Que tal Bach para encerrar evento de tecnologia?

Michael Hawley estava com pressa para pegar seu voo. Olhou várias vezes para o relógio, o que facilmente despertaria indignação da plateia que passou três dias ouvindo sobre tecnologia no EmTech, conferência que terminou ontem.

Por milagre da música de Bach, não foi o que aconteceu.

Michael Hawley ontem no MIT.

Pianista clássico, jazzista, autor do maior livro do mundo, pioneiro no campo de mídia digital*, Hawley tocou o piano lindamente, com amostras de tocantes músicas de Bach, no encerramento da reunião organizada pela revista Technology Review, editada pelo MIT.

Foi uma verdadeira aula sobre Bach, que morreu há 350 anos e continua sendo o músico mais popular de todos os tempos.

Por que Bach foi tão bem-sucedido? Por que ele inspirou tantos músicos? “Há algo na música de Bach que transcende, te faz sentir vivo”, disse Joshua Bell, em trecho do documentário “Bach&Friends” exibido durante a apresentação.

“A musica de Bach é, de certa forma, engenheirada, colocada de um jeito que nerds e geeks acham esteticamente interessante”, disse Hawley (aos 10min do vídeo).

Aos 36min do vídeo, Hawley faz um paralelo da música com o mundo natural. Música como uma cola para juntar pessoas. 

Minha vontade agora? Assistir ao filme “Bach&Friends”. O trailer dá uma ideia da lindeza da produção.

*segundo Jason Pontin, editor da Technology Review

Curso oferecido a alunos do MIT foca em habilidades e conhecimentos necessários para ensino de ciência e engenharia

Sanjoy Mahajan quer “melhorar a forma como ensinamos ciência, matemática e engenharia”. Professor do MIT e Diretor Associado do Teaching and Learning Lab, Mahajan ofereceu no ano passado um curso voltado para alunos de pós-graduação interessados em seguir carreira acadêmica e em dar aulas no nível superior. Seguindo o perfil open acess do MIT, o curso está disponível de graça online (aqui), como parte da coleção MIT Open Course Ware.

“My Wife and My Mother-In-Law” by William Ely Hill, 1915. Teachers help students see patterns. (Fonte: Wikimedia Commons.)

A ementa do curso inclui tópicos de extrema valia para professores universitários, como: elaborando provas e lições de casa; incorporando história da ciência, criando aulas atrativas; planejando um curso, entre outros.

Marcelo Mori, pós-doutorando da Universidade de Harvard, foi quem achou o valioso curso e sugeriu sua divulgação aqui no blog. Mori e outros tantos brasileiros participaram do terceiro encontro de pesquisadores brasileiros em Boston (leia sobre o primeiro encontro aqui), que aconteceu no último sábado (21). Tínhamos como pauta uma interessante e longa discussão: como a vivência no exterior vem impactando a formação acadêmica de tais cientistas e como compartilhar, já, um pouco dessa experiência com o Brasil. Passamos por vários pontos, desde quais foram as motivações para buscar trabalhar em centros de excelência no exterior, principais dificuldades no início, passando por eventuais deficiências de formação que dificultaram a adaptação e, por fim, lições aprendidas até agora. 

Durante o extenso debate surgiu a reflexão de que, ao longo de nossa formação acadêmica no Brasil, somos precariamente treinados para sermos professores universitários (formação específica para dar aula; treinamentos, técnicas, e por aí vai). Foi nessa hora que Mori comentou sobre o curso acima. 

Em breve divulgaremos aqui no blog um resumo do produtivo terceiro encontro. Aguardem!

PS: escrevi sobre o MIT Open Course Ware para o blog da SBI (aqui).

Preciosidades do MIT: Encyclopédie de Diderot

O bacana de caminhar despretensiosamente pelo campus do MIT é esbarrar em espaços preciosos como a pequena Maihaugen Gallery. Em seus aproximados 30 metros quadrados, a galeria abriga exposições de coleções raras das bibliotecas da instituição, como documentos, fotografias, livros e mapas.

