Inaechelys, a rainha dos mares do Paleoceno de Pernambuco

tartaruga
Representação de Inaechelys em vida. Arte de Julio Lacerda.

Batizada como “a rainha do mar”, a mais nova espécie de tartaruga fóssil do Brasil dividiu espaço com tubarões e estranhos crocodiliformes marinhos extintos. Inaechelys viveu logo após a grande extinção que acabou com o reinado dos dinossauros não-avianos no final do período Cretáceo, tendo habitado os mares da costa pernambucana há mais de 62 milhões de anos, em uma época conhecida como Paleoceno.

Os fósseis de Inaechelys pernambucensis foram encontrados na área da Pedreira Poty, localizada a 30 km ao norte da cidade do Recife. Neste mesmo sítio também foram encontrados os restos do crocodiliforme extinto Guarinisuchus munizi, além de várias espécies fósseis de peixes ósseos, tubarões e raias.

Os calcários da Pedreira Poty são famosos no mundo todo pois registram a transição entre as eras Mesozoica e Cenozoica, quando ocorreu o grande evento de extinção dos dinossauros não-avianos. Inaechelys habitou a região apenas alguns milhões de anos após o fim da “Era dos Dinossauros”. Na época em que viveu, não só os dinossauros não-avianos haviam sido extintos, como também os grandes grupos de répteis marinhos, incluindo os Mosassauros, que vagavam pelos mares do Cretáceo de Pernambuco pouco antes do reinado de Inaechelys.

Inaechelys pernambucensis, cujo nome significa “a tartaruga rainha do mar de Pernambuco” media cerca de 50 cm de comprimento em vida e vivia restrita às áreas costeiras.

Apesar de viver em água salgada, a espécie de tartaruga recém-descoberta não tinha nenhuma relação com as tartarugas-marinhas atuais. Seus parentes viventes mais próximos são todos quelônios de água doce, e incluem a tartaruga-de-cabeça-grande-do-Amazonas (Peltocephalus dumerilianus).

A família ao qual pertence Inaechelys, chamada de Bothremydidae, foi completamente extinta, mas sua linhagem foi bastante abundante no passado, com a maioria das espécies tendo apresentado hábitos costeiros. Hoje em dia, as únicas tartarugas que habitam a água salgada pertencem a família Cheloniidae.

Inaechelys foi descrita com base em um plastrão completo, parte da carapaça e alguns ossos da cintura pélvica. Análises comparativas mostraram que seu provável parente mais próximo foi uma espécie de tartaruga que viveu na região de Portugal durante o final do Período Cretáceo, o que sugere algum tipo de comunicação geográfica entre essas duas localidades no passado.

Plastrão de Inaechelys. Imagem retirada do artigo de Anny R. Carvalho e colaboradores, 2016.
Plastrão de Inaechelys. Imagem retirada do artigo de Anny R. Carvalho e colaboradores, 2016.

O artigo que trata da descrição de Inaechelys foi publicado na revista Zootaxa e conta com a participação de três pesquisadoras da UFPE. A primeira autora é Anny R. A. Carvalho, doutoranda em Geologia da UFPE, acompanhada pelas professoras Alcina M. F. Barreto e Aline M. Ghilardi, da mesma instituição.

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Carvalho, A. R. A; Ghilardi, A. M & Barreto, A. M. F., 2016.  A new side-neck turtle (Pelomedusoides: Bothremydidae) from the Early Paleocene (Danian) Maria Farinha Formation, Paraíba Basin, Brazil. http://www.mapress.com/j/zt/article/view/zootaxa.4126.4.3Zootaxa

Sobre o(a/s) autor(a/es):

Aline é bióloga, especialista em paleontologia de vertebrados e criadora da rede de divulgação científica "Colecionadores de Ossos". Atualmente é professora adjunta de Paleontologia do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em Natal, RN.

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