Nestes casos, há um risco – comprovado por pesquisadores – de morte do animal, ainda não se sabe exatamente a razão (pode ser pelo fato dela estar extremamente debilitada após o esforço de captura do alimento, ou a ocorrência de ferimentos graves no trato digestivo durante o ato de regurgitar, ou um pouco de ambos). Isto é duplamente ruim, pois não só a sucuri morre, como sua presa (um animal silvestre, como uma capivara) também morre sem cumprir sua função na cadeia alimentar.

Por que o interesse específico dos fotógrafos internacionais por sucuris?

Vejo os seguintes motivos: (a) o mito negativo criado ao redor destas serpentes, em parte devido a lendas de povos nativos e em parte (maior) devido aos filmes sensacionalistas de Hollywood – ou seja, as pessoas admiram a “coragem” de um fotógrafo assim, e somente desta forma conseguem ver imagens deste bicho que jamais presenciariam ao vivo; (b) o próprio aspecto fascinante da sucuri, um animal de grande porte, mas muito mais dócil do que aparenta; (c) o fato de que poucos fotógrafos, neste mercado cada vez mais competitivo e em busca de imagens inusitadas, terem conseguido boas imagens de sucuris debaixo d’água na natureza; (d) as características especiais aqui da região de Bonito, onde consegue-se ver um animal destes – bem como peixes e outro bichos – dentro de águas cristalinas.

Tive o prazer (e sorte) de conhecer o Daniel durante o curso de especialização em jornalismo científico, pelo Labjor/Unicamp, que fizemos juntos.

Curso oferecido a alunos do MIT foca em habilidades e conhecimentos necessários para ensino de ciência e engenharia

Sanjoy Mahajan quer “melhorar a forma como ensinamos ciência, matemática e engenharia”. Professor do MIT e Diretor Associado do Teaching and Learning Lab, Mahajan ofereceu no ano passado um curso voltado para alunos de pós-graduação interessados em seguir carreira acadêmica e em dar aulas no nível superior. Seguindo o perfil open acess do MIT, o curso está disponível de graça online (aqui), como parte da coleção MIT Open Course Ware.

“My Wife and My Mother-In-Law” by William Ely Hill, 1915. Teachers help students see patterns. (Fonte: Wikimedia Commons.)

A ementa do curso inclui tópicos de extrema valia para professores universitários, como: elaborando provas e lições de casa; incorporando história da ciência, criando aulas atrativas; planejando um curso, entre outros.

Marcelo Mori, pós-doutorando da Universidade de Harvard, foi quem achou o valioso curso e sugeriu sua divulgação aqui no blog. Mori e outros tantos brasileiros participaram do terceiro encontro de pesquisadores brasileiros em Boston (leia sobre o primeiro encontro aqui), que aconteceu no último sábado (21). Tínhamos como pauta uma interessante e longa discussão: como a vivência no exterior vem impactando a formação acadêmica de tais cientistas e como compartilhar, já, um pouco dessa experiência com o Brasil. Passamos por vários pontos, desde quais foram as motivações para buscar trabalhar em centros de excelência no exterior, principais dificuldades no início, passando por eventuais deficiências de formação que dificultaram a adaptação e, por fim, lições aprendidas até agora. 

Durante o extenso debate surgiu a reflexão de que, ao longo de nossa formação acadêmica no Brasil, somos precariamente treinados para sermos professores universitários (formação específica para dar aula; treinamentos, técnicas, e por aí vai). Foi nessa hora que Mori comentou sobre o curso acima. 

Em breve divulgaremos aqui no blog um resumo do produtivo terceiro encontro. Aguardem!

PS: escrevi sobre o MIT Open Course Ware para o blog da SBI (aqui).

Criança e cidadania é o foco do trabalho de Leo Burd, brasileiro no MIT

Enquanto me preparava para entrevistar o Leo Burd, brasileiro que assumiu recentemente o cargo de pesquisador no Media Lab (MIT), me comovi ao imaginar o impacto de seu trabalho. Li vários links, posts em blogs, trechos de sua tese e a imagem que me veio foi a do Leo carregando uma bandeja abarrotada de diferentes tecnologias desenvolvidas para um público muito especial: as crianças.