Foi lá que vi volumes originais da famosa obra Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, editada por Denis Diderot. Apreciei imagens detalhadas dos trabalhos manuais de artesãos. Recursos de multimídia me ajudaram a compreender o valor da obra: um X no chão assinalou onde eu deveria pisar para que um sistema de som e vídeo fosse ativado. Logo acima da minha cabeça, uma cúpula acrílica me isolou: um mergulho no mundo dideroidiano.

Diderot classificava Encyclopédie como “um dicionário universal e analítico do conhecimento humano”, disse Kristel Smentek, professora de história da arte (MIT). Ela explica que a ideia de uma enciclopédia contendo todo o conhecimento humano não era nova. O escritor francês inovou ao colocar os trabalhos mecânicos como uma categoria de conhecimento universal tão valiosos quanto as ciências e as artes. Publicada em meados do século 18, a obra causou grande impacto pois à época a crença era que as ciências e artes existiam para enobrecer e edificar, enquanto o trabalho físico/manual era considerado bruto, irrefletido, tolo. Ao detalhar a complexidade, criatividade e habilidade de trabalhos mecânicos  – como artesãos produzindo cartas de baralho -, Diderot mostrou que a mente, não só as mãos, é importante para esse tipo de trabalho. Segundo a professora, tal obra iniciou uma mudança de percepção sobre trabalhos mãos na massa, abrindo o caminho para que escolas de tecnologia e engenharia fossem fundadas. 

Jeffrey S. Ravel, professor de história (MIT), explora a história e controvérsias da obra, críticas à igreja, iluminismo, entre outros. Assista aos vídeos se quiser saber mais.

Estou curiosa para saber qual será o tema da próxima exposição nesse precioso espaço.

Vídeos:

– Kristel Smentek

– Jeffrey S. Ravel

Pesquisadores brasileiros no MIT desenvolvem nova tecnologia digital para prescrição de óculos que poderá revolucionar a oftalmologia

O procedimento é simples e rápido: acople uma estrutura de plástico à tela de um celular, aproxime-a do olho, use as setas do teclado para sobrepor linhas vermelhas e verdes e, em menos de cinco minutos, uma prévia do grau de seus óculos estará pronta. Tal dispositivo, desenvolvido por pesquisadores brasileiros no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, promete revolucionar a detecção de problemas refrativos (grau de óculos) por seu baixo custo e mobilidade, permitindo o uso em campanhas de saúde ocular em regiões onde pessoas não têm acesso a oftalmologistas.

Manuel Menezes de Oliveira Neto e Vitor Pamplona 

Hoje em dia, os testes na maioria dos consultórios para detecção de erros de refração – miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia – ocorrem em duas etapas. Na primeira, um equipamento chamado auto-refrator fornece uma estimativa do grau do paciente. Em seguida, o grau é subjetivamente conferido e ajustado avaliando qual conjunto de lentes permite que o paciente enxergue nitidamente, sem borrões, um painel (tabela de Snellen) com letras (optótipos) (melhor assim ou assim?). “O dispositivo que desenvolvemos combina, em uma única etapa, avaliações objetivas e subjetivas”, disse Manuel Menezes de Oliveira Neto, professor de Ciência da Computação no Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisador visitante do Media Lab (MIT) e um dos responsáveis pelo projeto.

