Suco de inhame NÃO cura Dengue

dengue inhame mosquitoTem de tudo na internet sobre dengue. Até um velhinho adepto da Biocura (seja lá o que for isso), que fala que a dengue não vem do mosquito. E não vem mesmo, vem do vírus da dengue, e o moquito só leva o vírus pra lá e pra cá. Mas pra esse cidadão a dengue vem da prisão de ventre, acumulo de toxinas e blábláblá.

Sempre esse papo de toxinas acumuladas acumulando tudo.

Não vou por o link pra esse vídeo pra não dar audiência. Ao invés disso veja o meu vídeo sobre isso:

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=Ju83VwTP_00″]

 

Deu na Ana Maria Braga que pode funcionar e no programa Bem Estar que não funciona de jeito nenhum. Quem está certo? Ninguém, como sempre. Assista e veja o porquê.

Links:

Bem Estar: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/04/inhame-repelente-vitamina-b-veja-o-que-e-mito-e-verdade-sobre-dengue.html

Mais Você: http://gshow.globo.com/receitas/maisvoce/suco-contra-a-dengue-4ea7e64bc8157c31f4008808

Quer artigo científico? Então tome:
http://www.bioone.org/doi/abs/10.2987/8756-971X(2005)21%5B213:TVBAAH%5D2.0.CO;2

Wikipédia: misturando cientistas com médiuns

Emanuel_Swedenborg_full_portraitOlhe que caso interessante:

Navegando pela Wikipédia para saber o que havia acontecido em outros dias 29 de janeiro do passado para fazer mais um dos “O que rolou na ciência HOJE“, a nova série de posts do RNAm, me deparo com um nascimento que me chamou a atenção. Era Emanuel Swedenborg, descrito como cientista, filósofo, engenheiro e MÉDIUM. Sempre acho esta junção de cientista e médium interessante, porque soam conflitantes para mim. E claro que esse tipo de coisa só podia acontecer em 1688. Nessa época, mentes inquietas como a de Swedenborg encontravam vastas áreas do conhecimento ainda a serem desvendadas, assim ele deu pitaco em todas, de física a espiritualidade.

O cara era bom, desceveu a pulsação do cérebro, percebeu que a cognição estava no cortex, construiu máquinas para mineração e como Leonardo daVinci imaginou máquinas voadoras e submarinos.

Mas o engraçado é que tudo isso de interessante aparece só no final do artigo da Wiki. E na parte entitulada “cientista” aparece o seguinte trecho:

Cientista:

Por exemplo, em astronomia, ele descreveu os habitantes do planeta Vênus:

Eles são de dois tipos, uns gentis e benevolentes, e outros selvagens, cruéis e gigantes. Os últimos roubam, pilham e vivem disso; os primeiros tem um grau tão elevando de gentileza e caridade que são sempre amados pelos bons, e por causa disso sempre vêem o Senhor aparecer-lhes em sua forma real no seu planeta[3].

Os habitantes da Lua foram descritos assim:

Os habitantes da Lua são pequenos, como crianças de seis ou sete anos; ao mesmo tempo, eles têm a força de homens como nós. A sua voz vibra como o trovão, e o som sai da barriga, porque a Lua tem uma atmosfera bem diferente da dos outros planetas[3].

Mercúrio é habitado por humanoides muito parecidos com os terrestres:

Eu estava desejoso de descobrir que tipo de face os homens de Mercúrio tem, e se eles são iguais aos homens da Terra. Então eles (os espíritos de Mercúrio) me apresentaram uma mulher exatamente como as que vivem naquele planeta. Sua face era linda, mas menor que as mulheres da Terra, ela também era mais esbelta, mas de mesma altura (…)[4].

220px-Arcana_Caelestia_0001Habitantes do planeta Vênus?! Foi isso que ele realizou como cientista? Artigo zoado hein?

Mas a beleza da Wikipédia é que eu ou você podemos dar nosso pitaco e editar a coisa toda. Inclusive neste artigo há um aviso que diz o seguinte: “

Este artigo ou secção possui passagens que não respeitam o princípio da imparcialidade.
Tenha algum cuidado ao ler as informações contidas nele. Se puder, tente tornar o artigo mais imparcial.”

O artigo não é mesmo imparcial pois quem o escreveu só colocou referências espíritas e puxou a sardinha pra esse lado.