                          

Leo Burd, pesquisador brasileiro no Media Lab (MIT). Arquivo pessoal

Tecnologias para estimular a garotada – como ele gosta de chamá-las – a participar efetivamente como cidadãs em suas comunidades, especialmente as carentes. 

“As crianças, hoje em dia, são muito oprimidas ou deixadas de lado, tanto em famílias de baixa quanto de alta renda. São marginalizadas de uma maneira não óbvia. A criança vai para escola de manhã, faz alguma atividade e depois volta para casa. O tipo de contato que ela tem com o mundo externo e com a sociedade de uma forma mais ampla é muito restrito. E o contato com os adultos tende a ser muito de cima para baixo, muito dirigido. A criança que sempre teve que obedecer ordens e ficar em ambientes condicionados, de repente completa 18 anos e é considerada cidadã do mundo. Que opinião essa pessoa vai ter se nunca teve oportunidade de testar suas próprias ideias no mundo? Colocamos muita expectativa em cima dos jovens, o futuro está em suas mãos, mas nunca ajudamos a prepará-los para que se tornem cidadãos do mundo moderno; é uma área muito deficiente”, disse Leo Burd durante a entrevista.

No recém-lançado Department of Play, do qual Burd é co-fundador, o grupo vem criando e implementando diferentes tecnologias, principalmente baseadas em mapas, internet e telefonia. As imagens de crianças usando balões para tirar fotos de seu bairro e, em seguida, montando um mapa, são lindas. 

Quer saber mais? Leia a entrevista publicada na revista Ciência & Cultura (texto e pdf).

http://mitworld.mit.edu/flash/player/Main.swf?host=cp58255.edgefcs.net&flv=mitw-01334-physics-lewin-

http://mitworld.mit.edu/flash/player/Main.swf?host=cp58255.edgefcs.net&flv=mitw-01334-physics-lewin-art-14jan2004&preview=http://mitworld.mit.edu//uploads/mitwstill01334physicslewinart14jan2004.jpg

“A arte do começo do século XX vista através dos olhos de um físico” é o tema do vídeo que acaba de ser postado na rica coleção MIT World.

Sente em um lugar confortável e deixe Walter Lewin, professor de física do MIT, te levar aos importantes movimentos artísticos do começo do século XX. Apaixonado por arte desde sua infância na Holanda, Lewin disse que sempre resiste a falar sobre arte por não ter treinamento formal na área. Humildade! 

Trechos que merecem destaque:

– aos 18 minutos: abandone a ideia do belo, os artistas queriam introduzir um novo jeito de olhar o mundo;

– 47 minutos: descrevendo trabalho do Kandinsky;

– 1h:29 minutos: fechamento de suas ideias, arte&ciência.

Deixe-me ir: tratamentos oferecidos a pacientes terminais precisam ser repensados

Inspirador escrever à sombra de árvores. Escrevo do quintal da minha casa, pássaros cantando, cigarras escandalizando e esquilos subindo cercas.

Começo ameno para tratar de assunto difícil: o que fazer quando o médico te informa que todos os tratamentos disponíveis foram tentados e a doença que vem consumindo sua mãe não tem mais como ser controlada? Ela vai morrer em breve. Devemos interná-la, entubá-la e tentar formas de estender sua vida mais um pouquinho, à espera de um “milagre”? Ou devemos deixá-la em casa, na harmonia e quentura do seu lar?

Time to die. Cortesia: An Gobán Saor (fotógrafo)

Na noite anterior à morte da minha mãe, sentados no sofá da nossa sala – a mesma sala onde passamos ao menos uns 30 natais juntos -, eu e minha família tivemos uma dura conversa com o oncologista. Optamos por não internar nossa mãe, vitima de câncer contra o qual lutou por quase três anos. Decisão difícil, mas cada vez mais me convenço de que fomos sabidos.

