Não. Quando falamos de paleo-meteoritos, nos referimos a idade dos meteoritos a partir do momento que entraram em contato com a superfície terrestre, e não das suas idades absolutas (idade de sua formação). De forma simples, portanto: Paleo-meteoritos são todos aqueles que atingiram nosso planeta num tempo passado.
Apesar de não existir uma ciência específica que estuda o que chamamos de paleo-meteoriros, eles são, em geral, alvo de estudo da Meteorítica, que, neste caso, passa a ter apoio da geologia e da paleontologia.
A Geologia e a Paleontologia por sua veztentam estabelecer os fatores envolvidos na queda deste material.
Podemos classificar Paleo-meteoritos em diferentes classes de acordo com as características únicas que possuem e vamos listá-las abaixo. São basicamente três classes:
Como já mencionado, apesar de serem formados por materiais semelhantes a rochas e metal, os meteoritos são originários do espaço, onde estão inertes, fora do alcance do intemperismo. Porém quando alcançam a superfície da Terra, passam a ter contato com a água e a uma atmosfera oxidante, que causam uma decomposição dos minerais originais do meteorito.
Mesmo apresentando-se como um ambiente hostil, existem alguns locais na Terra que favorecem a uma maior durabilidade dos meteoritos:
os desertos. Quando nos referimos aos desertos, estamos englobando os desertos frios e os quentes, pois ambos apresentam as características necessárias para a preservação dos meteoritos:
eles apresentam baixa umidade e permitem baixa exposição dos meteoritos a compostos químicos que podem levar a sua decomposição.
Nestas condições, o meteorito mais antigo é o Dhofar 025 (lunar), com cerca de 500 mil anos, seguido do Dhofar 908 (lunar) e o Dhofar 019 (marciano), com respectivamente 360 e 340 mil anos, todos encontrados nos desertos quentes de Omã. Destaca-se o fato de que os meteoritos acondritos (subclasse dos meteoritos rochosos onde se classificam os meteoritos lunares e marcianos) parecem ser os mais resistentes ao intemperismo terrestre.
2) Existem também meteoritos que se preservaram em condições semelhantes a fósseis e são encontrados em camadas sedimentares que datam de vários milhões de anos. Esses meteoritos caíram e se alojaram em locais onde sedimentos se depositavam e acabaram sendo englobados nos pacote sedimentar. Ainda preservam suas características originais, como a presença dos minerais originais formados no espaço.
Lake Murray – Rob Elliott, Fernlea
Dentre esses, destaca-se o meteorito de Lake Murray, um meteorito ferroso (octaedrito) encontrado em Oklahoma (Estados Unidos) em 1933. Uma única massa de 270 kg foi encontrada em um arenito datado do Cretáceo Inferior, de cerca de 120 milhões de anos atrás, formado em depósitos litorâneos. Apesar de o exterior estar altamente oxidado, seu interior preserva todas as características e compostos minerais originais. Ele é considerado o meteorito ainda intacto mais antigo da Terra.
3) Existem, porém, outros tipos de materiais que podem ser considerados os registros meteoríticos mais antigos da Terra: Os meteoritos “fósseis” ou meteoritos “relíquias” são materiais encontrados em condições semelhantes às citadas acima, porém que já perderam sua identidade como material extraterrestre.
Österplana – B. Schmitz & M. Tassinari
Meteoritos fósseis são todos aqueles em que já houve a substituição de pelo menos 95% de seus minerais por minerais terrestres, assim como ocorre com os fósseis de seres vivos. Nesta categoria destacam-se os meteoritos rochosos suecos de Österplana e Brunflo, encontrados em arenitos que datam do período Ordoviciano, respectivamente com 480 e 463 milhões de anos.
Partícula férrica meteorítica presa em rocha sedimentar – Hagstrum, Firestone, West, Stefanka, Revay
O meteorito Österplana, além de ser o mais antigo, ainda apresenta outras singularidades: foram encontrados cerca de 50 fragmentos distribuídos por 6000 m2 e em camadas com diferença total de 1,75 milhões de anos, o que pode evidenciar cerca de 12 eventos de quedas diferentes, um possível indicativo de que na época a quantidade de quedas poderia ser de 10 a 100 vezes maior do que o fluxo atual.
Além destes achados, os meteoritos podem estar ainda mais intimamente relacionados com a paleontologia:
Há não muito tempo foram encontrados uma série de 6 presas de mamutes e 1 par de chifres de bisão, todos datados do Pleistocenodo Alaska, contendo várias inclusões diminutas de pequenas partículas férricas.
