O mistério dos dentes fósseis

Em resposta ao Paleo-enigma 3:
Dentes
Acertou quem disse que esses dentes aí em cima pertenciam a um tipo de crocodilo extinto, o Yacarereani boliviensis. Isso mesmo, um c.r.o.c.o.d.i.l.o. Esses dentes aí (ambos!) são de um tipo de crocodyliforme terrestre do Período Cretáceo!

Yacarerani, um tipo de crocodilo extinto com hábitos terrestres que viveu no período dos dinossauros! Arte de Rodrigo Vega. Visite o portifolio: http://iririv.deviantart.com/
Yacarerani, Arte digital de Rodrigo Vega, da Argentina. Visite o portifolio aqui: http://iririv.deviantart.com/

Esse bichinho do tempo dos dinossauros, não muito maior que um gato, tinha uma dentição muito especial. Seus fósseis foram encontrados na Bolívia em 2002, mas  a espécie descrita apenas em 2009.

Quando falamos de crocodilos, é difícil fugir do esteriótipo que conhecemos dos seus representantes atuais. Porém, no passado, esse grupo de animais era  muito mais diverso e incluía espécies de diferentes formas, tamanhos e comportamentos.

Durante o período Cretáceo ou ainda o Jurássico, por exemplo, além de formas muito semelhantes aos crocodilos atuais, haviam espécies com hábitos essencialmente terrestres e outras até mesmo incrivelmente adaptadas ao ambiente marinho (Veja as figuras abaixo). Uns tipos de crocodilos eram tão diferentes, que foi até difícil reconhecê-los como da família.

Armadillosuchus, forma de crocodilo terrestre do Cretáceo brasileiro. Ilustração de Ariel Milani.
Armadillosuchus, forma de crocodilo terrestre do Cretáceo brasileiro. Ilustração de Ariel Milani.

Neptunidraco_ammoniticus
Neptunidraco ammoniticus, crocodilo marinho do Jurássico da Itália – Quem souber o nome do artista que fez essa arte incrível, me informe!

 No caso de Yacarerani, se somente os seus dentes tivesse sido encontrados, ele facilmente poderia ter sido confundido com outro tipo de animal. Ele e outros da sua linhagem tinham especializações na dentição muito semelhantes ao dos mamíferos atuais. A diferenciação dentária indica uma forma de alimentação muito especializada, e como é possível observar pelo registro fóssil, isso não é uma coisa exclusiva dos mamíferos.

Pakasuchus, pequeno crocodyliforme terrestre do Cretáceo da África. Observe na imagem a sua incrível especialização dentária.

Em alguns lugares, os crocodilos acabaram por se apoderar de nichos bastante distintos daqueles que conhecemos por meio de seus representantes atuais. Os dentes de Yacarerani, por exemplo, indicam uma dieta herbívora ou onívora. E ele não era o único! Muitas outras espécies encontradas sugerem a inclusão de plantas e/ou raízes ao seu cardápio!

Para o Cretéceo brasileiro, por exemplo, nas rochas da Bacia Bauru (sudeste do Brasil), são conhecidas mais de uma dezena de espécies de crocodilos terrestres com os mais variados morfotipos, que indicam hábitos de vida completamente distintos. Já foram reconhecidas formas exclusivamente carnívoras e outras com dentições e adaptações corporais muito peculiares, que podem indicar desde uma dieta herbívora e o hábito escavador até a durofagia (hábito de se alimentar de alimentos duros, como alguns tipos de sementes ou animais com concha ou exoesqueleto resistente).

A diversidade dos crocodyliformes foi muito maior no passado e há sugestões de que em alguns lugares eles possam ter dominado os ecossistemas terrestres em detrimento dos dinossauros. A maior parte dessa diversidade se perdeu no grande evento de extinção do fim do Cretáceo. Se não fosse por isso, a história dos crococyliformes poderia ter sido bem diferente.