Minha mãe deu seu último suspiro rodeada por pessoas queridas. Não antes de tomar a coca-cola oferecida pelo meu pai e o suco de laranja com couve transbordando amor, feito pela minha sogra. Momento forte – que revivo com frequência -, e ao mesmo tempo harmônico. Indolor, tranquilo, um suspiro de descanso. Não sei como teria sido se estivéssemos cercados por tubos, na frieza das unidades de terapia intensiva. Para nós, foi a melhor decisão.

Nem preciso dizer porque li atenciosamente cada palavra das longas 14 páginas de uma reportagem publicada na edição do último dia 2, na revista New Yorker*, sobre o que a ciência médica deve fazer quando não consegue mais salvar uma vida.

Escrita pelo médico Atul Gawande, cirurgião e professor da Universidade de Harvard, a reportagem questiona os tratamentos oferecidos aos pacientes terminais. Usando uma estratégia de comunicação nó na garganta, Gawande descreveu casos de pacientes que testaram inúmeras drogas para doenças como câncer de pulmão e pâncreas, seguidamente, sem sucesso, e ao mesmo tempo lidando com os terríveis efeitos colaterais.

A mensagem do médico é clara: a medicina moderna é eficiente em retardar a morte com intervenções agressivas e ineficiente em saber onde focar para melhorar a qualidade dos últimos dias de vida de pacientes terminais.

Fica evidente o contraste entre a esperança que os médicos oferecem aos pacientes e a precária base científica para prescrição dos tratamentos. Por exemplo, uma paciente com câncer de pulmão em estágio avançado tomou uma nova droga e só depois foi feito o teste que comprovou que seu câncer não tinha a mutação alvo do medicamento. Em seguida, tentou pemetrexed, pois “estudos mostraram que poderia aumentar a sobrevida de alguns pacientes”. Mas, destaca o médico, a realidade é que apenas uma pequena porcentagem dos pacientes aumentava seu tempo de vida por dois meses, e apenas os que haviam respondido à primeira quimioterapia, que não era o caso da paciente.

Gawande cita pesquisas que revelam o otimismo e vontade de lutar até o fim de médicos que lidam com pacientes terminais. Em um deles, Nicholas Christakis, professor também da Universidade de Harvard, pediu aos médicos de 500 pacientes terminais que estimassem o tempo de vida de seus pacientes. O resultado mostrou que 63% dos médicos superestimou o tempo que seus pacientes viveram. Em outro estudo, mais de 40% dos médicos disse oferecer aos pacientes tratamentos que eles mesmos não acreditavam que iriam funcionar.

Além do custo ao paciente, que lida com efeitos colaterais de drogas que muitas vezes não funcionam, ou vegeta entubado por meses em unidades de terapia intensiva, os gastos com pacientes terminais são enormes: 25% dos dispêndios federais em saúde, nos Estados Unidos, vai para os 5% dos pacientes que está em seu último ano de vida, sendo que a maioria do gasto vai para os meses finais, sem benefícios aparentes.

Algo parece fora da ordem, não?

Segundo Gawande, enquetes realizadas com pacientes terminais mostram que suas prioridades são: evitar sofrimento; estar com a família; ter contato com outras pessoas; estar mentalmente consciente e não ser um peso para outros. E, reforça o médico, os avanços tecnológicos da medicina moderna não atendem a tais desejos. Fica a pergunta: “como montar um sistema de saúde que ajude os pacientes terminais a ter o que é mais importante para eles ao final de suas vidas?”.

Um passo fundamental seria conversar abertamente com os pacientes sobre seus reais desejos. Mas não simplesmente achatar a conversa com perguntas do tipo: você quer continuar com a quimio? Quer ser entubado? Quer receber ventilação mecânica? Segundo Susan Block, professora da Universidade de Harvard, o mais importante nessas conversas é mapear os desejos dos pacientes em diferentes circunstâncias, para que se possa oferecer informação e conselhos sobre como atender a tais vontades. “Uma reunião com a família é um procedimento médico que requer tanta habilidade quanto fazer uma cirurgia”, disse.

