Doutoradices…

Eu e o Rafael, hoje, via GTalk:

eu: vou clonar 2 enzimas e fazer o possível para conseguir os cristais

Rafael: vixi, mas cristalizar demora anos, nao?

eu: depende, de qualquer modo, a clonagem e expressão já me garantem; se o cristal não sair, paciência

Rafael: ah tah, era isso q tinham me dito… ninguem baseia um doc em cristalização de prot, pq é meio loteria

eu: se eu der sorte…

Rafael: como sorte nao é o forte de cientistas, melhor ter um plano B

eu: eu tenho B e até C, se tudo der errado consigo 2 papers hahahahahahahahahhahaa
se der 2 papers prá eu pegar os diplomas de mestre e de doutor já fico feliz… VDM

Rafael: vdm? é, eu vou sair no máximo com 3

eu: (vida de m#r%a)

Rafael: falta interação aqui no laboratório, pelo menos artigo um ja saiu

eu: ainda tenho 3 anos e muita coisa pode acontecer, pode vir mais colaboração, por exemplo, ou algumas coisas podem dar mais certo, sei lá… é muito cedo
mas o plano mínimo é esse que te falei agora… eu não devia dizer isso, mas não é possível que dê TUDO errado né

Rafael: tudo nao, mas comigo deu quase tudo errado hehehe… mas isso sou eu

eu: mas vc tem uma publicação, tá valendo… eu não tô nem perto ainda (por mais que minha chefe diga que estou)

Rafael: hahahah, que f$da essas historinhas

eu: ela fica pedindo “e o teu paper, escreveu? fica o dia inteiro no computador, deve ter escrito uns 3 já, cadê ele?” e eu respondo “profa. ainda estou terminando os experimentos que a senhora pediu”

Rafael: hahahaha

eu: aí diz “quero mandar o artigo em fevereiro/março/abril/maio/junho/julho/agosto quando eu sair da correria”, “a gente tem que mandar seu trabalho, tem que mandar, mandar, mandar”
e eu respondo “não tá prontooooooo”
hahahahah
o dia a dia é mais ou menos esse
daí ela viaja e na volta fala “cadê teu paper?”, daí eu respondo “sabe aquele experimento que a senhora pediu? fiz e não deu em nada”
“vamos mandar com esses resultados mesmo então, cadê o paper?”
“professora, ainda faltam os resultados, disso, disso e disso aqui…” hahahaha, é f#da

Rafael: hahahahaha
publica esse diálogo, tá muito engraçado…

Pois é, e esse diálogo engraçado pode ser resumido em uma imagem:

DoubleFacePalm.jpg

Tem coisa que só o doutorado faz por você…

A doce vida na academia.

Não me contive, o quadrinho abaixo me fez rir por muito tempo por trazer à tona várias situações parecidas que já vivenciei em meus poucos anos de pesquisa.

Quem também está (ou esteve) na pós-graduação vai saber exatamente do que estou falando. Quem não souber e pensar em fazer parte desse meio, prepare-se para o que virá. A tradução do quadrinho está logo abaixo da imagem:

phd_rnam1.png

Professor: “Processe os dados usando o método X.”

Aluno: “Ahn, isso não vai funcionar, nós tentamos ano passado.”

Prof: “Verdade?”

Aluno: “É, lembra? Eu levei semanas nisso porque você insistiu que ia funcionar.”

Prof: “Humm…”

Aluno: “Devo tentar de novo?”

Prof: “Não,não. Isso seria um desperdício de esforço. Vou pedir para outro estudante fazer o que mandei.”

Aluno: “Eu… estou tranquilo em relação à isso, na verdade.”

Isso que é confiança, não acham?

E assim segue a maravilhosa vida acadêmica. Como diria o Átila, “podem entrar que a água da piscina está quentinha…”

Tem uma história parecida? Mande nos comentários!

Imagem: PHD Comics, do excelente Jorge Cham!

RNAm no Superpop: o vídeo e as impressões

superpop.jpg

Olha a Lú me defendendo do pastor aí!


Pra quem tinha mais o que fazer na segunda anoite, segue aqui o link pro programa sobre o fim do mundo em 2012, do qual participei.

Participei daquele jeitão. Fui com o espírito leve, querendo me divertir. Pois já imaginava que falar algo realmente pertinente seria difícil. E foi.