Outra coisa interessante é que o artigo da Wiki em inglês tá muito bom. Não que isso seja novidade, quase todos os artigos em inglês são melhores por n motivos, mas queria entender como funciona nos bastidores da Wiki esse lance de traduzir o artigo de outra língua em lugar de deixar passar um texto bem inferior e tendencioso.

 

Então vou fazer isso. Me cadastrei e vou tentar colocar as coisas em contexto e conto como foi a experiência de editar a Wiki pt. Já me alertaram para a fogueira das vaidades que arde por lá, mas mesmo assim acho que devo tentar por mim mesmo. Até mesmo para honrar a memória do cara que era um gênio da sua época, mesmo com sua maluquice que, aliás, sempre acompanha toda genialidade.

Protestar é legal, mas qual é o embasamento recente?

Recebi comentários criticando a campanha do Desafio 10:23 – Homeopatia: é feita de nada como um protesto fraco e que não provará nada. Também chegaram críticas de que ao menos nós do RNAm, como profissionais da área científica, deveríamos pensar em um modo mais confiável de refutar o funcionamento da homeopatia.

Agradeço todas as sugestões, mas vou esclarecer alguns pontos relacionados à homeopatia e ao Desafio 10:23:

  1. homeopathyoverdose.jpg“Vocês vão fazer um protesto só para tirar uma onda com a cara dos homeopatas?”: Não posso falar por todos os participantes, mas quem me conhece sabe que eu dificilmente sairia da cama num sábado de manhã sem um propósito maior. Além disso, a ideia do protesto não é ridicularizar a prática homeopática e sim chamar a atenção da população para algo que, apesar de carecer de confirmação científica rigorosa, em 2008 consumiu quase 3 milhões de reais em verbas do Ministério da Saúde. Para ser mais exato, de acordo com um comunicado do próprio ministério foram R$ 2.953.480,00 (a íntegra pode ser acessada em http://is.gd/OhdzmC).
  2. “Não encontrei nenhum tipo de padronização: cada participante escolherá o que tomar, quanto tomar e a única recomendação que encontrei foi comprar diluições a partir de 30C, que não têm mais princípio ativo. Querem provar o que desse modo?”: Primeiro, o protesto não propõe um experimento científico e sim uma ação de conscientização. Segundo, a própria homeopatia postula que maiores diluições têm como resultado efeitos amplificados (a tal “memória da água” que já foi refutada inúmeras vezes, dessa vez em condições de boa metodologia científica). Considerando que qualquer “tratamento” médico pode ser prejudicial em excesso, demonstrar a falta de efeitos colaterais ou qualquer outro tipo de resposta sinaliza para o que já se sabe, isto é, os resultados homeopáticos são derivados de influências psicológicas nos pacientes – o famoso efeito placebo.
  3. “Ah, mas seria muito mais interessante e importante se vocês tentassem fazer uma manifestação na forma de um experimento controlado”: Novamente, a ideia do protesto é conscientizar. Além disso, em Ciência não é responsabilidade dos críticos provar se algo funciona ou não. Isso é chamado ônus da prova e na boa prática científica, a responsabilidade de provar qualquer proposta é sempre de quem a defende. A famosa frase de Carl Sagan “afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias” é baseada nisso. Os homeopatas querem ser ciência? Então precisam mostrar seu valor dentro das boas práticas científicas, como todos os alopatas e pesquisadores biomédicos são obrigados a fazer.
  4. Ainda pensando em quem pede que os cientistas busquem provas que a homeopatia não funciona: muitos já fazem isso, meu post anterior possui algumas referências, mas se você considera artigos de 2005 um tipo de “pré-história acadêmica”, deixo dois exemplos mais recentes abaixo.
  • Renckens, C. (2009). A Dutch View of the ”Science” of CAM 1986–2003 Evaluation & the Health Professions, 32 (4), 431-450 DOI: 10.1177/0163278709346815: Avaliação do governo holandês sobre o subsídio de medicinas alternativas no período entre 1986 e 2003. Os poucos resultados satisfatórios foram atribuídos a pobres metodologias de análise como a falta de grupos-controle tratados com placebo. Alguns estudos relataram resultados negativos. Esses dados culminaram na suspensão da verba governamental destinada a práticas complementares.
  • Nuhn, T., Lüdtke, R., & Geraedts, M. (2010). Placebo effect sizes in homeopathic compared to conventional drugs – a systematic review of randomised controlled trials Homeopathy, 99 (1), 76-82 DOI: 10.1016/j.homp.2009.11.002: Esse estudo derrubou a hipótese de que os ensaios testando a validade clínica da homeopatia falhavam por apresentarem grupos-controle tratados com placebo que retornavam efeitos maiores dos observados em ensaios clínicos alopáticos. A conclusão foi de que os grupos-controle tratados com placebo dos ensaios homeopáticos não demonstraram efeitos maiores dos observados na medicina convencional.
Outros estudos podem ser encontrados em locais como o PubMed e outras bases de dados acadêmicos. Divirtam-se na pesquisa e não esqueçam:

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Informações sobre a ação em http://1023.haaan.com/

“Overdose homeopática” Dia 5 de fevereiro tem Desafio 10:23!

No próximo sábado acontecerá o Desafio 10:23, um protesto que busca conscientizar o público sobre o que a homeopatia realmente é.

Às 10h23 da manhã do dia 5 de fevereiro, horário local, ativistas em mais de 10 países realizarão uma “overdose homeopática” coletiva para demonstrar que:

1023-Brazil-300x205.pngHomeopatia – É feita de nada

A “overdose” será registrada por fotos e filmes, sendo em seguida compartilhada em redes sociais como Twitter, Facebook, Orkut etc. pelos voluntários e apoiadores. Há alguns dias apoiadores, organizadores e voluntários estão divulgando material relacionado à campanha. Alguns deles são:

Homeopatia não é feita de nada (Rainha Vermelha)

Médicos, CFM, homeopatia e imoralidades (Uôleo)

Para uma ideia diluída, o remédio é conhecimento concentrado. (RNAm)

Será que ele é? (RNAm)

Para saber como o protesto funciona, confira o vídeo abaixo!

A mídia também tem dado cobertura ao evento:

Céticos questionam a eficácia da homeopatia (Gazeta do Povo – PR)

Ativistas contra a homeopatia vão tomar “overdose” (Portal R7)

Ativistas contra a homeopatia vão tomar ‘overdose’ no próximo sábado, 5 (Estadão.com.br)

Mais informações sobre a ação em http://1023.haaan.com/

Para uma ideia diluída, o remédio é conhecimento concentrado.

homeopatia.jpgTudo que você sempre quis saber sobre homeopatia mas tinha vergonha de perguntar

A homeopatia se tornou uma grande indústria e é propagandeada como um tratamento seguro, natural e holístico para várias doenças como artrite, asma, depressão, diarréia, dores de cabeça, insônia etc.

Apesar disso, a evidência científica mostra que a homeopatia atua somente como um placebo (fármaco ou procedimento inerte que apresenta efeitos terapêuticos devido aos efeitos fisiológicos da crença do paciente que está a ser tratado) e não há explicação dentro da ciência de como isso poderia ser diferente.

Princípios homeopáticos
A homeopatia é baseada em duas suposições: “semelhante cura semelhante” e “quanto menor a dose, mais potente é a cura”. Resumidamente, os homeopatas escolhem uma substância que causa os mesmos sintomas que a doença a ser tratada. Essa substância é então diluída e agitada repetidamente, o que supostamente reduz seu potencial prejudicial e a torna mais potente.

Os princípios analisados pela ciência

Cura pelo semelhante
Alguns homeopatas afirmam que é um processo semelhante à vacinação. Isso é errado pelo fato de as vacinas fazerem com que o sistema imune reconheça uma doença específica, enquanto na “cura por semelhante” só os sintomas da doença e do tratamento precisam ser correspondentes, uma hipótese não cabível com o funcionamento do nosso corpo. Uma dor de cabeça pode ser causada por estresse ou por um tumor no cérebro, mas o tratamento em cada caso é completamente diferente, não é? Se você buscar a homeopatia, não…

Dose mínima
Preparações homeopáticas são tão diluídas que muitas não contêm mais o princípio ativo. Uma diluição comum, a 30C, tem uma gota de princípio ativo diluída em 100 gotas de água, e assim por diante, até que tenham sido feitas 30 dessas diluições. A probabilidade de haver uma única molécula do princípio ativo na solução final é menor do que a chance de se ganhar na loteria britânica por cinco semanas seguidas. Os homeopatas acreditam que a água desenvolve uma “memória” do ingrediente ativo, mas pensem: se isso fosse possível, todo preparo homeopático teria várias memórias, pois qualquer grão de poeira que entrasse em contato com a água traria milhares de microrganismos e partículas diferentes.