Isso me lembra discussões recentes sobre colocar o paciente efetivamente como parte do loop do sistema de saúde, como é o caso do projeto New Media Medicines, liderado por Frank Moss, diretor do Media Lab (MIT). Um dos objetivos do grupo é desenvolver novas tecnologias para melhorar a comunicação entre pacientes e médicos. Outro exemplo que ouvi há poucos dias foi o de possibilitar que pacientes leiam seus próprios prontuários e opinem sobre seu conteúdo. Você não tem curiosidade em saber o que o médico escreveu sobre você durante a consulta? A ideia é usar os feedbacks dos pacientes para tentar melhorar o atendimento médico. Tais iniciativas podem revolucionar o atendimento médico, buscando dar ao paciente um novo valor e o colocando efetivamente responsável por sua saúde.

Vou continuar explorando tais temas aqui no blog. Estou de olho em cientistas que estudam pacientes terminais, o que e como andam pesquisando e o que têm a dizer.

*Para quem não conhece, a New Yorker mescla textos longos, de “fôlego”, com seus famosos cartoons. Ter um artigo lá publicado é um dos atributos de sucesso na carreira de jornalistas, críticos e escritores.

Preciosidades do MIT: Encyclopédie de Diderot

O bacana de caminhar despretensiosamente pelo campus do MIT é esbarrar em espaços preciosos como a pequena Maihaugen Gallery. Em seus aproximados 30 metros quadrados, a galeria abriga exposições de coleções raras das bibliotecas da instituição, como documentos, fotografias, livros e mapas.

Foi lá que vi volumes originais da famosa obra Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, editada por Denis Diderot. Apreciei imagens detalhadas dos trabalhos manuais de artesãos. Recursos de multimídia me ajudaram a compreender o valor da obra: um X no chão assinalou onde eu deveria pisar para que um sistema de som e vídeo fosse ativado. Logo acima da minha cabeça, uma cúpula acrílica me isolou: um mergulho no mundo dideroidiano.

Diderot classificava Encyclopédie como “um dicionário universal e analítico do conhecimento humano”, disse Kristel Smentek, professora de história da arte (MIT). Ela explica que a ideia de uma enciclopédia contendo todo o conhecimento humano não era nova. O escritor francês inovou ao colocar os trabalhos mecânicos como uma categoria de conhecimento universal tão valiosos quanto as ciências e as artes. Publicada em meados do século 18, a obra causou grande impacto pois à época a crença era que as ciências e artes existiam para enobrecer e edificar, enquanto o trabalho físico/manual era considerado bruto, irrefletido, tolo. Ao detalhar a complexidade, criatividade e habilidade de trabalhos mecânicos  – como artesãos produzindo cartas de baralho -, Diderot mostrou que a mente, não só as mãos, é importante para esse tipo de trabalho. Segundo a professora, tal obra iniciou uma mudança de percepção sobre trabalhos mãos na massa, abrindo o caminho para que escolas de tecnologia e engenharia fossem fundadas. 

Jeffrey S. Ravel, professor de história (MIT), explora a história e controvérsias da obra, críticas à igreja, iluminismo, entre outros. Assista aos vídeos se quiser saber mais.

Estou curiosa para saber qual será o tema da próxima exposição nesse precioso espaço.

Vídeos:

– Kristel Smentek

– Jeffrey S. Ravel

Pesquisadores brasileiros no MIT desenvolvem nova tecnologia digital para prescrição de óculos que poderá revolucionar a oftalmologia

O procedimento é simples e rápido: acople uma estrutura de plástico à tela de um celular, aproxime-a do olho, use as setas do teclado para sobrepor linhas vermelhas e verdes e, em menos de cinco minutos, uma prévia do grau de seus óculos estará pronta. Tal dispositivo, desenvolvido por pesquisadores brasileiros no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, promete revolucionar a detecção de problemas refrativos (grau de óculos) por seu baixo custo e mobilidade, permitindo o uso em campanhas de saúde ocular em regiões onde pessoas não têm acesso a oftalmologistas.