Ao acender e apagar pontos específicos da tela LCD do celular, a tecnologia, denominada pelos pesquisadores de NETRA (Near-Eye Tool for Refractive Assessment), cria um objeto virtual que varia em profundidade. A luz emitida pela tela do celular atravessa pequenos furos de uma máscara acoplada ao celular. Ao variar a posição dos pontos (pixels) iluminados, simula-se os efeitos de convergir e divergir os raios de luz que passam pelas lentes de óculos (veja vídeo). “O usuário tenta sobrepor linhas exibidas na tela do celular. Caso ele tenha um sistem visual perfeito, nenhum alinhamento é necessário”, explica Vitor Pamplona, estudante de doutoramento da UFRGS, atualmente trabalhando no Media Lab, responsável pelo desenvolvimento do software que converte as informações dos alinhamentos em graus para prescrição de óculos. O conjunto de alinhamentos, atribuídos pelo próprio paciente, reflete seus erros de refração. Basicamente o software detecta o quanto as imagens se movem na tela do celular. “Substituímos as lentes por uma máscara e objetos que se movem virtualmente”, completa Oliveira.

Segundo Pamplona, a base teórica do NETRA é a mesma de outras tecnologias: projeção de imagens na retina e leitura destas imagens. “A grande diferença no nosso caso é que o próprio usuário faz a leitura das imagens, ao contrário do auto-refrator, por exemplo, que lê automaticamente as imagens por meio de câmeras”, disse.

A leveza e relativa simplicidade do dispositivo desenvolvido no Media Lab, sob a coordenação do professor Ramesh Raskar com a participação também do pós-doc Ankit Mohan, contrasta com seus possíveis amplos impactos e alcances. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, dois bilhões de pessoas sofrem com problemas de visão devido a erros de refração e necessitam de óculos ou lentes de contato. Quando não corrigidos com uma simples prescrição de óculos, os erros de refração representam a segunda maior causa de cegueira no mundo.

“A portabilidade parece ser o maior apelo desse novo dispositivo, que pode se tornar muito útil nas cada vez mais frequentes campanhas de saúde ocular no Brasil, especialmente em populações carentes com difícil acesso ao oftalmologista”, destaca Francisco Max Damico, oftalmologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. No entanto, Damico alerta que ele nunca deverá ser usado para a prescrição de óculos, como algumas ópticas no Brasil fazem usando os auto-refratores. “O dispositivo nunca deverá substituir um exame oftalmológico completo, que poderá detectar alterações assintomáticas e precoces de doenças graves como glaucoma e degeneração macular, que podem cegar se não forem tratadas precocemente, e que não têm nada a ver com os óculos”.

Ramesh Raskar, pesquisador que vem desenvolvendo tecnologias baseadas em câmeras fotográficas, acredita que o dispositivo terá em breve para a oftalmologia o mesmo valor que o termômetro tem na medicina. O próprio paciente pode detectar alguma alteração em sua acuidade visual, mas o médico continuará com a tarefa de prescrever a lente correta.

Se te chamarem de louco, você está no caminho certo

Das mãos do famoso Dean Kamen já saíram extraordinárias invenções.

Sempre buscando criar objetos que efetivamente mudam a vida das pessoas, o inventor e empreendedor inspirou a plateia presente no evento BetterWorld, que aconteceu dia 30 de abril no MIT. Organizado pelo fórum de empreendedorismo do instituto, o tema deste ano foi “Acelerando inovações do laboratório para o mercado”. Ao resgatar um pedaço da sua história, Kamen motivou e emocionou os ali presentes.

Fiquei imaginando Kamen-criança-inventora trabalhando no porão da casa dos seus pais, montando e desmontando objetos, criando máquinas. Seu talento me parece nato. Há 32 anos ele inventou a primeira bomba de insulina (AutoSyringe) para pacientes diabéticos. A pedido do cliente Johnson&Johnson, mudou em apenas seis semanas a geometria dos stents cardíacos. No início da década de 1990, ajudou a desenvolver o ThinPrep, teste muito mais sensível do que o tradicional teste Papanicolau para detecção de câncer cervical. 