Uma hora a produção pedia polêmica, depois pediam “fala um só de cada vez”, e aí ganhava quem parava de gritar por último. E eu não fui pra me estressar.

De cara a Luciana Gimenez fez a ligação direta que eu queria evitar: você é cético? Então não acredita em Deus?

Não queria ligar o ceticismo diretamente ao ateísmo. Esta é uma correlação que não é necessária. Muitos céticos não são ateus, e vice-versa. Mas no meu caso sou as duas coisas e a Lu (fiquei íntimo) queria bater nessa tecla, provavelmente por ser agnóstica ou até mesmo atéia. O pensamento cético é algo que todos necessariamente devem praticar, mas religião cada um pode ter ou não ter a sua.

Não preciso nem dizer que a ciência não foi nem mesmo tocada, mas pelo menos tudo foi tão confuso que nem mesmo os fatalistas convidados puderam falar muito.

O mais interessante desta participação foi a discussão que gerou entre os divulgadores de ciência do Scienceblogs Brasil e meus colegas cientistas: vale a pena participar destes programas? E qual postura se deve tomar no palco?

Vale a pena participar?

Muita gente achou que eu não deveria ir, que pode queimar o filme participar de um programa tão povão. Oras, eu faço este blog para ter o maior alcance possível. Tento escrever de um jeito simples ao máximo, onde o limite é apenas a validade e o embasamento do que escrevo. Claro que eu prefiro escrever mais no estilo do colega Amigo de Montaigne, mas acho que este estilo minimamente rebuscado afasta muita gente que só quer se encantar pela informação fácil, ou o “povão”. Mas este é um problema de estilo e objetivo que é muito pessoal e não tem uma regra geral. Sem contar que eu me diverti a bessa, e isto deve ser levado em conta.

Postura do divulgador de ciência

Estando lá no palco, eu deveria ser irreverente, sarrista, sacana, amargo, azedo, sério, sisudo,…? Não poderia parecer arrogante, isto é o que queria evitar ao máximo. E na cabeça das pessoas os cientistas já tem esta cara de arrogante detentores (ou detentos) da verdade. Melhor fugir disto. Muita gente cobrou que fosse mais incisivo, tentasse ganhar a palavra mais um pouco e até ridicularizar os malucos em cena. Mas é difícil achar o ponto exato de ridicularizar sem cair na máscara arrogante que afasta o telespectador. TV é simpatia! Acho que num programa como este o ideal é ser levemente ácido, ou azedinho-doce (existe ainda este chiclete?): doce com a apresentadora e a produção SEMPRE, e ácido apenas com os convidados e as câmeras ligadas.


Cientista ou divulgador?

Durante o programa recebi vários twits pelo @Rafael_RNAm (<- siga!) e alguns me chamaram atenção com relação a eu ter me classificado como divulgador de ciência e não como cientista ou biólogo. Uns acharam chique, outros acharam ridículo.Independente de gosto, eu estava lá não como especialista da minha área, afinal um astrônomo, físico ou geólogo (ou um psiquiatra) poderiam estar ali como especialistas. Mas como o que se pôde arranjar foi EU, não quis me apresentar como biólogo. Não pra não queimar o filme, mas porque não cabia mesmo e acabaria até tirando a pouca autoridade que eu poderia ter.

Na questão de gosto, acho o título “divulgador de ciência” muito garboso e deveria ser mais utilizado, acabando assim com a autoridade excessiva e distanciadora do ES-PE-CIA-LIS-TA, e abrindo caminho a estas pessoas que, como eu e o Scienceblogs todo, estão mais treinados em falar sobre ciência com os não-cientistas. Coisa que poucos especialistas ou cientistas sabem fazer.

Só mais duas coisas:
1- Viu a camiseta do Scienceblogs Brasil que estou usando? Acabou de sair do forno, que acharam?
2- Quem acha que Luciana Gimenez é burra, pode esquecer. E eu gostei dela. Juro!
[para ‘burra’ procurar ‘Cida Marques’]

RNAm no Superpop. Será o fim do mundo?

luciana_guimenez_tvlazer2.jpg

“Fim do mundo em 2012!? Que loucura! Nem eu acredito nisso!”