As evidências científicas
Mais de 150 estudos falharam em demonstrar o funcionamento da homeopatia. Alguns estudos menores apresentaram resultados positivos devido a metodologias fracas ou efeitos aleatórios.

efetividade.jpg

Conheçam a mais poderosa ferramenta estatística que existe: o gráfico de porcentagem em pizza gerado com dados qualitativos. (nota do tradutor: hihihi)

Quando os dados são analisados em conjunto, a homeopatia não é superior a nenhum placebo. Uma publicação de 2005 no periódico Lancet comparou 110 ensaios homeopáticos a 110 ensaios clínicos alopáticos. Os autores observaram que estudos mais rigorosos demonstraram fortes evidências de que, ao contrário dos resultados positivos nos estudos alopáticos, a homeopatia não teve eficácia. Em outras palavras: quanto melhor a pesquisa feita, menos a homeopatia funciona. De acordo com esse estudo estão mais de doze análises similares que chegaram à mesma conclusão: homeopatia não produz resultados melhores do que os placebos.

Então por que a homeopatia “funciona”?
As pessoas fazem uso da homeopatia por acreditarem em sua eficácia, o que faz com que a mesma, mesmo inerte em termos clínicos, possa induzir a mudanças psicológicas. O tratamento também pode coincidir com uma melhora da própria resposta imune do paciente.

O efeito placebo
A crença de estar recebendo tratamento frequentemente traz alívio a um paciente. Sabe-se que a redução do estresse fisiológico pode acelerar a recuperação de ferimentos e infecções virais por um aumento da função imune, ou seja, mesmo um “tratamento” inerte pode afetar o organismo. Respostas condicionadas também acontecem: experiências de tratamentos passados podem estimular o sistema imune a agir mais rapidamente quando outro tratamento (mesmo um placebo) é recebido.

Desconsiderando o alívio de estresse e o condicionamento, o efeito placebo é pequeno em relação à replicabilidade e à potência. Pacientes que fazem uso regular de morfina podem substituir uma dose por um placebo com sucesso, mas à medida que o uso do placebo se torna mais freqüente, o resultado piora (o organismo reconhece a diferença entre o tratamento real e a substituição). Esse mesmo efeito pode funcionar em doenças menos graves e ser eficiente para dor, fadiga, náusea e similares, mas não será eficaz contra fraturas, infecções ou tumores. Novamente, sua aplicação combate sintomas de determinada doença e não a doença em si.

Um placebo poderoso?
Quando a homeopatia cura condições médicas sérias fala-se de um “poderoso efeito placebo”, mas existem muitas outras explicações diferentes que devem ser descartadas. A administração de um comprimido pode coincidir com a recuperação do paciente sem estar relacionada a esse fato, como em recuperações espontâneas ou sintomas flutuantes. Por exemplo, como a dor da artrite é intermitente (ela “vem e vai”) e as pessoas tendem a buscar tratamento quando os sintomas estão em seu pior efeito, qualquer medicamento administrado pode dar a impressão de melhora.

E a homeopatia veterinária?
Os homeopatas argumentam que a homeopatia funciona em animais, o que descartaria o efeito placebo inclusive em bebês. No entanto, esses testes dependem de observações humanas que, sem normatização ou veterinários independentes, pode sofrer um grande viés (muitas vezes não intencional). Os estudos que corrigem esse tipo de viés demonstram que a homeopatia não funciona.

O fato de um placebo fazer a pessoa se sentir melhor não justifica sua prescrição por um médico?
A ética obriga que a relação médico-paciente seja baseada em honestidade, respeito, sinceridade e confiança. A prescrição de um placebo exige que o médico minta ao paciente (do contrário o placebo não surtirá seu efeito), o que fere esses princípios. Ainda, como placebos combatem os sintomas de uma doença, e não a doença propriamente dita, deixar a condição médica real sem tratamento pode ter implicações severas para o paciente.

Um caso de fadiga pode ser remediado por um placebo, mas e se essa fadiga for um sintoma de depressão, de uma infecção viral, ou de algo pior?