“Talvez a nossa história de maior sucesso tenha sido o equipamento de diálise Homechoice PD”, disse. O aparelho é pequeno e permite que o paciente faça diálise em casa, todas as noites, evitando as inúmeras visitas ao hospital, o que faz com que ele se sinta bem melhor. Lembrei dos sofridos pacientes em diálise que eu esbarrava no Hospital das Clínicas, durante meu doutorado. Kamen contou que quando ele propôs tal tecnologia, disseram que ele era louco e que o produto nunca seria aprovado pelas agências regulatórias. “Esta é a melhor maneira de começar um projeto, sinal de que você está no caminho certo”, destacou.

Segundo o inventor, o equipamento mais sofisticado que eles conseguiram aprovar até hoje foi o iBot. Usando uma tecnologia de auto equilíbrio, o iBot é uma reinvenção da cadeira de rodas por possibilitar subir e descer escadas e deslocar em terrenos esburacados. Vale assistir ao hilário vídeo em que Kamen é entrevistado por Stephen Colbert.

iBot. Fonte: DEKA Research & Development Corporation

Ao tentar extrapolar o uso do iBot para uma área fora da medicina, Kamen lançou o Segway, um veículo – ecologicamente correto – de transporte pessoal . “Hoje sou conhecido como o homem Segway, mas confesso que gastei apenas um fim de semana para desenvolvê-lo e anos para chegar a outros produtos”, disse.

Segway, veículo de transporte pessoalFonte: Segway

Projetos e produtos não param por aí. Um de seus projetos atuais é o desenvolvimento de um braço protético (The DEKA Arm), encomendado pelo departamento de defesa do governo norte-americano. Kamen está envolvido também com o problema da falta de água limpa e de energia ao redor do mundo. Ao tentar superar o modelo antigo de grandes reservatórios de água, ele criou uma caixa – facilmente transportável para qualquer lugar – que fornece água potável a partir de qualquer fonte de água. “A política global e modelos de negócios desatualizados impedem a disseminação de tecnologias como esta. A solução tecnológica existe, mas não sei como resolver este problema não-tecnológico”, desabafou.

Foi tocante ouvir sobre invenções que vêm impactando a vida de tanta gente. Mas a parte mais comovente, na minha opinião, foi quando ele descreveu o programa FIRST (For Inspiration and Recognition of Science and Technology), criado em 1992 com o objetivo de inspirar jovens para carreiras de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, por meio de competições em robótica. Segundo Kamen, a ideia partiu do desconforto com o peso quase que exclusivo que o esporte tem na vida das crianças norte-americanas. “Elas sabem tudo sobre as ligas de futebol e de basquete, mas não sabem dizer o nome de um cientista”. Já ouvimos sobre este problema antes, certo? 

Não resisti e tive que colocar mais uma foto dessa figura inspiradora. E sorrindo ainda, como ele deve ter recebido as milhares de crianças que têm participado do FIRST.

Detecção precoce de câncer tem limite*

Prometi que não publicaria a mesma informação aqui e no blog da SBI, mas, neste caso, não resisti. 

“Quanto mais cedo o câncer for detectado, maiores serão as chances de cura”. Não há nada de novo nesta afirmação, certo? Mas para garantir tal detecção precoce, você estaria disposto(a) a implantar em seu corpo um sensor que libera um sinal (câncer!) lido por um equipamento do tamanho de um celular que você mesmo carrega? Fico imaginando a seguinte cena: a pessoa acorda, liga o aparelho e pergunta: “será que é hoje o dia em que serei diagnosticado(a) com câncer?”

Sensores in vivo para detecção de câncer. Fonte: Koch Institute/MIT

Escutei sobre tais sensores in vivo na última sexta-feira (30/abril), como parte de uma das atividades do evento BetterWorld, organizado pelo Fórum de empreendedorismo do MIT. Urvashi Upadhyay, médica e pesquisadora do Koch Institute (MIT), explicou que os sensores utilizam sistemas micro-eletromecânicos que detectam, por exemplo, uma alteração de pH. Combinados a nanopartículas que permitem visualizar alterações moleculares e celulares, os sensores podem ser utilizados não só para detecção precoce mas também para liberação de drogas no local e no momento apropriados. 