Manuel Menezes de Oliveira Neto e Vitor Pamplona 

Hoje em dia, os testes na maioria dos consultórios para detecção de erros de refração – miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia – ocorrem em duas etapas. Na primeira, um equipamento chamado auto-refrator fornece uma estimativa do grau do paciente. Em seguida, o grau é subjetivamente conferido e ajustado avaliando qual conjunto de lentes permite que o paciente enxergue nitidamente, sem borrões, um painel (tabela de Snellen) com letras (optótipos) (melhor assim ou assim?). “O dispositivo que desenvolvemos combina, em uma única etapa, avaliações objetivas e subjetivas”, disse Manuel Menezes de Oliveira Neto, professor de Ciência da Computação no Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisador visitante do Media Lab (MIT) e um dos responsáveis pelo projeto.

Ao acender e apagar pontos específicos da tela LCD do celular, a tecnologia, denominada pelos pesquisadores de NETRA (Near-Eye Tool for Refractive Assessment), cria um objeto virtual que varia em profundidade. A luz emitida pela tela do celular atravessa pequenos furos de uma máscara acoplada ao celular. Ao variar a posição dos pontos (pixels) iluminados, simula-se os efeitos de convergir e divergir os raios de luz que passam pelas lentes de óculos (veja vídeo). “O usuário tenta sobrepor linhas exibidas na tela do celular. Caso ele tenha um sistem visual perfeito, nenhum alinhamento é necessário”, explica Vitor Pamplona, estudante de doutoramento da UFRGS, atualmente trabalhando no Media Lab, responsável pelo desenvolvimento do software que converte as informações dos alinhamentos em graus para prescrição de óculos. O conjunto de alinhamentos, atribuídos pelo próprio paciente, reflete seus erros de refração. Basicamente o software detecta o quanto as imagens se movem na tela do celular. “Substituímos as lentes por uma máscara e objetos que se movem virtualmente”, completa Oliveira.

Segundo Pamplona, a base teórica do NETRA é a mesma de outras tecnologias: projeção de imagens na retina e leitura destas imagens. “A grande diferença no nosso caso é que o próprio usuário faz a leitura das imagens, ao contrário do auto-refrator, por exemplo, que lê automaticamente as imagens por meio de câmeras”, disse.

A leveza e relativa simplicidade do dispositivo desenvolvido no Media Lab, sob a coordenação do professor Ramesh Raskar com a participação também do pós-doc Ankit Mohan, contrasta com seus possíveis amplos impactos e alcances. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, dois bilhões de pessoas sofrem com problemas de visão devido a erros de refração e necessitam de óculos ou lentes de contato. Quando não corrigidos com uma simples prescrição de óculos, os erros de refração representam a segunda maior causa de cegueira no mundo.

“A portabilidade parece ser o maior apelo desse novo dispositivo, que pode se tornar muito útil nas cada vez mais frequentes campanhas de saúde ocular no Brasil, especialmente em populações carentes com difícil acesso ao oftalmologista”, destaca Francisco Max Damico, oftalmologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. No entanto, Damico alerta que ele nunca deverá ser usado para a prescrição de óculos, como algumas ópticas no Brasil fazem usando os auto-refratores. “O dispositivo nunca deverá substituir um exame oftalmológico completo, que poderá detectar alterações assintomáticas e precoces de doenças graves como glaucoma e degeneração macular, que podem cegar se não forem tratadas precocemente, e que não têm nada a ver com os óculos”.

Ramesh Raskar, pesquisador que vem desenvolvendo tecnologias baseadas em câmeras fotográficas, acredita que o dispositivo terá em breve para a oftalmologia o mesmo valor que o termômetro tem na medicina. O próprio paciente pode detectar alguma alteração em sua acuidade visual, mas o médico continuará com a tarefa de prescrever a lente correta.

Blue Zones: locais onde as pessoas vivem muito, e com qualidade

Ontem o lindo final de tarde convidava para um happy hour à beira do rio ou do mar. Mas a curiosidade em saber mais sobre as Blue Zones – locais no mundo onde as pessoas vivem muito e com qualidade – venceu, e fui assistir a uma palestra proferida por Dan Buettner no Museum of Science, como parte da série “celebridades da ciência”.