Referências bibliográficas

Shang, A. et al. 2005 ‘Are the clinical effects of homeopathy placebo effects? Comparative study of placebo-controlled trials of homeopathy and allopathy’ Lancet, 366: 726-732.

Glaser, R. 2005 ‘Stress-associated immune dysregulation and its importance for human health: a personal history of psychoneuroimmunology’ Brain, Behavior and Immunity, 19: 3-11.

Lovallo, W.R. & W. Gerin 2003 ‘Psychophysiological reactivity: mechanisms and pathways to cardiovascular disease’ Psychosomatic Medicine, 65: 36-45.

Kienle, G.S. & H. Kiene 1997 ‘The powerful placebo effect: fact or fiction?’ Journal of Clinical Epidemiology, 50: 1311-1318.


Não sei de vocês, mas eu prefiro apostar as minhas fichas na Medicina Baseada em Evidências…

O texto acima é uma adaptação de um informe sobre homeopatia elaborado em 2006 pela organização Sense About Science, criada em 2002 com o objetivo de promover respeito por evidências científicas e boas práticas de ciência, aumentando a compreensão da população sobre o tema.

A tradução adaptada do informe Sense About Homeopathy (o original pode ser acessado pelo link) é parte do material de apoio e divulgação da campanha:

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Mais informações sobre a ação em http://1023.haaan.com/

Será que ele é?

Tirinha.jpg

Hunf, tolerância tem limite…

Essa tirinha foi traduzida do ótimo Saturday Morning Breakfast Cereal e inaugura os posts relacionados ao Desafio 10:23, um protesto em que ativistas em mais de 10 países se reunirão no fim de semana de 5-6 de fevereiro de 2011 para
esclarecer que:

1023-Brazil-300x205.png

Querem saber mais? Acessem http://1023.haaan.com/ e saibam tudo sobre a ação!

ps 1: Culpem o GIMP e suas fontes gringas pela falta de acentuação, eu juro que tentei encontrar uma fonte boa que as aceitasse.

ps 2: Por favor, não me façam explicar a piada da tirinha. Sério.

Um biólogo metido a crítico na Bienal de Arte e Tecnologia

bienal arte tecnologia.JPG

Fui na Bienal Internacional de Arte e Tecnologia – Emoção Art.ficial, no Itaú Cultural na av. Paulista.

Há tempos eu não ia a uma exposição, e as pessoas que me invejam por não morarem na capital cultural do Brasil estavam me enchendo o saco para aproveitar mais a cidade.

Para saber sobre a exposição entre no site, porque mesmo na exposição não havia nada de texto. Nem um folhetinho. Em cada obra havia uma telinha com um esquema que não explicava quase nada dela, nem a tecnologia nem a arte por trás da coisa toda.

Primeiro a parte chata – ou de como um biólogo se mete a crítico crítico de arte

As primeiras obras me chatearam bastante (veja a lista de obras aqui). No começo só haviam obras “interativas”, como os Bion, uma obra bem bonita mas que de tecnológico só tem um sensor de proximidade que diminui a intensidade da luz de LED dentro dele. Bonitinho mas ordinário, ainda mais quando foi ver quem é o “cientista” no qual o artista Adam Brown se inspirou: um maluco chamado Wilhelm Reich que inventou uma “energia biológica primordial” chamada orgone. Era tão charlatão que morreu na cadeia preso por vender aparelhos que curavam de tudo com esta energia. Mais ou menos como o aparelho bio-quântico.

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Além desse haviam as Hysterical Machines, que se movem inesperadamente com a presença de humanos, mas de forma nada orgânica como propõe o artista; e Prosthetic Head que é a cabeça do artista em 3D usando um programa de inteligência artificial já bem antigo para responder perguntas do visitante. 

Essas três obras me chatearam porque esperava coisas mais inovadoras. Essa história de interatividade é muito anos 90 pro meu gosto.

O prêmio “desperdício de oportunidade” vai para Silence Barrage:
“Robôs movem-se verticalmente ao longo de várias colunas, deixando rastros que são, na verdade, a representação dos disparos de neurônios de roedores, cultivados num recipiente de vidro localizado a milhares de quilômetros de distância. Paralelamente, sensores ao largo da instalação capturam os movimentos do público, que, por sua vez, também fazem os robôs se deslocarem.”
Legal… mas como assim? Os disparos dos neurônios? Ahn?!