Não há dúvidas de que a tecnologia é de fronteira e pretende tratar eficientemente a doença mais temida da humanidade. Robert Urban, diretor executivo do Koch Institute, falou sobre a estratégia que os engenheiros e cientistas do instituto estão adotando. “O câncer é uma doença tão complexa que optamos não por buscar a cura, e sim por usar tecnologias para melhorar o tratamento”, disse.

Mas será que é saudável carregar tais sensores? Eles devem ser adotados por todos ou apenas por grupos de risco? Será que eles nos fariam doentes? Há algum paralelo entre os sensores e os testes genéticos? O que você faria com a informação de que está escrito no seu DNA que você tem 30% de chance de desenvolver um câncer aos 58 anos? E onde entram os RNAs, que podem regular tudo isso?

Enfim, este post deveria ter seguido o modelo do Perguntas de Biruta, de André Báfica.

E, para terminar, mais uma pergunta: será que Ray Kurzweil está certo? Segundo o futurista, sofremos tantas doenças pois o nosso DNA está desatualizado. Está na hora de reprogramar o nosso código genético com implantes de microchips para acompanhar a contento o desenvolvimento tecnológico?

Adoro a liberdade que o blog permite. Mais perguntas do que respostas.

*Publicado originalmente no SBlogI.

Bill Gates convoca mentes brilhantes a salvar o mundo Abri a caixa do correio e, entre contas e mil

Bill Gates convoca mentes brilhantes a salvar o mundo

Abri a caixa do correio e, entre contas e mil papeis indesejados, lá estava ele, Bill Gates, na capa da edição de maio da revista Wired. Coincidência! Soubera, poucos minutos antes, que eu poderia vê-lo no dia seguinte, ao vivo, no MIT.

Quarta-feira (21) foi o dia em que fiquei no mesmo ambiente que o multibilionário, co-fundador da Microsoft, filantropo, e que agora se dedica às atividades da Fundação Bill & Melinda Gates (ahah, quantos adjetivos!).

Devo confessar que gostei do burburinho, da agitação e dos mil flashes nos primeiros cinco minutos após a entrada de Gates no auditório. No entanto, já sabendo que o tema de sua palestra seria filantropia (Giving Back: Finding the Best Way to Make a Difference), não esqueci dos criticismos a ele (monopólio, concorrências desleais, dúvidas se o dinheiro da fundação é só para fazer o bem mesmo…). Enfim, não quero aqui discutir estas questões, e sim relatar o que ele disse durante os 25 minutos da palestra, parte de um tour que ele fez em cinco universidades norte-americanas convocando mentes brilhantes a trabalhar em problemas, segundo ele, verdadeiramente importantes.

Gates falou sobre saúde – com foco exclusivo em vacinas para doenças que atingem países em desenvolvimento – e educação. Ele contou que há um tempo atrás leu uma reportagem sobre doenças em países pobres e aprendeu que o rotavírus (então novidade para ele), embora responsável pela morte de inúmeras crianças, não era tema prioritário na ciência. Pouquíssimos pesquisadores estudavam a doença. O mesmo acontece com a malária. “E por que não utilizar os lucros da Microsoft para tentar solucionar tais problemas da humanidade?”, disse.

O único gráfico apresentado por Gates mostrou que, na década de 1960, 20 milhões de crianças morriam anualmente antes de completar cinco anos, número que agora atinge a marca dos 8.8 milhões. Tal decréscimo aconteceu por conta da melhoria na nutrição e na renda, mas, segundo ele, as vacinas foram as principais responsáveis por esta drástica diminuição no número de mortes infantis. O que o impressiona é o fato de que menos de 1% dos gastos médicos é com vacinas. “É uma área desvalorizada. E as vacinas, depois de prontas, são baratas”, destacou.