Análises confirmaram que essas partículas são de origem meteorítica e podem ter sido originadas de um grande impacto, cujos estilhaços, em alta velocidade, foram espalhados por extensas áreas de maneira a cravar pequenos fragmentos nesses animais. Como as presas e os chifres estavam expostos no momento do impacto, ao se fossilizarem, mantiveram esse material que hoje vem sendo usado para estudar a possível relação deste impacto com uma grande extinção regional (e talvez de maior amplitude) de várias espécies desta época, há cerca de 32 mil anos atrás.
Meteorito
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País
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Data
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Classe
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Idade ma°
|
Österplana
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Suécia
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1987
|
Condrito L
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480
|
Gullhögen
|
Suécia
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2000
|
Condrito L
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470
|
Brunflo
|
Suécia
|
1980
|
Condrito H
|
463
|
Lake Murray
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EUA
|
1933
|
Ferroso IIAB
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120
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“Hawaii” (Kyte)
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Havaí
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1998
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Condrito CM
|
65
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Sardis*
|
EUA
|
1940
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Ferroso IAB
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5-23
|
Gay Gulch*
|
Canadá
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1901
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Ferroso IAB
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2-5
|
Skookum*
|
Canadá
|
1905
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Ferroso IVB
|
2-5
|
Ider
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EUA
|
1957
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Ferroso IIIAB
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3.1
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Tamarugal
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Chile
|
1903
|
Ferroso IIIAB
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2.7
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* Idade terrestre exata ainda a ser determinada, estimativa baseada na idade dos estratos.
° Idades dadas em milhões de anos (ma).
Fonte: http://www.meteoris.de/basics/charts3.html
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Apesar das diferenças acima citadas, todos os casos nos ajudam a contar parte da história do planeta e também dos seres vivos de diferentes épocas de estiveram de alguma forma envolvidos.
Uma forma de estudar a evolução da Terra e suas condições climáticas, por exemplo, é quando observamos a evolução dos desertos nos últimos 500 mil anos por meio de meteoritos lá encontrados. Podemos ainda, examinar as possíveis extinções regionais, ou em massa da biota, cruzar com informações sobre as condições do Sistema Solar há milhões de anos, e com isso inferir quais eram as probabilidades de impactos de grandes asteróides potencialmente perigosos no nosso planeta – Assim se fazem as projeções para os dias atuais. Por fim, ainda existe a possibilidade de estudar os próprios meteoritos, que por si só são grandes fontes de informação sobre a formação e evolução do Sistema Solar, e analisar a interação entre eles e a superfície terrestre.
Referências:
CLASSEN, Norbert. “IMCA Insights – April 2009.” I.M.C.A. International Meteorite Collectors Association – Home. Web. 09 Apr. 2010. http://www.imca.cc/insights/2009/IMCA-Insights04.htm>.
CLASSEN, Norbert. “Meteorite Charts 3.” Meteoris.de – Planetary Meteorites. 2006. Web. 09 Apr. 2010.
http://www.meteoris.de/basics/charts3.html>.HAGSTRUM, J.T., FIRESTONE, R.B., WEST, A., STEFANKA, Z., REVAY, Z. “Micrometeorite Impacts in Beringian Mammoth Tusks.” Web. 9 Apr. 2010. http://ie.lbl.gov/mammoth/TunguskaConferenceA4_Hagstrum.pdf>.
“Meteoritical Bulletin: Search the Database.” USGS Mineral Resources On-Line Spatial Data. Web. 09 Apr. 2010. <http://tin.er.usgs.gov/meteor/metbull.php>.
VISSCHER, Channon. “FOSSIL METEORITES.” The Department of Earth and Planetary Sciences at Washington University in Saint Louis. 2003. Web. 09 Apr. 2010. http://epsc.wustl.edu/~visscher/research/fossil_files/frame.htm>.
Obrigada pela maravilhosa viagem, Gabriel!!! Volte a escrever sempre!!
Gabriel Gonçalvez Silva é estudante de Engenharia Química na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus de São Carlos, SP. Apaixonado desde pequeno por meteorítica, e fã de geologia e paleontologia, não podia deixar de ser convidado pelo ‘Colecionadores’ para dar uma “palinha”.
Obrigada mais uma vez, Gabriel!