Explorador da revista National Geographic, Buettner viajou mundo afora em busca de histórias de vida, padrões de comportamento e hábitos alimentares de idosos e centenários que vivem em hotspots de longevidade: Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Icária (Grécia), Nicoya (Costa Rica) e Loma Linda (Califórnia, EUA). Com a ajuda de uma equipe de cientistas, Buettner identificou o que os velhinhos, vivendo em regiões tão distintas e distantes do planeta, têm em comum. Veja se há algo parecido com o seu estilo de vida:

– Eles não se exercitam “formalmente”, e sim se movimentam naturalmente. Por exemplo, as casas em que vivem os okinawas são estruturadas de forma a estimular que se levantem e abaixem aproximadamente 40 vezes por dia.

– Todos têm um propósito de vida. Achei especialmente interessante a valorização do idosos observada em todas as Blue Zones. “Quanto mais velho, mais celebrado”.

– Todos se alimentam com sabedoria: vinho ou saquê ao final do dia, dieta baseada em plantas (muito feijão, lentilhas, grãos, verdes, nozes, castanhas) e moderada (param de comer quando se sentem 80% satisfeitos).

– Todos fazem parte de redes sociais, seja com amigos e/ou família.

– Todos têm alguma crença religiosa ou espiritual.

Confesso que torci um pouco o nariz, tanto na palestra quanto no livro, quando o tom de autoajuda predominava. Por outro lado, é interessante observar se (e o quanto) nos distanciamos dos hábitos dos moradores das Blue Zones e o que podemos fazer para viver mais e com qualidade.

Sobre viver com qualidade, um dado que me chocou: os moradores destas Blue Zones, além de viveram cerca dez anos a mais do que a média mundial, morrem de maneira natural e menos traumática. Os chamados “anos de morbidade” são reduzidos, em média, para menos de um ano. Segundo Buettner, os norte-americanos têm uma expectativa de vida de 78 anos e três anos de morbidade (mobilidade prejudicada, afetados por doenças, requerem cuidados médicos diários). No caso dos okinawas, por exemplo, muitos aproveitam a vida plenamente até os últimos momentos e vários morrem dormindo.

A pesquisa do explorador, capa da National Geographic em 2005, foi uma das três edições mais vendidas na história da revista. Durante a palestra, Buettner mostrou um vídeo de um senhor de 80 anos andando de bicicleta, em alta velocidade, para ir visitar a mãe de 104 anos. A plateia adorou! 

Dan Buettner em palestra ontem no Museum of Science.

Por falar em plateia, as perguntas foram afiadíssimas. Várias perguntas começavam assim: “acredito que você esteja familiarizado com a pesquisa de X, Y, Z”. Literatura sobre envelhecimento na ponta da língua…

Ao final, claro, fui pedir um autógrafo. Veja o que ele escreveu:

Vida, morte e imortalidade: desvendando a história das células Hela

Assim que recebi um email da livraria de Harvard avisando que Rebecca Skloot participaria lá de uma discussão sobre o seu mais novo livro, nem pensei duas vezes e enfrentei a congelante noite para conhecê-la. Com voz suave e envolvente, a jornalista norte-americana fez a plateia refletir sobre temas de ciência e seus bastidores, propriedade intelectual e patentes de células, a precária comunicação entre médicos e pacientes, entre outros. O livro intercala tais discussões com uma narrativa que prende o leitor (sabe quando um livro não te larga?), resultado de uma profunda investigação sobre a vida de Henrietta Lacks: uma mulher negra que viveu nos Estados Unidos entre os anos de 1920 e 1950, da qual foram extraídas células cancerosas que originaram a primeira linhagem imortal de células humanas (HeLa). O impacto de tal façanha na ciência médica moderna foi profundo e vasto, muito embora a família de Lacks tivesse vivido um enorme silêncio (e falta de informação) sobre sua importante contribuição.

Acredito que muitos cientistas que estão neste momento crescendo células HeLa em placas de cultura no laboratório não têm ideia da sofrida história de vida de Henrietta Lacks.

Tamanha motivação virou uma resenha para a Ciência&Cultura.

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