Melhorar a saúde infantil tem um impacto direto no tamanho da família e, consequentemente, é uma boa saída para controle populacional, enfatizou Gates, que destacou uma palestra de Hans Rosling, médico e pesquisador do Instituto Karolinska (Suécia) como importante na área.

Em seguida, o multibilionário falou sobre educação, que além de tornar nossas vidas mais interessantes, amplia enormemente nossas oportunidades, disse. Ele falou sobre o precário sistema educacional nos Estados Unidos e da preocupante tendência de que cada vez um número menor de pessoas frequentará a universidade. “Nosso objetivo é achar as melhores práticas educacionais e disseminá-las”. 

Gates citou a iniciativa de cursos abertos, liderada pelo MIT, e recomendou que todos façam pelo menos algum dos cursos disponíveis online de graça: MIT OpenCourseWare. É uma fonte riquíssima de informação!

Com o patrimônio de 53 bilhões de dólares, segundo a revista Forbes, Gates quer saber agora como envolver as pessoas mais inteligentes para resolver os problemas de saúde e educação levantados.

Ao terminar sua fala, abriu uma garrafa de Diet Coke e respondeu a inúmeras perguntas da plateia. Fez uma convocação para que pessoas entrem no Facebook e coloquem lá suas ideias.

Gostei da reflexão proposta:

Em qual problema você está trabalhando? O que te atrai? Como você atrairia outras pessoas para tal área?

Para tirar suas próprias conclusões, assista ao vídeo e, se quiser, compartilhe comigo suas reações e impressões.

Peculiaridades do ecossistema empreendedor do MIT

Os números do empreendedorismo no MIT impressionam: as 25.800 empresas atualmente ativas, fundadas por alunos do MIT, empregam mais de três milhões de pessoas e geram uma receita anual de dois trilhões de dólares, rendimento equivalente a 11ª maior economia do mundo.

Alnylam, empresa que vem desenvolvendo terapias inovadoras baseadas na tecnologia de RNA de interferência, tem como sócios fundadores e membros do conselho científico os professores Robert Langer e Philip Sharp.

Quer saber mais sobre tal tema? Leia a reportagem que escrevi para a Revista Conhecimento&Inovação.

DNA não é só o “segredo da vida”, diz cientista

Gosto dos conselhos que alguns cientistas dão para a plateia, geralmente ao final de suas palestras. Em um dos primeiríssimos eventos de que participei no MIT, ouvi o que talvez tenha sido uma das dicas (acadêmicas) mais importantes que recebi até hoje. Frank Wilczek, prêmio Nobel em física, disse: “saiba a história da sua área”. Embora pareça óbvio, muita gente acaba não colocando em prática. Vale pregar na parede para não esquecer. Talvez a busca frenética pelo novo faça com que o tão importante resgate histórico fique de lado. “Ele está sendo ahistorical”, me disse certa vez Susan Silbey, professora de antropologia e sociologia do MIT, ao criticar as conclusões do trabalho de um colega.

Depth, 1955; Fonte: site oficial M. C. Escher 

Hoje ouvi outro conselho precioso: “não se esqueça da arte; há ideias formidáveis por lá”. Adivinhe de quem partiu tal conselho? Do bioquímico Nadrian (Ned) C. Seeman, o inventor da nanotecnologia de DNA. Ele falou hoje para o colóquio da Biologia, evento realizado semanalmente no MIT, e que conta com a participação de cientistas do mundo todo, das mais diversas áreas das ciências biológicas.

Seeman disse que sempre começa suas palestras pedindo para que as pessoas esqueçam o conceito biológico de DNA, e todas as imagens de plantas e bichos com as quais relacionamos a “molécula da vida”. Logo no início deixou claro que usa materiais naturais (DNA) para criar coisas não-naturais (DNAs malucos). A ideia é afastar o DNA fonte de informação genética e usá-lo como uma espécie de aparato, aproveitando sua importante característica de reconhecer trechos específicos de DNA e de se montar sozinho (self-assembly).