Pois é, nada é explicado. Nem no site da exposição. Tem os neurônios lá nos EUA, em uma placa, e sabe-deus-como captam algo que faz umas coisas na obra. E ainda a câmera que devia filmar a cultura de célula lá nos EUA estava fora do ar.
Assim, cientistas que trabalham com células (como eu) e publico em geral não se empolgam nem um pouco. Tanto esforço por nada.

Mas a coisa ficou boa. Muito boa!

A coisa começou a melhorar com o Caracolomobile. Primeiro pelo nome muito legal, segundo que isto sim é um tipo de tecnologia que esta mais na moda e mais na ponta da interação homem-máquina. A obra é um ser de movimento e sons que responde aos estímulos recebidos por eletrodos na cabeça de uma pessoa (lembrem do Nicolelis). Alguns sinais são bem fáceis de entender, como quando se morde o chiclete ele solta sempre o mesmo ruído. Mas algumas reações da máquina não são tão decifráveis. Começa assim a vontade de entender a que a máquina está respondendo, ou seja, a tentar conversar com ela (e com você mesmo, já que ela esta respondendo às suas ondas cerebrais).

O Ballet Digitallique é bem legal. Um scanner marca sua silueta parado com os braços abertos. O computador projeta e dá movimento àquela imagem estática. E coloca movimento exatamente onde deve ter, dobrando as juntas de braços, pernas e tronco. Como o computador sabe o que deve se mexer, ou como se move uma pessoa baseando-se só numa imagem estática 2D? Me fez pensar no cérebro, que com padrões simples faz verdadeiras criações e interpretações usando regras simples, que até um computadorzinho pode fazer.

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Mas o mais legal para o biólogo aqui foi o Robotarium SP e o Evolved Virtual Creatures.
O Robotarium é um zoológico de robôs, onde cada um tem um temperamento, ou uma programação, e interagem entre si. Um é calmo e evita entrar em contato com outros, outro é agressivo e avança nos outros; outro só gira sem parar, e assim vai. Todos eles juntos acabam funcionando como um modelo de interação ecológica, em que cada indivíduo tem um comportamento simples, mas como um todo passam a tem um comportamento complexo.

E o Evolved Virtual Machines mostra como mudanças aleatórias + regras simples + tempo, podem sim gerar criaturas complexas e que parecem ter sido desenhadas. Se você entender esta obra você entendeu a mais importante lição de EVOLUÇÃO!

Só ainda não consegui decifrar se aqui a arte inspira a tecnologia ou a tecnologia inspira a arte.

RNAm no Superpop: o vídeo e as impressões

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Olha a Lú me defendendo do pastor aí!


Pra quem tinha mais o que fazer na segunda anoite, segue aqui o link pro programa sobre o fim do mundo em 2012, do qual participei.

Participei daquele jeitão. Fui com o espírito leve, querendo me divertir. Pois já imaginava que falar algo realmente pertinente seria difícil. E foi.

Uma hora a produção pedia polêmica, depois pediam “fala um só de cada vez”, e aí ganhava quem parava de gritar por último. E eu não fui pra me estressar.

De cara a Luciana Gimenez fez a ligação direta que eu queria evitar: você é cético? Então não acredita em Deus?

Não queria ligar o ceticismo diretamente ao ateísmo. Esta é uma correlação que não é necessária. Muitos céticos não são ateus, e vice-versa. Mas no meu caso sou as duas coisas e a Lu (fiquei íntimo) queria bater nessa tecla, provavelmente por ser agnóstica ou até mesmo atéia. O pensamento cético é algo que todos necessariamente devem praticar, mas religião cada um pode ter ou não ter a sua.

Não preciso nem dizer que a ciência não foi nem mesmo tocada, mas pelo menos tudo foi tão confuso que nem mesmo os fatalistas convidados puderam falar muito.

O mais interessante desta participação foi a discussão que gerou entre os divulgadores de ciência do Scienceblogs Brasil e meus colegas cientistas: vale a pena participar destes programas? E qual postura se deve tomar no palco?

Vale a pena participar?