O RNAm, na pessoa de @Rafael_rnam, estará hoje (31/5/10) no programa Superpop, com Luciana Gimenez AO VIVO(!!!) às 22hs.
Falando sobre um assunto que é super-atual e super-a-nossa-praia: o fim do mundo em 2012!
Fomos contactados pela produção graças ao post de caça ao paraquedista. Esta blogagem coletiva do ScienceBlogs Brasil tinha como objetivo atrair pessoas desavisadas pela busca no Google. Como esse tema 2012 está tão em voga, escrevemos um título bem chamativo: O fim do mundo não será em 2012. Será em 2019
Este é um dos posts dos quais eu mais me orgulho, mas não fala nada da profecia maia!
Isso só prova que estagiários de televisão não leem, e que blogagens de caça a paraquedistas funcionam. E neste caso não foi um paraquedista, mas sim um zepelim hinderburguiano!
Agora é só tomar muito calmante e discutir os “argumentos” dos fatalistas lá no palco.

Dança dos elementos químicos

Calma, não é nenhuma dança circular new age, é uma campanha da União européia para estimular jovens a entrar em carreiras de pesquisa acadêmica.

Imaginem se o filme fosse do Michael Bay, como seria a luta do potássio com água.


É para este fim de estímulo aos jovens que existe a organização que produziu o vídeo, a Marie Curie Actions, ligada à Comissão Européia de pesquisa.
E não precisa ser um gênio como a Marie Curie pra entender a importância deste tipo de ação.
via Cosmonaughty

Horóscopo: mitos, verdades e o limite da paciência

tolo.jpgEu me divirto muito, sabia? Não bastasse imagem chorona de Jesus (se bem que eu choraria também se não fosse meu senso deturpado de humor), olha o que me aparece na chamada da página principal do MSN Brasil:
“Inferno astral: Mitos e Verdade”
Diz lá que o governador Serra adiou sua candidatura à presidência por estar passando pelo seu inferno astral. E segue contando que a VERDADE sobre o inferno astral é que pelo ano gastamos nossa energia vital (ou chi, ou mojo, ou neurônios) e q no aniversário recarregamos a energia (comigo é diferente – eu fico mais animado com a proximidade do meu aniversário, e no dia seguinte a ele estou péssimo de ressaca, por mais energético que eu tome na festa)
Bom, quanto aos mitos e verdades eu vou encurtar a história pra você:
MITO: Credibilidade dos grandes veículos da mídia.
VERDADE: Horóscopo é balela!!!
Ok, vamos deixar uma coisa bem clara: Não acredito em horóscopo. Na verdade ele e toda baboseira astrológica me causam verdadeira irritação, #prontofalei.
E se você nem desconfia do porquê então você vai amar ou odiar este blog. Não vai ter meio termo.
As únicas explicações que vou dar para justificar tal nojo são o fato de ter uma postura cética da vida, e este vídeo: -Clique aqui pq não deu pra incorporar ao texto

Pena não ter legenda, mas o que ele mostra é um cara que escreve um texto sobre a personalidade da pessoa baseando-se no desenho da mão, na data de aniversário e em um item pessoal, tudo dentro de um envelope. Após análise, e sem ter como saber de quem é cada envelope, ele traz o texto e pergunta o quanto a pessoa se identifica com ele. As respostas variam de 100 a 80, 70% de semelhança. Um cara só diz ter se identificado com apenas 45% da descrição.
Quando o apresentador pede para as pessoas trocarem de texto com os colegas eles percebem que estão todos lendo o mesmo texto!
O lance é que o texto foi escrito de um jeitinho maroto, usando vários truques com os quais 90% das pessoas se identificam. E não vai pensando que era um texto do tipo “você já teve um namoro problemático, OU NÃO”, o texto é bem especifico em alguns detalhes. É só ver a cara do povo quando percebe que é o mesmo texto pra confirmar isto.
Fato é que a gente acha que está atento a tudo e no controle da situação, mas podemos ser enganados facilmente. O horóscopo faz isto todos os dias.
E o mais importante
Ah, só mais uma coisinha: tenho um conhecido que escrevia horóscopos num jornaleco aí sem nem saber o signo de quem nasce em dezembro e muito menos apontar o cruzeiro do sul no céu.
Tomara que este post não me acumule mais carma.