Um dos grandes feitos de Seeman foi criar moléculas ramificadas de DNA. Refrescando a memória, o DNA é uma cadeia linear, com duas fitas entrelaçadas, formando uma dupla hélice. O bioquímico, inspirado pela obra Depth, de E. C. Escher, quebrou o paradigma da linearidade e desenhou moléculas com vários galhos. Usando extremidades coesivas do DNA (com informação exata de onde se ligam), Seeman e seu grupo montaram um cubo que foi o primeiro objeto tridimensional construído em escala nanométrica. Não sei se ele foi inspirado por ou se apenas usou o exemplo dos tijolos das tumbas da dinastia Ming, em Nanjing, na China, que contêm pequenas letras que representam instruções para montagem. Ele usa o mesmo princípio de instrução ao desenhar seus minúsculos objetos feitos de DNA.

Usar tais objetos de DNA – que incluem nanotubos e cristais tridimensionais – ligados a biomoléculas e a componentes nanoelétricos é um dos objetivos de Seeman em suas variadas pesquisas. Foram criados instrumentos nanomecânicos, incluindo nano-robôs. Segundo ele, a ideia é sair cada vez mais do desenho de objetos estáticos e partir para uma combinação de diversos componentes. 

Vou ficar de olho nele, principalmente no movimento “de genes para máquinas”. Ganhador de inúmeros prêmios, Seeman atualmente é professor do Departamento de Química da Universidade de Nova Iorque (NYU).

Jerome Friedman, Prêmio Nobel em Física, discute a peça Copenhagen

Copenhagen, premiada peça do inglês Michael Frayn, conta a história do misterioso encontro entre os físicos Niels Bohr e Werner Heisenberg, ocorrido em 1941. Baseada em fatos reais, Frayn usa a ficção para criar diferentes cenários de como teria sido a visita de Heisenberg a Bohr, em Copenhagen. Antes parceiros, os então ícones da física atômica estavam agora em lados opostos durante a segunda guerra mundial e eram líderes de um domínio da ciência que poderia criar a arma mais perigosa da humanidade. Bohr colaborou com os Estados Unidos no projeto Manhattan e Heisenberg permaneceu na Alemanha tentando desenvolver sua própria bomba. Ainda hoje se discute o quê exatamente Heisenberg teria dito a Bohr, e qual teria sido o verdadeiro motivo da sua viagem à Dinamarca. 

Jerome I. Friedman, no MIT, discutindo Copenhagen (02/abril/2010)

Participei de uma discussão sobre Copenhagen, na última sexta-feira, que contou com a presença de Jerome I. Friedman, professor emérito do MIT e ganhador, juntamente com Henry W. Kendall e Richard E. Taylor, do Prêmio Nobel de Física em 1990. A discussão é parte de uma disciplina sobre liderança que se baseia na leitura de clássicos, oferecida aos alunos da escola de negócios do MIT (Sloan School of Management).

Friedman contou que encontrou Heisenberg duas vezes. A primeira foi em 1951, ainda quando estudante. “Heisenberg era considerado persona non grata”, disse. Já no segundo encontro, em 1970, a relação do físico alemão – pai da física quântica – com a sociedade científica norte-americana havia sido restabelecida, e o reconhecimento de que Heisenberg era um dos mais importantes físicos do século 20 dominava.

Segundo Friedman, Heisenberg não era nazista e sim nacionalista. Abalado com o sofrimento dos alemães após a primeira guerra mundial, ele preferiu ficar em seu país à época da segunda guerra, enquanto muitos físicos deixaram o país. “Ele não queria ver a Alemanha perder”. Para Friedman, embora os físicos alemães tivessem o conhecimento científico necessário para o desenvolvimento da bomba, a industrialização do processo não era apropriada. O reator construído por Heisenberg tinha um design ruim. Além disso, ao contrário dos cientistas envolvidos no Projeto Manhattan, os pesquisadores alemães não se comunicavam e trabalhavam isoladamente, o que para ele foi um dos principais motivos da Alemanha ter perdido a corrida pela bomba. Friedman destacou também que os físicos envolvidos no Projeto Manhattan, para ele, eram pessoas decentes e ao mesmo tempo receosos de que a Alemanha desenvolvesse a bomba e dominasse o mundo: “imagine o mundo tomado por Hitler”, disse.