A lição desse Paleo-enigma 3 é a de que precisamos ser bastante cautelosos na análise do registro fóssil. Há uma diversidade oculta, muitas vezes inesperada! O passado guarda criaturas que nunca imaginaríamos ter existido – completamente diferentes daquilo que conhecemos! Yacarerani e tantos outros crocodilos fósseis vêm nos contar uma história  há muito tempo esquecida sobre a sua linhagem.  Sem a Paleontologia isso talvez nunca pudesse ter sido recuperado…

Não se assuste com a semelhança de Yacarerani e seus parentes com os mamíferos atuais…. Os ecossistemas do passado podem parecer – à primeira vista -, muito diferentes daqueles que conhecemos hoje, mas ainda sim, guardavam semelhanças fundamentais. Os nichos ecológicos eram essencialmente os mesmos, o que aconteceu é que diferentes grupos foram revezando os papéis!

Para saber mais:

Novas, F. E.; Pais, D. F.; Pol, D.; Carvalho, I. D. S.; Mones, A.; Scanferla, A.; and Riglos, M. S. (2009). “Bizarre notosuchian crocodyliform with associated eggs from the Upper Cretaceous of Bolivia”Journal of Vertebrate Paleontology 29 (4): 1316–1320. doi:10.1671/039.029.0409.

O’Connor, P.M.; Sertich, J.W.; Stevens, N.J.; Roberts, E.M.; Gottfried, M.D.; Hieronymus, T.L.; Jinnah, Z.A.; Ridgely, R.; Ngasala, S.E.; and Temba, J. (2010). “The evolution of mammal-like crocodyliforms in the Cretaceous Period of Gondwana”. Nature 466 (7307): 748–751.doi:10.1038/nature09061PMID 20686573.

Silas Malafaia, o pastor que não sabia

A verdade pode ser enigmática. Pode dar algum trabalho lidar com ela. Ela pode ser contra-intuitiva. Ela pode contradizer preconceitos profundamente arraigados. Ela pode não estar em conformidade com o que nós queremos desesperadamente que seja verdade. Mas nossas preferências não determinam o que é verdade.

(Carl Sagan)

A ciência tem um método. É verdade que esse método não nos ajuda a alcançar a verdade absoluta, mas nos faz chegar muito próximo dela. A vantagem do “método científico” é que ele pode ser testado e repetido inúmeras vezes e os resultados não são dogmas. Na ciência, não é raro acontecer de os cientistas dizerem: “Sabe, esse seu novo argumento é muito bom; a minha posição realmente estava equivocada“. Os cientistas realmente mudam as suas mentes e você não irá mais escutar sobre sobre aquela opinião equivocada novamente. Isso realmente acontece! Não tão frequentemente quanto deveria, porque os cientistas são humanos e a mudança às vezes é dolorosa. Mas isso acontece todos os dias! Agora… é muito difícil lembrar quando isso aconteceu na política ou na religião.

Gostaria de lembrar que propagar “a palavra de Deus” (ou qualquer outra palavra!) incitando o ódio e o preconceito é uma coisa tão tola de se fazer…

The nine-year-old chimpanzee "Pia" nurse

islamic_jihad_w_koran_and_rifle

Já experimentamos esse tipo de intolerância antes (não preciso citar exemplos, não é mesmo???) e isso não gerou nada de produtivo para sociedade. Porque insistir? Não é tolice?

adolf_hitler

Que fique bem claro, que independente da origem, qualquer tipo de relacionamento que gere AMOR deve ser exaltado. Isso sim soa mais como “a palavra de Deus”.

Sinceramente, Silas?! :

Tudo o que você precisa é amor
Tudo o que você precisa é amor

Paleo-enigma 3 – De quem são esses dentes??

E então? Você sabe dizer a que criatura pertencem esses dentes?

À um mamífero? Um peixe? Um dinossauro!? Uma ave pré-histórica??? À que diabos???????
Aos mais ousados: Vocês sabem me dizer a espécie, de que período e aonde foram encontrados?
Deixem seus palpites nos comentários!
Dentes
Dou-lhes uma única dica: a escala dos fotografias é de 1mm.
A resposta será dada até domingo, aqui no blog. Fique de olho!!!