Muita gente achou que eu não deveria ir, que pode queimar o filme participar de um programa tão povão. Oras, eu faço este blog para ter o maior alcance possível. Tento escrever de um jeito simples ao máximo, onde o limite é apenas a validade e o embasamento do que escrevo. Claro que eu prefiro escrever mais no estilo do colega Amigo de Montaigne, mas acho que este estilo minimamente rebuscado afasta muita gente que só quer se encantar pela informação fácil, ou o “povão”. Mas este é um problema de estilo e objetivo que é muito pessoal e não tem uma regra geral. Sem contar que eu me diverti a bessa, e isto deve ser levado em conta.

Postura do divulgador de ciência

Estando lá no palco, eu deveria ser irreverente, sarrista, sacana, amargo, azedo, sério, sisudo,…? Não poderia parecer arrogante, isto é o que queria evitar ao máximo. E na cabeça das pessoas os cientistas já tem esta cara de arrogante detentores (ou detentos) da verdade. Melhor fugir disto. Muita gente cobrou que fosse mais incisivo, tentasse ganhar a palavra mais um pouco e até ridicularizar os malucos em cena. Mas é difícil achar o ponto exato de ridicularizar sem cair na máscara arrogante que afasta o telespectador. TV é simpatia! Acho que num programa como este o ideal é ser levemente ácido, ou azedinho-doce (existe ainda este chiclete?): doce com a apresentadora e a produção SEMPRE, e ácido apenas com os convidados e as câmeras ligadas.


Cientista ou divulgador?

Durante o programa recebi vários twits pelo @Rafael_RNAm (<- siga!) e alguns me chamaram atenção com relação a eu ter me classificado como divulgador de ciência e não como cientista ou biólogo. Uns acharam chique, outros acharam ridículo.Independente de gosto, eu estava lá não como especialista da minha área, afinal um astrônomo, físico ou geólogo (ou um psiquiatra) poderiam estar ali como especialistas. Mas como o que se pôde arranjar foi EU, não quis me apresentar como biólogo. Não pra não queimar o filme, mas porque não cabia mesmo e acabaria até tirando a pouca autoridade que eu poderia ter.

Na questão de gosto, acho o título “divulgador de ciência” muito garboso e deveria ser mais utilizado, acabando assim com a autoridade excessiva e distanciadora do ES-PE-CIA-LIS-TA, e abrindo caminho a estas pessoas que, como eu e o Scienceblogs todo, estão mais treinados em falar sobre ciência com os não-cientistas. Coisa que poucos especialistas ou cientistas sabem fazer.

Só mais duas coisas:
1- Viu a camiseta do Scienceblogs Brasil que estou usando? Acabou de sair do forno, que acharam?
2- Quem acha que Luciana Gimenez é burra, pode esquecer. E eu gostei dela. Juro!
[para ‘burra’ procurar ‘Cida Marques’]

RNAm no Superpop. Será o fim do mundo?

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“Fim do mundo em 2012!? Que loucura! Nem eu acredito nisso!”


O RNAm, na pessoa de @Rafael_rnam, estará hoje (31/5/10) no programa Superpop, com Luciana Gimenez AO VIVO(!!!) às 22hs.
Falando sobre um assunto que é super-atual e super-a-nossa-praia: o fim do mundo em 2012!
Fomos contactados pela produção graças ao post de caça ao paraquedista. Esta blogagem coletiva do ScienceBlogs Brasil tinha como objetivo atrair pessoas desavisadas pela busca no Google. Como esse tema 2012 está tão em voga, escrevemos um título bem chamativo: O fim do mundo não será em 2012. Será em 2019
Este é um dos posts dos quais eu mais me orgulho, mas não fala nada da profecia maia!
Isso só prova que estagiários de televisão não leem, e que blogagens de caça a paraquedistas funcionam. E neste caso não foi um paraquedista, mas sim um zepelim hinderburguiano!
Agora é só tomar muito calmante e discutir os “argumentos” dos fatalistas lá no palco.

Cuidado com a prática ortomolecular e biomolecular

ORTOMOLecular.jpgO Conselho Federal de Medicina falou, tá falado. Algumas práticas ortomoleculares e biomoleculares não podem ser realizadas por não terem comprovações científicas. – Aliás, quem inventou esses nomes? Parece até essas coisas pseudocientíficas bioquânticas

Agora reposição de nutrientes que estejam faltando, como vitaminas, ou tirar outras substâncias nocivas, como metais pesados e pesticidas, só podem ser feitas nos parâmetros internacionais e se forem medidas e comprovadas a falta ou excesso de substância.