Pelos comentários da plateia, deu para perceber que essa é a noção ensinada na escola aos norte-americanos: salvamos o mundo de Hitler. Por outro lado, segundo depoimento de uma das alunas, a costa oeste dos Estados Unidos e as ilhas do pacífico carregam um maior sentimento de culpa pela explosão das bombas atômicas, possivelmente pela proximidade com o Japão. Um dos alunos, que morou em Hiroshima por cinco anos, contou que o que se diz por lá é que as bombas faziam parte de experimentos, uma vez que três dias após as explosões, os norte-americanos voltaram ao local para fazer medidas.

A discussão em seguida foi sobre a conduta ética de cientistas trabalhando em áreas que possam vir a trazer algum risco para a sociedade. Friedman foi taxativo: “O objetivo da ciência é entender a natureza, e não há nada de errado ou mau nisso. Os cientistas, ao tentar entender a natureza, não têm ideia do que vão encontrar. Nunca sabemos, e por isso não podemos colocar restrições”, disse. Para ele, os cientistas têm sim a responsabilidade de alertar políticos e outros setores da sociedade sobre resultados de suas pesquisas que tenham impacto importante, como o que está acontecendo agora com o aquecimento global. 

Entendo quando Friedman fala em não criar restrições às pesquisas, principalmente depois de ouvir sua explicação sobre o fascínio que a física desperta nele. Ao falar sobre a dualidade do elétron, que ora se comporta como onda, e ora como partícula, mas nunca os dois simultaneamente, o físico lembrou que sempre que tentamos observar o elétron, ele se transforma em partícula. O fato de não conseguirmos medir exatamente onde um objeto está em um determinado momento, é fascinante. “Ficamos loucos por não conseguirmos entender“, disse. É o princípio da incerteza de Heisenberg. Aliás, Frayn me deu de presente a melhor explicação até hoje sobre o tópico. Em um dos diálogos de sua peça, Heisenberg pede que Margrethe, esposa de Bohr, fique parada representado o núcleo. A cidade de Copenhagen representa o átomo (proporção correta). Bohr, como elétron, fica caminhando ao redor do núcleo. Quando Heisenberg, o fóton, tenta observar o elétron com uma lanterna, o elétron diminui sua velocidade e pára. Não podemos observar nada sem introduzir um novo elemento à situação: o observador influenciando a observação. Com todo esse fascínio, claro que a vontade é de não parar as pesquisas. Mas penso que nem todos os cientistas são tão ingênuos/imaculados assim.

O assunto é sensível e interminável. Mesmo correndo o risco de tocar em temas já muito comentados, não queria deixar de compartilhar a experiência de ouvir a opinião de um renomado físico que despertou em mim a vontade de entender mais sobre a matéria, literalmente. Fiz um julgamento moral, na última frase do parágrafo anterior, exatamente o que Michael Frayn disse que não quis fazer com sua peça. “Antes de fazermos qualquer julgamento moral precisamos saber os reais motivos, eventos, mistérios que levaram a tomada de determinado caminho”, disse Frayn na apresentação do filme baseado na peça, produzido pela BBC. Fazendo um paralelo com o princípio da incerteza de Heisenberg, “não conseguimos ter conhecimento absoluto sobre as intenções de ninguém”. E é possível também que nem o próprio Heisenberg soubesse o motivo de sua visita a Bohr.

Ao final da manhã, em agradecimento por sua participação na discussão, Friedman ganhou do professor da disciplina o mais novo livro de Ian McEwan, Solar.

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