“Publicar na Nature? Eu nem queria mesmo…”

O vídeo abaixo está ilustrando, de um jeitinho todo especial, como os pesquisadores decidem para qual revista científica vão mandar seu trabalho de pesquisa.
AVISO 1- Tentem ignorar o “show de interpretação” dos pobres posgraduandos que atuam neste filme.
AVISO 2- Nem todos os pesquisadores são idiotas maus-atores assim (só 75%). A intenção foi boa, vá!

Mesmo sem saber inglês dá pra entender né?
O pesquisador manda o artigo pra uma revista “sonho de consumo” naquela vã esperança. E se não der, vai descendo, até conseguir publicar numa revista online de conteúdo aberto mas que ele tem que pagar para publicar (mais de 2mil verdinhas). Aqui eles tiram sarro mostrando a Nature totalmente fechada, e a última revista aceitando sem nem revisar o artigo. Essa revisão é mais conhecida como peer-review
Nas portas aparece um número pra cada revista, que é o fator de impacto (Fi). É um número “cabalístico” que serve para quantificar a relevância da revista.
Esse número é calculado dividindo o número de artigos publicados pela revista pelo número de vezes que os artigos da revista foram citados. Assim, se uma revista publica 10 artigos e são citados, ou seja, usados como referência, em 200 outros artigos, temos: 200/10 = 20. Este é o fator de impacto da revista.
Só que existem várias fórmas de se medir a relevância das revistas. Esse é só um e muito criticado. Veja o exemplo: uma revista que publica quinzenalmente semanalmente como a Nature, teve 1748 arigos publicados em 2004, citados 56255 vezes. Isso dá um Fi de 32,2.
Agora uma revista como a Annual Review of Immunology, que publica apenas uma vez por ano 51 artigos e é citada 2674 vezes tem um impacto de 52,4. Bem maior que a Nature, mas também é um número de artigos bem menor e uma vez só por ano.
A Nature é o Arroz com feijão que mantém a coisa toda funcionando, enquanto a Annual Review of Immunology é o peru de natal esperado por todos no final do ano.
Nesse caso, qual a mais importante?
Depende do que você considera importante.
Com esta pergunta na cabeça, leia mais sobre o assunto no ScienceBlogs Brasil.

Papai Noel ameaçado de extinção?!

Convicções à parte, vou seguir uma das tradições natalinas, e escrever uma cartinha com meus pedidos.

Mas, ao contrário do esperado, minha cartinha – o texto de hoje – não é para o o bom velhinho. É para o Sr. Nathan Grills, um especialista em Saúde Pública da Universidade Monash (Austrália) que aproveitou o final de ano para aparecer na mídia.

santa-claus.jpg

Como ele conseguiu isso? Publicando um artigo no periódico British Medical Journal fazendo críticas ao… Papai Noel.

É, ao Papai Noel. A patrulha do ‘politicamente correto’ quer fazer mais uma vítima e, do jeito que as coisas andam, logo mais o mundo perde toda a pouca graça que ainda tem. Já começaram a assassinar as fábulas e canções infantis, mas esse pessoal não vai se satisfazer nunca.

Para Grills, o bom velhinho representa um péssimo exemplo para as crianças retardadas e imbecis do nosso mundo. E eu digo ‘crianças retardadas e imbecis’, porque só fazendo essa premissa para acompanhar o raciocínio desse australiano idiota. Vejam alguns exemplos de incentivos ruins do bom velhinho e as ‘soluções’ propostas por essa pessoa iluminada que é o Sr. Grills:

  • Direção irresponsável/alcoolismo: a tradição anglo-saxã de deixar um copo de brandy ou vinho do Porto para ajudar o Papai Noel em sua viagem noturna (por causa do frio) pode levar as crianças à noção de não haver problema em beber e dirigir, e, a longo prazo, aumentar as chances de as mesmas desenvolverem alcoolismo. Além disso, ele argumenta que Papai Noel nunca foi visto usando CINTO DE SEGURANÇA, e que, para conseguir entregar todos os presentes na noite de Natal, tem que ignorar todas as leis de trânsito (especialmente os limites de velocidade).
  • Obesidade/sedentarismo: deixar biscoitos, tortinhas ou um copo de leite para o coitado Noel. Grills propõe que ele receba o mesmo lanche que a Rudolph (aquela rena de nariz vermelho, que parece o Maradona fuuuuuuuuuuuuu), de cenouras e aipo. Prá piorar, para melhorar a ‘imagem sedentária’ que ele passa viajando de trenó, sugere também que ele tenha um modo de locomoção mais ativo, entregando os presentes de bicicleta, ou à pé.
  • Esportes radicais: aqui ele lista exemplos como “surfe de telhado” e “salto na chaminé”, o que aumentaria os riscos de as crianças se acidentarem, tentando imitar as peripécias do Papai Noel. Realmente, será que esse cara tem família?
  • Disseminação de doenças: agora ele extrapola, afirmando que as pessoas que trabalham durante as festas vestidas de Papai Noel possam ser vetores de doenças infecciosas, e propõe a realização de mais exames médicos, e melhor monitoramento dos mesmos.
  • Finalizando essa ‘pérola de Natal’ que Grills criou, ele conclui que “há decepcionante falta de pesquisas rigorosas sobre o efeito do Papai Noel na saúde pública”, e acredita que mais pesquisas habilitariam as ‘autoridades’ a agir para regular as atividades do Papai Noel. Esse cara não é demais? Depois de uma frase dessas, quem é o retardado? As crianças, os pais, ou Nathan Grills?

    Eu já escolhi a minha resposta… e vocês?

    Aliás, só prá terminar meu recadinho pro Sr. Grills: se vocês conseguirem estragar mais essa parte da minha infância, espero, de coração, que a cena (com ‘C’, viu, Sasha?) seguinte nos jornais seja essa aqui:

    guntohead-284x300.jpg

E, claro, um ótimo Natal para todos!

Ciência ruim num estalar de dedos? IgNobel prá você!

2009IgNobel.gifMais um texto da nossa série sobre o IgNobel 2009, e, prá começar, temos aqui um exemplo de como o IgNobel não premia somente pesquisas “inusitadas” ou de resultados pouco práticos, como o Rafael comentou em nossa entrevista ao Programa E-farsas. Muitas vezes, o prêmio é dado a um trabalho realmente idiota.
Então, melhor estalar os dedos e começar duma vez!
Ganhador do Prêmio IgNobel de Medicina de 2009, o Dr. Donald L. Unger, um médico de Thousand Oaks (California, EUA), deve ser uma das pessoas mais controladas – ou mentirosas – que eu já ouvi falar.
Por que? Cansado de ouvir sua mãe, tias e outras pessoas sobre os “malefícios” de se estalar as juntas dos dedos, o pequeno Donald, num insight ou não cético teve a brilhante ou não ideia de conduzir um estudo de caso que comunicou ao periódico Arthritis & Rheumatism no ano de 1998.
Nessa comunicação (PDF em Inglês), publicada na seção “Letters” do periódico, afirmou não haver conexão entre o ato de se estalar os dedos e o desenvolvimento de artrite, de acordo com dados coletados durante o espantoso período de 50 anos!
Estalos ocasionais ou espontâneos, como costuma acontecer nos pés e tornozelos depois de levantarmos da cama, são inócuos. Mas se forem repetidos com freqüência, aumentam a produção do líquido interno das juntas, o que pode causar engrossamento, dor e perda de flexibilidade, como afirmou o Dr. Isidio Calich (Faculdade de Medicina da USP) à Super Interessante.
knuckle_cracking.jpgExistem dois tipos de estalo, e, conforme o tipo, podem acontecer danos aos tendões e à cartilagem que recobre a extremidade dos ossos. O primeiro tipo acontece quando esticamos a junta (puxando um dedo, por exemplo, como na imagem da esquerda), o que gera uma espécie de vácuo que faz o líquido no interior das juntas se movimentar com violência (por isso o ruído). O outro tipo é quando dobramos a articulação, no qual o estalo é decorrente do atrito entre as cartilagens dos ossos (como quando apertamos os dedos contra a palma da mão, como na imagem abaixo).
crucking_knuckle.jpg
Agora, se me perguntarem, tenho certeza que o IgNobel veio por causa do desenho experimental do inspirado aspirante a cientista: ele passou 50 anos da vida dele estalando os dedos da mão esquerda duas vezes ao dia. E não fez o mesmo com a mão direita. Bom, “a não ser em casos de distração, ou quando aconteceram estalos espontâneos”… então tá.
De acordo com seus “dados”, no período de “estudos” ele contabilizou ter estalado os dedos da mão esquerda por aproximadamente 36500 vezes (!!!), e não observou nada que indicasse o desenvolvimento de artrite na mão esquerda, além de não observar nenhuma diferença significativa entre os dedos das mãos esquerda (estalada constantemente) e direita (só de vez em quando).
Portanto, segundo nosso querido Dr. Donald (farei um esforço hercúleo para não chamá-lo de pato nenhuma vez, prometo… bom… desconsiderem essa, por favor), os dados que observou corroboraram (adoro essa palavra) os dados de um estudo publicado 25 anos antes por Swezey RL. e Swezey SE., entitulado “The consequences of habitual knuckle cracking.” (West J Med 1973;122:377-9).
Para mim, a cereja do bolo está no final da comunicação, quando o autor sugere que outros “mitos” que ouvimos quando crianças sejam verificados, e dá como exemplo “espinafre te deixa mais forte”, e relata:
macaco-chongas.jpg“This study was done entirely ut the author’s expense, with no grants from any governmental or pharmaceutical source.”