E para essa medição não vale o famoso teste do cabelo, que todo ortomolecular pede. Este só funciona em caso de intoxicação ou contaminação por metais tóxicos. Fora isso não funciona e está proibido de ser usado.

Alguns trechos interessantes da resolução (leia aqui na íntegra):

  • Art. 8º A remoção de minerais, quando em excesso, ou de minerais tóxicos, agrotóxicos, pesticidas ou aditivos alimentares se fará de acordo com os seguintes princípios:
  • I) O excesso de cada substância tóxica deverá ser considerado isoladamente;
  • II) Existência, na literatura médica, de fundamentação bioquímica e fisiológica sobre o efeito deletério do excesso da substância tóxica considerada, bem como de dados que comprovem a possibilidade de correção efetiva por meio da remoção proposta;
  • III) Além da melhoria dos parâmetros laboratoriais, deverá haver comprovação científica de utilidade clínica;
  • IV) O valor terapêutico da remoção de determinada substância tóxica deverá ser avaliado para cada tipo de distúrbio.
  • Art. 9º São destituídos de comprovação científica suficiente quanto ao benefício para o ser humano sadio ou doente, e por essa razão têm vedados o uso e divulgação no exercício da Medicina, os seguintes procedimentos da prática ortomolecular e biomolecular, diagnósticos ou terapêuticos, que empregam:
  • I) Para a prevenção primária e secundária, doses de vitaminas, proteínas, sais minerais e lipídios que não respeitem os limites de segurança (megadoses), de acordo com as normas nacionais e internacionais e os critérios adotados no art. 5º;
  • II) EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) para remoção de metais tóxicos fora do contexto das intoxicações agudas e crônicas;
  • III) O EDTA e a procaína como terapia antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para patologias crônicas degenerativas;
  • IV) Análise do tecido capilar fora do contexto do diagnóstico de contaminação e/ou intoxicação por metais tóxicos;
  • V) Antioxidantes para melhorar o prognóstico de pacientes com doenças agudas, observadas as situações expressas no art. 5º;
  • VI) Antioxidantes que interfiram no mecanismo de ação da quimioterapia e da radioterapia no tratamento de pacientes com câncer;
  • VII) Quaisquer terapias antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para doenças crônicas degenerativas, exceto nas situações de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados.

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Chiques, famosas e “ortomoleculadas”

Várias destas práticas, agora proibidas, vem sendo feitas e divulgadas a muito tempo. Como acontece com Giovanna Antonelli, uma das estrelas da Novela das Oito “Viver a Vida” (por ser uma entidade, “Novela das Oito” deve ser escrita em maiúsculas, por respeito a sua divindade) . É o que diz sua terapeuta numa reportagem de dietas dos Famosos (também com F maiúsculo por se tratar de divindade): “Giovanna Antonelli chegou ao consultório querendo emagrecer. Uma das providências foi prescrever doses extras de minerais que baixassem sua vontade louca de comer doce na fase pré-menstrual”. Hum… mas sem medir nada pra ver se tava faltando mesmo? 

samara_felippo.jpgO fato é que resolve mesmo. Pelo menos pra emagrecer. Afinal a Global (G maiúsculo) chega no consultório querendo perder 8kg pra ser a próxima capa da Playboy e a terapia molecular, com todo seu conhecimento, receita o que? Ouça nas palavras de Samara Fellipo: “Não precisei passar fome e sequei 8 quilos em dois meses, reduzindo carboidrato e cortando doce e fritura”. Isso não é terapia ortomolecular Samara, é COMER DIREITO, DIETA, e todo mundo sabe como funciona!

Quem tiver dados REAIS de reposição de nutrientes usadas nessas terapias, pode me mandar.

Não apela, Folha

Agora, esta notícia da Folha resumindo a resolução está muito ruim e errada.

Diz que a resolução confirma a ausência de comprovação científica da prática, o que não é verdade. Ela regulamenta, ou seja, algumas práticas estão autorizadas e outras não. E afirmar “Entre os prejuízos estão o aumento do risco de câncer”, é senssacionalismo, já que não é exatamente isto que a resolução fala, como você pôde ler acima.

E outra, a Folha definiu as práticas ortomoleculares e biomoleculares com o que estava escrito na resolução. Custava dar um “google” pra aprofundar pelo menos um palmo?