Os termômetros clínicos digitais infravermelho, esses usados para aferir a temperatura na entrada nos estabelecimentos, são seguros. Eles medem a quantidade de luz que emitimos no infravermelho.

Imagem: Rawpixel.

Esses dias recebi algumas mensagens dos meus tios me perguntando se há perigo no uso do termômetro clínico infravermelho. 

A pergunta: 
Esses termômetros de apontar podem danificar o cérebro? 
Resposta: Não, eles são seguros. 

O princípio do uso dos novos termômetros clínicos, os termômetros digitais infravermelho,  vem de uma observação antiga de um astrônomo e músico chamado Frederick William Herschel. Há mais de 200 anos atrás, Herschel observou que havia uma correlação entre o calor emitido e a cor de cada um dos espectros obtidos por meio de um prisma.

Fonte: OpenClickArtVectors em Pixabay.

Assim, Herschel passou a luz por meio de prisma de vidro e mediu a temperatura de cada cor refratada visível por meio de um termômetro de mercúrio. Os resultados dele mostraram que a temperatura aumentava do violeta para o vermelho. Isto é, ele descobriu que havia uma relação entre a radiação e calor. 

Mas Herschel não parou por aí. Ele resolveu medir a temperatura para uma região em que não havia cor visível, para além do espectro do vermelho e descobriu que aquela região tinha uma temperatura ainda maior, a região que hoje conhecemos como o da radiação infravermelha. Além disso, desses resultados que mostraram a relação entre radiação e calor, ele descobriu que há tipos de luz ou radiação que não são visíveis aos nossos olhos.  

Imagem: Desenho experimental presente no artigo de William Herschel. 

Como você está radiante hoje: os termômetros digitais infravermelhos. 

Sim, nós emitimos luz, mas calma aí, todos os objetos emitem, desde que estejam acima do zero absoluto

Mas qual é a relação com a sua temperatura? 

Pois veja, toda matéria emite uma radiação térmica ou radiação eletromagnética. Todavia, isso inclui os nossos corpos? Sim! Isso acontece graças ao movimento dos átomos e moléculas que acabam movimentando partículas carregadas que compõem a matéria. Assim, no processo, a energia cinética é transformada em radiação.

No caso da radiação infravermelha, um material emite essa radiação de acordo com a sua temperatura e do seus constituintes, ou sua capacidade de emitir essa energia, ou seja, sua emissividade. Isso quer dizer que materiais diferentes vão emitir radiação infravermelha de forma distinta. 

[Existem equipamentos que disponibilizam a imagem do calor, ou radiação infravermelha, são as câmeras termográficas] 

Crédito da imagem: Rawpixel
Mas, que faz o termômetro clínico infravermelho?

Medir a energia radiante do corpo é uma forma indireta de se medir a temperatura. O que o termômetro clínico infravermelho faz é mensurar a energia radiante por meio de um sistema ótico, ou seja, tem uma lente no termômetro capaz de captar a radiação infravermelha. Ele lembra uma câmera, mas ao invés de registrar uma imagem transforma as informações recebidas e a transforma em um dado, a temperatura de um corpo. 

O termômetro não causa dano, mas uma medida errada pode ter consequências para as pessoas. Como os termômetros clínicos infravermelho foram ajustados para medidas da radiação/temperatura da testa, medir a temperatura apontando para outra parte do corpo, pode levar a medidas erradas da temperatura da pessoa. 

Mas e aquele laser que sai de alguns termômetros infravermelho? Alguns termômetros vem com um laser, mas ele serve só para saber para onde o equipamento está sendo apontado. Vai que a pessoa mira no cabelo! 

O importante no caso do laser: Como qualquer apontador, não pode mirar no olho do coleguinha viu!  

Então quando alguém apontar o termômetro para a sua testa fica tranquilo: seja um ser de luz e deixa o termômetro captar a sua radiação! 

Tá pronto para dicas de leituras e atividades?

Dica de leitura:

Para entender o processo experimental e de descoberta de William Herschel, recomendo a leitura do artigo em português Os raios invisíveis e as primeiras ideias sobre radiação infravermelha. O artigo contextualiza os experimentos de Herschel e analisa as conclusões de uma série de artigos do autor sobre a luz e os raios invisíveis.

Dica de atividade:

[1] A National Aeronautics and Space Administration (NASA) preparou um guia para testar em casa o experimento do Herschel. Você vai precisar de uma caixa, um prisma de vidro e termômetros de álcool. Os de mercúrio não são mais usados, pois esse metal é tóxico. Atividade para fazer em casa sobre temperatura e espectro eletromagnético. Uma versão em português pode ser encontrada em O experimento de Herschel no site do Instituto de Física da UFRGS

[2] A NASA Science – Space Place Explore Earth and Space preparou uma atividade sobre correlação entre imagens em infravermelho de rostos e temperatura.

Para saber mais

Herschel, William, XIV. Discovery of Infrared Light

Oliveira, Rilavia Almeida de; Silva, Ana Paula Bispo da (2014) William Herschel, os raios invisíveis e as primeiras ideias sobre radiação infravermelha Revista Brasileira de Ensino de Física, v36, n4.

Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Assim, os autores produzem os textos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional. Além disso, os textos são revisados por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Dessa forma, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


editorial


Graciele Oliveira

Sou a Graciele. Mulher. Brasileira. Minha fala é uma mistura de sotaques. Minha cozinha uma mistura de sabores. Mãe cearense, pai mineiro, irmão são paulino. Bacharel em química e doutora em Bioquímica pelo Departamento de Bioquímica do IQ - USP. Especialista em Jornalismo Científico pela Unicamp. Apaixonada por bioenergética mitocondrial, bioquímica, química, física, astronomia e com uma queda por ciências exatas e biológicas em geral. Bem vindxs!

4 comentários

Tom Souza · 07/12/2020 às 11:28

Adorei o artigo. Deve-se cortar fake news na raiz.
Confesso que já fui em lugares que mediram no meu pulso (e eu nem vi a temperatura que deu) e, como eu não tinha essa informação, passou batido.

MAURÍCIO MASSAYUKI NAMBU · 23/02/2021 às 11:01

Muito didático e agradável de ler, parabéns Graciele!

Daniel · 15/06/2022 às 04:01

Todo mal precisa ser cortado pela raiz, fora covid

desentupidora sp · 30/11/2022 às 12:50

informações valiosas sobre fatos importantes, precisamos discutir mais sobre fakenwes

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