Tradução: “Este estudo foi totalmente custeado pelo autor, sem qualquer tipo de financiamento governamental, ou farmacêutico.”
Só me faltava essa mesmo… por isso, além do IgNobel, ele ganha do RNAm um macaquinho do Chongas, que reflete tudo o que senti ao escrever esse texto.
Quer saber mais sobre esse assunto? Sugiro essa matéria da HowStuffWorks (em Português) e uma página de “perguntas e respostas” do Centro de Artrite do Johns Hopkins (em Inglês).

EXTRA EXTRA! Trofeu do IgNobel roubado!!!

Interrompemos esta sequência de postagens especiais sobre o IgNobel para trazer uma notícia bombástica: Um dos prêmios IgNobel foi roubado!

trofeu ignobel 2009 roubado.jpgSim, senhoras e senhores, alguém mal intencionado saiu de Havard, onde acontece a premiação, com um troféu que não lhe pertencia.
Ao menos é o que noticia o blog oficial do IgNobel.

Eles pedem encarecidamente que devolvam e que perguntas não serão feitas. Afinal os troféus são esculturas feitas à mão para o prêmio – de gosto duvidoso, devo dizer (imagem no inicio do post), mas ainda sim é uma sacanagem levarem. O que só levanta mais estranheza: afinal, quem levaria uma coisa dessas e pra quê? Existe um mercado negro de colecionadores interessados nesse tipo de prêmio científico? Se sim, fico até feliz por saber que a ciência esta tomando estas proporções!

O roubo do Nobel de verdade

Esta história me lembra de uma lenda que paira sobre um dos ganhadores também lendário de um Nobel de verdade.

Kary Mullis ganhou o prêmio Nobel de química em 1993 por desenvolver o famoso PCR, Reação em Cadeia da Polimerase, que é um processo usado muito em labs de biologia molecular para multiplicar uma pequena quantidade de DNA em muito DNA, facilitando nosso trabalho.

kary mullis.jpg

Esse cara nunca foi muito ortodoxo. Adora surfe, mostrou não acreditar no aquecimento global e no HIV como causador da AIDS, além de já ter usado LSD algumas vezes (mas nos anos 70 quem não tomou?) e inclusive atribuiu a este uso parte da descoberta do PCR (abriu a mente para o insight, tá ligado irmão?!). Depois que vendeu sua idéia, vivia de renda e dava festas regularmente em sua casa de praia. Foi numa dessas festas que teve a medalha do prêmio Nobel roubada. Sumiu.

alfred-nobel-medallion.jpg

Tempos depois recebe uma ligação de uma loja de penhores que havia comprado a medalha a preço de banana.
Chegando a loja Mullis ainda teve que pagar para reaver seu troféu.
Verdade ou não, esta história é uma viaaaagem, morou?!

Veja como o PCR é importante, tem até dois clipes musical hilários. Um no estilo “We are the world” e outro a la Vilage People:

Agora podemos continuar com a programação normal da série de posts sobre os ganhadores do IgNobel 2009

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